segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Ação de formação para professores


Decorre entre 17 e 24 de outubro as inscrições para a seguinte ação de formação:
– “Argumentação e pensamento crítico na sala de aula como estratégia de resolver conflitos”, dinamizada pelo formador Rolando Almeida, com a duração de 12 horas, a aguardar validação pela DRE, tendo como destinatários os docentes de todos os grupos de recrutamento.
As inscrições decorrerão online, a partir das 09h00, do dia 17/10, AQUI ou na sede do Centro de Formação do SPM.
Aproveitamos para dar conta da seguinte informação: a 1ª. prioridade de seleção abrange os sócios do SPM (gratuito) e a 2ª. prioridade de seleção abrange os não sócios = 15€ (mediante vaga)

A ação de formação terá lugar na sede do SPM – Calçada da Cabouqueira nº 22, Funchal.

domingo, 16 de outubro de 2016

Cogência

Algumas vezes surgem confusões ligadas a esta noção da argumentação filosófica. Um argumento é cogente quando, além de válido e com premissas verdadeiras, persuade racionalmente, ou seja, é convincente.

A objeção mais habitual é que não faz sentido falar em tal coisa, pois em filosofia não há argumentos cogentes.

Claro que há! Um argumento é filosoficamente cogente se as premissas forem mais plausíveis do que a conclusão, isto é, se nos levarem a aceitar uma conclusão que desconhecíamos.   

Diz-nos a noção de validade que um argumento é dedutivamente válido se em nenhuma das circunstâncias de verdade possíveis as premissas do argumento não possam ser verdadeiras e a conclusão falsa.                                          
                                                                                                        
Eis um exemplo de dedução válida:
A neve é branca e a relva verde
A relva é verde
Logo, a neve é branca
Este é um argumento válido e com premissas verdadeiras. Significa isto que é sólido. Mas facilmente percebemos que a solidez não parece ser uma noção suficiente, apesar de necessária, para persuadir alguém com um argumento. Isto porque em filosofia temos premissas muito discutíveis. E, apesar de serem muito discutíveis, tal não significa que não nos possam fazer aceitar uma conclusão que, à partida, não estaríamos dispostos a aceitar, não fossem aquelas premissas. Se as premissas forem mais plausíveis que a conclusão, acabamos por aceitar uma conclusão que à partida não defenderíamos. Isto é a cogência.

O exemplo dado não é um exemplo de cogência, pois na cogência o que queremos mostrar é que alguém não pode defender uma tese partindo de determinadas premissas, ou seja, que aquilo que já aceita 
 as premissas  implica necessariamente a conclusão que não quer aceitar e que nós defendemos.

Assim, a definição de cogência é operacional para nos permitir compreender que não desejamos somente argumentos sólidos, mas, além disso, que convençam.

Podemos ter argumentos sólidos, mas que não são persuasivamente fortes, necessitando de explicações adicionais para que se tornem convincentes. E daí a cogência.

A cogência é igualmente aplicável a argumentos quer dedutivos quer indutivos. Nestes últimos, um argumento cogente não aponta necessariamente para uma conclusão verdadeira, mas é muitíssimo provável que o seja.

A cogência vai mais além da mera sintaxe do argumento e é uma noção interessante precisamente quando não sabemos determinar a verdade das proposições. Claro que não precisamos de saber se as premissas de um argumento são verdadeiras ou falsas para saber se é válido. Precisamos apenas de saber que, se as premissas forem verdadeiras em alguma simulação de verdade, a conclusão não poderá ser falsa nessa mesma circunstância. Para saber isso, podemos aplicar um inspetor de circunstâncias.
Mas, ainda assim, temos muitos argumentos perfeitamente válidos que não são persuasivos. Daí a importância da solidez. O problema é que nem sempre é fácil determinar a solidez de um argumento, pois nem sempre sabemos da verdade das premissas. Assim, falamos de cogência do argumento, isto é, da plausibilidade das premissas para apoiar determinada conclusão. 
 
Publicado originalmente Aqui

sábado, 15 de outubro de 2016

Filosofia da Religião, em antologia de luxo


Deus está filosoficamente vivo e bem vivo. Que o diga a filosofia analítica contemporânea que ressuscitou a filosofia da religião com um vigor nunca antes alcançado. Para muitas pessoas ligadas á filosofia isso é surpreendente, já que erradamente viam na abordagem analítica pouco mais que artifício e formalismo técnico de análise da linguagem. A prova de que as coisas não são bem assim é o volume que aqui apresento. É impressionante a qualidade intelectual do que se produziu nos últimos 50 anos sobre filosofia da religião. Filosofia das Religiões, Uma Antologia, é a tradução da edição de 2003 de Philosophy of Religion, An Anthology, da Blackwell, uma editora com grande tradição e empenho na edição deste tipo de obras. Aliás, editoras académicas em regra publicam com alguma regularidade obras do género. Estes volumes são uma espécie de best of de uma área de estudos, autor ou problema. São volumes extensos e que compilam textos dispersos, clássicos ou contemporâneos, mas, no caso da filosofia (e creio que nas outras áreas é o mesmo) que sejam relevantes no debate contemporâneo. Mas vamos ao interior. Deparamo-nos com duas pequenas dificuldades na edição portuguesa e que o editor pode melhorar em futuras edições. A primeira é que o índice vem no final. É um pouco discutível esta opção, mas num livro tão volumoso (a edição portuguesa é mais extensa que o original com mais de 800 páginas) e cuja finalidade é em grande parte a consulta, o índice no início facilita o manuseio e apresenta logo a tábua dos artigos. A segunda é que a edição portuguesa não apresenta no índice o nome do autor de cada artigo. Temos de abrir cada artigo na página correspondente para, aí sim, verificar quem é o autor do artigo. Isto dificulta bastante, pois a procura de um artigo pode também ser feita pelo autor e, como está, torna-se bastante menos prática essa busca. Não tenho o original para comparar, mas, à parte isto e uma pequena introdução dos autores compiladores, nada mais é apresentado. Creio que aqui segue o original, muito embora todas as antologias da Blackwell que possuo em língua inglesa apresentam um pequeno Index. Nesta edição portuguesa não aparece tal Index. Não posso confirmar se tal aparece na edição original, mas tratando-se de um livro de estudo e fortemente dirigido a um público académico, este tipo de ferramentas revela-se quase sempre de enorme utilidade, já que em tanta página os atalhos facilitam bastante.
O livro é organizado em 8 partes.
Parte 1: A identidade religiosa
Três artigos a abrir a antologia, que acabam por constituir uma apresentação do fenómeno religioso. O que faz com que uma crença religiosa seja religiosa e distinta de outras crenças? Quais as principais crenças religiosas?
Parte 2: Teísmo e atributos divinos
Nesta parte, que arranca com um famoso artigo de Richard Swinburne, “God” (1996), explora-se as principais características e atributos de Deus, entre outras como, as de omnipotência e omnisciência.
Parte 3: Explicações de religião
O início desta parte é empolgante. Em poucas páginas 3 autores disputam a partir de uma parábola, o estatuto da crença religiosa. São eles Anthony Flew, R. M. Hare e Basil Mitchell. E já que estamos na parte das explicações da religião ou religiões, então é ocasião para explorar o que tem a psicologia a dizer sobre o problema. A inclusão desta parte é interessante já que, na minha opinião pessoal, tornar-se-ia incompleta sem a apresentação desta abordagem pois parece que a crença religiosa tem uma forte componente psicológica. É aqui também, como de resto seria de esperar, que Freud é abordado, em pelo menos 2 artigos. Mas também é nesta parte que se aborda o relevante problema da ética da crença, com um artigo do já traduzido entre nós, William Clifford (Ética da Crença, Org. Desidério Murcho, Bizâncio, 2010). Mas também é nesta parte que temos a defesa da crença religiosa como apropriadamente básica, na conhecida formulação de Alvin Plantinga.
Parte 4: Argumentos teístas
Nesta parte discute-se a apresentam-se os principais argumentos de justificação da existência de Deus. A novidade aqui é que são apresentados, cada um deles, num artigo diferente. Duas entradas para Swinburne e Mackie com o argumento cosmológico. E, com uma falha da tradução, o argumento teleológico de David Hume (e não teológico). Ainda são explorados em artigos diferentes, o ontológico e do desígnio.
Parte 5: Religiões não teístas
Confesso que é para mim a parte mais estranha, já que não tenho grande conhecimento nesta matéria e ainda não explorei convenientemente os artigos aqui incluídos. Mas temos 4 artigos que apresentam perspetivas budistas, feministas, Darsana, Anviksiki, entre outras. A explorar.
Parte 6: Coisas más e coisas boas
Como seria de esperar, o problema do mal explorado em 8 artigos. Para citar os mais relevantes encontramos aqui artigos de William Rowe (do qual já temos traduzida a excelente Introdução à filosofia da Religião, Verbo, Trad. Vitor Guerreiro), Brian Davies e Peter Van Inwagen.
Parte 7: Os valores religiosos
Esta parte pode interessar aos professores do secundário já que a bibliografia para abordar este tema é, em regra, escassa e difusa, muitas das vezes mesmo inapropriada à finalidade que se destina. Há aqui, portanto, um recurso indesculpável. Encontramos os problemas comuns: o problema da tolerância religiosa, religião e moralidade, pluralismo religioso, etc. Encontramos também o artigo de Swinburne “A possibilidade da encarnação” que tem sido divulgado entre nós por Domingos Faria. Espaço ainda também para a famosa “aposta” de Pascal.
Parte 8: Identidade Pessoal e morte
Finalmente, um típico problema associado às religiões, o da morte e dos milagres. Dos 5 artigos incluídos, um é de um dos organizadores desta antologia, Taliaferro e foi incluído também o texto de David Hume sobre os milagres, incluído ao seu ensaio de Investigação Sobre o Entendimento Humano.
Conclusão da análise
A quem se destina esta antologia? Fortemente a estudantes universitários. Mas também a professores do ensino secundário e ainda a curiosos que gostem de aprender lendo. Para estes últimos o livro tem a vantagem de conter artigos de autores experientes numa escrita clara. Para além disso o mero curioso, leitor sem formação em filosofia, tem aqui uma rica apresentação do problema do fenómeno religioso, exposto sob muitas variantes.
Como é habitual neste tipo de artigos incluídos em antologias académicas, no final de cada artigo, em regra, é apresentada não só uma bibliografia geral, como uma recomendada para aprofundar o tema ou problema apresentado no artigo.
Uma nota final. Muitas vezes em países academicamente mais pequenos como Portugal, os problemas da religião são abordados apenas pela Religião católica e Cristã, o que acaba por afastar o interesse de muitas pessoas, já que se habituam a associar estes problemas apenas ao interesse das instituições religiosas. Independentemente do mérito ou desmérito do trabalho dessas instituições é fundamental perceber que a análise do fenómeno religioso está muito para além da instituição religiosa. Ele é um tema amplo de estudos filosóficos e científicos. A publicação e divulgação deste tipo de obras entre nós (principalmente entre nós) é um bom sinal para arrancar a filosofia desse espectro e devolvê-la ao exercício crítico que tão bem a caracteriza na busca da verdade.

