quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O oposto da filosofia

Religião: Cardeal-patriarca repreende bispos e padres que "se consideram com direito de decidir pela sua cabeça"

2 de Setembro, 2009, Agência Lusa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ainda muita gente confunde metafísica com religião, filosofia com crença em deuses. Apesar da filosofia estudar determinados aspectos com a argumentação relacionada com a religião, não deve nunca ser confundida com religião. A filosofia estuda problemas relacionados com a religião em igual sentido que estuda problemas relacionados com a física, a arte ou a ciência, entre muitos outros. Uma vez recordo-me de ter protestado com um livreiro porque o escaparate de filosofia estava disposto assim: “Filosofia/ Religião”. Perguntei a razão de tal critério. Respondeu-me que estava assim já que uma boa parte dos filósofos eram católicos. Bem, expliquei que existiu uma época em que grande parte dos filósofos ocidentais talvez fossem católicos, a idade média. Mas nesse período, grande parte dos estudiosos pertenciam à igreja já que a igreja dominava todos os aspectos relacionados com a vida e com a cultura. Se assim é, por que razão não tinha na livraria qualquer coisa como: “Literatura/Religião”, “Ciência/Religião”, “Psicologia/Religião”? Recordo que nesse dia dei uma pequenina lição de filosofia da religião, ao explicar que já os gregos colocavam os argumentos sobre a existência de deuses em causa e que toda a história da filosofia coloca em causa argumentos religiosos. A lição deve ter surtido algum efeito positivo já que se tratava de uma livraria multinacional e passada uma semana passei a ler no escaparate somente “Filosofia”. Recentemente passei a ler “Vários” e a religião passou a ter um escaparate exclusivo e bem grande, ao passo que a filosofia deixou de ter lugar exclusivo de destaque.

2 comentários:

António Parente disse...

Bom, eu penso iniciar daqui a uns dias um blogue sobre filosofia e religião (as duas coisas juntas) e agora fiquei indeciso perante os reparos de um filósofo profissional. Vamos ver o que vai sair.

A citação do Cardeal Patriarca deve ser contextualizada. Quando fez essa afirmação, o Cardeal referia-se aos padres que entendiam a "pastoral" (um termo teológico) como a gestão de uma empresa e não deve ser lida na interpretação que o Rolando lhe dá:

"muitos deles [padres e bispos] são “generosos no trabalho, desmultiplicam-se em actividades, como diz o povo, «trabalham que nem mouros», mas permanecem egocêntricos quando reivindicam autonomia de critérios, na gestão dos afectos, no estabelecer de prioridades, na atitude perante os bens materiais”. E acrescenta: “Para se pôr tudo ao serviço, não basta trabalhar muito”.

Mais ainda:

"O adjectivo «pastoral» transformou-se numa “categoria omnipresente no discurso eclesial”. Com a elevação à categoria de disciplina teológica, a Teologia Pastoral nem sempre evitou, “talvez por influência das ciências humanas e mimetismo em relação à «teoria das organizações», uma certa burocracia pastoral”. Na sua prelecção, o Patriarca de Lisboa sublinha que “muitas vezes o «pastor» assemelha-se mais a um “gestor de empresas”, do que ao pastor que conhece as pessoas, com os seus problemas próprios e o seu ritmo de caminhada. E finaliza: “Um pároco escondido atrás de uma grande máquina pastoral, a fazê-la funcionar eficazmente, pode não traduzir o calor amoroso do Bom Pastor”."

Rolando Almeida disse...

Olá Parente,
Bem vindo, é um gosto tê-lo por cá. Bem, o que interessa penso ser isto: ainda que o Parente tenha razão na explicação que deu, isso não desmente o comentário que fiz a seguir.
Abraço