O espaço deste blogue, que continua também a ser a obra de one man show, obviamente não consegue fazer a cobertura de todos os livros que vão, entretanto, saindo para o mercado. Ainda assim não queria deixar passar esta magnífica edição da muito interessante história da filosofia do filósofo inglês, A. C. Grayling, aqui numa tradução do sempre competente Desidério Murcho, já com uma extensa experiência no ramo da tradução de filosofia. Obviamente construir uma história levanta problemas da própria filosofia da história, problemas que o autor não esquece ao justificar cuidadosamente todas as escolhas feitas. São quase 700 páginas de história da filosofia, abarcando também a filosofia indiana e chinesa, além de contemplar um interessante capítulo de filosofia analítica e continental (na verdade são dois capítulos) no qual Grayling não se escusa de refletir sobre esta suposta divisão e também lhe dando um enquadramento que permite compreender não somente as origens de tais divisões, bem como essas divisões deixam de fazer qualquer sentido no mundo da filosofia.
O livro é bem concebido como objeto pois as quase 700 páginas não pesam muito nas mãos. Ainda comprei a edição em papel, muito embora cada vez mais vá optando pelas edições em versão eletrónica que as Edições 70, felizmente, já adotaram.
Num formato e estilo muitíssimo diferente da monumental história da filosofia do Kenny (também editada entre nós pela Gradiva), esta é uma obra que vale a pena ter, vale a pena descobrir e não deixa de ser uma ferramenta de estudo para quem quer que se dedique a descobrir mais deste universo de conhecimento que conta já com mais de 2500 anos de história.
1 comentário:
Na minha opinião, o livro de Grayling apresenta bastantes problemas. Discordo que tenha feito um enquadramento adequado do que ele chama de "filosofia indiana", "filosofia chinesa", "filosofia árabe e persa". Além disso, continua desatualizado em relalção a desenvolvimentos importantes na história da filosofia. Por exemplo, ainda considera que a filosofia "desapareceu" do mundo islâmico depois da crítica de al-Ghazali e da morte de Averróis, e que foi assimilada à teologia - ou "pseudo-filosofia" como lhe chamou Dimitri Gutas. Uma tese que tem sido contestada e que, pelo menos, merecia argumentos mais elaborados. Assim, apesar de uma obra importante, este livro não difere muito de outras histórias da filosofia de há décadas e não contém quase nada de inovador em relação ao que já existia.
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