Enquanto fui lendo o Logos, coloquei duas questões às quais devia responder. São as respostas a essas questões que a seguir apresento.
O que é que faz do Logos um bom manual?
O Logos é claramente um dos melhores manuais concebidos para o 11º ano. Mas há alguns pontos de organização que me fazem hesitar para a sua adopção. Começando pelas virtudes:
O manual está bem escrito com exemplos claros para os estudantes.
Só no todo nos apercebemos da clareza da linguagem usada, mas dou um pequeno exemplo: Para explicar a mudança de conector na lógica proposicional, oferece-se um exemplo muito intuitivo como:
“O António comprou um disco ou um livro, Logo, o António comprou um disco” e a seguir explica-se: “Agora a situação mudou radicalmente. A premissa diz-nos que o António fará uma coisa ou outra, mas não obrigatoriamente ambas. Neste caso, para a premissa ser verdadeira, basta que uma das proposições simples que nela ocorre seja verdadeira – por exemplo, o António compra um livro. Mas, neste caso, a premissa é verdadeira e a conclusão falsa. O argumento é inválido.” (Página 23). Mas dou outro exemplo, até muito engraçado, para a distinção entre validade e verdade: “a lógica não nos pode dizer se as proposições que constituem este argumento são verdadeiras ou falsas: não é a lógica que diz se vai chover, mas a Meteorologia; não é a Lógica que permite saber em que condições o feijão cresce, mas sim a Química ou a Biologia. Nem é esse o seu objectivo. O objectivo da Lógica é determinar se entre as premissas e a conclusão há uma relação de consequência lógica, de que depende essa relação” (página 15). O exemplo dado era: “Ou chove ou o feijão não cresce, Não chove, Logo, o feijão não cresce”.
As noções são expostas ao estudante de forma precisa e cuidada, sem atropelos pelo meio e confusões.
Particularmente interessante é uma página dedicada à intencionalidade no conhecimento (página 95), na qual se dá uma ideia simples, não havendo necessidade do discurso errado que é comum aparecer sobre a fenomenologia. Este tratamento no Logos é mais eficaz e directo.
Finalmente, como nota muito positiva está o facto do manual ser preenchido quase na totalidade com o texto dos autores evitando o erro de se ocupar páginas e páginas com fotografias e texto alheio.
Mas o que é que faz com não seja perfeito?
Vou indicar um ponto ou outro que merece revisão para uma futura reedição do manual. Mesmo assim considero que estes apontamentos não fazem do Logos um manual menos bom, mas podem torná-lo menos competitivo e apelativo.
Na lógica proposicional, para verdadeiro e falso são usados os zeros e uns e não os mais convencionais em filosofia “V” e “F”. Seria, na minha opinião, melhor usar o “V” e “F” que é mais corrente na filosofia e deixar os “0” e “1” para a matemática, ainda que nada aqui esteja errado.
Os exercícios não têm solução de respostas no caderno do professor. Pelo menos para a lógica é sempre muito útil conter as soluções de resposta.
É bom dar a ideia ao estudante que os argumentos visam convencer racionalmente – estudamos lógica para aprender a argumentar. A melhor forma de o fazer é expor a noção de “cogência” dos argumentos e relacioná-la com solidez e validade.
Na página 11, aparece o comum erro, “Às frases (declarativas) que podem ser verdadeiras ou falsas iremos chamar «proposições»”. Já expliquei neste blog porque é que se trata de um erro. Não podemos, obviamente, chamar às frases de proposições pela razão que as proposições não são frases.
Na página 143 apanhamos outra imprecisão quando se afirma que, «Deste modo, a Filosofia da Ciência é uma área da Epistemologia (ou Teoria do Conhecimento), que se debruça sobre o conhecimento científico». A filosofia da ciência não é uma área da epistemologia. A filosofia da ciência envolve problemas que não são problemas epistemológicos.
Nos temas e problemas só temos um tema em opção, mas muito completo, que é o do aborto. Considero preferível um só tema bem tratado que três mal tratados, mas também é certo que, em temas de opção no programa, o professor fica limitado (já agora aproveito para dizer que também nunca percebi qual a razão de ter temas em opção no programa). O caderno “livro do professor” oferece outros temas, mas a organização é completamente diferente daquela que é proposta no corpo do manual.
Mais grave que todos os apontamentos anteriores, são os que se seguem.
O manual não apresenta uma bibliografia. Ficamos sem saber quais as traduções usadas, se são dos autores ou de quem. E não se justifica que um manual não apresente uma bibliografia base.
Não se compreende muito bem porque é que o caderno do professor, o do aluno mais o cd rom tem autores diferentes dos que escreveram o manual. Certamente que se trata de uma opção do editor, mas é uma má opção pois o resultado é mau. O caderno do aluno (“caderno de actividades”), por exemplo, tem uma série de fichas com algumas imprecisões que baralham o estudante. O “livro do professor” é tão inútil que nem se justificava a sua publicação. Do CD pouco sei pois só ainda é distribuída a versão de demonstração.
O Logos é um manual competente, mas todos estes pontos que aqui apresento devem ser corrigidos para termos um manual que além de competente, seja excelente. Claro que está entre as 4 melhores opções, mas, entre esses, perde competitividade.
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