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domingo, 10 de abril de 2011

Para que serve a filosofia da religião?


A filosofia da religião examina criticamente as crenças religiosas fundamentais: a crença de que Deus existe, de que há vida depois da morte, de que Deus sabe, mesmo antes de nascermos, o que iremos fazer, de que a existência do mal é de algum modo consistente com o amor de Deus pelas suas criaturas. Examinar criticamente uma crença religiosa envolve explicar a crença e examinar as razões que se tem apresentado a favor e contra a crença, tendo em vista determinar se há ou não qualquer justificação racional para afirmar que essa crença é verdadeira ou falsa. O nosso objectivo ao levar a cabo este exame não é persuadir ou convencer mas fornecer ao leitor um contacto com o tipo de razões que se tem apresentado a favor e contra determinadas crenças religiosas fundamentais. Ao examinar as crenças religiosas seria desonesto afirmar que as minhas próprias perspectivas acerca destas crenças, e das razões oferecidas a favor ou contra elas, não são visíveis no texto. Certamente que são. Mas tentei apresentar de um modo convincente e cogente as perspectivas de que discordo, como eventualmente fariam os seus mais robustos defensores. E a minha esperança é que o leitor trate os meus próprios juízos do mesmo modo que procurei tratar os juízos de outros: não como ideias para aceitar como verdadeiras, mas como ideias dignas de reflexão séria e exame cuidadoso. Ler com este espírito o livro é entregar-se à própria disciplina para a qual foi concebido como introdução; é filosofar acerca das questões fundamentais na religião.

Da introdução do livro

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Filosofia da religião

Finalmente já há capa e edição à vista para este que é um dos melhores livros introdutórios nesta área da filosofia que li. Vamos ficar muito bem servidos em língua portuguesa. A tradução é de Vítor Guerreiro.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre os Milagres


David Hume deixou argumentos interessantes em relação aos milagres. Pela recente atribuição de um milagre ao Papa João Paulo II, lembrei-me desta passagem, que aqui só reproduzo uma pequena parte, de Simon Blackburn.
Hume retira uma conclusão famosa:
 
      A consequência clara é (e é uma máxima geral que merece a nossa atenção) «Que nenhum testemunho é suficiente para estabelecer um milagre, a não ser que o testemunho seja tal que a sua falsidade seja mais milagrosa do que o facto que esse testemunho procura estabelecer; e mesmo nesse caso há uma destruição mútua de argumentos, e o superior só nos dá uma certeza adequada ao grau de força que fica depois de deduzido o grau de força do inferior.» Quando uma pessoa me diz que viu um morto voltar à vida pergunto-me imediatamente se a probabilidade de esta pessoa me estar a enganar ou de estar enganada será superior à probabilidade de ter realmente acontecido o que ela relata. Comparo a probabilidade dos milagres entre si; e de acordo com a superioridade que eu descobrir pronuncio a minha decisão, rejeitando sempre o maior milagre. Se a falsidade do seu testemunho for mais milagrosa do que o acontecimento que ele relata, então, e só então, pode ele pretender guiar a minha convicção ou opinião.
 
     O argumento pode ser analisado de várias maneiras. É útil concebê-lo da seguinte maneira:
     Suponha que alguém me fala de um acontecimento a, altamente surpreendente ou improvável. De facto, seja a um acontecimento tão improvável quanto se consiga imaginar. Assim, a minha justificação para a é que «esta pessoa diz que a aconteceu». Tenho agora uma escolha entre duas hipóteses no que respeita a esta questão:
    
1) Esta pessoa diz que a aconteceu. Mas a não aconteceu.
2) Esta pessoa diz que a aconteceu. E a aconteceu.
 
