terça-feira, 30 de abril de 2013

Uma nota histórica sobre o ensino da lógica


Em conversa com um colega, este disse-me que há manuais que usam muito a lógica. Praticamente só durante os anos do famigerado eduquês é que a lógica foi parcialmente abandonada dos manuais e passou a ser muito mal vista no ensino da filosofia. Uma vez publiquei aqui uma pequena nota, onde me dava conta de um manual de filosofia de 1962. Na altura salientava o facto de mais de metade do manual ser de lógica pura e dura. Portanto, somente durante o período em que se reduziu a filosofia a uma conversa estéril, ao ponto de ter estado em cima da mesa dos governos da altura para acabar de vez com a disciplina, é que a lógica foi vista como a evitar no ensino da filosofia. Ainda hoje vivemos as consequências desastrosas desse período, sendo que uma das principais é que não há praticamente filosofia no 12º ano. A inclusão da lógica no ensino da filosofia não é, portanto, uma invenção recente.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Filosofia em 50 Lições


É pública a minha preferência pelo sucessor do Arte de Pensar, o 50 Lições de Filosofia que hoje me chega às mãos. Não é inteira surpresa para mim este belíssimo manual de filosofia já que nele há uma pequena parte de mim e do meu trabalho, apesar de modesta. Assim, pude conhecer antecipadamente alguns capítulos que tive o prazer de ler, aprender e sugerir algumas alterações.

Mas o 50 Lições ainda assim é uma surpresa a vários níveis. Primeiro porque é uma reinvenção do Arte de Pensar. Quem quer que pense que aqui vai encontrar mais do Arte, esqueça. O manual foi completamente reescrito e tem alterações de peso e de fundo. A primeira e que mais se destaca é que é muito mais simples para os alunos, uma meta que até eu pensava ser difícil de concretizar.

Uma das qualidades que mais me impressiona no Arte de Pensar e que aqui é mantida no 50 Lições, é que com este manual o professor tem não somente o prazer de ensinar filosofia, mas também de a aprender. E isto porque o manual se distancia de uma abordagem presente em muitos manuais de filosofia que está mais próxima de um híbrido entre filosofia, cultura e sociologia, para se centrar numa abordagem estritamente filosófica. Para tal serve-se muitas das vezes de filósofos actuais que têm oferecido à filosofia importantes e significativos avanços.

É mais difícil escrever com rigor um manual de filosofia do que um livro introdutório à filosofia. Isto porque um manual de filosofia se destina a um público jovem, nem sempre muito hábil na leitura. Aliar rigor a facilidade de escrita não é tarefa fácil e exige certamente muita preparação dos autores. O 50 Lições é provavelmente o manual que melhor consegue este efeito (ainda não conheço até este momento todos os manuais). Avanço um pequeno exemplo de como se pode apresentar os problemas filosóficos de um modo directo e simples, sem “morder” a qualidade filosófica: Na Lição 29, na Dimensão Estética, questionando o problema da objectividade ou subjectividade do gosto, os problemas levantados são apresentados com estes títulos:

É belo porque gosto ou gosto porque é belo?”
Gosto porque é belo
A beleza é coisa que se veja?”

Outro exemplo, para comparar a teoria de Kant com a de Stuart Mill:

Cumprir um dever ou maximizar a felicidade?”
Intenções ou consequências?”

Claro que são apenas as questões a abordar, mas a forma como são colocadas não levanta dificuldades na interpretação dos alunos daquilo que se pretende discutir.

Até agora concentrei este meu pequeno texto nas vantagens para o aluno. Mas creio que é relevante destacar em que é que este manual pode ser uma boa adopção para os professores. Claro está que o manual é escrito para os alunos. Afinal de contas, será o seu primeiro livro de filosofia. Com efeito um manual pode também melhorar muito a qualidade das aulas, evitando a dispersão e concentrando mais o trabalho baseado num método. Neste aspecto o 50 Lições tem uma opção, quanto a mim, muito feliz. Divide o manual em 50 lições de cerca de 3 páginas cada, destinadas a aulas de 45 minutos. Ou seja, para o professor basta seguir as lições para manter alguma organização no seu trabalho. Facilita, Sem dúvida a planificação.

Os professores de filosofia têm de dominar muitas áreas da filosofia. Ao longo de um ano leccionam filosofia da acção, mas também filosofia da arte ou filosofia moral. Assim, não é de estranhar se um professor dominar melhor um tema que outro. O 50 Lições apresenta um útil livro do professor onde dá indicações e sugestão de lecionação lição a lição. Trata-se de um guia muito útil para organizar as aulas. Os tempos de leccionação estão também pensados de modo a possibilitar ao professor uma bolsa com alguma folga para organizar leitura de textos, debates, exibição de filmes, etc.. de modo a trabalhar as aulas de acordo com o perfil de cada turma.

Saliento que são 3 páginas sugeridas por cada 45 minutos. Ou seja, o professor pode aproveitar até para ler os textos na aula com os alunos, isto para os professores que apreciam este exercício. Caso não o deseje assim fazer, pode organizar a lição segundo o caderno de lições no Livro do Professor.
O Livro do Professor apresenta ainda um conjunto de testes e exercícios e justifica as razões por que se deve optar por um tipo de exercício e não outro, garantindo ao mesmo tempo liberdade de opção da parte do professor.
Mas as vantagens para o professor não acabam aqui. É mais fácil dar aulas com este manual porque tudo está já feito, planificado, organizado e simplificado. É só chegar à aula, e “falar”. O resto está feito! E tal não invalida ao mesmo tempo que não se possa aprofundar os temas, para os professores que o desejam ou trabalhem com turmas que possibilitem maior aprofundamento.

