Inseri na secção "Videos" deste blogue uma nova aula, inicialmente gravada apenas para os meus alunos, mas disponibilizada para todos.
segunda-feira, 18 de março de 2024
segunda-feira, 15 de janeiro de 2024
Um diálogo cheio de falácias
Este pequeno trabalho foi a apresentação de um grupo de alunos que tive o ano passado no 10º ano, 0 10º4 e continuo com eles no 11º, o 11º4. Quando pedi um trabalho de grupo sobre as falácias informais, apresentaram este pequeno diálogo que fica agora aqui registado no FES.
As falácias informais são quando a conclusão não é devidamente justificada.
Diálogo:
1: O suicídio é moralmente errado porque acredito que é incorreto tirar a própria vida.
2: Esse argumento fui usado para justificar o que tu queres, como justificação da sua conclusão. É uma petição de princípio.
1: O quê? Está a dizer-me que estou errado? Enfim, o que está claro é que se a vida tem um objetivo, então não é uma ação moral pôr-lhe um fim.
2: Aí está um falso dilema, porque omitiu informações que podiam ser importantes.
1: Depois do suicídio do seu amigo, houve uma pandemia quase fatal para o mundo, e tu passaste a ser a favor do suicídio!
2: Por favor, tente não cometer tantas falácias enquanto fala. Pudemos observar aqui uma falsa relação causal, porque o facto de o meu amigo ter se suicidado, nada tem a ver com a pandemia, sendo que foi um acontecimento que veio muito depois do ocorrido.
1: Pois, se tu achas que é assim, se o suicídio se tornar moralmente correto, então, vai ser considerado pela população um ato normal, logo uma cidade suicida-se levando um país inteiro a fazer o mesmo, consequentemente desencadeando um suicídio em massa.
2: Uma falácia de derrapagem! Hahaha! Isso é muito improvável de acontecer!
1: Mas então, imagine que uma mãe comete suicídio e deixa uma criança desamparada. Acha isso correto?
2: Está a tentar com apelo às emoções para que concordem contigo, considerando o suicídio moralmente errado? Isso é uma falácia de ad populum.
1: Pense comigo, isto está certo! Toda a minha família acha que o suicídio é moralmente errado, logo o suicídio é considerado moralmente errado para todo o mundo.
2: Isso é uma falácia de má generalização, usou uma amostra pouco válida, para tirar uma conclusão. Uma generalização precipitada.
1: O suicídio é moralmente errado de acordo com o Messi, logo, o suicídio é moralmente errado para todos.
2: Um apelo ilegítimo á autoridade, usou uma figura que pouco sabe sobre este assunto.
1: Ainda ninguém provou que o suicídio é moralmente correto, logo para mim o suicídio é moralmente errado, até que seja provado o contrário.
2: Isto é um apelo á ignorância, porque apesar de ninguém ter ainda conseguido provar este facto, não significa que o suicídio seja moralmente errado.
1: Mas tu que és ateu e africano, pensas que sabes o suicídio é moralmente correto? Sendo que nem a tua própria família consegues gerir, vens desmentir-me em frente deste público?
2: Mantenha a minha vida pessoal fora disto, só porque ficou sem argumentos vem atacar o homem, atacar não é uma boa razão para justificar que o suicídio é moralmente errado. Isso é uma falácia ad Homimem.
1: Ora, se optas por ir para o trabalho doente e criticam por estares doente, então se decidem se suicidar também devia ser criticado. Por isso, na minha escolha de criticar que o suicídio é moralmente errado está certa.
