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sábado, 12 de dezembro de 2015

Livre-arbítrio, determinismo e responsabilidade moral

O problema do livre-arbítrio versus determinismo surge devido a uma aparente contradição entre duas ideias plausíveis. A primeira é a ideia de que os seres humanos têm liberdade para fazer ou não fazer o que queiram (obviamente, dentro de certos limites — ninguém acredita que possamos voar apenas por querermos fazê-lo). Esta é a ideia de que os seres humanos têm vontade livre — ou livre-arbítrio. A segunda é a ideia (...) de que tudo o que acontece neste universo é causado, ou determinado, por acontecimentos ou circunstâncias anteriores. Diz-se daqueles que aceitam esta ideia que acreditam no princípio do determinismo e chama-se-lhes deterministas. (Daqueles que negam esta segunda ideia diz-se que são indeterministas.)
Pensa-se frequentemente que estas duas ideias entram em conflito porque parece que não podemos ter livre-arbítrio — as nossas escolhas não podem ser livres — se são determinadas por acontecimentos ou circunstâncias anteriores.

2. Os deterministas radicais resolvem o problema negando que tenhamos livre-arbítrio, concluindo que, de facto, não somos moralmente responsáveis pelas nossas acções ou escolhas. Eles tendem a defender o seu ponto de vista a partir da teoria determinista segundo a qual tudo é causado. Assim, chamam a atenção para experiências e crenças comuns que parecem implicar que as coisas se comportam de uma forma regular (o açúcar não faz as coisas saberem doces num dia e amargas no dia seguinte), para o comportamento humano diário (nem mesmo pilotos de carros de corrida podem escolher conduzir bem estando bêbados), e também para o enorme sucesso da ciência moderna na descoberta de relações causais (não podemos escolher bater os braços e voar para a Lua).
Embora muitas pessoas argumentem contra o determinismo radical defendendo que o determinismo em geral está errado, as provas a favor do determinismo são muito fortes, razão pela qual se quisermos rejeitar o determinismo radical teremos de o fazer com base na ideia de que a liberdade de acção e de escolha não contradiz o determinismo, pelo que temos efectivamente justificação para considerar as pessoas moralmente responsáveis mesmo que as suas acções e escolhas sejam causadas ou determinadas.
3. Os libertários ou libertaristas defendem que o livre-arbítrio é possível apenas se o determinismo for falso e que, pelo menos nas situações morais típicas, temos de facto livre-arbítrio. Por este motivo, temos justificação para considerar as pessoas moralmente responsáveis pelo que escolhem e fazem.
Os libertários defendem o seu ponto de vista com base em que, primeiro, apenas o seu ponto de vista permite considerar as pessoas moralmente responsáveis pelas suas acções (eles não têm nenhuma vontade em acreditar que não tem sentido fazê-lo), e, em segundo lugar, sentimo-nos livres quando fazemos escolhas morais.
Os adversários tendem a opor-se ao libertarismo por três razões. Primeiro, acreditam que o determinismo é verdadeiro e não temos vontades sem causas ou auto-causadas. Em segundo lugar, eles defendem que não nos sentimos livres de forças causais (porque as causas não são o tipo de coisas que possamos sentir), mas antes de compulsão ou coerção. E, em terceiro lugar, defendem que se tivéssemos efectivamente vontades não causadas, não faria qualquer sentido considerarmo-nos responsáveis pelas nossas acções, porque não resultariam do nosso carácter e, assim, não seriam uma indicação de quem realmente somos.
4. Os deterministas moderados defendem que os deterministas radicais e os libertaristas estão errados, em parte porque usam uma concepção errada de liberdade da vontade. A concepção pertinente é que somos livres quando escolhemos e fazemos o que queremos fazer e não somos forçados ou compelidos contra a nossa vontade. Eles distinguem frequentemente entre dois tipos de compulsão ― interna e externa ― consoante a força compulsória é interior ou exterior aos nossos corpos.
Os deterministas moderados defendem a sua posição apelando a todas as provas que favorecem o determinismo em geral e salientando que o seu ponto de vista se conforma com a prática diária. Quando temos de decidir na vida diária se as pessoas devem ser consideradas responsáveis pelo que fazem, não perguntamos se as nossas acções são causadas mas antes se são ou não compelidas ou forçadas. Quando as pessoas fazem o que querem fazer, sentimos (com algumas excepções devido a razões precisas) que são moralmente responsáveis pelo que fazem.
Algumas pessoas rejeitam o determinismo moderado porque rejeitam o determinismo em geral. Outras rejeitam-no devido a acreditarem que até agora os deterministas moderados não foram capazes de lidar com certos tipos de casos e porque não explicaram adequadamente o seu critério de compulsão. Além disso, após terem ouvido a teoria dos deterministas moderados, especialmente os libertarianos ainda consideram totalmente implausível considerar as pessoas responsáveis pelas suas acções se essas acções são determinadas por acontecimentos ou circunstâncias passados. Se o determinismo é verdadeiro, afirmam eles, então os seres humanos são exactamente como robots ou computadores complexos e ninguém se sente justificado em repreender ou punir um computador quando ele avaria.
Finalmente, foi sugerido que talvez seja este o ponto principal. Tratamos os seres humanos, de forma diferente dos robots ou computadores porque nós de alguma forma sentimos de forma diferente a seu respeito.