Um dos problemas de muitos manuais é que limitam grandemente a leccionação do professor, ao ponto de ter de, sistematicamente, recorrer a materiais extra. No 50 Lições não há essa necessidade, apesar de não a limitar.

O suplemento do aluno reúne algumas sugestões que facilitam tanto a tarefa do professor, como do aluno.

1.      Do aluno porque tem sempre persente consigo uma mini história da filosofia e uma sumária biografia dos filósofos que vai encontrar no manual. Porque tem um útil glossário e um guia de como escrever um ensaio filosófico, que pode e deve servir de guia para um trabalho final, tal como é sugerido no programa.

2.      Do professor porque pode sempre fazer uma abordagem biográfica dos filósofos sem ter de recorrer a outros materiais. Porque o aluno terá sempre presente as sugestões dadas pelo professor de como estudar filosofia. E finalmente porque o professor passa a ganhar um importante guia para orientar correctamente um trabalho do aluno, em vez de desorientar o aluno pedindo-lhe um trabalho que muitas das vezes não passará de um copy past da internet.

Um outro ponto é que o manual segue em rigor não só o programa, bem como as Orientações de 2011 para avaliações externas, contemplando as teses e respectivas objecções.

Finalmente uma palavra final para a qualidade gráfica do livro, que é leve e até com um custo abaixo de alguns dos seus congéneres. A capa apresenta um pensador de Rodin como se fosse um jovem adolescente.

O 50 Lições tornou o Arte mais leve, até no peso do manual, mais intuitivo, mais fresco, mais adequado aos alunos e à sua capacidade de aprendizagem.

Não será a única boa opção para este ano, mas é certamente uma escolha muito competente que dignifica o ensino da filosofia e que o apresenta como um estudo pertinente, actual e, sobretudo, com sentido e muito mérito.

Uma sugestão: a todos os professores que não apreciaram o trabalho desenvolvido no Arte convido a ler um pouco deste novo projecto. Muitas das suas críticas e sugestões foram rigorosamente atendidas pelos autores.

Duas palavras para descrever este projecto: simples e eficaz. 
Mais informações AQUI

Aires Almeida, Desidério Murcho, Célia Teixeira, 50 Lições de Filosofia, Didáctica, 2013

domingo, 28 de abril de 2013

Manuais 2013 – como escolher um bom manual 2


Dou aqui mais algumas sugestões que podem constituir um pequeno e modesto guia para orientar a adopção do manual de filosofia para os próximos anos.

1º Não existe qualquer relevância filosófica em enunciar características da filosofia como a historicidade, universalidade, radicalidade e autonomia. Não caracterizam mais a filosofia que qualquer outro saber ou ciência. Isto é desnecessário didacticamente se pensarmos que em sua substituição podemos caracterizar a filosofia como um saber a priori e, dada a natureza dos problemas que estuda, recorrendo à argumentação. Trata-se de uma explicação mais limpa, mais próxima do que se pretende com a disciplina e mais fiel ao espírito da filosofia. É didacticamente mais adequada até porque é com isso que o aluno se vai confrontar ao longo do seu estudo e não com a historicidade, autonomia, universalidade e radicalidade.

2º Não há qualquer relevância filosófica quando tratamos alguns problemas do ponto de vista sociológico. E é errado pressupor que assim tornamos o ensino da filosofia mais apelativo pois não estamos, sequer, a ensinar filosofia. Seria o mesmo que explicar aos alunos o que é a grande muralha da China, para concluir que foram necessários muitos cálculos de matemática e dizer que isso é ensinar matemática. Não é.

3º Não é mais fácil fugir à lógica com o argumento de que se facilita o ensino da filosofia. A lógica é, aliás, a única matéria que não exige qualquer pressuposto de contexto social e familiar. Um aluno de um contexto pobre precisa - para aprender a pensar com lógica - do mesmo equipamento que um aluno de um contexto rico: um cérebro saudável. Ao passo que interpretar textos, pode revelar-se mais fácil para o aluno de um contexto onde foi habituado desde cedo aos livros.

4º É errado pressupor que alunos de 15 anos compreendem melhor a filosofia a partir de textos de filósofos como Nietzsche, Heidegger, Deleuze ou Paul Ricoeur. Não se questiona aqui o contributo que cada um deles deu à filosofia, mas são em regra autores demasiado especializados para serem abordados num estudo que é ainda de nível básico e introdutório. Claro que há autores difíceis que não se pode fugir, tanto pelas exigências das avaliações externas como pela sua centralidade na discussão de alguns problemas da filosofia. 

5º É errado afirmar que num argumento dedutivo se parte de premissas mais gerais para menos gerais e num não dedutivo se passa o contrário. E também é completamente descabido afirmar que um argumento dedutivo tem de ter mais que uma premissa. Premissas são razões e podemos ter tanto uma, como várias.

6º Não se consegue conduzir o estudo do aluno para o espírito crítico se não lhe for mostrado no seu único e primeiro livro de filosofia como a filosofia se faz, isto é, com a discussão activa de argumentos. É por isso didacticamente mais acertado que o livro do aluno (o manual) tenha as teses que procuram resolver os problemas propostos, mas também tenham as principais refutações a essas teses. Sem as refutações bem claras, não se percebe a razão pela qual se afirma no início que a filosofia é a discussão de problemas.

