Matthew Donnelly era um físico que trabalhou com raios X durante 30 anos. Talvez devido à exposição excessiva à radiação, contraiu cancro e perdeu parte da sua maxila, o lábio superior, o nariz, a mão esquerda e ainda dois dedos da mão direita. Além disso, ficou cego. Os médicos do Sr. Donnelly disseram-lhe que tinha cerca de um ano de vida, mas ele decidiu que não queria continuar a viver em tal estado. Sentia dores permanentes. Um cronista afirmou que «nos piores momentos, deitado na cama, de dentes cerrados, viam-se gotas de suor a correr-lhe pela fronte». Sabendo que ia morrer de qualquer das maneiras, e desejando escapar à sua desgraça, o Sr. Donnelly pediu aos seus três irmãos para o matarem. Dois recusaram, mas o último não. O irmão mais novo, Harold Donnelly, de 36 anos, levou para o hospital uma pistola de calibre 30 e matou Matthew.
Isto é, infelizmente, uma história verdadeira, e levanta naturalmente a questão de saber se Harold Donnely fez mal. Por um lado, podemos pensar que foi motivado por sentimentos nobres; amava o irmão e apenas desejava libertá-lo do sofrimento. Além disso, Matthew pedira para morrer. Tudo isto clama por um juízo indulgente. No entanto, segundo a tradição moral dominante da nossa sociedade, o que Harold Donnelly fez é inaceitável.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Filosofia Aberta, Gradiva (Trad. F J Azevedo Gonçalves)
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