Howard Kahane, Thinking About Basic Beliefs, Wadsworth, Belmont, 1983, pp. 43-64.
Tradução de Álvaro Nunes (versão síntese neste blogue)

Livre arbítrio

‘Livre arbítrio’ é o nome convencional de um tópico que é mais adequadamente discutido sem referência ao arbítrio (vontade). As suas questões centrais são ‘O que é agir (ou escolher) livremente?’, e ‘O que é ser responsável pelas nossas acções (ou escolhas)?’ Estas duas questões estão ligadas intimamente, pois a liberdade de acção é necessária, embora não suficiente, para a responsabilidade moral.

Os filósofos dão respostas muito diferentes a estas questões e, portanto, também a duas questões mais específicas acerca de nós: (1) Somos agentes livres? e (2) Podemos ser responsáveis por aquilo que fazemos? As respostas a (1) e (2) vão de ‘sim, sim’ a ‘não, não’ – passando por ‘sim, não’ e vários graus de ‘talvez’, ‘possivelmente’ e ‘num certo sentido’. (O quarto par das respostas directas, ‘não, sim’, é raro, mas parece ser aceite por alguns protestantes). Entre os que respondem ‘sim, sim’ são proeminentes os compatibilistas, que sustentam que o livre arbítrio é compatível com o determinismo. Sucintamente, o determinismo é a teoria que diz que tudo o que ocorre é exigido pelo que já aconteceu anteriormente de um modo tal que nada pode acontecer de um modo diferente daquele que acontece. Segundo os compatibilistas, a liberdade é compatível com o determinismo, porque a liberdade é fundamentalmente apenas uma questão de não ser constrangido ou impedido em certos sentidos quando agimos ou escolhemos. Assim seres humanos adultos normais em circunstâncias normais são capazes de agir e escolher livremente. Ninguém lhes aponta uma arma à cabeça. Não estão drogados, agrilhoados ou sujeitos a compulsão psicológica. São, portanto, completamente livres para escolher e agir mesmo que toda a sua estrutura física e psicológica seja inteiramente determinada por coisas pelas quais não são de maneira nenhuma responsáveis – começando pela herança genética e pela educação inicial.

Os incompatibilistas sustentam que a liberdade não é compatível com o determinismo. Salientam que se o determinismo é verdade, então cada uma das nossas acções foi determinada para acontecer tal como aconteceu antes de nós termos nascido. Sustentam que não podemos ser, neste caso, considerados verdadeiramente livres e, consequentemente, moralmente responsáveis pelas nossas acções. Pensam que o compatibilismo é um ‘miserável subterfúgio…, um insignificante malabarismo de palavras.’, como diz Kant na sua Crítica da Razão Prática (1788). O compatibilismo não consegue de modo nenhum satisfazer as nossas convicções espontâneas acerca da natureza da responsabilidade moral.