     Ora, cada uma das alíneas anteriores contém um elemento surpreendente. A hipótese 1 contém uma surpresa: a pessoa disse uma falsidade. A hipótese 2 contém a surpresa de a ocorrer. Assim, tenho de pesar qual das duas é mais surpreendente ou improvável, rejeitando então «o maior milagre».
     O problema, como Hume elegantemente faz notar, é que é muito comum os testemunhos serem falsos. Há casos óbvios de mentiras deliberadas. Há casos de ilusões. Há lapsos notórios de memória. Onde há transmissão de informação há erros: tradução e compreensão erradas, pessoas que tomam metáforas como se fossem verdades literais, e assim por diante. Logo, 1 não envolve o mesmo tipo de improbabilidade do que 2. A hipótese 2 implica um milagre: um acontecimento tão improvável quanto se possa imaginar. A hipótese 1 só implica o tipo de coisa que nós sabemos que acontece em qualquer caso: as pessoas enganam-se. Logo, a barreira «nenhum testemunho é suficiente para estabelecer um milagre, a não ser que o testemunho seja tal que a sua falsidade seja mais milagrosa do que o facto que esse testemunho procura estabelecer» é um obstáculo que qualquer testemunho tem uma enorme dificuldade em ultrapassar. E mesmo assim tudo o que ganhamos é uma espécie de confusão: ficamos sem saber em que devemos acreditar, de modo que a opção sábia é suspender o juízo.
            De facto, Hume defende depois que jamais os indícios usados para estabelecer um sistema religioso estiveram perto de ultrapassar a barreira. Hume chama a atenção para várias coisas: os relatos de milagres têm tendência para ter origem em tempos e lugares remotos e bárbaros; ou para terem origem em pessoas cujas paixões estão inflamadas; ou em pessoas que têm interesse em vender uma história

Simon Blackburn, Pense, Gradiva


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Posso provar a existência de deus como provo a minha existência?

Se eu quiser provar a minha existência, que recursos tenho? Posso beliscar-me e, perante a sensação de dor, tentar provar que existo. Mas mesmo isto pode ser posto em causa. Posso, por exemplo, tal como no filme Matrix, estar sujeito a um mega programa que me criou a ilusão que senti dor quando me belisquei, quando nada disso aconteceu na realidade.
É verdade também que arranjamos alguns consensos, ainda que muito frágeis a maioria das vezes, para nos contentarmos com a vida. Os filósofos recorrem a consensos mais elaborados. O eu de Descartes é um desses consensos que tenta provar a minha existência.
E se queremos provar a existência de deus, que recursos temos? Um dos mecanismos de prova empírica mais recorridos é ainda demasiado improvável, que são os milagres. David Hume fez uma exposição interessante para desmontar a questão dos milagres nos Diálogos Sobre Religião Natural.
Será que os mesmos recursos que tenho para provar a minha existência servem para provar a existência de deus? Mas se são diferentes, o que é que faz com que consiga provar a minha existência mas não a de deus?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Antony Flew

Título: Deus Existe
Autor: Antony Flew
Tradução: Carlos Marques
Edição: ALETHEIA Junho de 2010


O livro Deus Existe de Antony Flew (19232010) é um registo fascinante de como o ateu mais reputado foi levado à convicção de que Deus existe. A narrativa é um testemunho eloquente da abertura de espírito, justeza e integridade intelectuais de Flew.

«Tendo sido um reputado ateu com base na razão, (Flew) agora defende que, precisamente com base na razão, foi levado a concluir que Deus existe.»
João Carlos Espada, jornal i

«O seu ateísmo tornarase lendário – Theology and Falsification, de 1955, foi, segundo alguns, o artigo filosófico mais lido da segunda parte do século XX. Por isso, a sua conversão, em 2004, foi tão polémica. O livro que a explica (Deus Existe), foibestsell er e semeou um debate filosófico intenso. Flew, que tinha sido mais sensível aos argumentos científicos do que aos metafísicos, baseou a sua mudança nas descobertas recentes da cosmologia e da física.»
Nuno Crato, Expresso

«Filósofo britânico pertencente às escolas de pensamento analíticas e evidencialistas, evoluiude ateísta para deísta: existe um Deus que criou o universo, mas que não intervém nele.»
José Cutileiro, Expresso

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Porque é que há sociedades mais cultas que outras?


As imagens mostram a capa e índice de um livro que tenho aqui em casa do ensino secundário inglês. Trata-se de um livro preparado para adolescentes, um textbook. É certo que não tem imagens coloridas como os manuais portugueses. Mas fiz questão de passar no scanner o índice para que se veja o que os jovens andam a estudar em Inglaterra quando estudam filosofia e filosofia da religião. Se repararmos bem, os jovens ingleses discutem o problema da existência de deus. Se estudam o argumento do design inteligente, também estudam as objecções de David Hume a este argumento. Estudam o argumento ontológico, mas também estudam as objecções. E os nossos estudantes quando é que discutem estes problemas? O programa do secundário de filosofia tem um tema no 10º ano, de opção que se chama pomposamente : “Valores religiosos”. E à excepção de um ou outro manual que faz um trabalho mais sério, a esmagadora maioria dos estudantes vão aprender coisas tão profundas como saber distinguir entre o sagrado e o profano. Conclusão: os jovens estudantes em Portugal fazem o ensino todo sem algum dia terem, sequer, percebido que a coisa se pode discutir e argumentar usando uma faculdade muito humana, a razão. Deve ser isto que explica que a maioria das pessoas não sabe pura e simplesmente discutir religião, não sabe que o problema da existência de deus é um problema filosófico em aberto e que os filósofos desde sempre debateram estas coisas. Em contrapartida temos manuais cheios de fotos lindas e coloridas. Isto, do meu ponto de vista, é subestimar a inteligência dos nossos jovens. Já me faz lembrar aquela tese paternalista e muito na moda em Portugal que não devo ensinar os números e as letras ao meu filho senão ele quando chegar à escola se desinteressa pela escola. Pudera, um puto com a inteligência desenvolvida apercebe-se logo que a escola não lhe valerá de grande coisa para aprender.    

