quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Bom ano 2010


Para terminar o ano, deixo uma sugestão de mais um livro da nova vaga de fundamentalismo ateu. A ideia é divertida e o livro promete. E a todos, um bom ano 2010.











quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ensino da Filosofia - as urgências

Na Crítica está publicado um texto de Aires Almeida que aborda problemas importantes no ensino da filosofia e do interesse geral de todos os professores de filosofia interessados na sua disciplina. Pode ser lido AQUI.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Melhores de 2009 e entrevista

Acabei de publicar no blog da Crítica as melhores publicações de filosofia em Portugal durante 2009. Pode ser visto AQUI. Publiquei também uma pequena entrevista que dei sobre o ensino da filosofia: AQUI.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Comentários anónimos e ensino da filosofia

Por diversas vezes sou obrigado a escrever duas ou três linhas sobre este espaço, o FES. Surgem nessas vezes comentários – sempre anónimos – reactivos em relação a coisas que escrevo. O último deles refere-se ao post “Atirar matéria como quem atira sacos de cimento”. Um leitor, entusiasmado pelo anonimato nas caixas de comentário, não hesitou em acusar-me que cuspo no próprio prato em que como. Vamos lá esclarecer dois ou três pontos, daqueles que procura não a paz do consenso, mas a reposição clara de alguns aspectos interessantes:
1 – Qualquer pessoa é livre de escrever o que quiser no blog que quiser, assinando ou não. Tal como os autores dos blogues são livres de apagar comentários, inventar outros, insultar os comentadores de forma anónima para proteger a autoria do blog, etc. No meu blog há uma situação de justiça que merece ser reposta e estou cansado de abordar este assunto, o que me faz querer que muitos dos comentadores não acompanham o blog e atiram uns tiros sem ainda conhecer o alvo. Quando eu faço posts ou comentários, revelo a minha identidade. Um anónimo quando comenta está a usar o espaço de interacção e comunicação (estar com) do blog. É suposto que qualquer comentador provoque uma contra resposta. Acontece que quem se me dirige sabe a identidade de quem está a conversar. Basta uma pesquisa no Google e passa logo a saber quem sou, onde trabalho, quantos anos tenho, etc. Mas eu não conheço nada do comentador. É esta situação justa? Não me parece. Posso estar a falar com alguém que se faz passar por meu amigo e está simplesmente a enganar-me. De modo que a regra que se impõe é não responder a comentários anónimos, principalmente quando esses não passam de ataques pessoais e não movidos por motivos de argumentação racional dado tratar-se de um blogue de divulgação de filosofia.
2 – O meu leitor acusa-me de cuspir no prato que como porque critico alguns aspectos do trabalho de um professor que não conheço, ou só conheço indirectamente através de uma explicação que dei a um aluno e apercebi-me de alguns erros. E apercebi-me também de uma má prática de ensino que produz poucos ou nenhuns resultados numa disciplina como filosofia, que consiste em dar a matéria como quem atira sacos de cimento. Para o meu leitor isto parece constituir uma ofensa. Eu devia era estar caladinho e não me meter com a profissão dos outros que é uma coisa séria, é o seu ganha-pão. Mas não seria esta uma boa razão para melhorarmos na nossa profissão, ainda por cima quando já não temos desculpas para determinados erros?
Vamos então analisar a situação fazendo uma simulação:
Tanto o professor X como o professor Y têm a mesma formação, tirada na mesma universidade e mais ou menos a mesma experiência. Ambos dominam a língua materna e mais nenhuma. Ambos ensinam dentro da mesma realidade social e cultural. Ou seja, nenhum deles tem mais ferramentas que outro para poder ser melhor professor. Gozam de boa saúde e têm um horário semelhante.


