terça-feira, 22 de setembro de 2009

Área de Integração

Sobre a disciplina de Área de Integraçãoi reproduzo aqui um texto publicado originalmente no CEF.



Com a introdução do sub-sistema de Ensino Profissional na oferta formativa da Escola Secundária XXXXX e verificando-se a exclusão da disciplina de Filosofia da componente de Formação Geral, considera o Grupo 10º B que:
1. A disciplina de Área de Integração ocupa o lugar da Filosofia na Formação Geral. Assim sendo, o lugar natural da nova disciplina será o Grupo 10º B;
2. De acordo com o Programa oficial da disciplina, a Área de Integração procura favorecer “simultaneamente a aquisição de saberes oriundos das ciências sociais e da reflexão filosófica”, comprovando a relevância da Filosofia para a sua leccionação;
3. Sendo a Filosofia, ela própria, um espaço de reconhecida interdisciplinaridade, ressalvamos o facto de o próprio Programa salientar que “com este programa pretende-se, essencialmente, desenvolver a capacidade de integrar conhecimentos de diferentes áreas disciplinares, aproximar estes conhecimentos de experiências de vida dos alunos e aplicá-los a uma melhor compreensão e acção sobre o mundo contemporâneo”;
4. Salientamos ainda o facto de a bibliografia de referência ser constituída, em grande parte, por autores oriundos da Filosofia, tais como Fernando Gil, António Damásio, Edgar Morin, Fernando Savater, Simon Blackburn, Jean Piaget, Platão, Olivier Reboul, Paul Watzlawick, Ignacio Ramonet, António Zilhão, Alain Renaut, Niccoló Machiavelli, Carl Sagan, Marguerite Yourcenar, Boaventura de Sousa Santos, Gaston Bachelard, Jean Bronowsky, Karl Popper, Jean-Jacques Rousseau, Jean-Paul Sartre, André Breton, Luc Ferry e Sófocles
5. Cerca de dois terços do programa da referida disciplina são coincidentes com o programa oficial dos 10º e 11º anos da Filosofia. Também por esse motivo a nova disciplina é reclamada pelo Grupo 10º B;
6. Os sub-temas de Área de Integração que não coincidem com o programa de Filosofia coincidem, no entanto, com a formação de base dos professores deste Grupo bem como as disciplinas usualmente leccionadas pelos seus professores, tais como a Psicossociologia, a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política e a Psicologia;


Consequentemente, os Professores do Grupo 10º B reclamam a respectiva atribuição da disciplina de Área de Integração

Finalmente, reproduzo aqui todos os temas do programa para verificar quantas unidades programáticas tem, por exemplo, a ver com as competências com o grupo de Geografia (A vermelho as unidades leccionáveis pela Geografia. A azul, as unidades de competência da filosofia. A verde as leccionáveis pelas Relações Internacionais, preferencialmente, ou então a zona mais híbrida)

