terça-feira, 30 de abril de 2013

Uma nota histórica sobre o ensino da lógica


Em conversa com um colega, este disse-me que há manuais que usam muito a lógica. Praticamente só durante os anos do famigerado eduquês é que a lógica foi parcialmente abandonada dos manuais e passou a ser muito mal vista no ensino da filosofia. Uma vez publiquei aqui uma pequena nota, onde me dava conta de um manual de filosofia de 1962. Na altura salientava o facto de mais de metade do manual ser de lógica pura e dura. Portanto, somente durante o período em que se reduziu a filosofia a uma conversa estéril, ao ponto de ter estado em cima da mesa dos governos da altura para acabar de vez com a disciplina, é que a lógica foi vista como a evitar no ensino da filosofia. Ainda hoje vivemos as consequências desastrosas desse período, sendo que uma das principais é que não há praticamente filosofia no 12º ano. A inclusão da lógica no ensino da filosofia não é, portanto, uma invenção recente.

3 comentários:

luisa borges disse...

Concordo com a necessidade da introdução e permanência da Lógica nos programas do secundário. Não obstante, não é por isso que o "eduquês" foi eliminado do ensino em geral e do ensino da Filosofia em particular. O "eduquês" não tem a ver apenas com o conteúdo dos programas, mas com os métodos de ensino e de avaliação. Por outro lado ainda, a ausência de uma linha histórica condutora de temas e autores nos actuais programas parece-me bastante prejudicial. Os programas continuam pouco equilibrados. O objectivo de "acabar" de vez com a Filosofia teve mais a ver com eliminar do currículo do secundário uma disciplina que fomenta o pensamento crítico. E com outras coisas. Na verdade, hoje, apesar de não ser correcto generalizar, é possível encontrar a aceitação de leituras, por exemplo, para o tema do sentido da existência, como livros de auto-ajuda de muito discutível qualidade e interesse filosófico. Como se tudo fosse possível. Se se encontra algum paralelismo entre os conteúdos dos actuais manuais e os manuais de 62... a mim parece-me preocupante. Claro que daqui não se segue que não deva existir Lógica no secundário. o que me parece é que também deve existir bastante filosofia grega. Bem como Kant, Nietzsche, Marx, Freud. Se não, como entender e atribuir algum tipo de sentido ao que se passa à nossa volta? Não acredito que se deva subestimar a capacidade de concentração, motivação, curiosidade, inteligência e raciocínio dos jovens. Lógica, sim; mas ontologia, ética e antropologia também.

Anónimo disse...


Não obstante a “dimensão discursiva do trabalho filosófico”, é importante não reduzir os conteúdos da disciplina a (meras) análises lógicas de argumentos. Tal corresponde a uma visão “tecnicista” e “redutora” da filosofia. Afinal, qual o lugar e o papel da lógica na filosofia?
Na origem desta questão estarão dois modos diferentes de conceber a filosofia (que, a meu ver, não serão incompatíveis).
De resto, hoje podemos encontrar no mercado, interessantes livros introdutórios no âmbito da filosofia (refiro-me, por exemplo, aos da Gradiva) que possivelmente se aproximam mais de uma determinada forma de conceber a disciplina.

Rolando Almeida disse...

Anónimo, Efectivamente praticamente toda a filosofia consiste na análise lógica dos argumentos. Essa competência é central na filosofia e nem hoje nem nunca se faz boa filosofia sem uma boa competência no raciocínio lógico. desde Aristóteles que é assim.