domingo, 19 de julho de 2020

Filosofia da morte (e da vida)

Diz-se muitas vezes que a filosofia é um saber fundamental, que trata dos fundamentos. E isto é verdade, pois é mesmo assim. A filosofia começa por procurar estabelecer os conceitos com os quais vamos empreender toda a nossa compreensão do mundo. Claro que os saberes são tão emaranhados, complexos e misturados que muitas vezes se estudamos física ou biologia podemos cair na tentação de nem sequer pensar nos conceitos que fundamentam as nossas investigações. Não é de todo raro ler de um Stephen Hawking ou Peter Atkins que a física vai explicar tudo. Ou de um E. O. Wilson, que tal tarefa será completada pela biologia. E por aí adiante. Mas na verdade nenhum saber avança sem alguma mediação filosófica no estabelecimento dos conceitos base. E é exatamente essa noção que ficamos quando lemos este novo e brilhante livro de Pedro Galvão. Pressupondo que muitas pessoas sem formação em filosofia me estão a ler, esqueçam se querem fazer uma leitura de praia deste livro. Quer dizer, leiam-no quando e onde quiserem, mas a sua leitura exige de nós um permanente esforço de compreensão. Todos os livros de filosofia o exigem, certo. Mas neste há uma particularidade que até eu estava inicialmente cético: é que é escrito em diálogo e mistura ficção com a filosofia para, pasme-se, ser um livro de e apenas de filosofia. Claro que o tema seduz ainda mais para a questão dos conceitos fundamentais, já que se trata da conceção que temos de vida e de morte e como é que filosoficamente essa conceção é mais ou menos plausível. Não é um livro de questões fundamentais por ser um livro acerca de problemas da existência e do fim dela, mas por ser um livro de filosofia. Ele é também um livro de panorama já que se propõe a explorar as principais teorias, clássicas e contemporâneas, que disputam estes problemas. É um livro que se avança devagar e se possível sem distrações. Porque o mundo da filosofia é assim, como de resto também o será o mundo de muitos outros saberes, menos os experimentais. Portanto, esta não é certamente uma sugestão de leitura de verão, mas uma sugestão de um excelente livro de filosofia acerca dos problemas fundamentais da vida e da morte. 

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