sábado, 13 de março de 2010

Mas afinal há ou não filosofia em Portugal?

Abstract


Se o Rolando diz que não há filosofia em Portugal e o Rolando não tem estatuto académico, logo Há filosofia em Portugal.


Se o José Gil diz que não há filosofia em Portugal e o José Gil tem estatuto académico, logo Não há filosofia em Portugal.


O que é que se passa com estes argumentos? Estamos a aceitar a autoridade sem pensar realmente pela nossa cabecinha. Acontece que as autoridades podem também afirmar falsidades, o que até nem é o caso.
No blog Telegrapho de Hermes, vejo uma citação do professor José Gil (também fui aluno dele), em que este afirma que não existe comunidade filosófica em Portugal pois as pessoas não estão interessadas em discutir os problemas e vivem academicamente isoladas, cada um para si. Isto foi precisamente o conteúdo que afirmei AQUI no blog de ex alunos de Évora, O Café Filosófico de Évora. Na altura os ex alunos de Évora tiveram reacções de protesto face aos meus comentários, sendo alguns até com uma dose de violência que me fez ripostar algumas vezes com igual tom. Mas há aqui uma questão curiosa e que penso que deve ser posta a nú: o que eu contestei na altura é precisamente o que está a ser feito pelo Telegrapho, um blog da autoria de um dos ex alunos de Évora, ou seja, a citar alguém acriticamente. O que é que me faz pensar que a citação é acrítica? Porque foi o professor José Gil a proferi-la. Tenho toda a consideração pelo Renato que tem feito um apreciável trabalho com o Telegrapho, mas que raio de coerência existe em reagir como reagiu quando eu afirmei aquilo que agora o professor José Gil afirma? O que o Renato faz é exactamente aquilo que o José Gil diz que não se deve fazer, sob pena de matarmos de vez (se alguma vez esteve viva) a possibilidade de termos filosofia nas universidades portuguesas, isto é, cita-se porque é o José Gil, porque tem estatuto académico. Claro que o estatuto académico é relevante em certa medida, mostra pelo menos o que um indivíduo faz ao longo da vida por uma determinada área, mas será que isso por si só é condição suficiente para que um individuo com estatuto académico seja citado sem qualquer objecção? Sem que passe o resto da vida sem fazer afirmações palermas?
Parece certo que eu estou mais de acordo com José Gil do que o Renato, mas valia a pena aqui repor alguma justiça no que se passou nos mais de 200 comentários neste post.
Não estou propriamente ressabiado pelo que se passou já há algum tempo na discussão que tive como Renato e com o David no Café Filosófico, mas a verdade é que cheguei a ser acusado (creio que nesse post) de ser seguidista dos analíticos somente porque defendi a ideia de que não existe filosofia feita nas universidades portuguesas, por muitas palestras umbiguistas que nelas se façam. Portanto, esta não é uma resposta pessoal, mas um aproveitamento para voltar a afirmar que não temos filosofia nas universidades portuguesas pela razão apontada pelo José Gil: as pessoas não tem uma cultura de discussão do seu trabalho e fazem-no de forma isolada. Ora precisamente a filosofia é um saber cuja vitalidade depende directamente do trabalho de discussão activa.
Recordo que , entre outros argumentos, um dos argumentos usados pelo Renato e pelo David é que eu não devia falar do curso de filosofia em Évora já que é uma realidade que desconheço pois não estudei em Évora. Já agora, e o professor José Gil o que é que sabe do curso de filosofia dos Açores para poder afirmar o que afirmou?
Bem, e claro que o Renato pode ter citado o José Gil sem no entanto concordar com ele. Pode ser mesmo que a Universidade de Évora tivesse produzido filósofos com discussão activa no panorama internacional.
Já sei que isto me vai dar uma chatice do caraças, mas paciência.

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