A Margarida, aluna do 10º 47, pediu mais sugestões musicais.
Nick Cave é um cantor já com muitos anos de atividade musical. É australiano,
mas fez praticamente toda a sua carreira na Europa. Tocou com muitos músicos
diferentes na sua banda de acompanhamento, aos quais chamou de Bad Seeds. A
primeira fase da carreira de Nick Cave é mais dura, mas a fase posterior é mais
suave, com lindas canções. Neste ano Nick Cave And The Bad Seeds lançou mais um
disco ao vivo que é um bom punhado de excelentes canções. Fica aqui a amostra. Espero que gostem. Chama-se "No more shall we part" e é a canção que eu ia a ouvir nos auriculares quando a Margarida pediu mais sugestões de boa música.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Argumentos a favor do libertismo
“O Libertismo é a perspetiva de que pelo menos algumas das nossas ações são livres porque não estão causalmente determinadas. Segundo esta teoria, as escolhas humanas não estão constrangidas da mesma forma que outros acontecimentos do mundo. Uma bola de bilhar, quando é atingida por outra bola de bilhar, tem de se mover numa certa direção a uma certa velocidade. Não tem escolha. As leis causais determinam rigorosamente o que irá acontecer. Contudo, uma decisão humana não é assim. Neste preciso momento, o leitor pode decidir continuar a ler ou parar de ler. Pode fazer qualquer uma destas coisas e nada o faz escolher uma delas [ou seja, nada o obriga a escolher uma delas]. (…)Esta forma de pensar foi defendida por diversos filósofos e propuseram-se vários argumentos a seu favor.O argumento da experiência. Podemos começar com a ideia de que sabemos que somos livres porque cada um de nós apercebe-se imediatamente de ser livre cada vez que faz uma escolha consciente. Pense novamente no que está a fazer neste momento: ler uma página que está diante de si. Pode continuar a ler ou parar de ler. O que irá fazer? Pense na sensação que tem agora, enquanto pondera estas opções. Não sente constrangimentos. Nada o impede de seguir numa direção nem o força a fazê-lo. A decisão é sua. A experiência de liberdade, poder-se-á dizer, é a melhor prova que podemos ter. (…)O argumento da responsabilidade. O pressuposto de que temos livre-arbítrio está profundamente enraizado nas nossas formas habituais de pensar. Ao reagir a outras pessoas, não conseguimos deixar de as ver como autoras das suas ações. Consideramo-las responsáveis, censurando-as caso se tenham comportado mal e admirando-as caso se tenham comportado bem. Para que estas reações estejam justificadas, parece necessário que as pessoas tenham livre-arbítrio.Outros sentimentos humanos importantes também pressupõem o livre-arbítrio. Alguém que conquista uma vitória ou tem sucesso num exame pode sentir-se orgulhoso, enquanto alguém que desiste ou faz batota pode sentir-se envergonhado. Porém, se as nossas ações se devem sempre a fatores que não controlamos, os sentimentos de orgulho e de vergonha são infundados. Estes sentimentos são uma parte inescapável da vida humana. Assim, mais uma vez, parece inescapável que nos concebamos como livres.”
James Rachels, Problemas da
Filosofia, tradução de Pedro Galvão, Gradiva, Lisboa, 2009, pp.183-184 e
189-190.
No blog de Filosofia, Dúvida Metódica, os argumentos
são formalizados deste modo:
Podemos
resumir o argumento da experiência (por vezes designado argumento da
introspecção) deste modo:
Se inúmeras pessoas têm a experiência
ou sensação de ser livres, então a crença no livre-arbítrio é verdadeira.
Ora, inúmeras pessoas têm a experiência ou sensação de ser livres.
Logo, a crença no livre-arbítrio é verdadeira.
Ora, inúmeras pessoas têm a experiência ou sensação de ser livres.
Logo, a crença no livre-arbítrio é verdadeira.
Podemos
resumir o argumento da responsabilidade deste modo:
Se não existisse livre-arbítrio,
então não teria sentido responsabilizar as pessoas.
Mas tem sentido responsabilizar as pessoas.
Logo, existe livre-arbítrio.
Mas tem sentido responsabilizar as pessoas.
Logo, existe livre-arbítrio.
domingo, 24 de novembro de 2013
Dilema do Prisoneiro e egoísmo
Vamos imaginar que dois sujeitos, o Luís e o Aníbal são
acusados injustamente de um crime grave. Um interrogador entra na cela do Luís
e pede-lhe que confesse o crime. E diz que vai fazer o mesmo ao Aníbal.
Assim, há 4 resultados possíveis:
1.
Somente
o Luís confessa o crime
2.
