segunda-feira, 29 de abril de 2013

Filosofia em 50 Lições


É pública a minha preferência pelo sucessor do Arte de Pensar, o 50 Lições de Filosofia que hoje me chega às mãos. Não é inteira surpresa para mim este belíssimo manual de filosofia já que nele há uma pequena parte de mim e do meu trabalho, apesar de modesta. Assim, pude conhecer antecipadamente alguns capítulos que tive o prazer de ler, aprender e sugerir algumas alterações.

Mas o 50 Lições ainda assim é uma surpresa a vários níveis. Primeiro porque é uma reinvenção do Arte de Pensar. Quem quer que pense que aqui vai encontrar mais do Arte, esqueça. O manual foi completamente reescrito e tem alterações de peso e de fundo. A primeira e que mais se destaca é que é muito mais simples para os alunos, uma meta que até eu pensava ser difícil de concretizar.

Uma das qualidades que mais me impressiona no Arte de Pensar e que aqui é mantida no 50 Lições, é que com este manual o professor tem não somente o prazer de ensinar filosofia, mas também de a aprender. E isto porque o manual se distancia de uma abordagem presente em muitos manuais de filosofia que está mais próxima de um híbrido entre filosofia, cultura e sociologia, para se centrar numa abordagem estritamente filosófica. Para tal serve-se muitas das vezes de filósofos actuais que têm oferecido à filosofia importantes e significativos avanços.

É mais difícil escrever com rigor um manual de filosofia do que um livro introdutório à filosofia. Isto porque um manual de filosofia se destina a um público jovem, nem sempre muito hábil na leitura. Aliar rigor a facilidade de escrita não é tarefa fácil e exige certamente muita preparação dos autores. O 50 Lições é provavelmente o manual que melhor consegue este efeito (ainda não conheço até este momento todos os manuais). Avanço um pequeno exemplo de como se pode apresentar os problemas filosóficos de um modo directo e simples, sem “morder” a qualidade filosófica: Na Lição 29, na Dimensão Estética, questionando o problema da objectividade ou subjectividade do gosto, os problemas levantados são apresentados com estes títulos:

É belo porque gosto ou gosto porque é belo?”
Gosto porque é belo
A beleza é coisa que se veja?”

Outro exemplo, para comparar a teoria de Kant com a de Stuart Mill:

Cumprir um dever ou maximizar a felicidade?”
Intenções ou consequências?”

Claro que são apenas as questões a abordar, mas a forma como são colocadas não levanta dificuldades na interpretação dos alunos daquilo que se pretende discutir.

Até agora concentrei este meu pequeno texto nas vantagens para o aluno. Mas creio que é relevante destacar em que é que este manual pode ser uma boa adopção para os professores. Claro está que o manual é escrito para os alunos. Afinal de contas, será o seu primeiro livro de filosofia. Com efeito um manual pode também melhorar muito a qualidade das aulas, evitando a dispersão e concentrando mais o trabalho baseado num método. Neste aspecto o 50 Lições tem uma opção, quanto a mim, muito feliz. Divide o manual em 50 lições de cerca de 3 páginas cada, destinadas a aulas de 45 minutos. Ou seja, para o professor basta seguir as lições para manter alguma organização no seu trabalho. Facilita, Sem dúvida a planificação.

Os professores de filosofia têm de dominar muitas áreas da filosofia. Ao longo de um ano leccionam filosofia da acção, mas também filosofia da arte ou filosofia moral. Assim, não é de estranhar se um professor dominar melhor um tema que outro. O 50 Lições apresenta um útil livro do professor onde dá indicações e sugestão de lecionação lição a lição. Trata-se de um guia muito útil para organizar as aulas. Os tempos de leccionação estão também pensados de modo a possibilitar ao professor uma bolsa com alguma folga para organizar leitura de textos, debates, exibição de filmes, etc.. de modo a trabalhar as aulas de acordo com o perfil de cada turma.

Saliento que são 3 páginas sugeridas por cada 45 minutos. Ou seja, o professor pode aproveitar até para ler os textos na aula com os alunos, isto para os professores que apreciam este exercício. Caso não o deseje assim fazer, pode organizar a lição segundo o caderno de lições no Livro do Professor.
O Livro do Professor apresenta ainda um conjunto de testes e exercícios e justifica as razões por que se deve optar por um tipo de exercício e não outro, garantindo ao mesmo tempo liberdade de opção da parte do professor.
Mas as vantagens para o professor não acabam aqui. É mais fácil dar aulas com este manual porque tudo está já feito, planificado, organizado e simplificado. É só chegar à aula, e “falar”. O resto está feito! E tal não invalida ao mesmo tempo que não se possa aprofundar os temas, para os professores que o desejam ou trabalhem com turmas que possibilitem maior aprofundamento.

Um dos problemas de muitos manuais é que limitam grandemente a leccionação do professor, ao ponto de ter de, sistematicamente, recorrer a materiais extra. No 50 Lições não há essa necessidade, apesar de não a limitar.

O suplemento do aluno reúne algumas sugestões que facilitam tanto a tarefa do professor, como do aluno.

1.      Do aluno porque tem sempre persente consigo uma mini história da filosofia e uma sumária biografia dos filósofos que vai encontrar no manual. Porque tem um útil glossário e um guia de como escrever um ensaio filosófico, que pode e deve servir de guia para um trabalho final, tal como é sugerido no programa.

2.      Do professor porque pode sempre fazer uma abordagem biográfica dos filósofos sem ter de recorrer a outros materiais. Porque o aluno terá sempre presente as sugestões dadas pelo professor de como estudar filosofia. E finalmente porque o professor passa a ganhar um importante guia para orientar correctamente um trabalho do aluno, em vez de desorientar o aluno pedindo-lhe um trabalho que muitas das vezes não passará de um copy past da internet.

Um outro ponto é que o manual segue em rigor não só o programa, bem como as Orientações de 2011 para avaliações externas, contemplando as teses e respectivas objecções.

Finalmente uma palavra final para a qualidade gráfica do livro, que é leve e até com um custo abaixo de alguns dos seus congéneres. A capa apresenta um pensador de Rodin como se fosse um jovem adolescente.

O 50 Lições tornou o Arte mais leve, até no peso do manual, mais intuitivo, mais fresco, mais adequado aos alunos e à sua capacidade de aprendizagem.

Não será a única boa opção para este ano, mas é certamente uma escolha muito competente que dignifica o ensino da filosofia e que o apresenta como um estudo pertinente, actual e, sobretudo, com sentido e muito mérito.

Uma sugestão: a todos os professores que não apreciaram o trabalho desenvolvido no Arte convido a ler um pouco deste novo projecto. Muitas das suas críticas e sugestões foram rigorosamente atendidas pelos autores.

Duas palavras para descrever este projecto: simples e eficaz. 
Mais informações AQUI

Aires Almeida, Desidério Murcho, Célia Teixeira, 50 Lições de Filosofia, Didáctica, 2013

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