7º Não se deve confundir duas coisas: frases e proposições. As proposições não são frases. As frases são convenções formadas por caracteres inscritas no papel, por exemplo. As proposições são conteúdos de pensamento expresso nas frases e com valor de verdade. Se as proposições fossem o mesmo que as frases, até uma frase interrogativa teria de ser uma proposição. Estes conhecimentos parecem insignificantes, mas não são. É da sua clarificação que vamos conseguir ensinar filosofia com eficácia ao longo de 2 anos aos alunos.

8º Parece-me uma opção correcta avançar logo para a discussão de argumentos filosóficos sem explicitar minimamente a caixa de ferramentas da filosofia. Hoje em dia temos imensos livros que o fazem de forma eficaz. Mas o programa impõe limitações e os autores optam por explicitar algumas regras do discurso filosófico logo no início dos manuais. Mas não é correcto explicar o que são premissas, conclusão, argumentos, validade e verdade e não mais usar essas ferramentas ao longo do manual. Se perdemos tempo a explicá-las, não é porque sejam um problema filosófico, mas porque devem ser usadas quando partimos para a acção de filosofar. Há quem argumente que a filosofia não se reduz à validade dos argumentos. No entanto nenhum bom manual reduz a filosofia a estas ferramentas. Mas um bom manual quando as propõe ao aluno, usa-as na análise dos argumentos. Caso contrário para quê perder tempo a ensiná-las? Didacticamente não tem qualquer relevância, pois se forem ensinadas sem serem usadas não têm qualquer aplicabilidade prática. 

Mais sugestões AQUI

sábado, 27 de abril de 2013

O que é a arte?


Este ano vou leccionar filosofia da religião. Mas como tenho uma turma de artes decidimos que seria melhor nessa turma leccionar a filosofia da arte. Acabou de sair um influente ensaio de filosofia da arte de Lev Tolstói na nossa língua. Mais informações sobre este livro AQUI. Para Tolstói,

 “A arte autêntica é acessível a todos e define-se pela sua capacidade de comunicar sentimentos que contribuam para a união das pessoas e para o aperfeiçoamento moral de toda a comunidade. Estas são as bases da teoria da arte que veio a ser conhecida como «teoria expressivista», assente numa definição funcionalista da arte. Teorias que continuam a ser estudadas e discutidas pelos filósofos interessados nos problemas da definição e do valor da arte.


A edição é da Gradiva Tradução do russo de Ekaterina Kucheruk
Revisão científica e introdução de Aires Almeida

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O FES no Facebook


Contrariando uma informação dada há uns posts atrás, resolvi inserir também o FES na plataforma Facebook. Assim, basta clicar na imagem e fazer um "gosto" para criar interactividade com a página do blogue. Também estará sempre acessível a partir da aba da barra em cima.


2 bons manuais de filosofia






















Dos manuais que até agora me chegaram às mãos destaco 2 pela sua qualidade, adequação a um correcto ensino da filosofia.

O que se destaca logo à partida em qualquer um destes manuais é a consistência no modo como se expõe os conteúdos. Mais do que um “amontoado” de textos dispersos, de informações avulsas, um e outro primam por oferecerem ao ensino da filosofia um fio condutor do início ao fim. Assim, a metodologia proposta nos capítulos iniciais é seguida sem atropelos ao longo de todo o manual. A qualidade dos textos escolhidos é indiscutível.

Em termos de materiais para o professor creio que o projecto da Santillana fica a ganhar, muito embora não me pareça um factor que possa ou até deva pesar no momento da decisão. Ambos os manuais na versão do professor remetem para sugestões, conteúdos explorados como powerpoints, planos de aula , filmes, etc. O da Santillana oferece ainda planos aula a aula e testes com correcção. O da Texto oferece um interessante caderno de exercícios para o aluno e um outro de testes para o professor. Ao passo que aqui há uns anos os manuais ofereciam um ou dois modelos de testes, pelo menos estes dois projectos oferecem testes para todas as unidades do programa.

Os recursos são mais ou menos os mesmos, já que o que um oferece em versão papel o outro oferece na versão on-linee vice-versa.

A Santillana tem um recurso on-line interessante em que o professor selecciona a unidade, o número de questões que pretende de opção e de desenvolvimento e informaticamente é elaborado um teste com os critérios de correcção que o professor pode descarregar.

Graficamente são livros elegantes. Ambos são apoiados por bibliografias competentes.

Destacam-se um do outro por alguns elementos das estratégias pedagógicas. O projecto da Santillana faz uma aposta mais forte na síntese com esquemas (apesar deste elemento estar presente também no projecto da Texto). O projecto da Santillana inclui na introdução de cada tema uma adaptação em diálogo como estímulo inicial (pressente pelo menos nos capítulos que analisei) .

Ao passo que a Santillana optou por apresentar o projecto num volume, a  Texto apresenta em 2. Este factor parece-me completamente lateral a uma boa escolha, mas na verdade o livro da Texto é mais pequeno, leve e fácil de transportar.

Muito sinceramente não sei mesmo o que possa desempatar estes dois excelentes manuais. Talvez uma leitura mais atenta de alguns capítulos possa decidir. Espero, pelo menos, que possam ocupar um lugar de destaque nas adopções, embora, pelo que conheço, espera-se mais alguns projectos com qualidade, dos quais, sei de antemão da qualidade dois, o Razões de Ser (Porto Editora) e o 50 Lições de Filosofia (Didáctica). Entre outros.

Os sites das editoras incluem muita informação e uma demonstração on-line dos projectos. Vale a pena ver com algum cuidado.