terça-feira, 27 de abril de 2010

Será que deus existe?


Sobre o autor

Nascido em 1932, Michael Martin é professor emérito na Universidade de Boston, e um dos mais conhecidos especialistas em filosofia da religião. Autor de inúmeros artigos nas revistas da especialidade, é também autor dos livros Atheism: A Philosophical Justification (1989), The Case Against Christianity (1991), Atheism, Morality, and Meaning (2002), The Impossibility of God (2003) e The Improbability of God (2006).

Índice

Autores
Prefácio
Glossário
Introdução geral
  • Parte I Enquadramento
  1. O Ateísmo na Antiguidade
    Jan. N. Bremmer
  2. O Ateísmo na História Moderna
    Gavin Hyman
  3. Ateísmo: Números e Padrões Contemporâneos
    Phil Zuckerman
    Parte II Alegações contra o Teísmo
  4. Críticas Teístas do Ateísmo
    William Lane Craig
  5. O Insucesso dos Argumentos Teístas Clássicos
    Richard M. Gale
  6. Alguns Argumentos Teístas Contemporâneos
    Keith Parsons
  7. Naturalismo e Fisicismo
    Evan Fales
  8. Ateísmo e Evolução
    Daniel C. Dennett
  9. A Autonomia da Ética
    David O. Brink
  10. O Argumento do Mal
    Andrea M. Weisberger
  11. Argumentos Cosmológicos Kalam a Favor do Ateísmo
    Quentin Smith
  12. Argumentos da Impossibilidade
    Patrick Grimm
    Parte III Implicações
  13. Ateísmo e Religião
    Michael Martin
  14. Feminismo e Ateísmo
    Christine Overall
  15. Ateísmo e Liberdade Religiosa
    Steven G. Gey
  16. Ateísmo, A/teologia e a Condição Pós-moderna
    John D. Caputo
  17. Teorias Antropológicas da Religião
    Stewart E. Guthrie
  18. Ateus: Um Perfil Psicológico
    Benjamin Beit-Hallahmi

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Bom ano 2010


Para terminar o ano, deixo uma sugestão de mais um livro da nova vaga de fundamentalismo ateu. A ideia é divertida e o livro promete. E a todos, um bom ano 2010.











sábado, 12 de dezembro de 2009

Discutir a crença religiosa


Andamos a precisar da tradução de uma ou duas obras de filosofia da religião. Na minha biblioteca pessoal tenho umas 4 propostas. Duas são de carácter introdutório destinadas a um público fora da filosofia e duas outras são mais densas, mesmo que possam igualmente ser recomendadas ao público em geral. Uma dessas últimas é escrita por 4 autores, Michael Peterson, William Hasker, Bruce Reichenbach e David Basinger. É uma pequena enciclopédia dos problemas base relacionados com a filosofia da religião. Vale a pena clicar AQUI e aceder ao índice e é certamente uma aquisição recomendável, mesmo que implique maior esforço a leitura em língua inglesa.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dados interessantes

Lê-se no blog de Stephen Law:

David Bourget and David Chalmers have released the results of the largest survey of professional philosophers ever conducted. Some interesting results:

72.8% atheism
14.6% theism
12.5% other

49.8% naturalism
25.8% non-naturalism (but not necessarily supernaturalism)
24.2% other

Of course, quite what any of this shows re the truth of any of these beliefs, if anything, can be debated....

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O problema do mal na existência de deus


Como tu foste livre para deixar que eu matasse a Abel quando estava na tua mão evitá-lo, bastaria que por um momento abandonasses a soberba da infalibilidade que partilhas com todos os outros deuses, bastaria que por um momento fosses realmente misericordioso.