Acabei de ler num manual o seguinte exemplo de juízo de
valor:
“Deus é uma verdade inquestionável”
E se for verdade que Deus existe continua a ser um juízo de
valor? Não, é um juízo de facto. O que acontece se for verdade que Deus existe,
é que quando afirmo: “deus não existe”, o meu juízo de facto é falso. Tal como
afirmar que a terra está no centro do sistema solar é um juízo de facto errado.
Mas o exemplo contém uma gralha ainda maior: Deus não é uma verdade,
tal como uma pedra ou uma casa não é uma verdade. O que é uma verdade ou
falsidade é a proposição expressa na frase e não Deus.
Se Deus existir, não é uma verdade. O que é verdadeiro é que
se Deus existir, a frase "Deus existe" é uma verdade. Mas não é Deus
em si que é uma verdade.
Este tipo de exemplos só lança confusão na cabeça dos alunos,
em vez de os esclarecer e ver como funcionam as coisas. Ainda por cima há milhares de exemplos óbvios.
Neste manual encontro de novo a definição de juízo de valor como subjectivo e não podendo ser verdadeiro ou falso. mas de seguida expõe-se a tese objectivista como se nada se tivesse dito em contrário na definição de juízo de valor. É que, se a tese objectivista for verdadeira, pelo menos alguns juízos valores são verdadeiros e objectivos, o que contraria a definição de que um juízo de valor é subjectivo.
A definição de objectividade é igualmente infeliz. Diz o manual que:
"Os valores são objectivos; encontram-se na relação com os objectos e podem ser conhecidos como qualquer outro facto"
Subjectividade define-se assim no manual:
"Os valores são subjectivos; dependem do sujeito para se mostrarem"
Convido os professores a imaginarem que têm apenas 15 anos e como é que entendem o que se escreve no manual?
Os juízos de valor dependem sempre do sujeito. Ou há juízos para além de sujeitos? Os juízos são coisas? Os juízos são a expressão verbal das nossas crenças acerca do mundo. E o conteúdo que expressam pode ser verdadeiro ou falso. Ora, os objectivistas defendem que há juízos de valor que têm valor de verdade, isto é, que podem ser verdadeiros ou falsos, mesmo que nós não saibamos ainda se são verdadeiros ou falsos.
A opção na distinção entre juízos de valor e juízos de facto, além de errada, nem sequer é didacticamente acertada.
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