O argumento dos incompatibilistas é um bom argumento. Os incompatibilistas podem ser dividos em dois grupos. Os libertários respondem ‘sim, sim’ às perguntas (1) e (2). Sustentam que somos de facto livres e agentes moralmente responsáveis e que, portanto, o determinismo tem de ser falso. A sua grande dificuldade é explicar de que vale afirmar que o determinismo é falso quando se trata de estabelecer o nosso livre agir e a nossa responsabilidade moral. Suponhamos que nem todo o acontecimento é determinado, e que alguns acontecimentos ocorrem aleatória ou fortuitamente. Como é que a nossa pretensão à responsabilidade moral pode ser reforçada pela suposição de que o que nós somos e o que são as nossas acções é da ordem do fortuito ou do aleatório?

O segundo grupo de incompatibilistas é menos optimista. Responde ‘não, não’ às questões (1) e (2). Concorda com os libertários que a verdade do determinismo inviabiliza a genuína responsbilidade moral, mas argumentam que a falsidade do determinisno de nada adianta. Assim, concluem que não somos genuinamente agentes livres ou moralmente responsáveis seja o determinismo falso ou verdadeiro. Um dos seus argumentos pode ser sumariado da seguinte maneira: quando agimos, agimos como agimos devido ao que somos. Portanto, para sermos responsáveis moralmente pelas próprias acções teríamos de ser verdadeiramente responsáveis pelo que somos: teríamos de ser causa sui, ou causa de nós mesmos, pelo menos no que respeita a certos aspectos mentais cruciais. Mas nada pode ser causa sui – nada pode ser a nenhum respeito a última causa de si mesmo. Logo, nada pode ser na verdade moralmente responsável.

Desenvolvido apropriadamente, este argumento contra a responsabilidade moral parece ser muito forte. Porém, em muitos seres humanos a experiência da escolha dá lugar a uma convicção de responsabilidade absoluta que não é abalada pela reflexão filosófica. Esta convicção é a mais profunda e inesgotável fonte do problema do livre arbítrio: aparecem continuamente poderosos argumentos que parecem mostrar que não podemos ser moralmente responsáveis naquele sentido fundamental que habitualmente adoptamos; mas contra estes persistem razões de ordem psicológica igualmente poderosas que nos fazem crer que em última análise somos moralmente responsáveis.



Edward Craig (ed.) The Shorter Routledge Encyclopedia of Philosophy (London and New York, 2005). Tradução de Carlos Marques.

domingo, 22 de novembro de 2015

Refutação do compatibilismo

Os compatibilistas defendem que um agente é livre se desejar escolher B em vez de A ,o pode fazer. Mas acontece que muitas vezes podemos estar impedidos de escolher B e ainda assim continuar a ser livres. Por exemplo: João decide ficar fechado no quarto. Sem que o saiba o seu pai fechou o quarto à chave. Ora ele está impedido de escolher B, mas ainda assim não podemos afirmar que a sua ação não foi livre. Isto é, há um constrangimento (condição compatibilista para justificar quando não há livre arbítrio) e mesmo assim a sua ação foi livre. O que significa que a tese compatibilista está errada ao afirmar que se há constrangimentos, então não somos livres. Que acham desta objeção?

Roteiro de posições acerca do livre arbítrio

Um excelente roteiro das posições incompatibilistas e compatibilistas. Para aprofundar o estudo. Aceder clicando AQUI

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Libertismo


Libertismo é a perspetiva de que pelo menos algumas das nossas ações são livres porque, na verdade, não estão causalmente determinadas. Segundo esta teoria, as escolhas humanas não estão constrangidas da mesma forma que outros acontecimentos do mundo. Uma bola de bilhar, quando é atingida por outra bola de bilhar, tem de se mover numa certa direção a uma certa velocidade. Não tem escolha. As leis causais determinam rigorosamente o que irá acontecer. Contudo, uma decisão humana não é assim.
Neste preciso momento, o leitor pode decidir continuar a ler ou parar de ler. Pode fazer qualquer uma destas coisas e nada o faz escolher uma delas. As leis causais não têm poder sobre si. Isto não é muito plausível. Ainda assim, esta forma de pensar foi defendida por diversos filósofos e propuseram-se vários argumentos a seu favor.
O argumento da experiência.Podemos começar com a ideia de que sabemos que somos livres porque cada um de nós apercebe-se imediatamente de ser livre cada vez que faz uma escolha consciente. Pense novamente no que está a fazer neste momento: ler uma página que está diante de si. Pode continuar a ler ou parar de ler. O que irá fazer? Pense na sensação que tem agora, enquanto pondera estas opções. Não sente constrangimentos. Nada o impede de seguir numa direção nem o força a fazê-lo. A decisão é sua. A experiência de liberdade, poder-se-á dizer, é a melhor prova que podemos ter. (…).
 O argumento da responsabilidadeO pressuposto de que temos livre-arbítrio está profundamente enraizado nas nossas formas habituais de pensar. Ao reagir a outras pessoas, não conseguimos deixar de as ver como autoras das suas ações. Consideramo-las responsáveis, censurando-as caso se tenham comportado mal e admirando-as caso se tenham comportado bem. Para que estas reações estejam justificadas, parece necessário que as pessoas tenham livre-arbítrio.
 Outros sentimentos humanos importantes, como o orgulho e a vergonha, também pressupõem o livre-arbítrio. Alguém que conquista uma vitória ou tem um sucesso num exame pode sentir-se orgulhoso, enquanto alguém que desiste ou faz batota pode sentir-se envergonhado. Porém, se as nossas ações se devem sempre a fatores que não controlamos, os sentimentos de orgulho e de vergonha são infundados. Estes sentimentos são uma parte inescapável da vida humana. Assim, uma vez mais, parece inescapável que nos concebamos livres.
 

                                                 J. Rachels, Problemas da Filosofia, Gradiva

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Será o determinismo radical uma teoria verdadeira?

Estava a navegar na internet e encontrei uma notícia na Super Interessante, edição brasileira, de Setembro de 2008 e que pode ser acedida AQUI . Resumindo, segundo o artigo, o que um grupo de cientistas defendem é que o livre arbítrio não passa de uma ilusão. Lê parte da notícia que aqui transcrevo e depois responde às questões:


Você se interessou pelo tema desta reportagem e, por isso, resolveu dar uma lida. Certo? Errado! Muito antes de você tomar essa decisão, a sua mente já havia resolvido tudo sozinha – e sem lhe avisar. Uma experiência feita no Centro Bernstein de Neurociência Computacional, em Berlim, colocou em xeque o que costumamos chamar de livre-arbítrio: a capacidade que o homem tem de tomar decisões por conta própria. As escolhas que fazemos na vida são mesmo nossas. Mas não são conscientes. Voluntários foram colocados em frente a uma tela na qual era exibida uma seqüência aleatória de letras. Eles deveriam escolher uma letra e apertar um botão quando ela aparecesse. Simples, não? Acontece que, monitorando o cérebro dos voluntários via ressonância magnética, os cientistas chegaram a uma descoberta impressionante. Dez segundos antes de os voluntários resolverem apertar o botão, sinais elétricos correspondentes a essa decisão apareciam nos córtices frontopolar e medial, as regiões do cérebro que controlam a tomada de decisões. “Nos casos em que as pessoas podem tomar decisões em seu próprio ritmo e tempo, o cérebro parece decidir antes da consciência”, afirma o cientista John Dylan-Haynes. Isso porque a consciência é apenas uma “parte” do cérebro – e, como a experiência provou, outros processos cerebrais que tomam decisões antes dela. Agora os cientistas querem aumentar a complexidade do teste, para saber se, em situações mais complexas, o cérebro também manda nas pessoas. “Não se sabe em que grau isso se mantém para todos os tipos de escolha e de ação”, diz Haynes. “Ainda temos muito mais pesquisas para fazer.” Se o cérebro deles deixar, é claro.

