terça-feira, 30 de março de 2010

Uma falsidade abusada

Estou solidário com a greve dos enfermeiros, mas hoje tenho acompanhado as notícias e há uma falsidade que tem sido usada abusivamente, até pela parte dos enfermeiros, a de que todos os licenciados da função pública ganham acima dos 1200€. Isso é falso. Eu trabalho há 14 anos e ganho pouco mais do que isso, mas em início de carreira, um professor licenciado ganha mais ou menos o mesmo que um enfermeiro. Não está aqui em causa se os enfermeiros ganham mais ou menos. Dá-me igual e espero que consigam os seus objectivos e que melhorem as suas perspectivas de carreira profissional, mas não se percebe por que razão uma falsidade é usada de forma sistemática sem que seja desmentida. Tal pode ser consultado AQUI. Um professor Licenciado e Profissionalizado, o que implica em regra 5 ou 6 anos de estudo (no meu foram 6), sendo que a profissionalização é quase obrigatória na maioria dos grupos disciplinares, ganha 1056€ líquidos. Como é que vem agora os sindicatos dos enfermeiros afirmar que o mínimo que ganha um licenciado em carreira especial na função pública é de 1200€? E isto tem sido tão afirmado que até coloco a hipótese de me estar a escapar algum dado especial. Stuart Mill, em Sobre a Liberdade, afirmou que uma falsidade de tanto ser afirmada, passava por verdade. Com efeito não é, ainda assim, uma verdade.

sábado, 27 de março de 2010

Filosofia em foco

Enquanto por cá vamos pensando em acabar de vez com a filosofia, noutras paragens ela é motivo de horário nobre e auditórios numerosos e aplicados.
Julian Baggini no México

sexta-feira, 26 de março de 2010

Definições em filosofia



Em filosofia usamos recorrentemente definições nos argumentos. Por exemplo, no problema moral do aborto, recorremos quase sempre à definição de ser humano. É por essa razão que para fazer filosofia temos de saber definir conceitos. Uma boa definição reúne condições necessárias e suficientes. AQUI encontra-se em língua portuguesa uma boa explicação do que é uma boa definição.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O que é a arte? Semana da História na Gonçalves Zarco

Esta foi a base da minha apresentação do problema da definição da arte na Semana da História na escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco, no Funchal. Claro que o mais importante era a discussão das teorias com o auditório, mas tive um tempo de apresentação mais limitado que o esperado. Ainda assim a primeira parte teve participação activa.
Agradeço ao Grupo de História a oportunidade para mais uma vez, expor publicamente uma discussão filosófica. Gostava, uma vez mais, de agradecer em especial aos colegas David Leça, António José Mascarenhas e Gorete Teixeira pelas aturadas tardes e manhãs de trabalho, intercaladas por discussões profissionais e não só com as quais tenho aprendido muito.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A objecção ao utilitarismo do Carlos Silva

Há uns dias atrás, o Carlos Silva deixou na caixa de comentários um problema interessante. Voltei a ele agora.
Este é o argumento do Carlos:
Aproveito para levantar uma questão relacionada com o tema da "Necessidade da fundamentação da moral", nomeadamente o fundamento utilitarista dos actos. Em termos gerais, o utilitarismo faz residir nas consequências dos actos o seu valor e fundamento, defendendo que é boa a acção que maximize a felicidade. 
Ora, o manual do 10.º ano, "A Arte de Pensar" de Desidério Murcho, Aires de Almeida e outros faz alusão, na página 166, à seguinte situação imaginária: "A Sara é uma cirurgiã especializada na realização de transplantes. No hospital em que trabalha enfrenta uma terrível escassez de órgãos - cinco dos seus pacientes estão prestes a morrer devido a essa escassez. Onde poderá ela encontrar os órgãos necessários para salvá-los? O Jorge está no hospital a recuperar de uma operação. A Sara sabe que o Jorge é uma pessoa solitária - ninguém vai sentir a sua falta. Tem então a ideia de matar o Jorge e usar os seus órgãos para realizar os transplantes, sem os quais os seus pacientes morrerão."
Mais adiante, o referido manual sustenta que um utilitarista "tem de pensar que nada há de errado em matar o Jorge" e que " a opção de matá-lo permitirá salvar cinco pessoas que de outro modo morrerão" para concluir que "se o utilitarismo fosse verdadeiro seria permissível (e até obrigatório) a Sara matar o Jorge (...) mas fazer tal coisa não é permissível. Logo, o utilitarismo é falso." 
Pergunto: será que o utilitarismo defende mesmo tal posição (que a Sara deve matar o Jorge para salvar 5 pacientes)? Se o fundamento dos actos para um utilitarista reside nas suas consequências (maior felicidade global), podemos encontrar uma falha no argumento da Sara (ver CAVE, Peter, Duas Vidas Valem Mais que Uma?, páginas 26 e 27): os indivíduos saudáveis sentir-se-iam extremamente inseguros se existisse um procedimento de os raptar e matar para lhes tirar os órgãos. Dado que os que beneficiam do tratamento também podem tornar-se vítimas e, devido a esta insegurança, a felicidade total pode muito bem diminuir numa sociedade que abarque tais cirurgiões, desde que as pessoas saibam desse procedimento. Assim, conclui-se que matar o Jorge pode não maximizar a felicidade, antes pelo contrário, logo, um utilitarista opor-se-ia à morte do referido Jorge. Este contra-argumento estará certo?!”

