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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

         
  A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E ao contrário da matemáti­ca não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas, e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.
            A preocupação fundamental da filosofia é questionar e compreender ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensar nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?» Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «o que é um número?» Um físico perguntará o que constitui os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma acção correcta ou errada?»
            Não poderíamos viver sem tomar como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento, linguagem, correcto e errado, a maior parte do tempo; mas em filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objectivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudar. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma actividade de certa forma vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.
            Uma vez que acredito que a melhor maneira de aprender algo acerca da filosofia é pensar acerca de questões determinadas, não tentarei dizer mais nada sobre a sua natureza geral. Os nove problemas filosóficos que iremos tratar são os seguintes:

            O conhecimento do mundo para além das nossas mentes
            O conhecimento de outras mentes para além das nossas
            A relação entre a mente e o cérebro
            Como é possível a linguagem
            Se temos livre arbítrio
            As bases da moral
            Que desigualdades são injustas
            A natureza da morte
            O sentido da vida

            Trata-se apenas de uma selecção; há muitos, muitos mais.

Thomas Nagel, Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à filosofia 

Mas para que serve mesmo a filosofia?


A palavra «filosofia» tem conotações infelizes: coisas abstractas, remotas, esquisitas. Tenho a impressão de que todos os filósofos e estudantes de filosofia passam por aquele momento de embaraço silencioso quando alguém nos pergunta inocentemente o que fazemos. Eu preferiria apresentar-me como engenheiro conceptual. Pois, tal como um engenheiro estuda a estrutura das coisas materiais, o filósofo estuda a estrutura do pensamento. Para compreender a estrutura é necessário ver como as partes funcionam e como se conectam entre si, o que significa saber o que aconteceria de melhor ou pior se fizéssemos algumas mudanças. É este o nosso objectivo quando investigamos a estrutura que dá forma à nossa visão do mundo. Os nossos conceitos e ideias constituem o lar mental em que vivemos. No fim, talvez tenhamos orgulho nas estruturas que construímos. Ou talvez pensemos que esses conceitos precisam de ser desmantelados e que temos de começar a partir do zero. Mas primeiro, temos de saber o que são estes conceitos.

Simon Blackburne, Pense, ma Introdução à Filosofia

O que é a filosofia? Por Nigel Warburton

O que é a Filosofia? Esta é uma questão notoriamente difícil. Uma das formas mais fáceis de responder e dizer que a Filosofia é aquilo que os filósofos fazem, indicando de seguida os textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant, Russell, Wittgenstein, Sartre e de outros filósofos famosos. Contudo, é improvável que esta resposta possa ser realmente útil se o leitor está a começar agora o seu estudo da Filosofia, uma vez que, nesse caso, não terá provavelmente lido nada desses autores. Mas, mesmo que já tenha lido alguma coisa, pode, ainda assim, ser difícil dizer o que tem em comum, se é que existe realmente uma característica relevante partilhada por todos. Outra forma de abordar a questão e indicar que a palavra filosofia deriva da palavra grega que significa amor da sabedoria.
Contudo, isto é muito vago e ainda nos ajuda menos do que dizer apenas que a Filosofia e aquilo que os filósofos fazem. Precisamos, por isso, de fazer alguns comentários gerais sobre o que é a Filosofia.
A Filosofia é uma actividade: e uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A actividade dos filósofos e, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas, ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos. A palavra filosofia e, muitas vezes, usada num sentido muito mais lato do que este, para referir uma perspectiva geral da vida.

Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia