Esta semana foi finalmente assinado um acordo entre sindicatos de professores e ME para o ECD e a avaliação dos professores.
Em primeiro lugar é corrente a ideia de que os professores precisam de ser avaliados, mas nunca percebi muito bem como é que esta é uma verdade estabelecida. De tantas vezes repetida, acho que se tornou uma verdade inviolável. Não percebi muito bem por uma razão especial: o antigo ECD prevê a intervenção da escola quando encontram professores menos bons a leccionar. Se não o fazem, qual o sentido de intervir no processo de avaliação? O problema é a falta de aplicação.
Depois porque sinceramente nem me vejo a avaliar colegas nem percebo por que raio tenho de me sujeitar a avaliações de colegas. Além disso vou ser avaliado em situações profissionais que nem sempre escolho, ao passo que outros colegas são avaliados em situações profissionais que escolhem. Por exemplo: este ano sou professor num curso CEF. A prática lectiva e o professor que sou no CEF nada tem que ver com o professor que sou quando lecciono filosofia no secundário. Leccionar CEF não foi uma circunstância profissional que eu tenha escolhido, ao passo que há colegas, pela graduação profissional, que têm prioridade nas suas escolhas para leccionação e leccionam o que mais gostam. Na minha posição profissional, todos os anos tenho turmas novas e cursos diferentes. Ou seja, há anos a fio que, para além de ter níveis de ensino muito diferentes, me vejo a braços com ter de preparar programas aos quais, no ano seguinte, já não dou continuidade. Será esta uma situação profissional, a exemplo, que possa ser avaliada nas mesmas circunstâncias de um professor que escolhe os níveis, tem anos seguidos de experiência de leccionação nos mesmos níveis, etc.? Ou terei de escrever todas estas coisas num relatório final? Sinceramente não me apetece desculpar a minha avaliação, mas, na prática, é isto que acontece com a avaliação que os sindicatos que representam os professores assinaram em acordo.
Mas vamos a outro exemplo: em dois momentos da avaliação, a progressão é travada por quotas. Mas como é que existe equidade na avaliação entre um docente de matemática e um outro de educação física, por exemplo? Não digo que uma seja mais fácil que outra (para ser sincero acho mesmo que as disciplinas tem à partida níveis de exigência na leccionação diferentes, para além de todos os problemas pontuais que ensinar a uma turma levanta), mas não é suposto existirem diferenças? Acontece que um professor de educação física considerado excelente não é o mesmo que um de filosofia considerado excelente. Há requisitos diferentes. Mas ambos concorrem para as mesmas cotas.
Há muito, muito mesmo, a dizer sobre este modelo de avaliação. Os sindicatos foram imprudentes a assinar o acordo. E nem me apetece aqui falar das promessas eleitorais do principal partido da oposição.
Mas a procurar uma frase síntese que em segundos explique a avaliação docente a quem de fora me pergunte o que penso do assunto, ela será: “avaliação? Qual avaliação?”. Não tenho qualquer dúvida que qualquer curandeiro disfarçado de professor de filosofia obterá melhor classificação que muitos professores de filosofia que ensinam com rigor e aplicação. E isto não é avaliação, nem distingue os mais aplicados, nem contribui para um melhor sistema de ensino. E a vida continua. Como sempre.