segunda-feira, 20 de junho de 2011

Exames

Vale a pena recuperar aqui um texto de Aires Almeida, publicado no Público (ver aqui)

As coisas parecem complicar-se para alguns estudantes apenas quando não conseguem controlar a ansiedade e ficam num estado de grande nervosismo. Mas isso só acontece porque a realização de exames se tornou, no percurso escolar dos estudantes portugueses, uma coisa rara. Estivessem os estudantes habituados a exames e certamente seriam encarados com naturalidade. 
Mas para quê fazer exames, afinal? Algumas pessoas acreditam que os exames nacionais não trazem qualquer vantagem ao processo de avaliação das aprendizagens dos estudantes e que, portanto, são dispensáveis. Há mesmo quem diga que os exames empobrecem e distorcem o processo de avaliação contínua desenvolvido pelos professores ao longo do ano lectivo. Argumentam frequentemente que 1) uma prova de exame nacional não permite avaliar a diversidade de aprendizagens e competências adquiridas durante todo um ano lectivo; que 2) é incorrecto e injusto deixar que o futuro dos alunos se decida numa só prova, podendo eles nem sequer estar nos seus melhores dias; que 3) tratam de forma igual o que é diferente, na medida em que os percursos de aprendizagem de cada aluno são os mais diversos e que 4) não permitem medir com o rigor apregoado o conhecimento dos alunos.
Acontece que nenhum desses argumentos é sólido. Curiosamente, alguns acabam por se refutar a si mesmos. 
Atente-se no primeiro. É certo que nenhuma actividade ou instrumento de avaliação permite, isoladamente, avaliar todas as aprendizagens adquiridas pelos alunos. Mas isso só milita a favor da ideia de que a avaliação deve ser tão diversificada quanto possível. Ora, é uma verdade conceptual que um processo de avaliação sem exame nacional é menos diversificado do que um processo de avaliação com exame nacional. Dado que o exame nacional não substitui os instrumentos utilizados pelos professores nas aulas, antes se lhes acrescenta, ele contribui para enriquecer o processo de avaliação, ao invés de o empobrecer. 
O segundo argumento tem subjacente uma premissa falsa, a saber, que tudo se decide numa prova de duas horas. Mas as provas de exame apenas contribuem, de forma algo modesta, para a média final de cada disciplina. De resto, ainda que isso não fosse falso, o mesmo raciocínio poderia ser aplicado a cada um dos testes realizados nas aulas. Também aí os alunos podem não estar nos seus melhores dias. Será, pois, que os testes também não devem contar? E será que, recorrendo ao mesmo tipo de argumento, se poderá anular a tal entrevista decisiva a que nos submetemos para obter o tão desejado emprego? 
O terceiro argumento é simplesmente inconsistente com a existência de programas nacionais para cada disciplina. Se há programas nacionais, é suposto que os alunos cheguem ao fim do percurso tendo aprendido as mesmas coisas, independentemente do modo como lá chegaram. 
Por sua vez, do facto de os exames não medirem tão rigorosamente quanto se supõe os conhecimentos adquiridos não se segue que os exames não tenham qualquer rigor. E muito menos se pode concluir que sejam dispensáveis. As melhores previsões meteorológicas também podem não exibir o rigor desejável, mas isso não as torna dispensáveis. 
Em contrapartida, há várias boas razões para a existência de exames nacionais. Em primeiro lugar, introduzem um elemento de maior transparência e equidade no processo de avaliação dos alunos, permitindo também avaliar melhor o próprio sistema. Em segundo lugar, estimulam a excelência do ensino muito mais do que qualquer processo de avaliação dos professores, pois é sobretudo aí que eles se sentem realmente postos à prova quando ensinam. Em terceiro lugar, promovem nos estudantes uma atitude cognitivamente mais responsável e empenhada. 
Todavia, isto só é possível com provas de exame bem concebidas. Uma prova bem concebida é uma prova que contenha alguma previsibilidade, mas que não apele ao “empinanço”. É, além disso, uma prova não demasiado longa e prolixa, dando tempo aos alunos para pensarem em vez de se exigir deles respostas apressadas. E não se devem deixar de fora disciplinas estruturantes, como a Filosofia.
A escola tem sido cada vez mais socialmente desvalorizada nos últimos tempos. Os exames podem contribuir para a revalorizar e lhe dar alguma credibilidade social. Uma escola sem exames é uma escola que corre o risco de se descredibilizar irremediavelmente. 
Professor de Filosofia