Paulo Ruas, Diálogos, 2 vls., 2013, Texto Editora

Faustino Vaz e Luís Veríssimo, Filosofia 10, 2013,  Santillana


Tenho AQUI um post onde dou algumas sugestões gerais para uma adopção competente. 

Fórum do FES


Acabei de criar um fórum no FES (ver aba “Fórum”). Está ao dispor de todos aqueles que queiram nele discutir problemas relacionados com a filosofia e o seu ensino. Pensei inicialmente incentivar a discussão no facebook, mas vou tentar durante algum tempo ver como funciona o fórum. Está proposto um tema para discussão, o da adopção de manuais.


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Será que Rawls é um utilitarista?


Quando leccionei John Rawls, no final da exposição da sua teoria levantei o seguinte problema aos alunos: será que Rawls pode ser um utilitarista? A discussão foi na maioria dos casos bastante animada, mas se fosse contabilizar os resultados, a maioria dos alunos responderam que sim, que John Rawls ao pretender a igualdade de oportunidades (um dos princípios da Justiça) é utilitarista já que pretende a maior bem estar para a maioria das pessoas. Quando vi estes resultados coloquei o seguinte problema:

Vamos supor uma sociedade e duas possibilidades. O grau de bem estar nesta sociedade mede-se de 0 a 10, sendo que 0 é o pior bem estar e 10 o máximo bem estar. Esta sociedade é composta por 5 indivíduos.

Assim:
Sociedade A: 8, 8, 7, 0, 1
Sociedade B: 3, 3, 3, 3, 3

Se contabilizarmos o resultado total de bem estar a sociedade A tem 24, ao passo que a Sociedade B tem 15.

Perguntei então aos alunos qual a sociedade onde existe maior bem estar, ao que todos responderam que é a sociedade A. Mas perguntei de seguida qual seria a sociedade que Rawls defenderia como a mais justa, ao que todos responderam que seria a B.

Com este exemplo os alunos compreenderam uma questão importante: que Rawls não é utilitarista, já que um utilitarista defenderia a sociedade A uma vez que é aquela onde existe a maximização do bem estar (até para um maior número de pessoas), mas, ao mesmo tempo, é a menos igualitária e onde existe uma mais desequilibrada distribuição do bem estar.

Antes tinha feito um outro pequeno exercício. Pedi aos alunos que imaginassem a sua turma como sendo uma sociedade. Na possibilidade A, apenas 2 alunos alcançariam o resultado de 18 em 20 valores e todos os outros teriam notas negativas. Na sociedade B todos teriam uma nota de 10. Em qual preferiam viver? Muitos alunos responderam que preferiam viver na sociedade B. De seguida perguntei: vamos imaginar que o aluno a quem questiono é o que tem 18 na sociedade A. E foi engraçado ter percebido que a maioria escolheria a sociedade A.

Ou seja, os alunos escolheriam a sociedade B se não soubessem à partida que lugar ocupariam na sociedade (que nota teriam, neste exemplo), mas se soubessem que seriam o aluno de 18 já recusariam o sociedade B.

Conclusão: na posição original jogamos pelo seguro.

Que objecções se podem levantar neste exercício?

terça-feira, 23 de abril de 2013

Logicismos



Com alguma frequência observa-se que quando se ouve falar em “premissas” e “conclusão”, há uma reacção imediata:  “Isso é logicismo, é reduzir a filosofia à lógica”; “ A filosofia não se pode reduzir à lógica”. O mesmo se passa quando se fala em “validade”, “argumento”, etc.. ou qualquer palavra que cheire a lógica se relacionada com a filosofia.

Acontece que esta ideia é falsa e, creio, tem origem nas universidades, pelo menos a avaliar pela experiência que eu próprio tive na universidade.

Curiosamente quem defende tais ideias falsas, não defende, por exemplo, que Aristóteles reduziu toda a sua investigação (que se estende muito além da filosófica) à lógica, já que ele é o pai do bicho papão que assusta tantas pessoas.

Uma variação da mesma fórmula, mas com maior subtileza é alegar que a filosofia de um filósofo não se pode compreender só em função de argumentos válidos e inválidos.

Pela experiência que recolho, o problema maior destas acusações é que elas chegam sozinhas, isto é, sem qualquer suporte (para não dizer “razões” ou “premissas”) que as justifiquem (para não dizer, que apoiem a “tese a defender” ou “conclusão”). Por essa razão também se torna difícil dar resposta a meras afirmações (para não dizer que não posso sequer compreender tratar-se ou não de “argumentos válidos”). Felizmente na filosofia não estamos no reino do “é assim porque me apetece que assim seja”.

De onde nos chegam, afinal, as tais ideias erradas?

Recordo que estudei uma só vez durante todo o curso o Círculo de Viena. Foi assim que ficaram conhecidos os positivistas lógicos. E esses sim pretendiam reduzir toda a filosofia à clarificação lógica da linguagem, e fortemente influenciados pelo Wittgenstein do 1º Tratactus. Curiosamente tanto o Wittgenstein (filósofo amplamente aceite nos círculos universitários portugueses) como os próprios fundadores do círculo de Viena, ainda em vida, recusaram algumas das suas principais teses iniciais, com quais propunham então a redução da filosofia à análise lógica da linguagem.

As ideias iniciais dos positivistas lógicos podem soar-nos, hoje, como ideias completamente descabidas. Tal como as ideias do geocentrismo ptolomaico nos parecem descabidas. Só que o progresso em conhecimento se faz com ideias que são descabidas num momento e a investigação vem a mostrar que são boas ideias mais tarde ou então pode acontecer o contrário, ideias amplamente aceites e cuja investigação acaba por relevar que, afinal, estão erradas. Isso é o que acontece em qualquer saber onde se faça investigação rigorosa e sistemática.