Somente
o Aníbal confessa o crime
3.
Ambos
confessam o crime
4.
Nenhum
confessa o crime
Agora a proposta é a seguinte: Caso Luís confesse o crime
(situação 1), o Luís sairá em liberdade e o Aníbal ficará preso 10 anos. Caso
suceda a situação 2, acontece o inverso. Se suceder a situação 3 (ambos
confessam), então ficarão ambos presos apenas 8 anos. Se suceder 4, isto é, se
nenhum deles confessar, ambos continuarão presos apenas durante 6 meses.
Se analisares bem, claro que 4 é a melhor situação para
ambos. Mas como é que Luís e Aníbal agiriam se fossem egoístas racionais?
Acontece que se Luís for egoísta racional vai confessar o crime. E o mesmo
sucede com Aníbal se for egoísta racional.
O que nos mostra esta experiência mental, é que em certas
circunstâncias as pessoas retiram maiores benefícios se não agirem de acordo
com o egoísmo racional.
(parte deste texto é inspirado na explicação do manual, Razões de Ser, Porto Ed)
sábado, 23 de novembro de 2013
Dilema do determinismo
Podemos afirmar que a teoria do determinismo começa com
um dilema. Um dilema é quando estamos perante dois caminhos sem saber qual
devemos escolher. O dilema do livre-arbítrio pode apresentar-se da seguinte
forma:
Se o determinismo causal é verdadeiro, então não temos
livre-arbítrio.
Por outro lado, se o determinismo é falso, então as nossas
ações são aleatórias, consequência do acaso.
Mas se as nossas ações são aleatórias, então, não resultam
das nossas deliberações.
Logo, em qualquer dos casos, quer o determinismo seja
verdadeiro, quer seja falso, parece que não temos livre-arbítrio.
E agora?
Agora resta-nos estudar as 3 respostas ao problema e
analisá-las cuidadosamente.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Dia Mundial da Filosofia
Determinado pela UNESCO, hoje comemora-se o dia mundial da
filosofia. A filosofia é considerada por esta organização como património da
humanidade. Mas o melhor que podemos fazer pelo património é preservá-lo. Só há
uma forma de preservar este património, fazendo filosofia. Por essa razão deixo
aqui uma questão para pensar:
Será que se existisse uma teoria sobre tudo, essa teoria poderia predizer as nossas ações e comportamentos e, nesse caso, não teríamos livre arbítrio?
Há uma resposta a este problema num livro de filosofia que
levarei para as aulas e lerei a todos os alunos.
Na nossa escola fizemos diversas atividades, nomeadamente o video que está a rodar com alguns livros de filosofia escolhidos pelos professores, assim como cartazes e placards com explicações de alguns problemas da filosofia.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Libertismo
Alguns alunos pensam que o libertismo defende que todas as ações são livres. Tal não é
verdade. Senão vejamos: estudaste já que a negação de uma proposição tem de inverter
o seu valor de verdade, ou seja, se a proposição a negar for falsa, a sua negação
é verdadeira e se a proposição a negar for verdadeira, a proposição negada é
falsa.
Agora vejamos o que defendem os deterministas radicais:
Todas as ações estão
determinadas
Se negássemos esta afirmação por “Nenhumas ações estão determinadas”, é fácil de ver que ambas podem
ser falsas ao mesmo tempo, pelo que a negação que os libertistas fazem do
determinismo radical não pode ser “nenhumas
ações são determinadas”, mas antes: “algumas
ações não são determinadas”. E é exatamente isto que defendem os
libertistas.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Determinismo radical no Sims
Na verdade nunca joguei o Sims, mas sabendo mais ou menos do
que que se trata, fiz uma analogia na aula entre o determinismo radical e o
jogo Sims. Se o determinismo radical for verdadeiro, comportamo-nos como se fossemos personagens do Sims que pensam que são livres, mas na verdade todas as suas
ações estão causalmente determinadas. Claro que não devemos de todo levar esta
analogia a sério, pois o determinismo que falamos no problema do livre arbítrio
é a causalidade científica.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Peter Singer: O "porquê" e o "como" do altruísmo eficaz
Nas aulas
falamos que uma das teorias que procuram explicar a motivação para a ação é o
egoísmo psicológico. Duas objeções principais foram apontadas ao egoísmo, a
primeira que refere que o prazer que obtemos de praticar determinadas ações é
apenas o efeito e não a causa de uma ação. Outra das objeções são as ações que
parecem ser verdadeiramente altruístas e não egoístas. Uma das boas formas de
compreender o altruísmo é assistir a este pequena palestra do filósofo
altruísta Peter Singer. Vale bem a pena.
sábado, 16 de novembro de 2013
Duas sugestões musicais
Deixo aqui duas sugestões musicais, uma bebezinha e outra
muitíssimo mais madura. Ambas são boas colheitas. A bebezinha é dos Arctic
Monkeys e a adulta é de Anna Calvi. Espero que gostem.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Como fazer filosofia
Vale a pena ler o texto de Nigel Warburton que publicamos no
nosso manual on-line. Nesse texto Warburton explica como se faz filosofia, em
discussão e não somente a decorar as ideias dos filósofos. Vale a pena ler,
pensar e aprender.
