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terça-feira, 26 de agosto de 2025

O trabalho de Marcelo Fischborn

Há uns anos que acompanho o trabalho do Marcelo nas redes sociais. O que escreve, as linhas orientadoras que segue para o ensino da filosofia, os materiais que partilha, têm sido uma motivação e inspiração. Soube pelas redes que publicou o seu livro sobre a maneira como olha o ensino da filosofia e a própria filosofia. É uma pena se não chegar a Portugal dado que deve ser o reflexo de todo o seu trabalho e visão do ensino da filosofia e do que ela representa. Recordo que o trabalho do Marcelo pode ser visto no seu canal de YouTube (ver aqui) e também no site onde disponibiliza muitos materiais bastante úteis a quem ensina e aprende filosofia. O site do autor está AQUI. (Edit: após uma pesquisa percebi que a livraria Travessa importa o livro e o preço nem sequer é muito elevado. Poderá ser encomendado AQUI. O meu já vem a caminho). 




segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Lógica em português

Foi com surpresa que soube desta publicação. Surpresa porque o autor é desconhecido para mim e é um colega professor de filosofia do ensino secundário. Apesar da obra seguir mais ou menos a proposta do ensino da lógica no ensino secundário é um estudo apenas destinado a professores e quem queira algum aprofundamento no conhecimento da lógica proposicional. Está muito bem escrito, com excelentes reflexões pessoais, com um modo de expor a filosofia bastante cuidadoso não descurando aquilo que se destina, ou seja, ao conhecimento técnico da aplicação da lógica ao raciocínio e ao raciocínio filosófico em especial, onde a lógica tem terreno fértil. Que me tenha apercebido só é vendido pela Amazon. Comprei-o na Amazon espanhola após ter visto um pouco do elenco que compõe este livro. E mesmo que o autor o apresente como uma introdução, pelo nível de rigor é já um estudo semiavançado, na minha opinião. Recomendo, pois, especialmente para professores que assim podem não apenas aprofundar conhecimentos, mas também recolher técnicas e exemplos bem úteis para tornar as aulas mais diversificadas. E daqui seguem os parabéns ao autor, pois não é de todo fácil um professor do secundário meter mãos à obra para trabalho desta envergadura. 



António Mendes, Lógica Proposicional e Pensamento Crítico. Quem tem razão? (ed autor, 2023)


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Os livros do ano




Porque o tempo de um professor não é muito e prefiro elaborar a tradicional lista de discos do ano, a ser publicada aqui, fica aqui uma foto de alguns dos livros do ano. Uns são mais especiais que outros, como o Humanidade do Bregman que foi provavelmente o livro que mais me influenciou e transformou algo da minha visão dos outros e do mundo. Faltam ler uns dois, como o do Brennan que me chegou às mãos ao mesmo tempo que outros livros como o do Pinker que estou a terminar. E ainda faltam os livros que compro em formato digital. De todos destacaria o do A C Grayling que estou também a ler neste momento. Mas fica aqui a foto para lembrar alguns dos livros que fui lendo ao longo deste ano, mas sobretudo para lembrar que ler e pensar são atividades que nos faz bem e que não devemos abandonar. Boas festas a todos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

João Carlos Silva, Vida examinada

Vale a pena assinalar a publicação de mais um livro de João Carlos Silva. Por várias razões que até se ligam, algumas, a este blog. Uma delas e a principal é que o João é professor de filosofia no ensino secundário. Ser professor no secundário e conseguir publicar mais de 500 páginas de filosofia é, caso raro. Tal só se explica de uma maneira: um grande amor à filosofia. Aliás, esse é um dos títulos de um dos seus 4 volumes de ensaios. Não é, de facto, coisa pouca. Senão vejamos:

 

2010, A natureza das coisas do ponto de vista do universo, 367 pp

2010, Também aqui moram os deuses, 269 pp

2015, Por um amor à sabedoria, investigações filosóficas sobre o todo e todas as coisas, 498 pp

2021, Vida Examinada, a responsabilidade moral do professor de filosofia e outros ensaios, 546 pp

 


Tudo bem somado dá a módica quantia de 1680 páginas impressas. Se a isto somarmos alguns textos de ocasião e artigos que vai publicando online e que não tiveram espaço nestes livros, rapidamente percebemos da capacidade do João para se dedicar à escrita. Não esquecendo que pelo meio o João publicou também alguns livros que não são de filosofia, pelo menos um. 

