Por uma questão de organização do grupo disciplinar, tenho de ler
a unidade sobre os Valores em todos os novos manuais do 10º ano. Tendo iniciado
essa tarefa há umas horas atrás, posso desde já adiantar uma limitação que
encontrei em alguns manuais e que merece algum reparo. No que respeita à
discussão entre o objectivismo e subjectivismo dos valores, diz-se, por vezes,
que os objectivistas defendem que todos os valores são objectivos. Ora, isto
não pode estar certo. Como é que provamos este erro? Alguns manuais ensinam o
estudante a negar proposições universais. Para tal usamos o quadro das
oposições de Aristóteles. Assim, a negação de “todos os valores são
subjectivos” que é a tese defendida pelos subjectivistas, não pode ser “nenhum
valor é subjectivo”, mas antes, “alguns valores não são subjectivos”.
O que é que isto significa? Significa que alguém que defenda o objectivismo dos
valores não está a defender que todos os valores são objectivos, mas que alguns
valores são objectivos. E trata-se de um erro afirmar que os objectivistas
defendem que todos os valores são objectivos precisamente porque ao mesmo tempo
se afirma que subjectivismo e objectivismo são teses opostas. Ora, não faz
sentido afirmar que “todos os valores são objectivos” é a tese oposta de
“nenhum valor é objectivo”.
Outra incorrecção é afirmar que os valores são objectivos e por
isso absolutos e perenes. A distinção a apresentar é que se alguns valores são
objectivos (tese objectivista) então possuem valor de verdade, ao passo que se
não são objectivos não possuem valor de verdade.
Mas nenhum filósofo se atreveria a defender a tese altamente
implausível de que todos os valores são objectivos.
Seria também necessário esclarecer o que se quer dizer com "absoluto". Se por absoluto o estudante entender que é aceite por todas as pessoas, então não se pode estar a falar do objectivismo dos valores, pois tal propriedade (a objectividade) estaria ainda dependente da preferência dos sujeitos. Uma ideia funcional é explicar aos estudantes que se fala em absoluto por oposição a relativo. E assim o estudante percebe mais facilmente do que se está a falar.
5 comentários:
... "subjetivismo e objetivismo são teses opostas", significa dizer que se negam no sentido lógico?
A oposição (quadro lógico) pode ser diversa: em quantidade, em qualidade ou ambas.
A negação de P é Não P - e não "Não r" ou "Não q" - (a negação de uma proposição de tipo A corresponde, no quadro lógico, a uma de tipo O, e a negação de uma de tipo E corresponde uma de tipo I - contraditórias - oposição total, maior e completa). Se A for Verdadeira, O é necessariamente Falsa e vice-versa.
Tal significa que um objetivista estaria a contradizer-se se afirmasse, ao mesmo tempo, que "os valores são objetivos" e que "há valores que não são objetivos". No entanto, daí nada se pode inferir em relação ao subjetivismo axiológico. São teses diferentes. Enquanto a tese do objetivismo faz "residir" os valores na esfera do "objeto" (tese de inspiração platónica), o subjetivismo deslocaliza-os para a esfera do "sujeito".
Estarei errado?!
Carlos
Olá Carlos, tudo bem?
Sim, estás aí a fazer algumas confusões. A primeira é que uma coisa é avaliar oposições de proposições quantificadas, e aí usas o quadro das oposições de Aristóteles. Outra fazeres negações na lógica proposicional. E aí sim podes negar P como não P. Ora, a lógica proposicional serve exactamente para trabalhares com proposições não quantificadas. E depois para ainda sofisticares mais a lógica dos quantificadores tens o calculo de predicados, que não usamos no secundário.O que se passa é que para negares uma universal afirmativa tens de fazer uma particular negativa. Ou para negares uma universal negativa tens de fazer uma particular afirmativa.É exactamente isso que fazemos na lógica silogística.
abraço
... Philippe Thiry em Noções de Lógica, distingue a Lógica Clássica dos Predicados (Aristóteles) da Lógica Moderna dos Predicados (L. dos quantificadores).
Carlos
Professor Rolando, uma contribuição.
O senhor afirma: "Assim, a negação de “todos os valores são subjectivos” que é a tese defendida pelos subjectivistas, não pode ser “nenhum valor é subjectivo”, mas antes, “alguns valores não são subjectivos”." A negação não seria "algum valor não é subjetivo"?
Abraços! Fábio Gai Pereira
Caro Fábio, o plural ou singular não faz diferença alguma, já que o que está em causa é a quantidade, se é universal ou particular
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