Clicar AQUI para ler o texto integral.
Fica o aperitivo:
A filosofia ocidental tem as suas origens na conversação, na discussão cara-a-cara sobre a realidade, o nosso lugar no cosmos e sobre como devemos viver. Começou com um sentimento de mistério, espanto e confusão e com o poderoso desejo de alcançar além das meras aparências para descobrir a verdade ou, se não isso, pelo menos algum tipo de sabedoria ou equilíbrio.
Somos responsáveis pelo que fazemos?
Peter van Inwagen sobre o problema do livre arbítrio
Vale a pena ver este vídeo do filósofo Peter Van Inwagen
sobre o problema do livre arbítrio. Vimos em algumas aulas este vídeo. A
entrevista foi feita pelo professor Aires Almeida.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Uma sugestão musical para os meus alunos
Os Radiohead
são uma banda inglesa. Liderados por Tom York tem já um punhado de bons discos
publicados. Weird Fishes pertence ao disco In Rainbows. Vale a pena
descobri-los pois são uma das bandas da atualidade que melhor conseguiram
imprimir intensidade emocional nas suas canções, para além de revelarem um
excelente bom gosto estético.
Crença, o que significa em filosofia?
No sentido comum crença significa a pressuposição que algum deus
existe ou não. Dizemos: “acredito em Deus”
ou “não acredito em Deus”.
Em sentido filosófico, crença implica a atitude proposicional
perante o mundo, isto é, a expressão por proposições do que acreditamos sobre o
mundo. Expressões como as seguintes expressam crenças:
O planeta terra é
redondo
Existem unicórnios
A aula de filosofia é
na sala A
Paris é a capital de França
Funchal é a capital da
ilha da Madeira
As crenças são expressas em proposições, razão pela qual
dizemos que afirmar “Funchal é a capital
da ilha da Madeira” é uma proposição verdadeira ou falsa. Não esqueçamos
que uma proposição é o conteúdo do que pensamos e que expressamos numa frase
declarativa com sentido e tem valor de verdade (pode ser verdadeira ou falsa).
Compreender o que é uma crença é relevante pois é a primeira
condição para que haja conhecimento, isto é, para que possamos afirmar que
sabemos algo. Claro que a crença, para ser conhecimento, tem de ser verdadeira
e precisa de ser justificada, mas sem crença não há, sequer, conhecimento.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Clorofila e resultados dos testes de filosofia
Nesta semana entreguei e fizemos a correção do primeiro teste
de filosofia. Alguns alunos deslizaram e não conseguiram classificações
positivas. O objetivo é que todos alcancem resultados positivos. Assim,
funciona como uma ida ao médico. Quando estamos doentes vamos ao médico. Perante
os sintomas o médico diagnostica a doença e aposta numa receita. A aposta da
receita é o resultado do conhecimento do médico. E a receita nem sempre
resulta. Mas nenhum médico deixa o paciente sem receita. Analogamente o
professor tem de passar uma receita para alcançar o êxito. Há múltiplos fatores
que concorrem para o resultado num teste, incluindo o fator sorte. Mas mesmo na
invariabilidade toda, há alguns pontos que são seguros. Assim, estar atento nas
aulas e participar ativamente nas mesmas, bem como ler e estudar são pontos
mais seguros do que confiar na sorte cega. Certamente nenhum aluno consegue
alcançar classificações altas confiando apenas na sorte.
Nas aulas tracei três pontos que devem ser seguidos por todos
alunos para alcançar o êxito. Os dois primeiros são fáceis de conseguir e o
último é o mais complicado. Os primeiros são:
1)
Atenção
nas aulas
2)
Dedicar
pelo menos uma hora de estudo por semana à disciplina
O último é o tal mais complicado:
3)
Mudar
a nossa atitude perante o mundo e a própria vida
O ponto 3) é o mais difícil porque o mais certo é que vai
chocar com as nossas crenças mais básicas que adquirimos ao longo da nossa
vida. O exemplo que dei nas aulas é o que a seguir sintetizo.