1.      Estudaste uma teoria filosófica que defende precisamente o que defendem os cientistas. Como se chama essa teoria?

2.      Quais as principais objeções que se pode levantar em relação à teoria?

domingo, 1 de novembro de 2015

A deliberação racional – Filosofia da ação


Nas aulas aprendemos esta semana um conceito novo e, já agora, uma palavra nova: deliberação. A esta juntamos outra não tanto nova quanto a primeira, racionalidade. O que é que se entende por deliberação racional? As nossas ações envolvem crenças e desejos. Por exemplo, o Luís pode decidir estudar filosofia porque acredita (crença) que isso é importante para passar de ano e sente o desejo de o concretizar (desejo). Esta crença e desejo explica qual o motivo da sua ação. Mas o Luís também acredita que estar com os amigos fomenta relações sólidas e sente o desejo de ir ter com os amigos. No final o Luís decide ficar a estudar filosofia. A isto é o que se chama escolher, isto é, deliberar racionalmente. Estar a tarde x no dia x a estudar ou ir ter com os amigos são desejos incompatíveis, razão pela qual o Luís teve de decidir. Deliberar racionalmente consiste em avaliar bem os desejos e crenças e estabelecer prioridades na ação.
A ação envolve os conceitos de crença, desejo, acontecimentos, intenção.

O estudo da ação é o primeiro passo para o que se segue. Vamos estudar as condicionantes da ação e algumas delas parecem fazer desaparecer este desejo e consequente escolha quando agimos. Estaremos, pois, nessa altura, a discutir o problema do livre arbítrio

Na foto, o filósofo norte americano John Searle, ainda vivo e que escreveu sobre alguns problemas da filosofia da ação. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Egoísmo psicológico

Na secção de textos deste mesmo blogue disponibilizo um texto sobre o Egoísmo Psicológico, o que nos ajuda a começar a compreender o problema da Filosofia da Ação, o do livre arbítrio que estudaremos ao longo da próxima semana. Atenção que o egoísmo psicológico é diferente do egoísmo ético. Ao passo que o egoísmo ético é uma teoria normativa, o psicológico é uma teoria descritiva. Uma teoria é normativa se é sobre o que é certo e errado, ao passo que uma teoria descritiva não se debruça sobre o certo e errado. Isso significa que o egoísmo psicológico não é uma teoria ética. Para os alunos basta lerem este excerto de todo o texto.

“O egoísmo psicológico é uma teoria da motivação que afirma que todos os nossos desejos últimos são auto-dirigidos. Sempre que queremos que os outros se saiam bem (ou mal), temos esses desejos dirigidos para os outros apenas instrumentalmente; preocupamo-nos com os outros apenas porque pensamos que o seu bem-estar influenciará o nosso próprio bem-estar. Como afirmei, o egoísmo é uma teoria descritiva, não é normativa. Procura caracterizar o que de facto motiva os seres humanos, mas nada diz sobre se essa motivação é certa ou errada.
O egoísmo tem exercido uma enorme influência nas ciências sociais e tem penetrado de forma ampla no pensamento das pessoas comuns. Os economistas pensam tipicamente que os seres humanos são movidos por “um interesse próprio racional”, o que excluí qualquer preocupação redutível ao bem-estar dos outros. Qualquer pessoa comum afirma frequentemente que as pessoas ajudam os outros, porque isso fá-las sentir bem com elas próprias ou porque procuram a aprovação de terceiros.
É fácil inventar explicações egoístas mesmo para os actos de auto-sacríficio mais horrendos. O soldado na trincheira que se faz rebentar junto com uma granada para salvar a vida dos seus camaradas, é um lugar-comum na literatura sobre o egoísmo. Como pode esse acto resultar do interesse próprio se o soldado sabe que acabará com a sua vida? O egoísta pode responder que o soldado percebe nesse instante que prefere morrer a sofrer a culpa que o perseguiria para sempre se se salvasse a si próprio e deixasse que os seus amigos morressem. O soldado prefere morrer e nada mais sentir, a viver e sofrer os tormentos dos condenados. Esta resposta pode parecer forçada, mas ainda está por determinar a razão por que a devemos considerar falsa.
As críticas que têm surgido contra o egoísmo podem ser divididas em três categorias. Primeiro, existe a tese de que não é genuinamente uma teoria. Segundo, há a alegação de que se trata de uma teoria que é refutada pelo que observamos no comportamento humano. Terceiro, existe a ideia de que, embora o egoísmo seja uma teoria consistente com o que observamos, existem outras considerações que não são evidentes que sugerem que deve ser rejeitada em favor de uma teoria alternativa, o pluralismo motivacional, segundo a qual os seres humanos possuem desejos últimos egoístas e altruístas.”