Na altura ensaiei algumas respostas ao contra argumento do Carlos, mas quando hoje voltei a pensar nele, penso se o contra argumento do Carlos não mostra realmente algumas insuficiências do utilitarismo. A verdade é que a objecção do Carlos parece mostrar que o utilitarismo legitima acções imorais, como a de tirar a vida a um inocente para salvar outros. Mas podemos sempre colocar a concorrer a tese do utilitarismo negativo. Segundo este o que está em causa não é somente a maior felicidade para a maioria das pessoas, mas minimizar o sofrimento das pessoas. O utilitarista negativo continua a defender uma ética das consequências, mas já com algumas reservas em relação ao princípio geral, que parece não funcionar em casos como os que o Carlos falou.
Finalmente deixo a sugestão da leitura do texto “uma crítica ao utilitarismo” de Bernard Williams, incluído na antologia de textos, Textos e problemas da filosofia, Plátano, 2006 (Org. Aires Almeida e Desidério Murcho)
Gostaria que se algum leitor tiver alguma coisa a acrescentar à discussão, o fizesse.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Bullshit

Este pequeno livro merecia amplo debate académico e não só. Uma das preocupações centrais dos nossos dias, tanto no uso quotidiano como na investigação académica ou no discurso político, consiste em saber separar a seriedade da treta. Talvez o livrito de Frankfurt nos faça parar para pensar outra vez e constatar que 90% do que dizemos e da informação que consumimos não passa da treta. O título “treta” parece coisa para brincar, mas este livro toca num dos aspectos fundamentais da cultura contemporânea.

Semana da História da EBSGZ

Na próxima quarta feira, dia 24, vou estar pelas 11:40h, na sala de sessões da Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco a dar uma aula pública sobre o problema filosófico da definição da arte. Esta sessão é integrada na Semana da História da escola, este ano com o tema: “Arte e Cultura”. A sessão de abertura conta com a presença do Secretário Regional de Educação e do Presidente da Câmara Municipal do Funchal. Após a sessão publicarei aqui o powerpoint da minha live session.

E se as nossas crenças estiverem erradas?

I would never die for my beliefs because i might be wrong.

Bertrand Russell

quarta-feira, 17 de março de 2010

Uma introdução à metafísica

Este livrinho é pura e simplesmente a melhor introdução à metafísica que li, acessível, divertida e rigorosa. Agora temo-lo em língua portuguesa. Brevemente à venda.
Informação da editora:
Título: Enigmas da Existência
Autor(es):Conee, Earl
        Sider, Theodore
Pág.: 272
Número: 6
ISBN: 978-972-53-0450
Ano: 2010
Preço de Capa: €14
Preço Online: €12.6

«Uma introdução à metafísica acessível, competente e apaixonante, escrita por dois filósofos de primeira linha.» 
The Times
 

O que é o tempo? Serei realmente livre ao agir? O que faz de mim a mesma pessoa que era em criança? Porque há algo em vez de nada? Será que sou realmente livre, ou tudo está determinado desde antes do meu nascimento? Se alguma vez deu consigo a fazer algumas destas perguntas, este livro é para si. Tratando ainda da existência de Deus e da constituição última da realidade, eis um guia para quem gosta de raciocinar cuidadosamente sobre estes e outros temas — incluindo o problema de saber o que é afinal a própria metafísica.Enigmas da Existência torna a metafísica genuinamente acessível e até divertida. O seu estilo vívido e informal dá fulgor aos enigmas e mostra como pode ser estimulante pensar sobre eles. Não se exige qualquer formação filosófica prévia para desfrutar deste livro: qualquer pessoa que queira pensar sobre as questões mais profundas da vida considerará esta obra, um livro provocador e aprazível.