sábado, 18 de junho de 2011

Nuno Crato é Ministro da Educação


A escolha do Nuno Crato para ME suscita algumas questões. Claro que é expectativa de muitos como é que o novo ministro vai tocar nas questões profissionais dos professores, ponto muito melindrado. Mas, por outro lado, é mais ou menos seguro que abre-se aqui uma porta finalmente a uma revisão séria de currículos e programas de ensino, bem como de exames e rigor na avaliação.
É certo que o primeiro ponto sempre esteve mais na ordem do dia em termos de políticas educativas que o segundo e creio que é aqui que Nuno Crato pode começar por enfrentar os maiores problemas já que estará sujeito a um esquema governativo de sufoco financeiro. Mas não tenho grandes dúvidas que a reforma curricular, bem como reformulação de programas é matéria para mexer e avançar. E para melhor. Nuno Crato tem sido um dos principais rostos de combate às políticas educativas baseadas no populismo político e no baixar da fasquia de exigência. Ainda assim aqui também terá de enfrentar muitas resistências, vindas essencialmente das instaladas ciências educativas mais centradas na sociologia e psicologia da educação do que na cultura do esforço, da ciência. Mas o ponto mais acessível para tocar será, sem dúvida, os programas de ensino.
É certo também que existe muito cepticismo político e tal compreende-se pelo desgaste social a que a política tem sido sujeita, principalmente nos últimos anos, em que passamos a necessitar de viver com maior controlo, mais rigor e mais clareza e verdade. Entre os cépticos muitos certamente adivinharão que Crato não vai poder governar contra o monstro político e ou vai ceder ou vai desistir. A resposta reside na futura coesão parlamentar e, por outro lado, das exigências populares. Uma coisa é certa, a figura de Crato é também recebida para ministro da educação por muitos com uma boa dose de optimismo. E que saída melhor nos resta senão acreditarmos que aqui pode estar uma mudança de conceber a política? Fica aqui este meu pequeno registo para mais tarde recordar e saber do que disse e não disse e do disse que disse.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Mogwai

A música dos escoceses Mogwai passa por nós sem que nos apercebamos. Parece incrível mas recordo-me uma vez, em Paredes de Coura, jantava eu uma boa feijoada nortenha com um copo de vinho tinto e ao fundo ouvia os instrumentais dos Mogwai, já que eles estavam a actuar ao vivo no palco principal a abrir mais uma noite de músicas alternativas e sonoridades eléctricas. No género, claro que prefiro de longe o post rock de uns Tortoise, uma das bandas mais sugestivas para a imaginação urbana que conheço, mas a verdade é que os Mogwai não andam muito longe disso e têm produzido discos excepcionais acusando a cada um deles maioridade musical. É exactamente essa a impressão com que fiquei com uma audição integral do seu último disco de originais. Vale bem a pena ouvir este pedaço de boa música e de composição rock planante, ou post rock para seguir a catalogação da crítica musical mais consagrada.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Peter Singer na Gradiva

Está já anunciado pela Gradiva a saída do livro do filósofo, Peter Singer, A vida que podes salvar. Neste ensaio o filósofo coloca o problema se temos ou não a obrigação moral de ajudar os mais pobres. Uma leitura fluída de um dos mais robustos filósofos da actualidade.