2: Um falso dilema! O suicídio nada tem haver com o facto de eu estar doente e ir para o trabalho.
segunda-feira, 7 de agosto de 2023
Lógica em português
Foi com surpresa que soube desta publicação. Surpresa porque o autor é desconhecido para mim e é um colega professor de filosofia do ensino secundário. Apesar da obra seguir mais ou menos a proposta do ensino da lógica no ensino secundário é um estudo apenas destinado a professores e quem queira algum aprofundamento no conhecimento da lógica proposicional. Está muito bem escrito, com excelentes reflexões pessoais, com um modo de expor a filosofia bastante cuidadoso não descurando aquilo que se destina, ou seja, ao conhecimento técnico da aplicação da lógica ao raciocínio e ao raciocínio filosófico em especial, onde a lógica tem terreno fértil. Que me tenha apercebido só é vendido pela Amazon. Comprei-o na Amazon espanhola após ter visto um pouco do elenco que compõe este livro. E mesmo que o autor o apresente como uma introdução, pelo nível de rigor é já um estudo semiavançado, na minha opinião. Recomendo, pois, especialmente para professores que assim podem não apenas aprofundar conhecimentos, mas também recolher técnicas e exemplos bem úteis para tornar as aulas mais diversificadas. E daqui seguem os parabéns ao autor, pois não é de todo fácil um professor do secundário meter mãos à obra para trabalho desta envergadura.
sexta-feira, 29 de maio de 2020
terça-feira, 26 de maio de 2020
sexta-feira, 22 de maio de 2020
sexta-feira, 17 de maio de 2019
Formação em lógica proposicional - Escola secundária Jaime Moniz
quarta-feira, 10 de outubro de 2018
Documento para os alunos estudarem lógica proposicional - Oferta
terça-feira, 9 de outubro de 2018
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
Será que há duas lógicas?
quarta-feira, 28 de junho de 2017
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
domingo, 16 de outubro de 2016
Cogência
Algumas vezes surgem confusões ligadas a esta noção da argumentação
filosófica. Um argumento é cogente quando, além de válido e com premissas
verdadeiras, persuade racionalmente, ou seja, é convincente.
A objeção mais habitual é que não faz sentido falar em tal coisa, pois em filosofia não há argumentos cogentes. Claro que há! Um argumento é filosoficamente cogente se as premissas forem mais plausíveis do que a conclusão, isto é, se nos levarem a aceitar uma conclusão que desconhecíamos. Diz-nos a noção de validade que um argumento é dedutivamente válido se em nenhuma das circunstâncias de verdade possíveis as premissas do argumento não possam ser verdadeiras e a conclusão falsa. |
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Eis um exemplo de dedução válida:
Este é um argumento válido e com premissas verdadeiras. Significa isto
que é sólido. Mas facilmente percebemos que a solidez não parece ser uma
noção suficiente, apesar de necessária, para persuadir alguém com um
argumento. Isto porque em filosofia temos premissas muito discutíveis. E,
apesar de serem muito discutíveis, tal não significa que não nos possam fazer
aceitar uma conclusão que, à partida, não estaríamos dispostos a aceitar, não
fossem aquelas premissas. Se as premissas forem mais plausíveis que a
conclusão, acabamos por aceitar uma conclusão que à partida não
defenderíamos. Isto é a cogência.
O exemplo dado não é um exemplo de cogência, pois na cogência o que queremos mostrar é que alguém não pode defender uma tese partindo de determinadas premissas, ou seja, que aquilo que já aceita – as premissas – implica necessariamente a conclusão que não quer aceitar e que nós defendemos. Assim, a definição de cogência é operacional para nos permitir compreender que não desejamos somente argumentos sólidos, mas, além disso, que convençam. Podemos ter argumentos sólidos, mas que não são persuasivamente fortes, necessitando de explicações adicionais para que se tornem convincentes. E daí a cogência. A cogência é igualmente aplicável a argumentos quer dedutivos quer indutivos. Nestes últimos, um argumento cogente não aponta necessariamente para uma conclusão verdadeira, mas é muitíssimo provável que o seja. A cogência vai mais além da mera sintaxe do argumento e é uma noção interessante precisamente quando não sabemos determinar a verdade das proposições. Claro que não precisamos de saber se as premissas de um argumento são verdadeiras ou falsas para saber se é válido. Precisamos apenas de saber que, se as premissas forem verdadeiras em alguma simulação de verdade, a conclusão não poderá ser falsa nessa mesma circunstância. Para saber isso, podemos aplicar um inspetor de circunstâncias.
