Sempre fui um entusiasta dos exames e das avaliações externas.
Sinto que o meu trabalho alcança outro valor. Mas já me habituei a exames mal
feitos e que questionam o que é deslocado e central nas disciplinas. Mesmo nada
sabendo dos programas de Geologia / Biologia, esta semana estive de serviço com
uma turma de estudantes do 10º ano para realizarem o teste intermédio dessa
disciplina. Ao ler o enunciado rapidamente me apercebi que grande parte das
perguntas eram mais de interpretação de português do que de biologia ou
geologia, isto para além da estrutura do teste meter algum dó. Constituído por
4 grupos, todos eles exactamente com a mesma estrutura, como se fossem 4 testes
independentes, mas para 90m. Mas deixo este trabalho de análise para os
professores da disciplina. Agora quero apenas centrar-me numa primeira análise
ao teste intermédio de filosofia.
O primeiro aspecto criticável neste teste é que pede demasiada
interpretação de texto e não pede uma só vez que o aluno pense os problemas filosóficos, que é o núcleo da disciplina. O mesmo Ministério que pede aos
professores para inovarem e saírem do mero ensino expositivo que exige somente
a repetição acrítica, depois quando faz o seu trabalho, nada mais faz senão do
que repetir velhas fórmulas. E a velha fórmula, neste caso, é pedir ao
estudante que vá a textos e os interprete e ao mesmo tempo que recorra à
memória para aplicar conhecimentos, que o estudante pode ter memorizado mesmo
sem compreender. Uma cabeça bem pensante pode não acertar neste teste. E um
professor que se tenha dedicado mais a discutir e ensinar a discutir os
problemas vê agora os seus estudantes confrontados com um teste que lhes exige
algo contrário. Adiante.
O percurso B do grupo ii, pede um exercício para testar a
validade de um argumento. Contrariamente ao que indica as informações prévias
de conteúdos para este teste, a disjunção que aparece na primeira premissa é
exclusiva e não inclusiva, mas depois nos critérios de correcção a sugestão é a
resolução com uma inclusiva. Ainda que possa ser pouco relevante para a
validade do argumento não vejo qualquer necessidade de confundir mais um pouco
as coisas. Depois pede que se teste a validade pelo método de tabelas de
verdade. Ora os inspectores de circunstâncias usam tabelas de verdade, mas o
que ali se devia pedir era um teste pelo inspector de circunstâncias. Aconselho
a ver no DEF as definições para Inspectores de Circunstâncias e Tabelas de Verdade.
De notar ainda que não se percebe como é que a filosofia tem
um património tão rico de textos e depois as opções dos textos para estes
testes são tão pobres. É o caso do texto de Delfim Santos. Confesso que quando
li a questão, a primeira do Grupo iii, nem percebi bem o que se pede ali. E
ainda agora, após já ter lido algumas vezes o texto, se me posicionar como
examinado, pura e simplesmente ficaria perdido, sem saber o que responder. A questão pede que esclareça o sentido de uma
frase. Não pede mais nada. Ora, pensando que se trata de uma questão dirigida
aos conteúdos a explorar na Estrutura do Acto de conhecer, questiono-me onde
ficaram questões centrais como a tese CVJ de Platão ou as objecções de Gettier,
os tipos de conhecimento, etc… Na minha opinião há aqui uma cedência à
dispersão de maneiras de ensinar este capítulo que até muitas vezes confunde modelos
de conhecimento, como a fenomenologia, com a estrutura do acto de conhecer,
como lhe chama o programa. A verdade é que há professores que não ensinam a
tese de Platão ou os tipos de conhecimento e é igualmente verdade que o
programa não o pede de forma explícita. Então há que colocar uma questão na
qual caiba lá tudo. Mas não há razão para o disparate obscurantista que nada
dignifica o exame, quando antes se elaborou uma informação exame na qual se
deveria ter especificado bem os conteúdos a testar.
As questões sobre Hume e Descartes são pedidos de comparação
e de explicitação, nada mais.
Não sei avaliar se este teste é difícil ou fácil, nem penso
que essa questão deva ser colocada para testes ou exames, já que isso envolve
outras questões. Mas é claro que o teste não é um teste de filosofia.
Uma palavra final. Se por um lado é bom responsabilizar todo o sistema de ensino com avaliações externas utilizando testes e exames, por outro não se percebe a razão pela qual se elaboram ainda exames com um nível abaixo do desejável. Mas prefiro para já insistir com a minha eventual ingenuidade ao pensar que com tempo e experiência se melhoram estas práticas. Espero...
Uma palavra final. Se por um lado é bom responsabilizar todo o sistema de ensino com avaliações externas utilizando testes e exames, por outro não se percebe a razão pela qual se elaboram ainda exames com um nível abaixo do desejável. Mas prefiro para já insistir com a minha eventual ingenuidade ao pensar que com tempo e experiência se melhoram estas práticas. Espero...
Para ver o exame clicar aqui.
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