Vamos supor que a Joana está no café a beber uma chávena de
chá. De repente e sem intenção esbarra com um movimento do braço na chávena e
ela cai da mesa e parte. O problema da Joana passa a ser a chávena partida e a
chatice de ter de pagar outro chá. Se a Joana mudar o foco da suas crenças pode
fazer uma questão mais elaborada: mas por
que raio a chávena caiu para o chão? Afinal, porque caem os objetos sempre na
direção do chão? Se a Joana quiser a resposta a este problema pode começar
a estudar um pouco mais de física, conhecer Newton e saber como funciona a
gravidade. E o mesmo acontece com a filosofia. O luís deu um pontapé ao João. O
Francisco acha que o Luís fez justiça e a Maria acha que não. E discutem entre
si as razões que cada um apresenta para conceber se o Luís foi justo ou não.
Mas se quer o Francisco, quer a Maria forem curiosos, vão querer saber o que é
que fundamenta as suas razões, isto é, vão querer saber o que é a justiça. E para saber isso vão estudar filosofia. É por
isso que o terceiro ponto é o mais complicado, pois exige uma mudança do nosso
comportamento no modo como olhamos para o mundo e confiamos nas nossas crenças.
Todos nós possuímos crenças em relação aos problemas básicos,
mas nem todos temos curiosidade para ir mais além. Quando vamos mais além,
somos movidos pela chave do sucesso, a saber, a paixão que nos move em direção
ao conhecimento e à filosofia.
Uma boa estratégia para passar a investigar as questões
básicas filosofando é recordarmos as perguntas que fazíamos quando fomos
crianças. O exemplo que vos dei foi a pergunta do João Francisco, o meu filho,
de 5 anos, quando ainda ontem me perguntou: “pai, por que é que as plantas precisam de água?”. Esta é uma
questão científica, mas não tarda nada e o João vai fazer questões filosóficas.
Todas as pessoas fazem. Mas nem todas são levadas pelo impulso da curiosidade. Saber
o que aconteceu à curiosidade, o que a matou, é já um outro problema.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
O que vamos estudar? Filosofia da ação e livre arbítrio
Neste momento estudamos a ação. Não estamos propriamente a
fazer filosofia da ação, mas antes a tentar arranjar uma boa definição de ação
que nos permita avançar com alguma segurança para a discussão do problema
seguinte, o problema do livre arbítrio.
Assim, começamos por distinguir ações de meros acontecimentos,
mesmo que nos tenhamos deparado com algumas situações em que é difícil determinar
se estamos perante uma ação ou perante um acontecimento.
De uma forma geral definimos ação como um acontecimento que
um agente faz, com intenção. Para determinarmos
como saber se uma ação é intencional estabelecemos que tem de obedecer pelo
menos a uma descrição verdadeira,
isto é, que possamos evidenciar pelo menos uma crença e um desejo de
agir, se quisermos, temos de enunciar um motivo.
Assim, sabemos que respirar não pode ser uma ação, mas estudar filosofia é uma
ação.
Vamos então supor que a Maria está a tocar piano. É simples
perceber que tocar piano, ou pelo menos colocar os dedos sobre o piano, é uma
ação que a Maria realiza. Vamos imaginar ainda que a Maria acordou os
vizinhos com o som produzido pelo seu piano. Será que a Maria praticou uma ou
duas ações? O que pensas disto?
|
Definir a ação vai-nos permitir entrar no problema do livre arbítrio. Se o universo é
fisicamente determinado, será que somos livres quando agimos, ou a nossa ação não
passa de uma ilusão?
Vamos estudar três respostas a este problema, duas delas incompatibilistas
(que defendem que o livre arbítrio é incompatível com o determinismo) e uma
delas compatibilista (que defende que o livre arbítrio é compatível com o
determinismo)
Incompatibilistas:
·
Determinismo
radical
·
Libertismo
Compatibilistas:
·
Determinismo
moderado
Estudaremos cada uma destas teorias nas aulas, bem como a sua
discussão.
O vídeo que te é proposto neste post é do filme The Matrix. Nele coloca-se uma situação interessante relacionada com o livre arbítrio. Se puderes ver o filme todo, é interessante.
sábado, 2 de novembro de 2013
Então e a filosofia não depende da opinião de cada um?
Existe uma ideia que tem tanto de comum como de errada de que
a filosofia não se define, pois depende da opinião de cada pessoa. Se o
Asdrúbal passar uma rasteira ao Aníbal, algumas pessoas vão pensar que o
Asdrúbal foi injusto com o Aníbal e outras vão ainda pensar que o Asdrúbal fez
muito bem e foi muito justo, pois o Aníbal andava a merecê-las. Segue-se daí
que não exista um conceito de justiça que esteja para além da opinião das
pessoas? Claro que não.
