O Filosofia 11 é um manual competente e pode competir com os melhores porque é um dos melhores manuais que vi( até hoje, ainda me faltam uns 4 manuais). Em comparação com a edição anterior esta está até muito mais cuidada, sem grandes nódoas a manchar o trabalho. O que é que me faz considerar este um bom manual para ensinar filosofia? Os ingredientes habituais que fazem dum manual um bom manual. É rigoroso e muito certo, não lhe encontrando falhas significativas e é dotado de uma linguagem clara. Este é um ponto particularmente interessante por uma razão: há quem defenda que os manuais devem propor actividades diversificadas. Ora, questiono o que se entende por tal? Filmes? Pintar o muro da escola? Fazer a árvore de natal com as caras dos filósofos no lugar das bolas?
Um manual de filosofia deve ensinar, em primeiro lugar, filosofia. De acordo com o seu talento o professor pode exibir um filme, comentar um texto extra filosófico, etc… se para tal tiver tempo e achar que com isso ganha alguma coisa de útil em termos de ensino da filosofia. Um manual não tem de propor isso e muito menos tem de o propor no lugar onde devem aparecer os conteúdos da filosofia. Mas o mais estranho é que quem defende uma coisa dessas não se dá conta que está a contribuir decisivamente para o desaparecimento da filosofia. Aliás essa foi a linha de orientação para o 12 º ano: dar a maior liberdade possível ao professor. Deu-se tanta que os alunos pura e simplesmente se desinteressaram pela disciplina e hoje em dia não se matriculam em filosofia. E fico sempre agradado com manuais que ensinem filosofia. De resto também eu li as Encíclicas Papais na disciplina de filosofia política na universidade, mas isso não implica que as Encíclicas sejam filosofia política. Mas regresso ao manual: Não aprecio especialmente o grafismo no interior do manual, apesar de ter uma capa bonita. Fundamentalmente é um manual que ensina filosofia com os filósofos e os problemas da filosofia. O facto de ser escrito com um bom suporte bibliográfico ajuda a compreender porque é que estamos perante um manual competente. Um dos aspectos que me saltou de imediato à vista com a leitura das primeiras páginas é que não há lugar à divagação e isso é revelador da capacidade didáctica do manual, pois evitar a divagação se é importante para um filósofo, que fará para um aprendiz de filosofia. A inclusão de Kant na filosofia do conhecimento parece-me sempre discutível, apesar de saber que muitos professores não concordam comigo. Mas tenho uma razão para pensar assim: nesta unidade o que se pretende é esclarecer o aluno sobre empirismo e racionalismo. Ok, Kant aparece como a ponte, mas, nesse caso, também se poderia incluir Kripke que dá um avanço a Kant. Mas trata-se obviamente de uma posição que não desmerece em nada o manual. Por exemplo, acharia muito mais importante a inclusão das derivadas na lógica formal. De um ponto de vista mais prático o manual tem bons exercícios e um bom caderno do professor com as soluções dos exercícios. Uma opção que não aprecio tanto é a inclusão, na retórica, do pathos, ethos e logos. Não se trata de um conhecimento instrumental sequer, mas o professor pode ser optar por dá-lo a título informativo, como eu próprio tenho feito. A virtude é que estes conteúdos não anularam o lugar dos conteúdos mais essenciais. Em relação à edição anterior algumas partes foram cortadas e bem, como o caso da retórica que estava demasiado extensa. Tenho experiência de trabalhar com manuais deste autor e sempre senti que poderia desenvolver um trabalho seguro sem atropelos de maior. Se a edição anterior pecava por ter alguns capítulos de dificuldade mais elevada e parte significativa do manual ser ocupado com a lógica formal e informal, para esta edição esses defeitos foram colmatados e o produto final é consistente e seguro e fiável para ensinar filosofia. A título exemplificativo, basta abrir este manual nas primeiras páginas e comparar com os seus pares para observar a diferença que nele ocorre.
O manual vem ainda apetrechado com o habitual caderno do professor e do aluno, cd rom e site, sendo que neste caso o caderno do professor tem todas as soluções dos exercícios propostos, o que é útil.
Luís Rodrigues, Filosofia 11, Plátano, 2008
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