Charles Taliaferro e Paul J. Griffiths, Filosofia das Religiões, Uma antologia, Tradução de Luís Couceiro Feio, Editora Piaget, 2006


Esta obra pode ser comprada AQUI
Agradeço à Editora Piaget o envio deste livros para análise e divulgação. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Boas introduções são necessárias


As boas introduções são um bem maior para entrar num domínio mais sofisticado. Sem elas é muito mais difícil trilhar caminhos futuros numa aprendizagem. Existem introduções muito elementares e básicas que servem de mapa para quem deseje, em pouco tempo, apanhar algumas pontas de uma determinada área. Essas, apesar de essenciais, muitas das vezes deixam escapar algumas subtilezas básicas sem as quais não se chega a compreender verdadeiramente a relevância de uma aprendizagem. Mas existem introduções que são um pouco mais sofisticadas sem deixar de lado esse caráter introdutório. Tanto servem aos neófitos como a estudantes, professores ou até estudantes de cursos universitários. É nesta última categoria que se insere a introdução de Stephen Hetherington, Realidade e Conhecimento, Uma Introdução à Metafísica e à Epistemologia, publicado pela Piaget e traduzido por Jorge Pinheiro no ano de 2007, sendo a tradução do original datado de 2003. Hetherington é um filósofo australiano. A Austrália é um bom país para a filosofia. Da última leva destaco relevantes filósofos como Peter Singer, David Oderberg ou David Chalmers e, claro, o próprio autor aqui destacado. Logo no título do livro vemos um pequeno apontamento na tradução, já que no original o título começa por ser qualquer coisa como: Reality? Knowledge? Philosophy!. E a pontuação, omitida na tradução portuguesa, não estará lá por acaso. Pesquisei e notei que o tradutor espanhol também não foi de todo fiel ao original. Felizmente este apontamento não prejudica, segundo a minha opinião, o conteúdo que se segue. Na verdade, tanto a metafísica como a epistemologia são já territórios filosóficos bastante amplos. Claro que vamos encontrar problemas relacionados com a filosofia moral ou o sentido da existência. Aqui são tratados pelo autor nos seus aspetos metafísicos mais gerais, bem como nas relações de proximidade com a filosofia do conhecimento que tomo como sinónimo de epistemologia.
O livro está organizado em 12 capítulos e como quase todas as introduções à filosofia, podem ser lidos ou consultados em separado, de acordo com os interesses e curiosidade do leitor. Além disso, como acontece em todas as boas introduções, está organizado como um manual de aprendizagem com pequenos questionários nos finais de capítulos e subcapítulos. Esses questionários são bastante úteis para estimular as aprendizagens. Para além disso, em todos os capítulos é apresentada uma bibliografia que funciona como atalho para uma exploração mais aprofundada.
Todos os capítulos apresentam várias teorias, por vezes bastante opostas, como ensaios de resposta aos problemas propostos.
Um pequeno itinerário do livro:
Capitulo I: a aprendizagem começa pelo famoso problema da conservação da identidade pessoal ao longo do tempo. O que é que faz com que uma pessoa seja a mesma ao longo do tempo? Que propriedades são constituintes dessa identidade?
Capitulo II: apresenta o problema do livre arbítrio. Como é que num universo causalmente determinado e explicado racionalmente pela causalidade, podemos afirmar que a nossa liberdade individual escapa a essa causalidade? Se escapa então pelo menos a nossa liberdade não está sujeita ao determinismo causal e se não escapa, então a liberdade individual não passa de uma ilusão da mente. E nesse caso, levantam-se outros e relevantes problemas, como o da responsabilidade individual pelas ações.
Capítulo III: neste capítulo é abordado mais um problema de compatibilidade, neste caso, entre a existência de um Deus sumamente bom e com poderes ilimitados e um mundo criado por Ele onde existe mal. Como resolver esta aparente incompatibilidade? A passagem de Sócrates, no seu diálogo com Eutifron, não escapa à análise do problema proposta por Hetherington.
Capítulo IV: O problema do sentido da existência? O que é que confere sentido à nossa existência? Propõe-se um encontro com as passagens mais clássicas para análise do problema, deste o mito de Sísifo até à máquina de experiências de Nozick.
Capítulo V: poderá a morte constituir uma ameaça assustadora ao sentido da vida? Como lidar com a finitude? Neste capítulo são explorados argumentos de autores contemporâneos como Jeff McMahan ou Thomas Nagel, mas também os clássicos Epicuro e Lucrecio.
Capítulo VI: como é que duas mesas brancas partilham de uma mesma propriedade como a brancura? Será que a “brancura” partilhada é uma propriedade independente dos objetos? Ou pertence aos objetos enquanto sua propriedade? Como definir o que é uma propriedade se tal for sequer possível? Existem propriedades que definam, por exemplo, o que é ser uma pessoa?
Capítulo VII: A toda a hora falamos em verdade por oposição a falsidade. Mas como é que é possível falar em tal coisa? O que é que caracteriza a verdade? Se houver múltiplos conceitos de verdade, então parece ser impreciso falar de tal coisa. Mas pelo contrário, se o conceito não é múltiplo, então o que o caracteriza? São aqui analisadas algumas das mais recentes teorias, de uma forma geral, mas correta e filosoficamente robusta, entre as quais, a teoria coerentista da verdade e a teoria da verdade como correspondência.
Capítulo VIII: quais são os critérios que nos permite defender que uma teoria está mais bem fundamentada que uma outra teoria rival? Um gato passa no outro lado da rua. Maria, que tem algumas dificuldades de visão e até cognitivas, mas não tem noção disso, formula a crença de que um gato passou no outro lado da rua. Joana, que tem uma visão e perceção sensorial apurada, mesmo que não saiba disso, vê um gato passar no outro lado da rua. Ambas têm a mesma crença. Mas como é que podemos confiar que uma crença é mais conhecimento que outra? Temos boas razões para confiar mais na crença de Joana do que na crença de Maria se as suas crenças fossem diferentes? Esta relação da confiança no conhecimento verdadeiro é explorada neste capítulo.
Capítulo IX: O que é que está na base do conhecimento? Isto é, o que é que fundamenta o conhecimento? Será que ao desejarmos explicar x entramos num movimento de regressão infinita de explicações? Neste capítulo, claramente debruçado sobre epistemologia, são analisados textos clássicos de Platão e Gettier.
Capítulo X: sabemos coisas porque as percecionamos sensorialmente. Mas a perceção sensorial é suficiente para um conhecimento sólido? O empirismo e David Hume em forte análise neste capítulo.
Capítulo XI: Depois do empirismo, o racionalismo. Será o conhecimento de verdades racionais, como as matemáticas, o fundamento de todo o conhecimento? Como é que é que podemos saber apenas pelo raciocínio determinadas verdades? Será fiável?
Capítulo XII: Depois da análise do empirismo e do racionalismo, faz todo o sentido a exploração do ceticismo. Neste capítulo explora-se a fase cética de Descartes e o ceticismo de Hume, assim como as várias respostas mais conhecidas ao ceticismo e à possibilidade do conhecimento.