Usar epítetos como “reduzir a filosofia à lógica” não é mais do que recorrer a uma estratégia saloia para atingir o trabalho de alguém de quem não se tem muita simpatia.

Durante o meu curso de filosofia (no qual se reduziu a filosofia ao teatro decadente do intelectual metafórico, à fenomenologia e Heidegger, aos relativismos mais disparatados) passou-se algumas vezes esta ideia de que o projecto do positivismo lógico não passou de uma caricatura filosófica. E a imensa comunidade do senso comum filosófico encontrou finalmente um inimigo a abater: a lógica.

Felizmente esta ideia errada do uso da lógica não é muito comum para quem investiga seriamente filosofia. E digo felizmente pois é dessa maneira que temos assistido a enormes progressos na filosofia nas últimas décadas.

Um outro esclarecimento interessante é que as ideias anti-metafísicas (porventura muito mais relevantes no circulo de Viena do que o logicismo) nascem no seio da filosofia dita “continental”. Claro que se propagam para os países anglo-saxónicos, mas para compreender porque se afastam do centro da Europa temos de compreender o contexto da segunda grande guerra que afastou os intelectuais europeus para esses países.
Acontece que os positivistas lógicos tiveram muitas ideias tolas, mas não tão tolas quanto nos fazem, por vezes e erradamente, crer. Por essa razão algumas das suas ideias deixaram a sua marca na filosofia contemporânea.

Para saber mais: http://criticanarede.com/docs/etlf_positivismo.pdf

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Para estudar John Rawls

Para estudar John Rawls recomenda-se vivamente este texto (clicar AQUI). Deixo, no entanto, a primeira parte do texto que lança as bases do problema.

Há crianças vendidas por pais extremamente pobres a quem tem dinheiro e falta de escrúpulos para as comprar; pessoas cujo rendimento não permite fazer mais do que uma refeição por dia; jovens que não têm a menor possibilidade de adquirir pelo menos a escolaridade básica; cidadãos que estão presos por terem defendido as suas ideias. Perante casos destes sentimos que as nossas intuições morais de justiça e igualdade não são respeitadas. Surge assim a pergunta: Como é possível uma sociedade justa? Este problema pode ter formulações mais precisas. Uma delas é a seguinte: Como deve uma sociedade distribuir os seus bens? Qual é a maneira eticamente correcta de o fazer? Trata-se do problema da justiça distributiva. A pergunta que o formula é a seguinte: Quais são os princípios mais gerais que regulam a justiça distributiva? A teoria da justiça de John Rawls é a resposta mais influente a este problema. Esta lição irá sujeitar à tua avaliação crítica os argumentos em que se apoia e algumas objecções que enfrenta.

Faustino Vaz 

domingo, 21 de abril de 2013

John Rawls e a justiça distributiva

Há poucas aulas andamos a discutir qual a melhor forma de distribuir a riqueza, um problema discutido pelo filósofo americano John Rawls. Michael Sandel expõe com exemplos o problema neste vídeo que é uma boa ferramenta de estudo para este problema.

sábado, 20 de abril de 2013

Inspectores de circunstâncias

Publiquei no Manual 2.0 da Sebenta Editora um pequeno texto para ajudar a usar os inspectores de circunstâncias no ensino da filosofia. VER AQUI. Qualquer imprecisão ou sugestão agradeço indicações.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Manuais 2013 – como escolher um bom manual


A crítica e análise pública de manuais é uma necessidade. É aí que se joga a qualidade e exigência relativa aos manuais escolares. É com essa análise crítica que se corrigem erros, que se consegue fazer melhor. O meu pequeno trabalho em 2007 e 2008 visava isso mesmo, a melhoria da qualidade geral na concepção de manuais escolares de filosofia. O trabalho foi muito modesto, mas acabou por ser muito usado e discutido pois foi praticamente único e isolado. A ideia é bastante simples: se nos nossos grupos disciplinares analisamos manuais com critérios didácticos e científicos, por que não partilhá-los com autores, colegas, e todos os interessados? Afinal de contas os autores raramente sabem bem as razões que levaram os professores a rejeitar os seus manuais e optar por outros.