Coisas muito muito estranhas


Sou um daqueles professores (como há muitos) que gostam de ensinar. Cada obstáculo para mim resulta numa experiência de aprendizagem. Não tenho medo em publicar que o que me agrada mais ensinar é a filosofia. Nela sinto-me como um peixe na água. E gosto mais de a ensinar que outras disciplinas porque penso que o seu interesse para os estudantes é de longe maior que o de disciplinas como sociologia, psicologia, área de integração ou cidadania. Já conheci colegas professores muito bons, outros mais ou menos e um ou outro a fazer um mau trabalho. Converso com as pessoas e noto que esta circunstância é igual tanto no ensino como fora dele, nas empresas, privadas ou públicas. Sobretudo conheço professores que são bons numas coisas e não tão bons em outras. Whatever? Infelizmente nos últimos anos tem passado a ideia para a opinião pública que os professores são piores que os outros profissionais. No coment!
É verdade que já conheci professores a sofrer de stress. Têm filhos, complicações na vida, familiares doentes e 5 ou 6 turmas de crianças que não são propriamente uns doces. Sem tecer juízos sobre o assunto, a verdade é que, daquilo que dizem ser o stress na profissão eu não tenho padecido. Vou sempre bem disposto para a escola, mesmo nas fases menos boas da minha vida. Nas escolas, dou-me bem com funcionários, colegas, direcções executivas, alunos, pais, etc. Em 14 anos de ensino - felizmente e com alguma sorte à mistura - nunca mandei um aluno para a rua (para fora da sala de aula), nem nunca corri atrás dos directores de turma para me resolverem conflitos pontuais. Nunca tive um recurso de nota, contam-se pelos dedos de uma mão as faltas que tenho por doença, quando o meu filho nasceu só tirei 5 dias úteis dos quase 20 dias que tinha direito (acho que era isto, não?), tenho em minha casa um autêntico escritório montado com impressora, papel, canetas, computadores, internet, etc. que uso a 90% de proveito escolar, enfim, entre mais outras coisitas. Com esta lista não quero dizer que sou o melhor professor do mundo. Gosto de errar que é para poder aprender. Estou na fila da frente quando se trata de assumir as imperfeições da formação. Esta lista mostra outra coisa: mostra que gosto das escolas, gosto de lá andar, gosto de ensinar e gosto das salas de aula. Ora, toda a minha vida ouvi a versão que gostar daquilo que se faz é o segredo do sucesso. Se esta tese for verdade, então eu tenho um bom desempenho como professor.
Apesar de tudo isto que acima relatei há um ponto estranho, mesmo muito estranho na minha relação com a profissão. É que nunca me identifiquei minimamente com o Ministério da Educação nem com as suas políticas educativas. E o mais bizarro é que os professores mais empenhados que tenho encontrado nas escolas também não se identificam com o Ministério. Todos os dias vejo colegas que se queixam dos pais, dos alunos, da sociedade. Convenço-me que o fazem com fortes razões. No meu caso especial – de certeza de acordo com o que pensam milhares de professores – tenho identificado como principal obstáculo ao desenvolvimento do meu trabalho, o Ministério da Educação. Penso se não devia ser ao contrário, se não podia identificar-me mais com o ME e o próprio ME é que me ajudava e incentivava a melhorar o desempenho das escolas, dos alunos, da relação com os pais, etc? Este ano lecciono difíceis turmas de CEF. Já passei por muitas experiências de ensino. Ainda assim nunca me senti pressionado pelos alunos, pelos pais ou pelas escolas, muito menos pelos colegas. Não são esses os agentes que constituem obstáculo ao desenvolvimento do meu trabalho, mas sim o ME. São as leis, as reformas, as burocracias, o mal tratar da classe, os cortes sucessivos do vencimento (sim, eu não como ar, ainda tenho de fazer compras para comer e viver), a lei que surge em Dezembro para entrar em vigor ontem, a que sai em Janeiro a dizer que a de Dezembro não está em vigor, para entrar outra vez em vigor em Março a dizer que afinal a de Dezembro é que estava bem. Ninguém se entende mais nas escolas. E o bizarro é que a culpa não é dos alunos cada vez mais difíceis (talvez porque percebam a balda), não é dos pais (cada vez mais a aproveitar a fragilidade do sistema), nem dos colegas (cada vez mais fartos, pois), mas sim do Ministério da Educação.
É por isso que já há muito tempo que concluí que não preciso do Ministério da Educação para nada para ser bom professor e se o privado me der mais liberdade de trabalho, então que venha o privado que eu estou-me nas tintas para a educação pública. É simples: se o poder político é incapaz de governar, então que entregue essa tarefa às pessoas e que as deixem em paz. Eu gosto muito de ensinar, mas estou verdadeiramente cansado do principal obstáculo a que eu seja ainda melhor profissional, o ME. E se alguém se queixar do meu trabalho, já não terei papas na língua em responder: “mande o ME abaixo à martelada que aquilo não serve para nada”