O volume deste ano, publicado pela Lisbon International Press, reúne mais de 50 ensaios que percorrem várias áreas filosóficas que, penso poder afirmá-lo, correspondem aos interesses do autor. Assim, desde a eutanásia, existência de deus, epistemologia e ciência, política, etc.… intersectando áreas como cinema, história, questões pessoais, etc. muitos são os temas ali presentes e que podem ser lidos não na ordem apresentada no índice. 

Bem, na verdade o João comete ocasionalmente esta maldade, a de nos roubar o tempo para ler a sua prosa que tem tanto de instruída como muitas vezes bem-humorada e surpreendente.  

Quero aqui expressar de modo pessoal os meus parabéns ao João pelo trabalho que tem feito e o meu respeito pelo mesmo.


 

domingo, 11 de outubro de 2020

A. C. Grayling, Uma história da filosofia


São vários os livros que vão saindo no mercado nacional na área da filosofia. Não são muitos, pois o mercado ainda é pequeno. E, acreditem ou não, raramente se publica entre nós filosofia mais avançada com livros mais robustos em termos de argumentação. Quem procura esses livros acaba por os ler em inglês, no original. Ainda assim, destinado a um público não especializado, vamos tendo boas obras. Diria mesmo que o mercado editorial está praticamente todo focado neste público alvo. Assim hoje dispomos de obras de divulgação de ciência muito bons e que saem para o mercado todos os meses. E ainda bem. E ocasionalmente lá aparecem os de filosofia e, aqui, honra seja feita à Filosofia Aberta, coleção da Gradiva que tem sido a coleção mais persistente no tempo, com maior longevidade, portanto. E esta coleção até arrisca um pouco, publicando alguns livros que são já um pouco mais especializados, como o fez com o seminal Nomear a Necessidade de Kripke ou o caso mais recente dos excelentes ensaios de John Searle, apenas para dar dois exemplos. 

O espaço deste blogue, que continua também a ser a obra de one man show, obviamente não consegue fazer a cobertura de todos os livros que vão, entretanto, saindo para o mercado. Ainda assim não queria deixar passar esta magnífica edição da muito interessante história da filosofia do filósofo inglês, A. C. Grayling, aqui numa tradução do sempre competente Desidério Murcho, já com uma extensa experiência no ramo da tradução de filosofia. Obviamente construir uma história levanta problemas da própria filosofia da história, problemas que o autor não esquece ao justificar cuidadosamente todas as escolhas feitas. São quase 700 páginas de história da filosofia, abarcando também a filosofia indiana e chinesa, além de contemplar um interessante capítulo de filosofia analítica e continental (na verdade são dois capítulos) no qual Grayling não se escusa de refletir sobre esta suposta divisão e também lhe dando um enquadramento que permite compreender não somente as origens de tais divisões, bem como essas divisões deixam de fazer qualquer sentido no mundo da filosofia.

O livro é bem concebido como objeto pois as quase 700 páginas não pesam muito nas mãos. Ainda comprei a edição em papel, muito embora cada vez mais vá optando pelas edições em versão eletrónica que as Edições 70, felizmente, já adotaram. 

Num formato e estilo muitíssimo diferente da monumental história da filosofia do Kenny (também editada entre nós pela Gradiva), esta é uma obra que vale a pena ter, vale a pena descobrir e não deixa de ser uma ferramenta de estudo para quem quer que se dedique a descobrir mais deste universo de conhecimento que conta já com mais de 2500 anos de história.


VER AQUI

domingo, 19 de julho de 2020

Filosofia da morte (e da vida)