Quem quer que inicie o estudo de filosofia por este livro considere-se com sorte. O livro apresenta os problemas tal qual eles são hoje em dia explorados e na melhor tradição da boa filosofia, é escrito de uma forma muito clara, sem perder o norte do rigor que a filosofia exige.
Não recomendo este livro para estudantes do ensino secundário. Mas é altamente recomendável para professores de filosofia do ensino secundário. Isto porque por um lado muitos dos problemas coincidem com o programa ministrado no ensino em Portugal e depois porque podem aproveitar muitos exemplos e partes do livro para explorar nas aulas, uma vez que está engenhosamente bem escrito e apresenta exemplos muito interessantes para os alunos. Seleciono apenas uma pequena passagem que pode ser aproveitada para apresentar o problema do livre arbítrio nas aulas:
Cap. II:
“imagine-se que uma pedra parte a nossa janela. Que mais deve incluir esta história? Dada a forma do mundo físico, assim que a pedra se aproximou, a janela não teve hipóteses de sobreviver intacta: o seu estilhaçamento foi provocado pelo impacte da pedra. Assim, em alguma fase da história do mundo, a fractura da janela tornou-se inevitável. Isso foi assim apenas quando a chegada da pedra se tornou iminente? Ou, cem anos antes, o mundo já estava a caminhar inexoravelmente para esse momento em que a dita pedra partiu a janela? Algures no passado, algo ocorreu para que sucedesse a morte da janela.”
p. 31
Ou, no Cap. IX
“Se não sabemos em que consiste o conhecimento, talvez não saibamos qual das nossas opiniões é conhecimento. Um ponto de vista não é conhecimento apenas por ser opinião de alguém. Nem todas as opiniões pessoais profundas são conhecimento; e ser-se culturalmente respeitado não é garantia da opinião de alguém ser conhecimento. Nem uma opinião é conhecimento apenas porque queremos que seja ou porque acreditamos ou afirmamos que é. Nem todos os pontos de vista são especialmente conhecíveis. Que garantia temos de o nosso ponto de vista pessoal ser bom nesse aspecto?”
p. 135
Qualquer uma destas passagens é muito útil para, numa aula, lançar os problemas. Claro que dependendo das opções de cada professor, depois pode-se selecionar alguns pontos das teorias e argumentos dos filósofos que exploram ensaios de resposta aos problemas.
Hoje em dia temos no mercado português boas introduções. Deixo apenas a recomendação à Piaget que continue a publicar estes livros tão bem-vindos ao público de língua portuguesa. Sem este tipo de obras disponíveis, o acesso ao conhecimento é muitíssimo mais limitado.
Agradeço à Editora Piaget que gentilmente enviou este livro para a minha apreciação.

Para comprar o livro: AQUI