quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Boas palavras sobre educação

Uma das coisas que mais impressiona em qualquer discurso sobre educação em Portugal é a inexistência de teses contrárias à do «eduquês». Ainda que as teses construtivistas e românticas tenham muito a dizer sobre a educação, é pena quando as mesmas são transformadas em ideologia e em pensamento único. Qualquer tese só tem implicações reais quando sujeita à discussão pública. Este é um dos males que afecta também a investigação feita nas universidades portuguesas em matéria de educação. Praticamente só se olha um lado da realidade, como se não pudesse existir mais verdade para além da professada. É neste seguimento que fiquei admirado com as palavras de Paulo Rangel, político português, sobre a educação. São palavras desafiantes para aquilo que tem sido transformado como ideologia. E há que encarar com coragem a hipótese de que a escola do facilismo produz o resultado oposto ao esperado, isto é, não beneficia os alunos provenientes de meios culturalmente mais desfavorecidos. Não é retirando a esses alunos a possibilidade de aprenderem ciência, física, matemática, filosofia, história e substituindo essas disciplinas pela conversa fiada da cidadania e quejandos que tais que se contribui para a liberdade de conhecimento de todos. É que os mais ricos podem pagar para aprender o que realmente tem valor formativo, ao passo que os mais pobres ficam sem acesso ao conhecimento. Soube bem saber que há políticos que pelo menos vão tendo alguma coerência no discurso. Não me parece que seja da competência de um político saber sobre educação, mas vale sempre a pena ter alguma posição coerente e desafiante da ideologia mais comum.


Acho que houve um modelo de educação baseado no facilitismo e na ideia de que o aluno é o centro da educação. Ora, eu penso exactamente o contrário. Penso que a escola deve ser visto como um valor colectivo, é um centro de transmissão do saber, de transmissão geracional do saber. O que é fundamental na escola é exigência e rigor no ensino. Considero que é muito mais importante, por exemplo, o sistema de avaliação dos alunos e de qualidade do ensino do que o sistema de avaliação dos professores.Considero mais importante a questão da autoridade e da disciplina na escola do que a questão da carreira dos professores. E considero que isto é feito em nome de um projecto de igualdade de oportunidades, porque uma escola facilitista é a escola que protege as classes mais altas. Uma escola pública facilitista é a que mais favorece a estratificação social. Porque as classes mais baixas do ponto de vista sócio-cultural ou económico-cultural não têm outro sítio onde aprender além da escola – não têm colégios privados. Neste momento, eu diria que temos quase uma escola classista que, cada vez mais, aumenta o fosso entre as classes privilegiadas e as menos privilegiadas.

Paulo Rangel (Entrevista no Jornal I de 18/02/2010)

4 comentários:

Renato Martins disse...

Excelentes palavras, e não me parecem politiquês, parecem-me mesmo honestas. Arrisca-se a ganhar as eleições. Precisamos de facto de um discurso mais concreto acerca da educação.

abraço

Rolando Almeida disse...

Olá Renato,
A verdade é que não é habitual ver políticos a apresentarem posições diferentes do discurso ideológico. Vou estar mais atento a este político. mas quanto a ganhar eleições tenho muitas dúvidas. Aliás, a primeira prova vai ser se ele ganha sequer as eleições dentro do próprio partido.
abraço

Renato Martins disse...

Parece-me concreto sabes? Ja hoje disse algo sobre a agricultura que me agradou... (atenção que estes meu comentarios nao devem ser vistos como manifestações politicas da minha pessoa)

Espero que esteja tudo bem ai no Funchal contigo e com os que te são proximos.

abraço

Rolando Almeida disse...

Renato,
Felizmente estamos bem, mas a ilha está um caos. Nem sei bem como vão ser os próximos dias.
abraço