Sem palavras (com palavras)

O blog Como dar aulas em Inglaterra apresenta uma informação sobre a educação especial pela ilha britânica. Nem sequer me vou por com comparações, pois nem vale a pena.


SEN, ou Special Educational Needs. Refiro-me a crianças com problemas comportamentais, hiperactivas, com autismo, carências afectivas, crianças especiais à procura daquele professor especial, razão pela qual esta é das áreas mais carenciadas em termos de Ensino no Reino Unido. As oportunidades de trabalho são muitas, os horários de trabalho são mais reduzidos, o número de alunos inferior.   As equipas de trabalho são maiores, incluindo psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, etc...  Normalmente estamos a falar de escolas com um máximo de sessenta crianças e um quadro com vinte pessoas, um professor e um Teaching Assistant em cada sala-de-aula (às vezes mais) apoio individualizado, planos de acção educativa para cada aluno, um estreito contacto com a família, fortes sistemas de apoio.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Teorias da conspiração

Mas formar uma opinião que vai contra todas as probabilidades e acreditar no disparate é, na melhor das hipóteses, uma divertida perda de tempo.


David Aaronovitch, entrevista à Revista Visão, nº888

Filosofar diverte

Uma das coisas que me apareceram com o tempo foi uma forte vontade de me divertir o máximo tempo possível. Não sei a origem desta vontade nem possuo qualquer explicação técnica para ela. Há quem diga que vem com a idade. Talvez tenha a ver com o local onde vivo que tem 300 dias de sol por ano e um clima ameno. Claro que esta vontade de diversão acarreta alguns sacrifícios intelectuais. Bem, continuo a não gostar dos filmes do Van Damme, mas é verdade que onde antes via uma espécie mística de maior penetração do espírito, agora consigo largar umas folgadas gargalhadas. O benefício mais evidente é a maior abertura social que a diversão traz. O que é que isto tem a ver com a filosofia?  É que esta vontade de me divertir alastra-se à filosofia. É verdade que o estudo pode ser tão divertido quanto outra coisa qualquer. Estudar tem tanto de árduo, como de divertido. Se não esquecêssemos como uma criança aprende a brincar, daríamos maior importância aos aspectos lúdicos do trabalho e do estudo. É por esta razão que muitas vezes dou comigo a procurar sites de chalaças relacionadas com a filosofia. Nestas minhas procuras encontrei o Philosophy On Line. Não é bem um site de humor, mas a verdade é que tem secções muito divertidas como o projecto de escrever uma história da filosofia no Twitter. Vale mesmo a pena passar uns bons momentos com este site que divulga a filosofia de uma forma descomplexada e divertida. Eu vou lá basculhar ainda mais. Visitem a loja de vendas do site. Vai uma cervejinha na caneca do Russell?


sábado, 13 de março de 2010

Manuais lá de fora

Neste site podemos encontrar informação sobre manuais de filosofia para o secundário no reino unido. Trata-se das edições da Routledge. Uma diferença clara dos portugueses, é que neles não existem nem temas ambíguos, nem imagens idiotas que nada tem que ver com o que se deve pretender num bom ensino da filosofia.