Diz-se muitas vezes que a filosofia é um saber fundamental, que trata dos fundamentos. E isto é verdade, pois é mesmo assim. A filosofia começa por procurar estabelecer os conceitos com os quais vamos empreender toda a nossa compreensão do mundo. Claro que os saberes são tão emaranhados, complexos e misturados que muitas vezes se estudamos física ou biologia podemos cair na tentação de nem sequer pensar nos conceitos que fundamentam as nossas investigações. Não é de todo raro ler de um Stephen Hawking ou Peter Atkins que a física vai explicar tudo. Ou de um E. O. Wilson, que tal tarefa será completada pela biologia. E por aí adiante. Mas na verdade nenhum saber avança sem alguma mediação filosófica no estabelecimento dos conceitos base. E é exatamente essa noção que ficamos quando lemos este novo e brilhante livro de Pedro Galvão. Pressupondo que muitas pessoas sem formação em filosofia me estão a ler, esqueçam se querem fazer uma leitura de praia deste livro. Quer dizer, leiam-no quando e onde quiserem, mas a sua leitura exige de nós um permanente esforço de compreensão. Todos os livros de filosofia o exigem, certo. Mas neste há uma particularidade que até eu estava inicialmente cético: é que é escrito em diálogo e mistura ficção com a filosofia para, pasme-se, ser um livro de e apenas de filosofia. Claro que o tema seduz ainda mais para a questão dos conceitos fundamentais, já que se trata da conceção que temos de vida e de morte e como é que filosoficamente essa conceção é mais ou menos plausível. Não é um livro de questões fundamentais por ser um livro acerca de problemas da existência e do fim dela, mas por ser um livro de filosofia. Ele é também um livro de panorama já que se propõe a explorar as principais teorias, clássicas e contemporâneas, que disputam estes problemas. É um livro que se avança devagar e se possível sem distrações. Porque o mundo da filosofia é assim, como de resto também o será o mundo de muitos outros saberes, menos os experimentais. Portanto, esta não é certamente uma sugestão de leitura de verão, mas uma sugestão de um excelente livro de filosofia acerca dos problemas fundamentais da vida e da morte. 

domingo, 28 de junho de 2020

Filosofia da Morte e Existência de Deus, duas novidades editoriais

Este livro é uma introdução a alguns argumentos acerca do problema da existência de Deus. Interessa a professores do ensino secundário, mas também para quem gosta de saber pensar sobre este relevante problema e ultrapassar o limite básico da opinião. Serviu de base à apresentação que fiz no Telensino (2020) já que segue as Aprendizagens Essenciais. Os outros livros desta coleção são igualmente recomendáveis. Pode ser adquirido aqui

 

 

Creio que este livro é praticamente o único existente em português e escrito por um português, Pedro Galvão, sobre as abordagens contemporâneas da filosofia da morte. Está escrito em diálogo que é uma das maneiras clássicas de se fazer filosofia e muito apreciada não somente por filósofos, mas pelo público não especializado. Para além disso, na minha opinião, Pedro Galvão é provavelmente a pessoa que melhor escreve filosofia atualmente em Portugal e com alguma visibilidade com trabalho já de algum alcance. Já agora, Galvão publicou também recentemente um livro de literatura fantástica que pode ser visto Aqui. É interessante apreciar como é que alguém que conhecemos pela escrita de filosofia e que, como referi, escreve muito bem sobre assuntos complexos, se sai na literatura. 

A coleção da Gradiva, Filosofia Aberta, dirigida pelo professor Aires Almeida tem outros títulos que ainda aqui não destaquei, mas muito bons, como o recente livro de John Searle que até foi publicado primeiro com a tradução portuguesa do que no original em inglês. O livro é muito bom e é uma espécie de best of de Searle.  Ver aqui.



segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Duas novidades em formato essencial

Duas novidades que certamente são de todo o interesse para a primeira unidade a ser lecionada no 10º ano, a Lógica e a Unidade, agora obrigatória, a ser lecionada no 11º ano, da filosofia da arte. Conheço já o primeiro, o do Desidério Murcho e o livro está recheado de explicações acessíveis, passo a passo e, muito importante até, exemplos a serem aplicados nas aulas. Brevemente tentarei falar mais destes dois úteis livros. Para além disso serão certamente livros acessíveis a quem quer que se interesse por estes temas. Quem conhece os autores sabe o que esperar: rigor e clareza.


sábado, 14 de setembro de 2019

Mas eu sou aluno, que é que devo ler?

Bem, se para um professor não se pensa em ritmos de leitura já que se pressupõe que todos os professores leem a bom ritmo, já para ti, aluno, não é bem assim. Não te posso recomendar um livro mais denso se não tens hábitos de leitura criados. Do mesmo modo tenho de ter cuidado com o vocabulário usado pelos autores. E não devo recomendar livros que não estejam escritos na tua língua materna. Mas vamos lá a algumas recomendações. Se tens poucos hábitos de leitura mas queres começar a compreender o que é e como se faz a filosofia, recomendo-te este livro que é uma espécie de micro enciclopédia da filosofia. Não é a leitura mais estimulante que se pode fazer em filosofia, mas pelo menos possibilita-te já um amplo conhecimento daquilo que é núcleo desta nova disciplina para ti: Os problemas, as teorias e os argumentos.