O professor X


O professor X estuda somente pelo manual adoptado na sua escola e, em regra, perde duas horas semanais a preparar as aulas. Basicamente o que varia nas suas aulas são as estratégias. Umas vezes os alunos trabalham em grupo, outras individualmente. Fazem dois testes por período com 5 perguntas de desenvolvimento cada teste. O professor X acha-se cientificamente competente para avaliar manuais, mas só os analisou na reunião com os colegas para adopção de manual. Votou no manual que recorria a mais esquemas, que tinha mais trabalhos para casa e que oferecia um dvd e uma pasta mais uma esferográfica. Quando o professor X pede um trabalho escrito aos seus alunos, somente lhes dá os temas, a estrutura do trabalho e o número de páginas do mesmo.


O professor Y


Este professor tem o hábito de comprar livros de filosofia. Já não compra a última edição do Ser e Tempo, nem da Crítica da Razão Pura, mas compra as introduções à filosofia que vão aparecendo no mercado. Passa muito do seu tempo abraçado à disciplina que ensina e é nesses livros que aprofunda conhecimentos para as suas aulas. Sempre que necessário, o professor Y compra livros de outras áreas para compreender a relação da sua disciplina com outras áreas do saber. O professor Y tem uma preocupação especial com o manual com que vai trabalhar. Quer um manual actualizado, sem erros científicos, escrito de forma clara para os alunos. Mas não dá grande valor aos extras já que se o manual for competente tal é quanto basta para que os seus alunos tenham uma boa ferramenta para aprender. Uma vez que o professor Y é preocupado com os manuais, normalmente, na altura da adopção, tem um cuidado muito grande em pelo menos ler um ou dois capítulos, daqueles onde é costume aparecer erros, dos manuais que vai recebendo e a partir daí construir uma ideia segura da melhor adopção. Quando o professor Y pede um trabalho aos alunos tem a preocupação de lhes fornecer bibliografia (que conhece porque leu os livros) e ensinar como se escreve um trabalho em filosofia, o ensaio. Os testes do professor Y não exigem ao aluno que seja grande escritor, mas que pense por si mesmo e com correcção.
Ambos os professores auferem das mesmas condições profissionais. A minha questão é: quem é que cospe no prato que come? E, já agora, como avaliar estes professores?
Há ainda uma outra questão que me cabe fazer: parece-me que seria eticamente incorrecto da minha parte avaliar globalmente o trabalho do professor X e do Y. É justo perceber que ambos os professores reúnem qualidades e que tanto um como outro dão boas e más aulas aos seus alunos. Não se trata disso. Independentemente das capacidades de cada um dos professores, a motivação pode, por infinitas razões, variar. Um pode estar mais motivado que outro. E temos sempre o ponto de fuga que consiste em culpabilizar o sistema que não é motivador para todos os professores.
Mas há um aspecto que gostaria de lançar à discussão: o Ministério da Educação português tem dado uma grande liberdade aos professores de filosofia para desenvolverem a disciplina. Quem faz os programas da disciplina são profissionais da filosofia. Quem faz os manuais também são professores de filosofia. Quem tem então a obrigação de melhorar a disciplina, tornando-a não só mais atractiva como pertinente para os dias que correm? Gostaria também que ficasse claro que a disciplina de filosofia como disciplina integrante dos cursos gerais tem melhorado muito nos últimos anos. Hoje há mais rigor, professores mais preparados que há 10 anos atrás. Uma das razões que aponto para este sucesso é que os profissionais da disciplina estão menos isolados em termos de formação, em grande parte graças às tecnologias de comunicação. Todos os dias centenas de professores de filosofia aprendem uns com os outros nos fóruns específicos da disciplina, nos blogs, etc. O exemplo do FES é curioso. O blog existe há pelo menos 5 anos. Recordo na altura da existência de meia dúzia de espaços on line dedicados ao ensino da filosofia. Hoje imensos professores publicam blogs, recolhem materiais e fazem um esforço notável para melhorar o trabalho com a disciplina. Um dos aspectos que mais me tem surpreendido é a explosão da blogosfera no ensino da filosofia.  E muitos desses blogs tem um interesse assinalável. Tudo isto, sem quaisquer estudo de prova, faz-me pensar que as coisas vão mudando com melhorias assinaláveis. É por essa razão que não hesito em denunciar más práticas, erros, não para humilhar a disciplina, não para cuspir no prato em que como, mas precisamente para produzir o efeito contrário, para melhorar a disciplina e comer num prato lavado sem ter de cuspir lá para dentro.
É por isso também que me parece que o meu leitor tirou uma conclusão precipitada. O trabalho modesto que vou fazendo no FES não é para denegrir os colegas, para me elevar no meio dos meus colegas. A ideia não é a da brejeirice. Caso contrário como justificar as centenas de posts que ao longo destes anos tenho escrito para salientar as boas práticas no ensino da disciplina?
Mas o ponto de partida talvez explique a diferença de atitudes: como eu, muitos colegas reconhecem que a formação superior não foi a melhor, que teve momentos realmente maus e que temos um esforço suplementar para superar defeitos de fabrico. Reconheço que nem sempre é psicologicamente confortável reconhecer este ponto de partida.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Discutir a crença religiosa