Plano inclinado e escolas

Vale a pena ver o Plano Inclinado, com um residente, Nuno Crato e o convidado Carlos Fiolhais. Muita coisa se disse neste programa sobre educação e com pontos de vista que merecem a consideração de todos os leitores. Sobretudo uma ideia aqui é desmontada, a falsidade da aprendizagem centrada no aluno. Diz Carlos Fiolhais, «o centro do ensino é o professor». João Duque, outro residente, coloca um problema muito interessante. Um aluno sem capacidade financeira para estudar numa escola privada, mas numa turma barulhenta, vai ser muito prejudicado. Bem visto. Mário Crespo conduz a conversa.

Mas afinal há ou não filosofia em Portugal?

Abstract


Se o Rolando diz que não há filosofia em Portugal e o Rolando não tem estatuto académico, logo Há filosofia em Portugal.


Se o José Gil diz que não há filosofia em Portugal e o José Gil tem estatuto académico, logo Não há filosofia em Portugal.


O que é que se passa com estes argumentos? Estamos a aceitar a autoridade sem pensar realmente pela nossa cabecinha. Acontece que as autoridades podem também afirmar falsidades, o que até nem é o caso.
No blog Telegrapho de Hermes, vejo uma citação do professor José Gil (também fui aluno dele), em que este afirma que não existe comunidade filosófica em Portugal pois as pessoas não estão interessadas em discutir os problemas e vivem academicamente isoladas, cada um para si. Isto foi precisamente o conteúdo que afirmei AQUI no blog de ex alunos de Évora, O Café Filosófico de Évora. Na altura os ex alunos de Évora tiveram reacções de protesto face aos meus comentários, sendo alguns até com uma dose de violência que me fez ripostar algumas vezes com igual tom. Mas há aqui uma questão curiosa e que penso que deve ser posta a nú: o que eu contestei na altura é precisamente o que está a ser feito pelo Telegrapho, um blog da autoria de um dos ex alunos de Évora, ou seja, a citar alguém acriticamente. O que é que me faz pensar que a citação é acrítica? Porque foi o professor José Gil a proferi-la. Tenho toda a consideração pelo Renato que tem feito um apreciável trabalho com o Telegrapho, mas que raio de coerência existe em reagir como reagiu quando eu afirmei aquilo que agora o professor José Gil afirma? O que o Renato faz é exactamente aquilo que o José Gil diz que não se deve fazer, sob pena de matarmos de vez (se alguma vez esteve viva) a possibilidade de termos filosofia nas universidades portuguesas, isto é, cita-se porque é o José Gil, porque tem estatuto académico. Claro que o estatuto académico é relevante em certa medida, mostra pelo menos o que um indivíduo faz ao longo da vida por uma determinada área, mas será que isso por si só é condição suficiente para que um individuo com estatuto académico seja citado sem qualquer objecção? Sem que passe o resto da vida sem fazer afirmações palermas?
Parece certo que eu estou mais de acordo com José Gil do que o Renato, mas valia a pena aqui repor alguma justiça no que se passou nos mais de 200 comentários neste post.
Não estou propriamente ressabiado pelo que se passou já há algum tempo na discussão que tive como Renato e com o David no Café Filosófico, mas a verdade é que cheguei a ser acusado (creio que nesse post) de ser seguidista dos analíticos somente porque defendi a ideia de que não existe filosofia feita nas universidades portuguesas, por muitas palestras umbiguistas que nelas se façam. Portanto, esta não é uma resposta pessoal, mas um aproveitamento para voltar a afirmar que não temos filosofia nas universidades portuguesas pela razão apontada pelo José Gil: as pessoas não tem uma cultura de discussão do seu trabalho e fazem-no de forma isolada. Ora precisamente a filosofia é um saber cuja vitalidade depende directamente do trabalho de discussão activa.
Recordo que , entre outros argumentos, um dos argumentos usados pelo Renato e pelo David é que eu não devia falar do curso de filosofia em Évora já que é uma realidade que desconheço pois não estudei em Évora. Já agora, e o professor José Gil o que é que sabe do curso de filosofia dos Açores para poder afirmar o que afirmou?
Bem, e claro que o Renato pode ter citado o José Gil sem no entanto concordar com ele. Pode ser mesmo que a Universidade de Évora tivesse produzido filósofos com discussão activa no panorama internacional.
Já sei que isto me vai dar uma chatice do caraças, mas paciência.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Bibliografia feminina



Por muito estranho que possa parecer à maioria das pessoas, o feminismo é um problema discutido pelos filósofos e pela filosofia política. Deixo aqui 3 sugestões de leituras muito boas para quem se interesse pelo problema. O último capítulo do livro de Jonathan Wolf tem uma unidade toda dedicada ao problema dos direitos das mulheres.  Do mesmo modo o último capítulo do livro de Will Kymlicka é também ele dedicado ao problema. O livro de Mill é um clássico e provavelmente um dos primeiros manifestos filosóficos dedicado em exclusivo às mulheres e a mostrar argumentos de como é moralmente errada a sujeição das mulheres aos homens. Mas com tanto radicalismo que hoje em dia se observa, talvez daqui a uns 150 anos exista a necessidade de escrever algo como, “A sujeição dos homens”.