Mas, ainda assim, temos muitos argumentos perfeitamente válidos que não
são persuasivos. Daí a importância da solidez. O problema é que nem sempre é
fácil determinar a solidez de um argumento, pois nem sempre sabemos da
verdade das premissas. Assim, falamos de cogência do argumento, isto é, da
plausibilidade das premissas para apoiar determinada conclusão.
Publicado originalmente Aqui
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segunda-feira, 2 de maio de 2016
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Filosofia & matemática
sábado, 5 de dezembro de 2015
Consitência e Inconsistência
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Argumentos cogentes
Algumas vezes surgem confusões ligadas a esta noção da argumentação filosófica. Um argumento é cogente quando, além de válido e com premissas verdadeiras, persuade racionalmente, ou seja, é convincente.
A objeção mais habitual é que não faz sentido falar em tal coisa, pois em filosofia não há argumentos cogentes. Claro que há! Um argumento é filosoficamente cogente se as premissas forem mais plausíveis do que a conclusão, isto é, se nos levarem a aceitar uma conclusão que desconhecíamos. Diz-nos a noção de validade que um argumento é dedutivamente válido se em nenhuma das circunstâncias de verdade possíveis as premissas do argumento não possam ser verdadeiras e a conclusão falsa. | ||||
Eis um exemplo de dedução válida:
Este é um argumento válido e com premissas verdadeiras. Significa isto que é sólido. Mas facilmente percebemos que a solidez não parece ser uma noção suficiente, apesar de necessária, para persuadir alguém com um argumento. Isto porque em filosofia temos premissas muito discutíveis. E, apesar de serem muito discutíveis, tal não significa que não nos possam fazer aceitar uma conclusão que, à partida, não estaríamos dispostos a aceitar, não fossem aquelas premissas. Se as premissas forem mais plausíveis que a conclusão, acabamos por aceitar uma conclusão que à partida não defenderíamos. Isto é a cogência.
O exemplo dado não é um exemplo de cogência, pois na cogência o que queremos mostrar é que alguém não pode defender uma tese partindo de determinadas premissas, ou seja, que aquilo que já aceita – as premissas – implica necessariamente a conclusão que não quer aceitar e que nós defendemos. Assim, a definição de cogência é operacional para nos permitir compreender que não desejamos somente argumentos sólidos, mas, além disso, que convençam. Podemos ter argumentos sólidos, mas que não são persuasivamente fortes, necessitando de explicações adicionais para que se tornem convincentes. E daí a cogência. A cogência é igualmente aplicável a argumentos quer dedutivos quer indutivos. Nestes últimos, um argumento cogente não aponta necessariamente para uma conclusão verdadeira, mas é muitíssimo provável que o seja. A cogência vai mais além da mera sintaxe do argumento e é uma noção interessante precisamente quando não sabemos determinar a verdade das proposições. Claro que não precisamos de saber se as premissas de um argumento são verdadeiras ou falsas para saber se é válido. Precisamos apenas de saber que, se as premissas forem verdadeiras em alguma simulação de verdade, a conclusão não poderá ser falsa nessa mesma circunstância. Para saber isso, podemos aplicar um inspetor de circunstâncias.
Mas, ainda assim, temos muitos argumentos perfeitamente válidos que não são persuasivos. Daí a importância da solidez. O problema é que nem sempre é fácil determinar a solidez de um argumento, pois nem sempre sabemos da verdade das premissas. Assim, falamos de cogência do argumento, isto é, da plausibilidade das premissas para apoiar determinada conclusão.
Publicado originalmente AQUI
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quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Como usar Inspetores de circunstâncias
Referem-me com frequência que reduzir a filosofia à lógica retira àquela parte essencial do seu papel.
Como já foi explicado em posts anteriores, a lógica não capta, por si só, todas as subtilezas da argumentação, mas é uma ferramenta preciosa quando bem aplicada à argumentação.