Andamos a precisar da tradução de uma ou duas obras de filosofia da religião. Na minha biblioteca pessoal tenho umas 4 propostas. Duas são de carácter introdutório destinadas a um público fora da filosofia e duas outras são mais densas, mesmo que possam igualmente ser recomendadas ao público em geral. Uma dessas últimas é escrita por 4 autores, Michael Peterson, William Hasker, Bruce Reichenbach e David Basinger. É uma pequena enciclopédia dos problemas base relacionados com a filosofia da religião. Vale a pena clicar AQUI e aceder ao índice e é certamente uma aquisição recomendável, mesmo que implique maior esforço a leitura em língua inglesa.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Atirar matéria como quem atira sacos de cimento


Hoje tive uma experiência ainda não muito incomum, com muita pena minha. Sei que não é politicamente correcto publicar erros de colegas de profissão, mas não vislumbro modo melhor de poder melhorar a forma como se trabalha senão expô-la à crítica pública.
Fui solicitado para uma ajuda a um aluno, filho de amigos pessoais, para estudar filosofia. Desde logo estranhei o pedido, dado tratar-se de um bom aluno e sem dificuldades de maior. A verdade é que encontrei o jovem em apuros com a disciplina. Comecei por questionar alguns pormenores sobre as aulas e em poucos minutos percebi que estava perante mais um caso no qual o professor atira a filosofia como quem atira sacos de cimento, ou do que calhar, para cima dos jovens. Desde logo, o professor seguiu a definição de validade do manual. Acontece que essa definição está errada, mesmo sendo a que consta do manual do 10º ano mais adoptado em mais escolas do país. A definição sugere que um argumento é válido se as premissas forem verdadeiras e a conclusão também. Trata-se, obviamente, de uma definição cientificamente errada. Senão como é que o estudante vai entender um argumento como este:


O Rolando é professor de filosofia
Logo, o Benfica é um clube de futebol


Tanto premissa como conclusão são verdadeiras. Com efeito não consta de qualquer lógica possível que se trate de um argumento válido.
Mas o que se segue é ainda mais gravoso. Explicar ao aluno o que é a validade e por que razão em filosofia estudamos a validade dos argumentos não tem aqui grande peso. É que o mais que pode acontecer é o professor fazer uma questão no teste como: “Defina validade de um argumento”. Isto é tão certo como eu ter cinco dedos em cada mão. Caso contrário, se o professor estivesse interessado em compreender o que leu da definição de validade, com segurança se apercebia da enormidade que ali está. Mas este professor tanto pode ensinar filosofia, como outra coisa qualquer. O que ali está a fazer é a atirar sacos de cimento para cima dos alunos. Isto é o resultado imediato de um sistema de ensino que promove a irresponsabilidade e a ignorância. Cada vez mais os professores não sentem qualquer motivação em estudar para melhorar as suas deficiências de formação. Isto não é valorizado profissionalmente, nem sequer é avaliado nem existem mecanismos para avaliar tais coisas. O resultado desta incompetência é que encontrei um jovem de 15 anos que me parece ser um bom aluno, interessado e curioso e, ainda assim, completamente frustrado com a experiência de ter de aprender filosofia. E apesar da sua tenra idade percebe muito bem o que se está a passar com a disciplina de filosofia sem eu ter de lho dizer explicitamente como o faço aqui neste post, reservando qualquer identidade.
Erros todos cometemos. Erros elementares por pura incompetência, cheiram mal.

