É muito comum e apreciado ouvirmos dizer, “defendo as minhas ideias com convicção” e, normalmente, tal é tido como moralmente superior. Acontece que temos muitos contra exemplos no mundo, em que defender convicções não parece ser um bem moral de ordem superior. O episódio recente do Egipto e do seu presidente parece ser um caso. Afinal porque não se demitia o presidente dando um passo gigante para a liberdade democrática e acabando ao mesmo tempo com uma ditadura? O que se passa é que as convicções podem estar erradas e quem proclama que defende as suas convicções contra tudo e todos não apresenta, neste sentido, qualquer superioridade moral. Talvez fosse moralmente mais relevante afirmar qualquer coisa como “Prometo pensar e repensar cada vez melhor as minhas convicções”. Mas mais interessante é o caso, muito frequente no discurso político, em que se afirma aceitar-se a discussão de ideias pois defende-se as suas convicções. Ora, este argumento é facilmente desmontável: vamos supor que sou um político e que tenho a convicção que vou fazer muito melhor pelo meu país que qualquer outro político e nem sequer me questiono se terei talento para tal. Ora o que acontece é que vou defender a minha convicção e, como tal, não vou atender facilmente a ideias contrárias à minha, nomeadamente, alguma que diga que estou errado.
Defender convicções pode ser perigoso ainda noutros campos, como na ciência ou filosofia. Defender convicções não tem qualquer relevância moral nestes campos e pode até prejudicar seriamente o progresso e evolução do saber.
Não se percebe bem qual a razão de ser tão apreciado nas democracias contemporâneas os discursos que dizem defender convicções. Defender convicções é até em muitos casos moralmente errado.
Uma coisa é argumentar, outra coisa é querer argumentar com pressuposições ideológicas tomadas como certas. A este segundo aspecto chama-se manipulação que parece argumentação, mas não é. A manipulação aparece notoriamente em campos como a política, religião ou futebol.
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