Mas se tens algum ritmo de leitura há outras opções que, na minha opinião, são até melhores que a anterior. Não te recomendo que comeces a ler filosofia pelo famoso livro O Mundo de Sofia. É um romance e só aborda a filosofia em termos históricos. Se vais por esse livro não chegas sequer a perceber a essência da filosofia. Deves estar a pensar:  "- Mas esse é o livro que toda a gente fala e leu!" É verdade. Mas esse livro foi publicado há muitos anos e nessa altura não havia grandes opções de escolha. Hoje em dia temos melhores livros para começares a filosofar, que é tudo o que te deve interessar quando começas a estudar filosofia. Do mesmo modo se queres nadar deves começar pelos treinos de natação.  

O livro de Thomas Nagel tem a vantagem de ser pequeno e fazer uma boa abordagem de alguns dos problemas da filosofia. Além disso é um livro barato. Também é verdade que já tem uns anos, mas ainda assim não perdeu o valor. Está bem escrito e é bastante estimulante. Lembra-te que ler filosofia não é como ler romances. Primeiro podes saltar capítulos e ler primeiro o que mais te interessa. Depois ler filosofia é um pouco mais lento do que ler uma história, uma vez que não estás a apenas a seguir acontecimentos. Ler filosofia implica que tu és o protagonista da história. Tu estás a pensar se concordas ou não com o que estás a ler. E depois começas a discutir o que lês. E não esperes que um livro de filosofia te diga o que gostas e o que já sabes. Se a filosofia é estimulante é porque nos desafia permanentemente acerca daquilo que julgamos ser verdadeiro e pensamos já saber. É uma espécie de ginásio intelectual. Tal como vais ao ginásio treinar o corpo, na filosofia o ginásio implica um treinar das ideias. 



Já o livro do Nigel Warburton é bastante completo. É mais volumoso que o de Nagel, mas como te disse antes, não precisas de ler tudo de uma vez já que cada capítulo aborda um problema diferente. Com a vantagem de que a esmagadora maioria dos problemas são abordados na escola. 



Este é escrito por dois autores portugueses que são também autores de manuais. Por isso conhecem bem o que vais aprender. Os capítulos são curtos e interessantes embora a linguagem te possa parecer em alguns momentos um pouco mais pesada que os dois anteriores. Mas foi escrito nativamente isto é, por dois falantes da nossa língua, o que é sempre uma vantagem. 


(este livro está esgotado no editor mas podes encontrar ainda nas livrarias)
Espero que faças boas leituras. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Ensinar filosofia? Como? Duas leituras para começar...

Primeira leitura

Em início de ano letivo e ainda com tantas questões no ar, próprio de quem ensina filosofia e, eventualmente, um dever de quem ensina seja o que for, nada melhor do que começar com algumas leituras. Sem as leituras tudo se torna um pouco mais superficial, sem norte. A primeira das leituras não é de todo consagrada ao ensino secundário e muito menos ao ensino secundário português. Ainda assim é sempre bom partilhar a experiência de ensino que me parece sincera e sensata de um professor universitário que tem décadas de experiência. Até porque muitas das inquietações do autor são também a dos professores do secundário.



Segunda leitura

Se a dúvida caracteriza parte do que fazemos nas aulas de filosofia, a verdade é que militar na dúvida pode conduzir a uma ideia trapalhona do que é a filosofia. Até a dúvida deve ser arrumada (para aqui arranjar um termo que significa o mesmo que metódica para o nosso colega Descartes). E é exatamente isso que Baggini fez neste majestoso manifesto de como nos posicionarmos face ao carácter mais essencial da nossa disciplina, lidar com o ceticismo. Daqui não vamos retirar ensinamentos diretos para as nossas aulas nem tão pouco estratégias de lecionação. Com este livro raciocinamos o tempo todo acerca das nossas próprias convicções do que fazemos quando entramos numa sala de aula para ensinar filosofia. 