Aproxima-se o tempo de adopção de novos manuais do 10º ano para os próximos 6 anos lectivos. Há que discutir antes de tudo se este modelo de adopção de manuais é o mais acertado. Há vários factores a ter em conta para este ponto. Por uma questão de gestão de tempo, abordarei aqui brevemente apenas um, o que interessa ao professor e o que de certo modo mais tem afectado a minha experiência como professor de filosofia. Quase sempre tive maus manuais adoptados. É interessante pensar as razões que explicam que maus manuais sejam sistematicamente adoptados, quando temos desde pelo menos 2003 concorrentes muitíssimo mais competentes e de qualidade incomparável. Para já interessa aqui apenas salientar que um professor que deseje fazer um bom trabalho, tendo adoptado um manual sofrível, está rendido à ditadura do manual, pois não o escolheu e não pode optar por outro. E o problema surge: que fazer? Trabalhar sujeito a um manual que presta uma homenagem patusca à sua disciplina ou pedir aos alunos que guardem o manual no armário e recorrer a outros materiais, muitas vezes roubados a outros manuais que não o adoptado na sua escola? Na verdade é isto que tenho feito nos últimos anos. Nada há a fazer senão explicar aos alunos e aos pais que gastaram cerca de 30€ num mau manual, que o manual é desadequado. O professor menos exigente pensa porventura que tudo não passa de uma questão de gosto pessoal. Mas as coisas não são bem assim. Senão como explicar aos alunos que, afinal, os argumentos podem ter uma só premissa? Como explicar aos alunos que fazer a distinção entre argumentos dedutivos e condicionais é uma distinção inexistente e sem qualquer sentido? Como explicar que um argumento dedutivo nada tem que ver com premissas gerais ou particulares e conclusões mais gerais ou particulares? Como explicar aos alunos que o manual chama argumento a proposições? E mais grave talvez: e se é o próprio aluno a reparar nesses erros? E como explicar ao aluno que a matemática, a física, a biologia também possuem como características a universalidade, a historicidade, a radicalidade e a autonomia? É que essas são tão características da filosofia como de todos os outros saberes? Em alguns casos mais graves como explicar aos alunos que o seu manual comete um erro ao afirmar que a dedução é usada somente nas ciências quando Descartes, Platão ou Russell se fartaram de fazer demonstrações dedutivas? Como explicar David Hume correctamente se nunca se explicou antes o problema da validade não dedutiva? Isto para nem falar que desse modo é pura e simplesmente impensável explicar as razões da teoria de Popper na filosofia da ciência. Como explicar que, afinal, o manual está errado quando afirma que extensão e compreensão de conceitos variam em razão inversa?

Basta começar a pensar um pouco nas coisas para ver que muita coisa não bate certo. Mas além disso, como disse, desde pelo menos 2003 temos outros filtros. Hoje em dia temos a internet e acesso a boas fontes.

Para a adopção cuidadosa dos manuais há que seguir alguns critérios. Faço aqui uma pequena lista que pode ajudar.

  • ·         Em regra os autores cometem falhas em capítulos cruciais. Assim, por exemplo, nos maus manuais aparecem confusões enormes na lógica ou nos instrumentos lógicos do pensamento. Uma boa regra é começar por ler e analisar esses capítulos.

  • ·         Os manuais não são para os professores, mas para os alunos. A clareza da linguagem deve ser, acima de tudo, uma primeira regra de exigência, sem confundir clareza com falta de rigor. Só conheço uma forma de se conseguir ser claro, que é ter um bom domínio das matérias. Um mau domínio faz com que as ambiguidades apareçam com frequência.

  • ·         Muitos manuais, aproveitando um programa aberto, apresentam mais conteúdos de sociologia do que filosofia. Assim, por exemplo, grande parte deles, prefere abordar o sagrado e o profano na filosofia da religião do que propriamente um problema filosófico como o da existência de Deus.

  • ·         A filosofia acima de tudo pratica-se. Há manuais que são expositivos e pouco mais. Limitam-se a expor o que Descartes ou Hume pensaram e não os argumentos que sustentam as suas teses. Um manual que estimule a reflexão crítica inclui objecções às teorias, apresenta não o que os filósofos pensam, mas a discussão filosófica dos problemas. Há que fazer então a seguinte questão: o manual a optar apresenta objecções às teorias apresentadas? Se não como justificar que servirá bem uma correcta aprendizagem da disciplina?

  • ·         É muito importante que o manual tenha um fio condutor e uniforme do princípio ao fim. Um mau manual apresenta algumas noções de lógica no início (argumento, premissas, conclusão, validade, verdade), mas rapidamente abandona essas noções e nunca mais as aplica. Ou seja, o estudante fica mais ou menos como eu quando estudei lógica na universidade, isto é, sem perceber muito bem para que serve aquilo tudo que estudou logo nas primeiras aulas.

  • ·         Os maus manuais defendem que a filosofia é uma actividade crítica, mas depois raramente estimulam a discussão crítica. Os maus manuais apresentam exercícios que mais não são do que interpretação de textos, exercícios não muito diferentes de qualquer manual da disciplina de português.

  • ·         Os bons manuais baseiam-se em boas bibliografias, de filósofos actuais e clássicos. Os maus manuais muitas vezes apresentam textos que não são de filósofos nem apresentam quaisquer teses filosóficas. Muitas vezes os maus manuais também optam por autores com escrita muito ambígua e hoje em dia pouco consensuais nos grandes centros de investigação filosófica. Não há qualquer necessidade de procurar resolver problemas filosóficos fora da filosofia, quando a história da filosofia nos oferece milhares de exemplos excelentes.

  • ·         Um bom manual contém não só textos dos filósofos clássicos como textos de filósofos actuais de expressão inglesa. Os autores de expressão inglesa hoje em dia conseguem ser mais claros e rigorosos e, por isso, muitíssimo mais vantajosos didacticamente. Assim é de longe preferível um manual que apresente alguns textos de autores como Peter Singer ou Thomas Nagel do que Gilles Deleuze ou Heidegger.

  • ·         A formação dos autores é relevante. Onde estudou, o que tem publicado, que conhecimento tem do ensino secundário, etc.. Há bons autores com pouco currículo e maus autores com muito currículo. Mas é mais fácil optar por um manual de um autor que publica com regularidade pois desse modo podemos conhecer o trabalho do autor por outras fontes e no momento da opção conhecemos como escreve, como apresenta a filosofia, se é claro no modo como a apresenta, etc…

  • ·         Ainda mais uma nota à minha lista: hoje em dia temos bom acesso à internet. Há dezenas de manuais de filosofia acessíveis. Que tal conhecer alguns manuais do AS Level inglês, que é o equivalente ao nosso ensino secundário? Que se publica em filosofia para ensinar os jovens nesses países? Claro que é melhor optar pelos bons modelos e é uma opção mais acertada ir de encontro aos manuais ingleses do que aos franceses ou espanhóis. Isto por uma razão: ao passo que tanto em França como em Espanha o ensino da filosofia no secundário está em decadência há anos, em Inglaterra ou Estados Unidos passa-se exactamente o contrário. Pelo que faz sentido espreitar os bons modelos e aprender com eles.

