domingo, 10 de abril de 2016

Como captamos o sentido da existência.... a correr

Correr está na moda. Mas talvez seja mais que uma mera moda. Provavelmente terá a ver com o sentido da existência. X pode ter valor instrumental ou valor intrínseco. Uma coisa tem valor instrumental se é um meio para atingir outra coisa com valor intrínseco. Por exemplo, ter saúde é instrumental uma vez que é uma condição necessária, mas não suficiente para ser feliz. Se isto for verdade, a felicidade possui valor por si mesma. Dizem os filósofos que a felicidade tem valor intrínseco. Mark Rowlands, professor de filosofia na Universidade de Miami, defende, neste ensaio que correr tem valor intrínseco. Mas Rowlands vai mais longe ao defender que algo com valor intrínseco tem também valor cognitivo. Traduzido do original inglês por Ana Pedroso Lima, está agora disponível mais este ensaio em língua portuguesa. Espero que deixe na corrida filosófica pelo menos tantas pessoas quanto aquelas que hoje em dia correm por prazer. Edição da Lua de Papel.


Mark Rowlands passou grande parte da sua vida a correr. É também um filósofo profissional. Para ele, cada corrida é um pretexto para filosofar. Correr aproxima-se muito do conceito de liberdade, tal como o defendia Jean-Paul Sartre; as lesões são pretexto para dissertar sobre a morte (e Heidegger); e quando se questiona sobre as razões por que corre está a seguir o trilho percorrido por Aristóteles, na sua insaciável procura da causa das coisas. Em Correr com a Matilha, o autor fala-nos das corridas mais significativas da sua vida . Dias inteiros a percorrer o País de Gales quando era miúdo, as maratonas ao longo das praias francesas ou nas montanhas da Irlanda, na companhia do seu lobo Brenin, ou, mais tarde, com a cadela Nina, nos pântanos da Flórida. A vida do autor de O Filósofo e o Lobo é pois memória e exercício filosófico. A meta é chegar sempre um pouco mais longe, aproximar-se do sentido da existência, desafiar a mortalidade. (Ou, mais prosaicamente, a crise da meia idade.) Obra absolutamente original, por vezes tocante, despertará no filósofo o desejo de correr; e ao corredor mostrará que pode chegar muito mais longe do que pensa – e não estamos apenas a falar de quilómetros.
"A mais original e didática obra de filosofia pop do ano."Financial Times  


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Peter Singer, O maior bem que podemos fazer

Será que a motivação para agir não é apenas uma resposta às nossas emoções inatas? Peter Singer pensa que a razão desempenha um papel fundamental nas nossas decisões. E também, claro, nas nossas decisões morais. A base do argumento de Singer neste livro é a seguinte: Se uma ação x produzir um maior bem para mais pessoas, então é uma ação moralmente correta. E a resposta de Singer surge sob a forma de um movimento humano, o altruísmo eficaz. De resto a ideia não é nova para o autor que já a explora desde pelo menos a década de 70. Peter Singer é senão “o”, pelo menos um dos filósofos mais populares da atualidade. É-o certamente pelos problemas que explora, mas muito mais pela forma como os pensa e pela clareza com que os transmite. E é também porque a sua filosofia é de tal modo pública que não falta quem o odeie. Mas é natural que uma filosofia tornada causa pública produza uma onda irracional de amores e ódios. Afinal, Sócrates foi condenado à morte exatamente pelas mesmas irracionalidades.

O maior bem que podemos fazer, é um dos últimos trabalhos do filósofo de origem australiana, mas há muitos radicado nos EUA, Princeton. As Edições 70 publicaram o livro em Portugal, numa belíssima edição que ao mesmo tempo renova a imagem do editor. Para muito melhor. A tradução é de Pedro Elói Duarte que já nos habituou a um bom trabalho e a edição é de Março de 2016, com prefácio à edição portuguesa de Pedro Galvão.