Já tenho em mãos o Razões
de Ser (Porto Editora). Como já esperava da parte dos autores e pelo
trabalho que deles conheço, trata-se efectivamente de um bom manual de
filosofia. Tal como foi destacado hoje ao fim da tarde na apresentação do
manual, há nele uma preocupação enorme na clareza com que se expõem os
conteúdos aos alunos. Sobretudo o manual é consistente no modo como apresenta a
filosofia aos alunos, tem um método inicial que é continuado e remete sempre
para as análises dos problemas a estudar. Além disso, a selecção de textos é criteriosa
já que primam pela discussão dos problemas que levantam em sala de aula.
Uma nota que tenho observado em alguns projectos (que não
este que aqui falo) de manuais. Parece que longe vai o tempo em que se rotulava
manuais como o Arte de Pensar como analíticos.
Nesta nova leva de manuais é notória na maioria deles (falta-me conhecer uns 2,
creio) a influência do Arte de Pensar. Mesmo com o
descaramento da literal cópia em alguns momentos, ainda bem que assim é, pois
lentamente deixa-se para trás os rótulos e os autores, bem como editores,
passaram a reconhecer as potencialidades do manual A Arte de Pensar
(primeira edição de 2003). O maior problema é que alguns manuais ficaram ainda
mais confusos, pois resultam de um híbrido entre o trabalho já feito e a
novidade que foi observada primariamente no Arte de Pensar. Na minha opinião,
é uma lenta reforma saudável. Faço aqui um reconhecimento aos autores que
compreenderam as potencialidades didácticas de concentrar o ensino da filosofia
numa abordagem que prima pelo rigor e pela clareza.
É sempre interessante reflectir como as melhores mudanças
nunca nos chegam de cima, do poder político, mas de baixo, das pessoas que
conhecem a realidade com que trabalham e que o fazem de forma séria e rigorosa.
Hoje todos os editores tem o seu Arte e, alguns deles, com personalidade própria,
como são os casos do Filosofia
10 (Santillana), Diálogos
(Texto Editora) ou este Razões de Ser (Porto Editora). Não hesito em pensar que
o Arte de Pensar foi a mais relevante reforma no ensino da filosofia dos
últimos anos, razão pela qual criou tantas resistências à mudança (e ainda
cria, pois).
Paula Mateus e Pedro Galvão estiveram na origem do Arte de Pensar e foram ambos autores do Arte.
Paula Mateus e Pedro Galvão estiveram na origem do Arte de Pensar e foram ambos autores do Arte.
António Lopes, Pedro Galvão, Paula Mateus, Razões
de Ser, Porto Editora (2013)
Nota: alguns colegas perguntam como costumo fazer para analisar os manuais. Escrevi 2 posts com recomendações (um pouco pessoais, é certo) para a análise de manuais (aqui e aqui). para este post o que fiz foi ler 2 capítulos do Razões de Ser, bem como 2 capítulos do outro projecto do mesmo editor. Entre os manuais que considero melhores vou comparando algumas unidades. Por exemplo, esta semana estive cerca de 1 hora a comparar a filosofia da religião no 50 Lições de filosofia (uma proposta que me parece realmente nova e interessante do ponto de vista didáctico) e no Diálogos. Ambos me pareceram bons, com enquadramentos diferentes, sendo que no 50 Lições a unidade é de longe mais acessível que a mesma unidade no Diálogos.
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