Informação recebida da Gradiva


«Uma obra única e imprescindível»
«Um acontecimento editorial»


Lançamentos em Abril, Junho, Setembro e Novembro (4 volumes) - Traduzida por especialistas da área sob a direcção do professor Aires Almeida


«A primeira razão pela qual esta impressionante obra é um acontecimento editorial é que os leitores têm agora acesso a uma história da filosofia que apresenta os problemas, teorias e argumentos da área com aquela intensidade própria de quem os conhece por dentro, ao invés de os olhar de longe como artificialismos académicos ou escolares, descritos muitas vezes em linguagem pomposa e vazia.

A segunda razão é que o conhecimento que temos hoje da história da filosofia é muito mais rigoroso e vasto do que o que tínhamos há trinta ou quarenta anos, e Sir Anthony está a par desses desenvolvimentos – tendo até sido protagonista de alguns deles. Não se trata por isso de mais uma história da filosofia que repete os lugares-comuns infelizmente endémicos nas zonas mais fracas da cultura escolar e académica.

Por estas razões, entre outras – incluindo a iconografia inovadora – esta brilhante história da filosofia é leitura obrigatória e entusiasmante para estudantes e professores de filosofia, assim como para qualquer pessoa que queira conhecer um pouco mais esta imensa tradição intelectual com dois mil e quinhentos anos de existência, e que novos desenvolvimentos continua a trazer-nos hoje. A Gradiva e a «Filosofia Aberta» continuam assim a prestar ao país um serviço cultural e educativo mais importante do que quaisquer míticas avaliações de professores.»

Desidério Murcho, Universidade Federal de Ouro Preto

«Esta é uma obra que pouquíssimos se atreveriam a escrever. Sir Anthony Kenny, um dos mais reputados filósofos actuais, dedicou alguns anos a ler directamente os grandes filósofos e a acompanhar os debates por eles suscitados, daí resultando uma história da filosofia verdadeiramente filosófica, informativa e refrescante, onde não se encontram os lugares-comuns e as ideias feitas do costume.

Aliando o melhor rigor académico à clareza de exposição e à capacidade para envolver o leitor nas discussões filosóficas, esta obra revela-nos uma história de cerca de dois mil e quinhentos anos que, ao contrário do que tantas vezes parece, está longe de ser uma mera colecção de ideias de museu.

O autor não se limita a apresentar e explicar as ideias e teorias dos filósofos, inserindo-as de forma esclarecedora no seu contexto histórico e cultural. Isto constitui uma das duas partes em que cada um dos quatro volumes está dividido. A segunda parte é dedicada à elucidação, discussão e avaliação dos argumentos que sustentam essas ideias e teorias, adoptando-se aí um tratamento temático e estritamente filosófico. Assim, esta história da filosofia consegue ser útil tanto para quem está interessado numa abordagem mais histórica das ideias filosóficas como para quem está interessado numa discussão filosófica mais aprofundada.

Por isso se trata de uma obra única e imprescindível que, muito justamente, se está a tornar uma verdadeira referência na área.»

Aires Almeida, Professor de Filosofia

quarta-feira, 3 de março de 2010

Neil DeGrasse Tyson

Este foi a minha mais recente aquisição. São mais de 450 páginas, mas após ter lido as primeiras páginas fiquei com a sensação que poderiam ser bem mais que não me assustava por aí além. Até breve que tenho o tempo muito ocupado e esta obra de Tyson será lida de fio a pavio.

terça-feira, 2 de março de 2010

Alguém conhece este livro?

 Desconheço o autor e a obra. Já o apanhei na livraria, mas está embalado em plástico e não me apeteceu pedir para retirar o plástico, nem me apeteceu eu próprio fazê-lo. Agradeço indicações sobre o conteúdo da obra. O autor é Jean Clet-Martin e a edição portuguesa é da Teorema.