Espero que estas duas leituras sejam um bom auxiliar do nosso trabalho, o de despertar os miúdos para o universo das questões inteligentes e da discussão racional. 



sábado, 20 de julho de 2019

Democracia, conhecimento, liberdade e humanidades

Ao longo da minha carreira já conheci muitos estudantes brilhantes que me disseram não poder seguir filosofia pois filosofia não lhes garante emprego futuro. Esses estudantes fogem para medicina, economia ou áreas tecnológicas ligadas às engenharias. Sem estes talentos nos cursos de filosofia, história ou música dificilmente teremos no país uma cultura forte nestas áreas. Os melhores estudantes que me chegam às mãos com 15 anos já estão formatados para os cursos que devem seguir. Podem-me falar em exceções. Claro que as há. Mas são isso mesmo, exceções. Uma estatística claramente ad hoc diz-me que em cada 10 bons estudantes apenas 2 ou 3 seguem humanidades. Na escola onde trabalho há todos os anos cerca de 30 turmas novas do 10º ano. E basta espreitar as pautas no final do primeiro período para perceber o que aqui refiro. Um aluno de humanidades em regra teve já uma experiência de fracasso, nem que seja a matemática, da qual foge. Há umas semanas estava à conversa com uma colega de trabalho formada em ciências e discutíamos o que seria melhor para um aluno com rendimento fraco. E ela propôs esta solução: se calhar é melhor para ele seguir humanidades. De imediato apontei para a melhor aluna da turma e questionei por que razão não deveria essa seguir humanidades? Os professores sabem que os melhores alunos são os das turmas de ciências e por isso é uma luta nas escolas para ver quem fica com essas turmas. O professor que chega por último à escola fica com o que ninguém quer, no qual se inclui, claro, turmas de humanidades. Em regra dizem-me sempre: “Mas há turmas de humanidades boas”. Só que quem me diz isto quer apenas perpetuar os seus interesses privados. Por essa razão acho bastante pertinente o argumento a favor de uma educação liberal defendido por Martha Nussbaum neste livro. Não, não acho que nele se esteja apenas a fazer um lamento. O que se está a fazer é a argumentar em favor da tese de que sem um sério retorno às humanidades, todo o conhecimento e debate racional fica ameaçado. E eu gostei do livro. É de fácil leitura e promove o debate. Mas há o risco de em Portugal ser pouco lido e , mais grave, nunca ser lido por quem o deverá ler, as pessoas formadas em ciências e não as de humanidades. Para além disso é um livro estimulante para professores em geral, numa altura em que tanto se fala em escola inclusiva ao mesmo tempo que pautamos o ensino a partir de grelhas comparativas de resultados. 

sexta-feira, 12 de julho de 2019

sábado, 29 de junho de 2019

Leituras de verão

É já um cliché afirmar que o verão é uma boa altura do ano para deixar algumas leituras em dia ou começar a ler sem ter de ser por obrigação. Nesse sentido deixo aqui algumas sugestões de leitura para miúdos e graúdos que, claro, também refletem um pouco as minhas opções. 

 O último livro de Ian McEwan. Uma ótima referência para pensar a relação que estabelecemos com as tecnologias e até que ponto se pode definir o humano. 
 Numa altura em que as relações com o poder político são postas em causa devido aos populistas e a política espetáculo, este livro de Jack London faz-nos pensar em todas essas relações e os perigos que espreitam a nossa liberdade. 
 Extraordinariamente bem escrito e muito bem pensado. Um dos melhores livros de filosofia sem ser técnico que li nos últimos tempos. 
O próprio Baggini indica no livro anterior que conhecer a vida dos filósofos é muitas vezes um bom caminho para compreender os seus argumentos. Se tal for plausível, então que tal começar pela vida de Stuart Mill? 
Mais um livro que retrata o percurso que podemos fazer desde a curiosidade espontânea até ao pensamento consequente e logicamente organizado. 
É talvez o livro mais acessível da lista, mas também o menos interessante. Apesar disso não deixa de ser estimulante principalmente pela justificação que dá acerca da necessidade de filosofar sobre problemas morais. 

