quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Quem deve leccionar Área de Integração

Recentemente iniciei uma troca de argumentos com um colega de outra área disciplinar sobre a disciplina de Área de Integração e a que grupo disciplinar essa disciplina deve ser entregue. A discussão foi aberta e inteligente. Ficaram no ar algumas conclusões e muitas dúvidas. Em causa estão questões como: o programa de AI é disperso, pelo que tem unidades leccionáveis por várias áreas, sendo as principais, filosofia, história, geografia, economia e relações internacionais. Do ponto de vista da organização da carga horária quem mais perde é indubitavelmente a filosofia, por uma razão especial: a filosofia é de carácter obrigatório nos cursos gerais. Nos profissionais não existe filosofia. Com cerca de metade dos alunos do secundário a frequentar o profissional, creio que nem é necessário fazer grandes contas para perceber qual o grupo profissional que mais perde. Depois há ainda a considerar um elemento: se a AI não é filosofia (e não é) então o grupo de filosofia não tem de a ensinar. Mas a AI também não é geografia, nem história, nem nada em especial e tudo ao mesmo tempo. Então qual a razão para os docentes de filosofia ficarem parados a assistir outros grupos a ocupar a disciplina e a criar mais emprego para os seus grupos desse modo? Nos contactos que estabeleci com alguns grupos editoriais pude apurar sem grande esforço que os manuais têm sido elaborados por pessoas de várias áreas, mas maioritariamente por pessoas ligadas à filosofia. Ora, será que os profissionais da filosofia não querem leccionar AI, mas elaboram materiais para outros grupos a leccionar? A páginas tantas parece que o mesmo argumento para não leccionar a disciplina encaixa em todas as áreas e, ao mesmo tempo, o mesmo argumento para a leccionar, também serve aos grupos disciplinares em disputa. Se o critério científico, ao que parece, não pode presidir à escolha do grupo disciplinar para leccionar AI, que critério então deve ser usado? O que pensa o leitor disto? Era importante relançar a discussão. Que critérios devem presidir à atribuição da disciplina de Área de Integração a um grupo disciplinar? Agradeço a colaboração dos leitores.

5 comentários:

António Daniel disse...

Pela experiência que existe noutras escolas, a solução encontrada foi dividir os módulos pelas disciplinas que melhor se adequam. Será uma matéria negociável e de difícil consenso, mas tem de ser negociado para se encontrar os módulos mais apropriados às disciplinas. Mas também te digo que não invejo quem leccione essa disciplina. Contudo, não é essa a problemática do teu post.

Vitório disse...

Bem dito. São professores com esta sensibilidade que devem estar nos órgãos de gestão da escola.

António Daniel disse...

Vitório, obrigado pelo elogio,mas parece-me ser essa a solução adoptada. No primeiro ano de leccionação de AI as coisas começaram de forma desorganizada. Mea culpa faço por que, como professor da disciplina, não fiz uma leitura adequada do programa. Por este motivo, numa primeira fase, a negociação foi mais à base das necessidades dos grupos. Cada um dos grupos justificava-se de forma um pouco leviana. Atempadamente, um grupo de colegas de história, de filosofia e de geografia reuniu-se e, numa negociação que se baseou na abordagem das diferentes temáticas, decidiu dividir os vários módulos. Mas também não me repugna que, caso haja um módulo que possua informação onde predomine, por exemplo, a História, mas que também possua alguns temas de Filosofia, não me repugna, dizia eu, dirigir-me à aula desse colega e leccionar esses conteúdos. Evidentemente que esta situação exige uma certa ponderação e deve levar em consideração o tipo de turma que é. Contudo, o saber tem que ser trabalhado de uma forma interdisciplinar e enquadrado com humildade suficiente para sabermos até onde podemos ir. O que tem de acabar é aquela visão de superioridade epistémica relativa a determinada disciplina, embora saiba que o micropoder é algo sempre presente nas relações humanas. Já por isso Sócrates disse que começou a aprender política quando foi professor num liceu lisboeta. Se aprendeu bem ou mal, essa é outra questão.
Rolando, cumprimentos e mais uma vez parabéns por este espaço de serviço público.

Elsa Lopes disse...

Correndo o risco de ser acusada de parcialidade, que tal entregar a disciplina em causa ao grupo disciplinar que melhor possa ajudar os alunos a desenvolver o se espírito crítico e argumentativo? Os estudantes do ensino profissional não devem ser discriminados e apenas preparados para o exercício cego de uma qualquer profissão.
Por outro lado, penso ter percebido que esta disciplina -AI-foi introduzida no pressuposto da importância de uma abordagem interdisciplinar de um conjunto de conteúdos de várias ciências sociais.E a interdisciplinaridade não deve ser confundida com mera soma de conteúdos disciplinares. Pretende-se, pelo menos é essa a minha interpretação do programa, contribuir para que os estudantes possam construir uma visão do mundo como realidade complexa e, simultaneamente uma visão de si próprios como agentes activos e responsáveis nesse mesmo mundo que a ciência tranforma em objecto de estudo.

António Daniel disse...

Elsa, o seu argumento é forte, contudo parece-me que há temas no programa que devem ser dados por professores de outras disciplinas porque tem determinadas especificidades. O conteúdos leccionados pelos docentes de Filosofia devem, por isso, ser potencializados no sentido de colmatar alguma falha no que diz respeito à argumentação e à crítica.