quarta-feira, 25 de abril de 2012

Escrever Ensaios - Orientações

Alguns alunos têm colocado questões sobre o ensaio argumentativo a ser entregue até ao próximo dia 10 de Maio. Dei indicações de um documento que remetia para os aspectos principais do ensaio, ainda que nas aulas esses tópicos fossem explorados. Mas encontrei aqui um documento que sintetiza bem o que se pretende. Este é o LINK directo e reproduzo aqui o texto:



1. O que é um ensaio e o que se espera que os alunos mostrem ao produzir um ensaio?
Um ensaio é um texto argumentativo em que se defende uma posição sobre um determinado problema filosófico. Os ensaios feitos por alunos do Ensino Secundário não devem ter mais de 2 páginas (com uma fonteTimes New Roman, tamanho 11 e 1,5 de espaço entre linhas), obrigando-os a concentrar-se no essencial e a deixar de lado as meras associações de ideias.
O ensaio deve mostrar que o seu autor sabe relacionar clara e correctamente os problemas, teorias e argumentos em causa. Por isso deve ter a forma de resposta a uma pergunta. Pergunta essa à qual se deve poder responder com um "sim" ou com um "não", procurando o aluno avaliar criticamente os principais argumentos em confronto, de modo a tomar uma posição pessoal na disputa.
Num ensaio, o aluno não se pode limitar a dar a sua opinião. Tem também de avançar com argumentos e de responder aos argumentos contrários. Caso não lhe pareça possível defender uma das partes, deverá dizer, de forma argumentada, porquê.
2. Como se deve preparar um ensaio?
Lendo criticamente o pequeno conjunto de leituras indicadas pelo professor (1 ou 2 pequenos artigos ou capítulos de livros) acerca do tema proposto. Nessas leituras devem procurar-se as teses em confronto e os argumentos que as sustentam, bem como a correcta compreensão do que está em causa. O aluno deverá guiar as suas leituras tendo em conta a pergunta a responder, pois o objectivo não é fazer um relatório de todos os argumentos e posições apresentadas nas leituras, mas que seja capaz de isolar aqueles que acha mais pertinentes de modo a responder à questão.
3. Como escolher o título do ensaio?
A melhor maneira de intitular o ensaio é apresentar o mais claramente possível o problema que se vai tratar. E a melhor maneira de o fazer é colocar uma pergunta.
Exemplos de títulos de ensaios podem ser:
  • Será que quando fazemos juízos morais estamos apenas a exprimir as nossas emoções?
  • Será que os animais têm direitos?
  • A pena de morte é moralmente aceitável?
  • Será que as nossas acções são boas ou más apenas em função das suas consequências práticas?
  • Será que todas as obras de arte expressam sentimentos?
  • É a existência do mal compatível com a existência de Deus?
Títulos como:
  • A moral e as emoções
  • Os direitos dos animais
  • A pena de morte
  • A arte e a expressão de sentimentos
  • Deus e o mal
embora possam ser adequados em ensaios mais longos e abrangentes, devem aqui ser evitados pois não parecem obrigar os seus autores a tomar posição nem a ser críticos e argumentativos. Além de que, a tentação de fazer um relatório de tudo o que aprendeu sobre o tema em causa será mais forte perante tais temas.
4. Como se deve estruturar o ensaio?
O ensaio deve ser estruturado de acordo com as seguintes seis fases.
  1. Formular o problema e esclarecer de forma rigorosa o que está em causa.
  2. Mostrar a importância do problema.
  3. Apresentar o mais claramente possível a tese que se quer defender.
  4. Apresentar os argumentos a favor dessa proposição.
  5. Apresentar as principais objecções ao que acabou de ser defendido.
  6. Responder às objecções e tirar as suas conclusões.
Em 1 muitas vezes não basta formular o mais claramente possível o problema para as coisas ficarem completamente claras e não haver margem para dúvidas ou ambiguidades. Temos também de explicar as noções principais envolvidas. Quando, por exemplo, se pergunta se os animais têm direitos, é preciso saber exactamente que direitos são esses e dar exemplos concretos; assim como devemos deixar bem claro se nos estamos a referir a todos os animais (incluindo os piolhos e as baratas) ou só a alguns. Do mesmo modo, quando discutimos se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, temos de esclarecer que concepção de Deus temos em mente (se é o Deus dos teístas, dos panteístas, etc., e o que isso significa), pois há diferentes concepções acerca da natureza de Deus; assim como devemos esclarecer de que tipo de mal se está a falar.