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Fazer filosofia

Como modelo para a filosofia, a matemática básica é muito mais útil que o dicionário. Aquilo de que precisamos para raciocinar claramente não são ‹‹verdades por definição››, triviais, mas uma teoria forte, explicitamente articulada. A clareza não aspira a um padrão mítico de indubitabilidade. Ao invés, o propósito é tornar claramente visíveis os erros do nosso raciocínio, como o são na matemática. Se o leitor ouvir alguém negar o valor da clareza, pergunte-se por que razão poderá não desejar que os erros de raciocínio sobressaiam claramente. 


segunda-feira, 23 de julho de 2018

Até Setembro com BD

As férias começam aqui no FES. Regressamos em Setembro certamente com muito trabalho em cima do joelho para que o ano vá avançando com poucos atropelos a bem da filosofia, do seu ensino e sobretudo do gosto em aprender.Mas as férias são também um tempo ideal para algumas leituras. Deixo a recomendação desta BD publicada há semanas na Gradiva, Hereges. E deixo também uma foto de sol e mar que são os motivos das férias do verão para quem ensina e quem estuda.




segunda-feira, 14 de maio de 2018

Desigualdades

Hoje mesmo a imprensa em Portugal noticiava que os gestores de empresas ganham muito mais que os trabalhadores base. Harry Frankfurt apresenta neste livrinho, publicado na Gradiva, um excelente argumento para justificar a desigualdade que não necessariamente esta desigualdade que as notícias revelam. 

Novidades também em Banda Desenhada

Duas novidades de assinalar, ambas pela Gradiva. A primeira é uma colectânea de pequeníssimos textos introdutórios que dão uma ideia do que e do como se trata na filosofia ao longo da sua história. A segunda ainda não lhe tomei contacto direto, mas adivinho o seu interesse, pelo menos aqui para o escriba que sempre apreciou os livros em quadradinhos.



quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Um best of para 2017

Nem só de livros vive a filosofia. Vive, e muito, de artigos, teses académicas, palestras, conferências, vídeo aulas, etc. Mas o formato livro dá conta também do interesse comercial de um determinado saber. Diria que o interesse português pela filosofia é bastante modesto. E desconfio que é assim quanto ao interesse geral pelo conhecimento. Mas também já foi pior. E também não sei dizer que benefício haveria em ter publicações em grande número  todos os meses. Seja como for quando quero fazer a lista dos melhores livros de filosofia publicados em Portugal ao longo de 1 ano apenas, raramente consigo chegar aos 10 livros. Claro que foram publicados mais. Simplesmente aqui o critério da lista é também muito apertado. Eu, como leitor, sou o critério (risos). Assim, de seguida, apresento aqueles que foram para mim as edições mais interessantes no campo da filosofia publicada em Portugal. Pelo meio escolho sempre um ou outro título não diretamente ligado à filosofia, mas pelo menos com algumas conexões indiretas. Finalmente, a filosofia não se lê por anos. Isto significa que um leitor de filosofia não lê um livro em função do ano de publicação, mas do interesse para a discussão de um determinado problema. De salientar que os maiores grupos editoriais portugueses praticamente não publicam filosofia.

1.      Jason Brennan, Contra a Democracia, Gradiva, Trad. Elisabete Lucas

2.      Yuval Noah Harari, Homo Deus, Elsinore, Trad. Bruno Amaral


3.      Peter Singer, Ética no mundo real, Ed. 70, Trad. Desidério Murcho


4.      John E. Roemer, Um futuro para o socialismo marxista, Gradiva, Trad. José S. Pereira


5.      Harry Frankfurt, Sobre a verdade, Gradiva, Trad. Mª Fátima Carmo


6.      Roger Scruton, A natureza Humana, Gradiva, Trad. Mª Fátima Carmo


7.      Bernard Williams, A ética e os limites da filosofia, Documenta, Trad. A. Morão e D. Santos


8.      António Damásio, A estranha ordem das coisas, Temas & Debates, Trad. Luís Oliveira e João Quina



Para 2018 gostaria de ver traduzidos muitos livros. Mas para já ficaria contente com a publicação entre nós de alguns dos livros de Julian Baggini, para mim, provavelmente o melhor escritor de filosofia popular mais estimulante do momento e do qual ainda não temos um único livro traduzido. Gostaria também de ver traduzida a breve introdução à filosofia política muito bem escrita por David Miller. E também agraciava a tradução do livro sobre o problema do livre arbítrio de Ted Honderich, How free are you? The determinismo problema. Apesar de já ter uns anos é um excelente livro. Mas não ficaria triste de ver mais livros de autores como Thomas Nagel, Jason Brennan, Jeff Macmahan ou David Benatar, todos eles autores com livros muito apetitosos. Esperemos que tal aconteça. 
Bom 2018