Se alguém te dissesse que é cientista e tem uma opinião para
resolver um problema, provavelmente acharias estranho, pois sabes bem que as
teorias dos cientistas não resultam das opiniões pessoais dos cientistas, mas
são o resultado da sua investigação sistemática e do seu estudo com a equipa de
cientistas. E o mesmo acontece com a filosofia. O que os filósofos fazem é
muito mais do que dar a sua opinião sobre um problema. O que eles fazem é
tentar avançar teorias que resolvam problemas. Ora, isto é muitíssimo mais do
que dar a sua opinião. Claro que muitas das teorias dos filósofos e dos
cientistas para resolver problemas partem das suas próprias opiniões sobre os
problemas. Mas fazer teorias é muito mais elaborado que dar opiniões. A diferença
é que quase sempre damos opiniões sem estudar, mas não podemos fazer teorias
minimamente aceitáveis sem estudar. É talvez por isso que, em ciência, por
exemplo, se nos perguntam se deixarmos cair um livro e uma bola de papel ao
mesmo tempo, qual é o que cai primeiro, dizemos que é o livro pois é mais
pesado. Se fizermos a experiência, o que verificamos é que a nossa opinião
estava errada. E o mesmo sucede na filosofia. Se nos perguntarem se os animais
têm direitos como têm os seres humanos, dizemos que não. Mas se investigarmos um
pouco, estudando cuidadosamente algumas teorias dos filósofos, começamos a
pensar que a nossa opinião possa estar errada, pois há boas teorias que nos dão
boas razões para pensar o contrário do que era a nossa opinião.
Desfazer esta confusão é essencial senão os alunos que
iniciam o seu estudo de filosofia no 10º ano pensam que vão para as aulas
apenas dar a sua opinião pessoal sobre os problemas.
A diferença principal que nos interessa aqui saber entre
filosofia e ciência, é que ao passo que uma boa teoria em ciência gera consenso
na comunidade de cientistas, isso é mais difícil acontecer na filosofia. Em
regra temos várias teorias que se disputam entre si. Mas isto não acontece porque
os filósofos sejam tipos teimosos e que lhes apetece passar o tempo a
contradizer os outros filósofos. Isto acontece porque os problemas da filosofia
são difíceis de resolver. É difícil saber, por exemplo, qual a coisa certa a
fazer do ponto de vista moral, ou saber se é possível ter uma boa definição de
arte, ou saber se os números possuem uma existência real como pensamos que
possuem quase todos os outros objectos.
Isto por si só exige um estudo muito sério das teorias dos
filósofos e ao mesmo tempo, devagar, começamos também nós próprios a tentar
resolver esses problemas. Esta é a natureza da filosofia. Mas para a fazer é
preciso muito mais do que nos sentar numa cadeira numa aula de filosofia e
dizer a primeira coisa que nos apatece sobre os problemas. Para isso não
precisávamos das aulas de filosofia, pois é isso mesmo que fazemos todos os
dias na mesa do café com os amigos. Quando estamos a conversar passamos em
revista muitos dos problemas da filosofia, isto porque eles são fundamentais
para a vida dos seres humanos. Assim, damos opiniões sobre justiça e injustiça,
o certo e o errado, o belo e o feio, a existência de divindades, etc. pelo
contrário muito raramente falamos da lei da gravidade, ou da massa dos
objectos, etc. isto porque a ciência anda à nossa volta, mas não são problemas
que preocupem as pessoas no seu dia a dia. Talvez isso seja assim porque não
sabemos fazer ciência. Mas sabemos mais ou menos argumentar. E por isso achamos
que isso basta para fazer filosofia, como se saber fazer contas bastasse para
fazer de nós matemáticos. Tal como em matemática é interessante fazermos
exercícios, também o mesmo acontece na filosofia.
Em conclusão: é por isso que a definição de filosofia não
depende da opinião de cada um, mas do estudo sistemático e atento da própria
filosofia e das teorias dos filósofos. De resto, como aprendeste nas aulas de
filosofia podemos não conseguir uma definição explícita (por meio de condições
necessárias e suficientes) de filosofia, mas também não temos definições explícitas
da maioria das coisas à nossa volta. Daí não se segue que:
a)
Não
podemos definir implicitamente a filosofia, fazendo-a, por exemplo.
b)
Não
a possamos caracterizar em 2 ou 3 minutos.
Segue-se daqui que é errado pressupor que a filosofia depende
da opinião de cada um.
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