É pública a minha preferência pelo sucessor do Arte de
Pensar, o 50 Lições de Filosofia que
hoje me chega às mãos. Não é inteira surpresa para mim este belíssimo manual de
filosofia já que nele há uma pequena parte de mim e do meu trabalho, apesar de
modesta. Assim, pude conhecer antecipadamente alguns capítulos que tive o
prazer de ler, aprender e sugerir algumas alterações.
Mas o 50 Lições
ainda assim é uma surpresa a vários níveis. Primeiro porque é uma reinvenção do
Arte de Pensar. Quem quer que pense
que aqui vai encontrar mais do Arte, esqueça. O manual foi completamente
reescrito e tem alterações de peso e de fundo. A primeira e que mais se destaca
é que é muito mais simples para os alunos, uma meta que até eu pensava ser difícil
de concretizar.
Uma das qualidades que mais me impressiona no Arte de Pensar e que aqui é mantida no 50 Lições, é que com este manual o
professor tem não somente o prazer de ensinar filosofia, mas também de a
aprender. E isto porque o manual se distancia de uma abordagem presente em
muitos manuais de filosofia que está mais próxima de um híbrido entre
filosofia, cultura e sociologia, para se centrar numa abordagem estritamente
filosófica. Para tal serve-se muitas das vezes de filósofos actuais que têm
oferecido à filosofia importantes e significativos avanços.
É mais difícil escrever com rigor um manual de filosofia do
que um livro introdutório à filosofia. Isto porque um manual de filosofia se
destina a um público jovem, nem sempre muito hábil na leitura. Aliar rigor a
facilidade de escrita não é tarefa fácil e exige certamente muita preparação
dos autores. O 50 Lições é
provavelmente o manual que melhor consegue este efeito (ainda não conheço até
este momento todos os manuais). Avanço um pequeno exemplo de como se pode
apresentar os problemas filosóficos de um modo directo e simples, sem “morder”
a qualidade filosófica: Na Lição 29, na Dimensão
Estética, questionando o problema da objectividade ou subjectividade do
gosto, os problemas levantados são apresentados com estes títulos:
“É belo porque gosto ou
gosto porque é belo?”
“Gosto porque é belo”
“A beleza é coisa que
se veja?”
Outro exemplo, para comparar a teoria de Kant com a de Stuart
Mill:
“Cumprir um dever ou
maximizar a felicidade?”
“Intenções ou
consequências?”
Claro que são apenas as questões a abordar, mas a forma como
são colocadas não levanta dificuldades na interpretação dos alunos daquilo que
se pretende discutir.
Até agora concentrei este meu pequeno texto nas vantagens
para o aluno. Mas creio que é relevante destacar em que é que este manual pode
ser uma boa adopção para os professores. Claro está que o manual é escrito para
os alunos. Afinal de contas, será o seu primeiro livro de filosofia. Com efeito
um manual pode também melhorar muito a qualidade das aulas, evitando a
dispersão e concentrando mais o trabalho baseado num método. Neste aspecto o 50 Lições tem uma opção, quanto a mim,
muito feliz. Divide o manual em 50 lições de cerca de 3 páginas cada,
destinadas a aulas de 45 minutos. Ou seja, para o professor basta seguir as
lições para manter alguma organização no seu trabalho. Facilita, Sem dúvida a
planificação.
Os professores de filosofia têm de dominar muitas áreas da
filosofia. Ao longo de um ano leccionam filosofia da acção, mas também
filosofia da arte ou filosofia moral. Assim, não é de estranhar se um professor
dominar melhor um tema que outro. O 50
Lições apresenta um útil livro do professor onde dá indicações e sugestão
de lecionação lição a lição. Trata-se de um guia muito útil para organizar as
aulas. Os tempos de leccionação estão também pensados de modo a possibilitar ao
professor uma bolsa com alguma folga para organizar leitura de textos, debates,
exibição de filmes, etc.. de modo a trabalhar as aulas de acordo com o perfil
de cada turma.
Saliento que são 3 páginas sugeridas por cada 45 minutos. Ou
seja, o professor pode aproveitar até para ler os textos na aula com os alunos,
isto para os professores que apreciam este exercício. Caso não o deseje assim
fazer, pode organizar a lição segundo o caderno de lições no Livro do
Professor.
O Livro do Professor apresenta ainda um conjunto de testes e
exercícios e justifica as razões por que se deve optar por um tipo de exercício
e não outro, garantindo ao mesmo tempo liberdade de opção da parte do
professor.
Mas as vantagens para o professor não acabam aqui. É mais fácil dar aulas com este manual porque tudo está já
feito, planificado, organizado e simplificado. É só chegar à aula, e “falar”. O
resto está feito! E tal não invalida ao mesmo tempo que não se possa aprofundar
os temas, para os professores que o desejam ou trabalhem com turmas que
possibilitem maior aprofundamento.
Um dos problemas de muitos manuais é que limitam
grandemente a leccionação do professor, ao ponto de ter de, sistematicamente,
recorrer a materiais extra. No 50 Lições
não há essa necessidade, apesar de não a limitar.
O suplemento do aluno reúne algumas sugestões que
facilitam tanto a tarefa do professor, como do aluno.
1.
Do aluno porque tem sempre persente consigo uma mini história da
filosofia e uma sumária biografia dos filósofos que vai encontrar no manual.
Porque tem um útil glossário e um guia de como escrever um ensaio filosófico,
que pode e deve servir de guia para um trabalho final, tal como é sugerido no
programa.
2.
Do professor porque pode sempre fazer uma abordagem biográfica dos
filósofos sem ter de recorrer a outros materiais. Porque o aluno terá sempre
presente as sugestões dadas pelo professor de como estudar filosofia. E
finalmente porque o professor passa a ganhar um importante guia para orientar
correctamente um trabalho do aluno, em vez de desorientar o aluno pedindo-lhe
um trabalho que muitas das vezes não passará de um copy past da internet.
Um outro ponto é que o manual segue em rigor não
só o programa, bem como as Orientações
de 2011 para avaliações externas, contemplando as teses e respectivas
objecções.
Finalmente uma palavra final para a qualidade
gráfica do livro, que é leve e até com um custo abaixo de alguns dos seus congéneres. A
capa apresenta um pensador de Rodin como se fosse um jovem adolescente.
O 50
Lições tornou o Arte mais leve, até no peso do manual, mais intuitivo, mais
fresco, mais adequado aos alunos e à sua capacidade de aprendizagem.
Não será a única boa opção para este ano, mas é
certamente uma escolha muito competente que dignifica o ensino da filosofia e
que o apresenta como um estudo pertinente, actual e, sobretudo, com sentido e
muito mérito.
Uma sugestão: a todos os professores que não
apreciaram o trabalho desenvolvido no Arte convido a ler um pouco deste novo
projecto. Muitas das suas críticas e sugestões foram
rigorosamente atendidas pelos autores.
Duas palavras para descrever este projecto:
simples e eficaz.
Mais informações AQUI.
Aires Almeida, Desidério Murcho, Célia Teixeira, 50 Lições de Filosofia, Didáctica, 2013
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