É o caso dos inspetores de circunstâncias. Como o nome sugere, um inspetor de circunstâncias vai inspecionar as condições de verdade de um dado argumento dedutivo. A regra da validade dedutiva indica que um argumento é válido se for impossível uma circunstância em que a ou as premissas seja(m) verdadeira(s) e a conclusão falsa.
Tomemos um exemplo prático de um argumento:
Exemplo 1
A relva é amarela e as nuvens
cor-de-rosa
Logo, a relva é amarela |
Este argumento tem uma premissa apenas e uma conclusão. Sabemos que a premissa é falsa, a conclusão também e o argumento é válido. Intuitivamente sem recurso a um inspetor compreendemos a validade do argumento.
Exemplo 2
Se Deus existe, a vida faz sentido
A vida faz sentido Logo, Deus existe |
Que dizer deste argumento? Em princípio um crente aceitará a primeira premissa, mesmo que não seja estritamente necessário que a aceite para justificar a sua crença. Será o argumento dedutivamente válido? Tudo o que há a fazer é inspecionar as circunstâncias em que ocorre verdade e falsidade nas premissas do argumento. Temos de testar pelo inspetor todas as circunstâncias possíveis.
Utilizando o dicionário, obtemos:
Deus existe – p
A vida faz sentido – q |
p, q, r.)
De seguida, formalizamos o argumento:
Se p então q
q Logo, p |
O argumento na tabela, se usarmos corretamente simbologia lógica convencionada, deverá constar assim:
p → q, q ╞ p
|
Para p e q existem quatro variações de verdade. Ou ambos são falsos, ou ambos são verdadeiros. Ou p é verdadeiro e qfalso, ou o contrário. Existem mais? Não.
Fazemos então uma tabela onde dispomos estas variações:
Verdade para p e
verdade para q
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1.ª premissa
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2.ª premissa
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Conclusão
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p q
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Se p então q
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q
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Logo, p
╞ |
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1.ª circunstância
2.ª circunstância 3.ª circunstância 4.ª circunstância |
V V
V F F V F F |
V
F V V |
V
F V F |
V
V F F |
O que é que observamos no inspetor? Chama-se inspetor de circunstâncias, já que a tarefa é mesmo a de inspecionar no argumento o que acontece no caso de verdade ou no caso de falsidade. Assim, na primeira circunstância, em que p é verdadeiro e q é verdadeiro, a primeira premissa é verdadeira, a segunda também e a conclusão também. Ou seja, passa o teste da validade. Lemos então assim: se for verdade que Deus existe e se for verdade que a vida faz sentido, então também é verdade que Deus existe na conclusão e o argumento é dedutivamente válido.
Se olharmos para a 3.ª circunstância, o que é que acontece? Se for falso que Deus existe (p) mas verdadeiro que a vida tem sentido (q); e se afirmarmos na premissa a consequente (q) e na conclusão a antecedente (p), então, as premissas do argumento são ambas verdadeiras e a conclusão falsa.
Ora, se atendermos à regra da validade dedutiva, verificamos que esta é violada.
Falta ainda explicar um passo. Como é que sabemos os valores de verdade nas colunas das premissas e conclusão? Pelas regras simples da lógica proposicional. P e q isoladamente são proposições simples (melhor, são classes vazias que representam simbolicamente classes vazias de coisas ou estados do mundo). P e q podem ser conectados logicamente. Há quatro modos principais de conectar proposições simples, tornando-as compostas: a condicional, a bicondicional, a conjunção e a disjunção. E também podemos negar as proposições (simples ou compostas), mas isso não irei adiantar para já, uma vez que o que pretendo mostrar é a utilidade dos inspetores.
Exemplos de proposições compostas:
Condicional
Bicondicional Conjunção Disjunção |
Se Deus existe, a vida faz sentido
Deus existe se e somente se a vida faz sentido Deus existe e a vida faz sentido Deus existe ou a vida faz sentido |
Conclusão: os inspetores são uma boa ferramenta para avaliar muitos argumentos. E se for ensinada de início, pode-se recorrer a esta ferramenta todo o ano. Isto se o manual que usamos a aplicar também.