Em 2 devemos procurar mostrar por que razão, ou razões, é importante que nos ocupemos do problema de que nos ocupamos. Uma maneira de fazer isso é mostrar o que estaríamos a perder se não o fizéssemos. Se, por exemplo, nos perguntamos se é imprescindível estudar lógica formal em filosofia e a nossa resposta à questão for afirmativa, então devemos mostrar que, se não o fizermos, não só nos arriscamos a cometer erros de raciocínio, mas também a não compreender os raciocínios dos outros.
Em 3 devemos apresentar a nossa posição. Isso deve ser feito mostrando qual é a proposição que irá ser defendida. Por exemplo, em relação ao problema de saber se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, e caso a nossa resposta seja afirmativa, podemos tornar clara a nossa posição começando por dizer que defendemos a proposição "Deus existe, apesar de existir o mal no mundo" e explicar sucintamente o que isso significa. Em certos casos é possível e desejável apresentar exemplos do tipo de ideias que queremos defender.
Em 4 devemos apresentar cuidadosamente os argumentos a favor da proposição que queremos defender. Pode haver vários argumentos. Alguns deles podem até ser argumentos tradicionais, discutidos por alguns dos mais destacados filósofos. Nesse caso devemos concentrar-nos apenas nos dois ou três que nos parecem ser os mais fortes e expô-los por palavras nossas, tentando mostrar que são válidos e que as suas premissas são verdadeiras ou, pelo menos, que são bastante plausíveis.
Em 5 devemos enfrentar as principais objecções aos nossos argumentos (quer indicando possíveis contra-exemplos ao que é afirmado em alguma das premissas, quer disputando a sua plausibilidade ou até a validade dos próprios argumentos). Devemos procurar as objecções que nos parecem mais fortes e não escolher apenas as mais fracas e fáceis de responder. Nesta parte devemos apoiar-nos nas leituras que nos foram previamente recomendadas. Devemos também aqui apresentar as objecções por palavras nossas e não limitar-nos a citar os autores consultados, pois só assim mostramos compreender o que escrevemos.
Em 6 devemos dizer o que há de errado com as objecções avançadas anteriormente ou como lhes responder. Um aluno que defenda num ensaio o direito ao aborto, por exemplo, sem responder aos argumentos contrários ao aborto presentes nas leituras dadas pelo professor, exibe um deficiente domínio da dialéctica filosófica; é preciso que o aluno compreenda que tem de entrar em diálogo com as ideias e argumentos que leu. Devemos terminar resumindo muito brevemente o nosso argumento principal e expor as nossas dúvidas, caso existam (mesmo que nos inclinemos mais para um dos lados).
5. O que se avalia num ensaio?
O professor não procura saber se o aluno concorda ou não consigo. O que procura saber é, em termos gerais, o seguinte:
  • Qual é o grau de compreensão dos assuntos por parte do aluno?
  • Que qualidade têm os argumentos que oferece?
  • A redacção é clara e bem organizada?
Mais detalhadamente, o professor verifica se os seguintes critérios são satisfeitos:
  • o problema em causa é clara e correctamente formulado
  • a importância do problema é claramente mostrada
  • a tese defendida é óbvia para o leitor
  • os argumentos utilizados são bons e não há falácias evidentes
  • apresenta os principais argumentos contrários à tese defendida de forma caridosa
  • responde aos argumentos contrários
  • apresenta as ideias de forma pessoal (utilizando palavras suas e os seus próprios exemplos)
  • a estrutura do ensaio e as ideias nele apresentadas são claras para o leitor
6. Como se classifica um ensaio?
  • Se um aluno não satisfaz nenhum dos critérios anteriores, tem classificação negativa inferior a 8 valores numa escala de 20 valores.
  • Se um aluno não satisfaz alguns dos critérios e satisfaz parcialmente os outros, tem classificação negativa de 8 ou 9 valores.
  • Se um aluno satisfaz parcialmente todos os critérios, tem classificação positiva entre 10 e 12 valores.
  • Se um aluno satisfaz parcialmente alguns critérios e satisfaz totalmente os outros, tem classificação positiva entre 13 e 15 valores.
  • Se um aluno satisfaz totalmente os critérios, à excepção de um deles, tem classificação positiva de 16 ou 17 valores.
  • Se um aluno satisfaz totalmente os critérios, tem 18 valores.
  • Se um aluno, além de satisfazer totalmente os critérios anteriores, consegue mesmo assim surpreender pela positiva, tem 19 ou 20 valores.

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