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Filosofia da Ação e Problema do Livre Arbítrio



Vamos começar a estudar Filosofia da Ação. Na filosofia da ação vamos primeiro analisar o problema de saber se todas as nossas ações se traduzem ou não no interesse egoísta pessoal. De seguida analisaremos o que é o determinismo causal, fazendo a distinção entre mero fatalismo. Isto conduzir-nos-á ao problema do livre arbítrio que nos ocupará algumas aulas, dependendo também da vossa reação às discussões propostas.
Para começar a vislumbrar um pouco do problema nada melhor que fazer uma breve pesquisa nestes links.

Link 1 (O que vamos estudar? Filosofia da ação e livre arbítrio)

Link 2 (Dilema do determinismo)

Link 3 (Argumentos a favor do libertismo)

Link 4 (2º teste de Filosofia 2014/15 - Organização)

Link 5 (Dicas para estudar para o teste de Filosofia da Acção)

Link 5 (Somos responsáveis pelo que fazemos?)

Link 6 (Libertismo)

 Podes também iniciar o teu estudo sobre o problema do livre arbítrio visualizando este vídeo (legendado)

 

domingo, 4 de janeiro de 2015

A moralidade vem da racionalidade ou da autoridade?

Este pequeno vídeo narrado por Stephen Fry, levanta a questão se os nossos juízos morais decorrem da racionalidade (capacidade argumentativa de pensar os problemas) ou da autoridade (religiosa ou outra). É um bom de partida para as matérias que se vão seguir e uma introdução ao problema que iremos tratar, o de tentar saber como devemos viver.


domingo, 24 de novembro de 2013

Dilema do Prisoneiro e egoísmo


Vamos imaginar que dois sujeitos, o Luís e o Aníbal são acusados injustamente de um crime grave. Um interrogador entra na cela do Luís e pede-lhe que confesse o crime. E diz que vai fazer o mesmo ao Aníbal.

Assim, há 4 resultados possíveis:

1.      Somente o Luís confessa o crime
2.      Somente o Aníbal confessa o crime
3.      Ambos confessam o crime
4.      Nenhum confessa o crime

Agora a proposta é a seguinte: Caso Luís confesse o crime (situação 1), o Luís sairá em liberdade e o Aníbal ficará preso 10 anos. Caso suceda a situação 2, acontece o inverso. Se suceder a situação 3 (ambos confessam), então ficarão ambos presos apenas 8 anos. Se suceder 4, isto é, se nenhum deles confessar, ambos continuarão presos apenas durante 6 meses.
Se analisares bem, claro que 4 é a melhor situação para ambos. Mas como é que Luís e Aníbal agiriam se fossem egoístas racionais? Acontece que se Luís for egoísta racional vai confessar o crime. E o mesmo sucede com Aníbal se for egoísta racional.
O que nos mostra esta experiência mental, é que em certas circunstâncias as pessoas retiram maiores benefícios se não agirem de acordo com o egoísmo racional.

