quinta-feira, 25 de abril de 2013

Será que Rawls é um utilitarista?


Quando leccionei John Rawls, no final da exposição da sua teoria levantei o seguinte problema aos alunos: será que Rawls pode ser um utilitarista? A discussão foi na maioria dos casos bastante animada, mas se fosse contabilizar os resultados, a maioria dos alunos responderam que sim, que John Rawls ao pretender a igualdade de oportunidades (um dos princípios da Justiça) é utilitarista já que pretende a maior bem estar para a maioria das pessoas. Quando vi estes resultados coloquei o seguinte problema:

Vamos supor uma sociedade e duas possibilidades. O grau de bem estar nesta sociedade mede-se de 0 a 10, sendo que 0 é o pior bem estar e 10 o máximo bem estar. Esta sociedade é composta por 5 indivíduos.

Assim:
Sociedade A: 8, 8, 7, 0, 1
Sociedade B: 3, 3, 3, 3, 3

Se contabilizarmos o resultado total de bem estar a sociedade A tem 24, ao passo que a Sociedade B tem 15.

Perguntei então aos alunos qual a sociedade onde existe maior bem estar, ao que todos responderam que é a sociedade A. Mas perguntei de seguida qual seria a sociedade que Rawls defenderia como a mais justa, ao que todos responderam que seria a B.

Com este exemplo os alunos compreenderam uma questão importante: que Rawls não é utilitarista, já que um utilitarista defenderia a sociedade A uma vez que é aquela onde existe a maximização do bem estar (até para um maior número de pessoas), mas, ao mesmo tempo, é a menos igualitária e onde existe uma mais desequilibrada distribuição do bem estar.

Antes tinha feito um outro pequeno exercício. Pedi aos alunos que imaginassem a sua turma como sendo uma sociedade. Na possibilidade A, apenas 2 alunos alcançariam o resultado de 18 em 20 valores e todos os outros teriam notas negativas. Na sociedade B todos teriam uma nota de 10. Em qual preferiam viver? Muitos alunos responderam que preferiam viver na sociedade B. De seguida perguntei: vamos imaginar que o aluno a quem questiono é o que tem 18 na sociedade A. E foi engraçado ter percebido que a maioria escolheria a sociedade A.

Ou seja, os alunos escolheriam a sociedade B se não soubessem à partida que lugar ocupariam na sociedade (que nota teriam, neste exemplo), mas se soubessem que seriam o aluno de 18 já recusariam o sociedade B.

Conclusão: na posição original jogamos pelo seguro.

Que objecções se podem levantar neste exercício?

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