"Podemos reger-nos pelo dogma ou pela descoberta. O dogma (da palavra grega que significa opiniões recebidas que «parecem boas») bem pode procurar uniformizar as pessoas (como é a intenção implícita do dogma religioso, sendo religio um termo latino que significa «unir»), mas na verdade, na medida em que tem de ser adoptado com base em fé, acaba por dividir a humanidade entre um nós fiel e um outro suspeito. A descoberta científica poderia ter dividido o mundo, mas em vez disso revelou que todos os seres humanos são parentes (uns dos outros e de todos os outros seres vivos) num universo onde estrelas e estrelas-do-mar obedecem às mesmas leis físicas. Assim, à medida que os seres humanos passam do dogma à descoberta, vão percebendo cada vez melhor que habitam um só mundo.Esta evolução cria a expectativa de que, à medida que a influência da ciência for aumentando, as pessoas possam vir a ultrapassar velhos preconceitos e provincianismos e tratar-se umas às outras com mais liberalidade. Em certa medida, isso está já a acontecer (o mundo hoje é mais científico e mais liberal, mais bem informado e menos violento do que era há três séculos), mas estas mudanças trouxeram também consigo novos problemas.Os dogmáticos, religiosos ou políticos, reagem contra a ciência e o liberalismo com todos os meios ao seu alcance, da negação e da tentativa de supressão (por exemplo, do ensino da evolução biológica) ao terrorismo. As democracias liberais respondem muitas vezes a estas ameaças com insegurança em vez de força, revertendo em momentos de dificuldade para práticas antiliberais pouco melhores que as dos seus adversários. Entretanto, as descobertas científicas vão pondo em causa as ideias feitas que todos temos, enquanto a evolução da tecnologia vai criando problemas complexos (com o aquecimento global actualmente no topo da lista), que se não forem adequadamente abordados ameaçam anular grande parte dos progressos que a nossa espécie fez tão recentemente
(…) os cientistas tem uma história de descoberta para contar; os dogmáticos, uma história de obediência à autoridade."
Timothy Ferris, Ciência
e Liberdade, Democracia, Razão e Leis da Natureza, Gradiva, Trad. Ana
Sanpaio, pp.425,426 e 427
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