(parte deste texto é inspirado na explicação do manual, Razões de Ser, Porto Ed)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Determinismo radical no Sims

Na verdade nunca joguei o Sims, mas sabendo mais ou menos do que que se trata, fiz uma analogia na aula entre o determinismo radical e o jogo Sims. Se o determinismo radical for verdadeiro, comportamo-nos como se fossemos personagens do Sims que pensam que são livres, mas na verdade todas as suas ações estão causalmente determinadas. Claro que não devemos de todo levar esta analogia a sério, pois o determinismo que falamos no problema do livre arbítrio é a causalidade científica.


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Peter Singer: O "porquê" e o "como" do altruísmo eficaz

Nas aulas falamos que uma das teorias que procuram explicar a motivação para a ação é o egoísmo psicológico. Duas objeções principais foram apontadas ao egoísmo, a primeira que refere que o prazer que obtemos de praticar determinadas ações é apenas o efeito e não a causa de uma ação. Outra das objeções são as ações que parecem ser verdadeiramente altruístas e não egoístas. Uma das boas formas de compreender o altruísmo é assistir a este pequena palestra do filósofo altruísta Peter Singer. Vale bem a pena.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O que vamos estudar? Filosofia da ação e livre arbítrio

Neste momento estudamos a ação. Não estamos propriamente a fazer filosofia da ação, mas antes a tentar arranjar uma boa definição de ação que nos permita avançar com alguma segurança para a discussão do problema seguinte, o problema do livre arbítrio.
Assim, começamos por distinguir ações de meros acontecimentos, mesmo que nos tenhamos deparado com algumas situações em que é difícil determinar se estamos perante uma ação ou perante um acontecimento.
De uma forma geral definimos ação como um acontecimento que um agente faz, com intenção. Para determinarmos como saber se uma ação é intencional estabelecemos que tem de obedecer pelo menos a uma descrição verdadeira, isto é, que possamos evidenciar pelo menos uma crença e um desejo de agir, se quisermos, temos de enunciar um motivo. Assim, sabemos que respirar não pode ser uma ação, mas estudar filosofia é uma ação.

Vamos então supor que a Maria está a tocar piano. É simples perceber que tocar piano, ou pelo menos colocar os dedos sobre o piano, é uma ação que a Maria realiza. Vamos imaginar ainda que a Maria acordou os vizinhos com o som produzido pelo seu piano. Será que a Maria praticou uma ou duas ações? O que pensas disto?


Definir a ação vai-nos permitir entrar no problema do livre arbítrio. Se o universo é fisicamente determinado, será que somos livres quando agimos, ou a nossa ação não passa de uma ilusão?
Vamos estudar três respostas a este problema, duas delas incompatibilistas (que defendem que o livre arbítrio é incompatível com o determinismo) e uma delas compatibilista (que defende que o livre arbítrio é compatível com o determinismo)

Incompatibilistas:

·         Determinismo radical
·         Libertismo

Compatibilistas:

·         Determinismo moderado


Estudaremos cada uma destas teorias nas aulas, bem como a sua discussão. 
O vídeo que te é proposto neste post é do filme The Matrix. Nele coloca-se uma situação interessante relacionada com o livre arbítrio. Se puderes ver o filme todo, é interessante. 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O determinismo de Espinosa


As ideias de Espinosa sobre o livre-arbítrio eram igualmente controversas. Era um determinista, o que significa que acreditava que qualquer acção humana resultava de acções anteriores. Uma pedra lançada ao ar, se pudesse tornar-se consciente como um ser humano, imaginaria que se movia por sua própria vontade, embora isso não fosse verdade. De facto, aquilo que a movia era a força do lançamento e os efeitos da gravidade. A pedra pensava que era ela que controlava o movimento e não a gravidade. O mesmo acontece com os seres humanos: imaginamos que escolhemos livremente o que fazemos e que temos controlo sobre as nossas vidas. Mas isto é porque, normalmente, não compreendemos a origem das nossas escolhas e ações. Na verdade, o livre-arbítrio é uma ilusão. Não existe qualquer ação livre espontânea.  

Nigel Warburton, Uma pequena história da filosofia, pp.89,90 (2012)