Espero que estas dicas possam constituir uma boa ajuda para a apreciação dos manuais. Mas espero sobretudo que se façam opções acertadas e que de uma vez por todas se opte pela qualidade em vez da mediocridade. Pelas minhas contas vamos ter cerca de 15 manuais diferentes (em 2007 eram 17). Pelo menos 5 são opções seguras. Outros 6 são más opções. 4 ficarão entre o sofrível e o aproveitável. Façam as vossas análises e publiquem-nas.  

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Testes Intermédios 2013


Clicar nos links para aceder aos testes. As análises chegarão quando sobrar um tempinho para esse efeito, já que este ano é de manuais e há sempre qualquer coisa a dizer sobre o assunto



quinta-feira, 11 de abril de 2013

Formação em Pensamento Crítico na ilha da Madeira


Nos dias 4, 11 e 25 de Maio; 1 e 8 de Junho vou dar uma formação a professores e educadores de infância sobre pensamento crítico e argumentação. A organização é do SIPE – Madeira. Clicar na imagem para ver melhor. As inscrições decorrem até dia 21 de Abril. CLICAR AQUI PARA A INSCRIÇÃO.

Programa da Formação

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Filosofia Política para principiantes


Para os meus alunos reproduzo aqui uma muito breve exposição dos problemas de filosofia política que estudamos nas aulas, um texto assinado pelo meu amigo Domingos Faria que trabalha comigo no manual on-line da Sebenta Editora. O texto está alojado AQUI.


(I)
Os dois principais problemas de filosofia política estudados no ensino secundário são os seguintes:
Problema da justificação do Estado

Será que a autoridade do Estado é legítima? Ou seja, num Estado os cidadão são obrigados a obedecer às leis, às sentenças dos juízes, às ordens da polícia, etc. Caso desrespeitem isso, são forçados a pagar coimas ou a ir para a prisão. Mas por que razão cidadãos autónomos devem ser tratados desta forma?

A este problema os anarquistas respondem negativamente: a autoridade do Estado é uma mera violação ilegítima da liberdade das pessoas.
                                                                                         
Porém, existem respostas positivas ao problema de dois tipos:

Por um lado, naturalistas, como Aristóteles, defendem que o ser humano não se desenvolve isoladamente, mas em comunidade; sobretudo na comunidade mais completa e perfeita que é a “polis” (cidade-estado), a qual visa assegurar a vida boa. Assim, a vida na “polis” corresponde a uma necessidade natural dos seres humanos, pelo que o Estado tem uma justificação natural.

Por outro lado, contratualistas, como Locke, defendem que o Estado tem origem num contrato celebrado entre pessoas livres de forma a proteger as suas vidas e propriedades. A ideia é que no estado de natureza (numa situação sem Estado politicamente organizado) existem problemas, como a questão da administração da justiça. Para que a propriedade não fique ameaçada, as pessoas celebram tacitamente um contrato social e aceitam livremente a origem do governo.
Problema da justiça social

Será justa uma sociedade na qual a distribuição de rendimentos e riqueza é desigual? Ou apenas será justa se tal distribuição for igual? Imaginemos uma sociedade em que grande parte das pessoas vive em grande pobreza, apesar de existir uma pequena elite de pessoas multimilionária. Será esta sociedade justa? Imaginemos outra sociedade em que as pessoas têm exatamente a mesma riqueza e em que tudo é distribuído igualitariamente. Será justa uma tal sociedade onde todos têm o mesmo, independentemente do que trabalhem, do que se esforcem ou dos dons que tenham? Afinal, o que é efetivamente uma sociedade justa?

A este problema Rawls responde, numa perspetiva tendencialmente mais igualitarista, que numa sociedade justa deve-se assegurar iguais liberdades e oportunidades para todos e que a redistribuição do rendimento e da riqueza deve ser feito à luz deste objetivo. Por isso, não aceita distribuições muito desiguais, uma vez que limitam consideravelmente as liberdades e as oportunidades dos mais pobres. Aliás, as desigualdades na distribuição só são aceitáveis se trouxerem benefícios para todos, de modo especial para os mais desfavorecidos. Se não for esse o caso, então o Estado deve intervir, por exemplo, com impostos e outras tributações, de modo a manter este padrão de justiça que assegure iguais oportunidades e liberdades para todos.

Já Nozick considera que esta interferência do Estado é eticamente inaceitável, pois viola direitos de propriedade e desrespeita a liberdade individual de cada um gerir o seu rendimento e riqueza como bem entender. Por isso, Nozick avança com uma conceção alternativa de justiça que é libertista.

(II)
Além destes problemas, existem outros interessantes que se podem tratar com os alunos, como é o caso do “problema da desobediência civil” (existirão casos em que violar a lei é moralmente aceitável?) ou do “problema da descriminação positiva” (serão justas as leis que favorecem umas pessoas em relação a outras, como o caso da lei da paridade?).