Dados interessantes

Lê-se no blog de Stephen Law:

David Bourget and David Chalmers have released the results of the largest survey of professional philosophers ever conducted. Some interesting results:

72.8% atheism
14.6% theism
12.5% other

49.8% naturalism
25.8% non-naturalism (but not necessarily supernaturalism)
24.2% other

Of course, quite what any of this shows re the truth of any of these beliefs, if anything, can be debated....

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A ética do Natal


Bem, e já que falei no post anterior no consumo de carne e as suas implicações éticas e ambientais, aproveito para recomendar uma leitura que já recomendo há pelo menos 3 anos seguidos. Estou a falar de the Xmas Files: The Philosophy of Christmas, o divertido livro de Stephen Law que constitui um bom abanão nas nossas crenças natalícias que tanto nos sabem bem. Mas o que é que isto tem a ver com a carne? Ora é precisamente na noite de consoada de natal que gostamos de um peru devidamente morto, ou um bacalhau, para nos deliciar naquilo que nos habituamos acriticamente a definir com a refeição da paz. Se a hipótese de que não é moralmente correcto comer os animais pelo menos na noite da paz, por que razão continuamos a ter um hábito que consideramos moralmente incorrecto? Pelo menos nessa noite será que faz sentido também em começar por oferecer alguma paz aos milhares de perus e bacalhaus? Este livro lança estas, entre muitas outras questões.

As nossas escolhas alimentares têm implicações éticas?


Agora que se realizou a Cimeira de Copenhaga sobre as alterações climatéricas lanço a seguinte reflexão? Por que razão é ético reduzir o consumo de carne que no mundo rico fazemos todos os dias? A resposta mais directa é esta: a produção de carne é o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa. Nessa percentagem incluem-se os arrotos das vacas, porque o gás expelido está carregado de metano, cujo efeito de estufa é 25 vezes maior do que o do dióxido de carbono. De todos os recursos alimentares, a produção de carne produz o maior impacto ambiental. O leitor sabia disto? E se sabe, acha que a maioria das pessoas que compra e consome carne sabe disto?
Uma fonte excelente para andarmos um pouco mais informados é o livro de Peter Singer e Jim Mason, Como comemos, D. Quixote, 2008. Com este livro aprendemos que por cada garfada dada existe um gesto ético.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Inquietações

Consequência de dois textos meus datados já de 2007, com relativa frequência recebo e-mails de estudantes perdidos no estudo da filosofia logo no 10º ano. Nesses textos questionei a opção de inclusão de um guião de análise do filme A formiga Z num manual do 10º ano. Os mails que recebo são de estudantes que querem compreender o que é que o filme tem a ver com a disciplina. Em regra, como me parece correcto fazer, aconselho os jovens a colocarem esses problemas aos seus professores explicando que a posição que leram nos meus textos são as minhas e que são discutíveis e podem estar erradas. Mas lembrei-me, por ocasião de um mail recente, de abrir espaço aos colegas que queiram e possam publicamente explicar de forma clara o conteúdo filosófico do filme. O manual em causa conta já com 3 anos de adopção e eu não tenho experiência de trabalhar com ele directamente.