Área I – A Pessoa
Unidade Temática 1 – O SUJEITO LÓGICO-PSICOLÓGICO
Tema - problema 1.1 – A construção do conhecimento ou o fogo de Prometeu
Tema - problema 1.2 – Pessoa e cultura
Tema - problema 1.3 – A comunicação e a construção do indivíduo
Unidade Temática 2 – O SUJEITO HISTÓRICO-SOCIAL
Tema - problema 2.1 – Estrutura familiar e dinâmica social
Tema - problema 2.2 – A construção do social
Tema - problema 2.3 – A construção da democracia
Unidade Temática 3 – O SUJEITO BIO-ECOLÓGICO
Tema - problema 3.1 – O Homem e a Terra
Tema - problema 3.2 – Filhos do Sol
Tema - problema 3.3 – Homem-Natureza: uma relação sustentável?
Área II – A Sociedade
Unidade Temática 4 – A REGIÃO, ESPAÇO VIVIDO
Tema - problema 4.1 – A identidade regional
Tema - problema 4.2 – A região e o espaço nacional
Tema - problema 4.3 – Desequilíbrios regionais
Unidade Temática 5 – UMA CASA COMUM: A EUROPA
Tema - problema 5.1 – A integração no espaço europeu
Tema - problema 5.2 – A cidadania europeia
Tema - problema 5.3 – A cooperação transfronteiriça
Unidade Temática 6 – O MUNDO DO TRABALHO
Tema - problema 6.1 – O trabalho, a sua evolução e estatuto no Ocidente
Tema - problema 6.2 – O desenvolvimento de novas atitudes no trabalho e no emprego: o empreendedorismo
Tema - problema 6.3 – As organizações do trabalho
Área III – O Mundo
Unidade Temática 7 – A GLOBALIZAÇÃO DAS ALDEIAS
Tema - problema 7.1 – Cultura Global ou Globalização das Culturas?
Tema - problema 7.2 – Um desafio global: o desenvolvimento sustentável
Tema - problema 7.3 – O papel das organizações internacionais
Unidade Temática 8 – A INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA, DO CONHECIMENTO E DA INFORMAÇÃO
Tema - problema 8.1 – Das Economias-mundo à Economia Global
Tema - problema 8.2 – Da multiplicidade dos saberes à Ciência como construção racional do real
Tema - problema 8.3 – De Alexandria à era digital: a difusão do conhecimento através dos seus suportes
Unidade Temática 9 – A DESCOBERTA DA CRÍTICA: O UNIVERSO DOS VALORES
Tema - problema 9.1 – Os fins e os meios: que Ética para a vida humana?
Tema - problema 9.2 – A formação da sensibilidade cultural e a transfiguração da experiência: a Estética
Tema - problema 9.3 – A experiência religiosa como afirmação do espaço espiritual no mundo

10 comentários:

Vitório disse...

A classificação está muito errada por diversos motivos:
- Oprimeiro é por desconhecer o objecto de estudo da Geografia e os objectivos de aprendizagem de muitos temas-problema (é necessário conhecer o programa e o que se pretender abordar nos temas-problema antes de opinar)
- O segundo por ser redutora, não tem em conta outras áreas disciplinares, como a História e a Economia.

Já agora alguns exemplos incorrectos desta classificação:
- Os Filhos do Sol (7ºano de geografia excepto o sistema solar);
- Homem-natureza: uma relação sustentável (9º ano Ambiente e Desenvolvimento Sustentável);
-Estrutura Familiar e dinâmica social (IDES)

Os seguintes temas-problema fazem parte da Geografia C (12ºAno) e/ou do 9ºAno:
- Cultura Global ou Globalização das Culturas
- Um desafio global: o desenvolvimento sustentável
– O papel das organizações internacionais
– Das Economias-mundo à Economia Global

A estrutura modular deve ser definida de acordo com o curso e os seus formandos. Daí em determinados cursos profissionais a AI, num ano determinado ano do curso ou não, deve ser atribuída à Geografia porque os temas-problema serão da sua área disciplinar

Uma coisa tens razão, a estrutura modular tem de ser definida por equipas multidisciplinares, mas indo ao encontro ao curso e seus formandos e não na defesa de cada "capelinha". E eu defendo a participação da Geografia na AI não por falta de horário lectivo, mas porque tem de intervir onde é de seu direito e dever, e também pela qualidade dos CEF e Cursos Profissionais.

Sérgio Lagoa disse...

Nem me repugna que a disciplina seja leccionada por diferentes grupos disciplinares.

O problema é que o programa nã é linear: prevê-se que cada módulo seja construído pelo professor, em função das especificidades em que se encontra, com 3 sub-módulos de cada uma das áreas. Por exemplo, o módulo 1 deve ser consttuído pelos sub-módulos 1.1, 4.2, 8.3

Ora, isso significa que o programa nunca é igual, podendo divergir entre escolas ou dentro da própria escola; e que na actual estrutura curricular das escolas públicas é impossível (digo bem: impossível) atribuir cada um dos sub-módulos a diferentes actores profissionais - o professor de Filosofia, o professor de História, o Professor de Economia, o Professor de Geografia, etc.

Donde, há apenas das soluções: uma é extirpar esta chouriçada sem pés nem cabeça que é esta "disciplina"; a outra é devolver à Filosofia um papel no ensino profissional, a não ser que se considere que os alunos do ensino profissional não têm cabaça para estudar filosofia. Se não era essa a intenção, parece.

Rolando Almeida disse...