Perante estes problemas e teorias os professores devem estimular o pensamento crítico dos alunos de modo a que eles assumam uma decisão e posição fundamentada. Em relação a muitos problemas filosóficos, não decidir pode ser uma posição respeitável. Porém, em política, a indiferença é uma posição autorrefutante, pois não decidir ou não ter posição é deixar que outros decidam por nós (seja o que for que decidam). Como alerta o filósofo Jonathan Wolff, na introdução do livro An Introduction to Political Philosophy (tradução portuguesa na Gradiva),
(…) pode não interessar se uma sociedade não tem uma política oficial sobre a solução para o problema do livre-arbítrio, mas em todas as sociedades há alguém que detém o poder político e a riqueza encontra-se distribuída de uma forma ou de outra. (…) Aqueles que preferem não participar verão as decisões políticas serem tomadas por si, quer gostem delas quer não. Nada dizer ou fazer é, na prática, dar aval à situação atual, por insatisfatória que seja.

Domingos Faria

terça-feira, 9 de abril de 2013

Filosofia Política - John Locke

No pequeno capítulo de filosofia política estudamos dois problemas:

1) Como se legitima a existência do estado?
2) Qual a forma justa de distribuir a riqueza?

No problema 1) estudaremos duas teorias que tentam responder ao problema, a naturalista de Aristóteles e a contratualista de John Locke. Veremos as teorias apenas nos seus aspectos mais gerais, até porque o tempo que dispomos não permite voos maiores. Fica aqui um excerto de um texto de Anthony Kenny que resume bem o aspecto central da teoria de Locke. Pode ser lido integralmente clicando AQUI.

No estado de natureza, contudo, o homem apenas tem um domínio precário sobre qualquer propriedade mais substancial do que a sombra que partilha com os outros animais. Qualquer pessoa pode aprender os ensinamentos da Natureza; e quem transgride a lei da Natureza merece ser punido. Mas, no estado de natureza, cada um tem de ser o juiz do seu próprio caso, e poderá não existir alguém com poder suficiente para punir os prevaricadores. É isto que conduz à instituição do estado. "O grande e principal objectivo dos homens que se unem em comunidades e se submetem aos governos é a preservação da sua propriedade; e ao estado de natureza poderão faltar muitas coisas para se cumprir este desígnio."


O estado é criado recorrendo a um contrato social, em que os homens entregam a um governo os seus direitos, para se assegurarem de que a lei natural é levada à prática. Entregam a um poder legislativo o direito de fazer leis tendo em vista o bem comum e a um poder executivo o direito de executar estas leis. (Locke tem consciência da existência de boas razões para separar estes dois ramos do poder.) A decisão acerca da forma particular de poder legislativo e executivo deve ser tomada pela maioria dos cidadãos (ou, pelo menos, pela maioria dos detentores de propriedade).

sábado, 6 de abril de 2013

Razões de Ser


O Razões de Ser (Porto Editora) é um dos novos manuais que aguardo com grande expectativa. A expectativa é criada pela qualidade do trabalho dos autores envolvidos.  Mais informações AQUI

Manuais 2013


Este é o ano de adopção de novos manuais de filosofia para o 10º ano. Previsivelmente vamos ter um bom lote de manuais maus e um lote mais pequeno de manuais competentes. Até agora pouco ou nenhum trabalho tem sido divulgado na internet, com algumas excepções de alguns editores que vão enviando informação aos professores. Depois, como sempre, os prazos de adopção tornam-se apertados e só quem tem uma boa dose de força de vontade é que vai para casa ao fim do dia de trabalho estudar pelo menos alguns capítulos centrais dos manuais que entretanto vai conhecendo e recebendo para análise. Seja como for o 50 Lições tem feito esse trabalho prévio de divulgação, a partir do blogdo projecto. Estive a ver com alguma atenção o powerpoint de apresentação do manual e recomenda-se a sua análise, pois é, a todos os níveis, uma boa apresentação. O powerpoint pode ser visto AQUI.  

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ensaios filosóficos 2013


Os problemas para os ensaios filosóficos são os que se seguem. Vão ser avaliados com entrega do ensaio por e-mail e na apresentação oral (5 a 8 minutos). Os critérios de avaliação são os que foram expostos na aula e que vos enviei por e-mail. Podem consultar alguns exemplos de ensaios de alunos neste LINK. 


  • Será que temos obrigação moral de ajudar os mais pobres?
  • Será o aborto eticamente permissível?
  • Podemos ter uma definição de arte?
  • Será que Deus existe?
  • Qual a forma mais justa para distribuir a riqueza?
  • Será que os animais não humanos devem ter direitos morais?




BOM TRABALHO E DIVIRTAM-SE COM SERIEDADE. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Para estudar filosofia política


Neste início do terceiro e último período vamos terminar o estudo da ética com a consolidação das duas perspectivas teóricas, a deontológica de Kant e a utilitarista de Stuart Mill. A ética procura responder a questões como a de como havemos de viver bem? Mas a filosofia política responde a problemas como: como organizar melhor uma sociedade? E qual a forma mais justa de o fazer? Para te preparares para este estudo que nos vai ocupar entre 2 a 4 aulas de 90 minutos, nada melhor que veres este vídeo. Vai de certeza ajudar-te muito a começares a compreender as importantes questões de que trata a filosofia política.

Dos dois problemas a analisar vamos apoiar-nos em algumas teorias. Assim:

Problema um: qual a origem do Estado como organização política?

Analisaremos as respostas naturalista de Aristóteles e contratualista de John Locke.

Problema dois: qual a forma mais justa de distribuir a riqueza?

Analisaremos as respostas de John Rawls e Robert Nozick.

Todas estas perspectivas estão muito bem explicadas no vídeo. A autora foi aluna de Rawls e Nozick em Harvard, provavelmente a melhor universidade do mundo.