Vitório,
Não podemos pressupor que conteúdos programáticos leccionáveis ao nível do 2º e 3º ciclos possam ser comparáveis ao nível do ensino secundário.
abraço

Rolando Almeida disse...

Ah, outra coisa Vitório,
Trabalhei 4 anos no ensino profissional a ensinar AI e sociologia, numa escola privada.

Rolando Almeida disse...

Sérgio,
O mais aborrecido talvez é que o tratamento do programa nas escolas não se processa ao nível científico. Pouca gente liga a argumentos e competências científicas.

Rolando Almeida disse...

Vitório,
Mais uma coisa: o argumento da trasnversalidade não funciona (ou funciona melhor no caso da filosofia) por uma razão especial: se a geografia é um corpo de saber mais transversal, por que razão não reclamam os geógrafos ensinar filosofia nos cursos gerais?

Aires Almeida disse...

Concordo com o Sérgio que esta disciplina é uma chouriçada sem ponta por onde se lhe pegue. Mesmo os temas que supostamente são da área da filosofia (Rolando, também acho que muitos dos temas que indicaste para a filosofia pouco ou nada têm de filosófico, como por exemplo "Estrutura familiar e dinâmica social" e outros) conseguem ser mais abstrusos, incompreensíveis e abstractos do que o programa de filosofia dos cursos regulares. Isto é bem menos interessante, menos acessível e menos formativo do que o programa de filosofia. É incrível!

Como muito bem diz o Sérgio, o melhor é dar mesmo filosofia, nem que seja um programa mais curto e elementar. Ou então simplesmente algo como pensamento crítico. Disso é que os alunos precisam e pode ser muito acessível.

Já agora, uma nota à lista de autores que constam da bibliografia e que é referida na tomada de posição daquela escola: Sófocles, Damásio, Watzlawick, Ramonet, Sagan, Yourcenar, Sousa Santos, Bronowsky e Breton são filósofos? Eu imaginava que não.

Rolando Almeida disse...

Aires,
A verdade é que esses conteúdos nem são da filosofia, nem da geografia, nem de nada. Tenho consciência do erro de estar aqui a forçar as coisas. Se nem o programa de filosofia é filosófico em muitas passagens, que fará o de AI. Mas afinal, quem é que deve leccionar estes conteúdos?

Anónimo disse...

Rolando,

Essa Área de Integração já me deu umas valentes dores de cabeça, como deves estar lembrado. Como se trata de uma disciplina um tanto ou quanto ambígua, no que aos conteúdos programáticos diz respeito, é disputada por uma série de grupos disciplinares, desde a Geografia à Economia e ao Direito.
O critério que prevalece na atribuição da disciplina, em alguns estabelecimentos de ensino, parece-me ser o preenchimento de horários e não a competência propriamente dita, o que, em meu entender, não será o mais adequado.
Da minha experiência com a A.I., parece-me incontornável o facto de se tratar de uma "área" multidisciplinar, um tanto ou quanto híbrida. No entanto, sou da opinião de que 2/3 dos temas-problema propostos são de cariz marcadamente filosófico, com excepção para a área da Sociedade (1/3). De referir que a disciplina se estrutura de modo a que cada módulo seja transversal às três áreas (Pessoa, Sociedade e Mundo), o que inviabiliza a divisão de temas-problemas por grupos disciplinares.
Mesmo assim, sou da opinião de que o grupo de Filosofia é o que está mais habilitado para leccionar A.I., pois há temas-problema que abordam questões gnosiológicas, axiológicas (valores éticos, estéticos, religiosos), lógicas, sociológicas, epistemológicas, psicológicas e ainda questões relativas à filosofia social e política, às filosofias da natureza, etc...
Só uma nota final:
Não é tanto a disciplina mas um certo espírito que incutiram (?) nos alunos dos cursos ditos profissionais que me assusta.

Carlos JC Silva

Anónimo disse...

...Já agora, permite-me uma correcção. O tema "Da Multiplicidade dos saberes à Ciência como construção racional do real" é notoriamente filosófico e, como tal, não o situaria na zona híbrida, como fazes, mas na azul. Aborda conteúdos do género: o acto de conhecer, a relação sujeito-objecto, o senso comum, o empirismo, o racionalismo, o realismo e o idealismo, etc...

Carlos JC Silva