A J Ayer
Emotivismo
Outra teoria meta-ética importante é conhecida como emotivismo ou não cognitivismo. Os emotivistas, como A. J. Ayer (1910-1988), no capítulo 6 de Linguagem, Verdade e Lógica, defendem que nenhuma afirmação ética tem literalmente sentido. Não exprimem quaisquer factos; o que exprimem é a emoção do locutor. Os juízos morais não têm nenhum significado literal: são apenas expressões de emoção, como resmungos, bocejos ou gargalhadas.
Outra teoria meta-ética importante é conhecida como emotivismo ou não cognitivismo. Os emotivistas, como A. J. Ayer (1910-1988), no capítulo 6 de Linguagem, Verdade e Lógica, defendem que nenhuma afirmação ética tem literalmente sentido. Não exprimem quaisquer factos; o que exprimem é a emoção do locutor. Os juízos morais não têm nenhum significado literal: são apenas expressões de emoção, como resmungos, bocejos ou gargalhadas.
Logo,
quando alguém diz «a tortura está errada» ou «devemos dizer a verdade», está a
fazer pouco mais do que mostrar o que sente em relação à tortura e à
honestidade. O que dizem não é verdadeiro nem falso: é mais ou menos o mesmo do
que gritar «Abaixo!» perante a tortura e «Viva!» perante a honestidade. Na
verdade, tem-se chamado por vezes ao emotivismo a teoria do abaixo/viva. Tal como quando uma pessoa grita «Abaixo!»
ou «Viva!» não está geralmente apenas a mostrar como se sente, mas também a
tentar encorajar as outras pessoas a partilhar o seu sentimento, também com as
afirmações morais o locutor está frequentemente a tentar persuadir alguém a
pensar da mesma maneira acerca do tema em causa.
Críticas ao Emotivismo
A discussão moral é impossível
A discussão moral é impossível
Uma das críticas ao emotivismo é que, se fosse verdadeiro, toda a discussão
moral seria impossível. O mais parecido com uma discussão moral a que
poderíamos chegar seria uma situação em que duas pessoas expressassem as suas
emoções uma à outra: o equivalente à situação em que uma grita «Abaixo!» e a
outra «Viva!» Mas, alega esta crítica, existem debates sérios de temas morais;
logo, o emotivismo é falso.
Contudo,
um emotivista não veria esta crítica como uma ameaça à teoria. Usam-se muitos
tipos diferentes de argumentos nos chamados debates morais. Por exemplo, ao
discutir a questão ética prática de saber se o aborto voluntário é ou não
moralmente aceitável, o que está em questão pode ser em parte uma questão
factual. O que está a ser discutido pode ser a questão de saber com quantas
semanas um feto seria capaz de sobreviver fora do útero. Esta seria uma questão
científica e não ética. Ou então, algumas pessoas, aparentemente empenhadas num
debate ético, podem estar preocupadas com a definição de termos éticos como
«bem moral», «mal moral», «responsabilidade», etc.: o emotivista admitiria que
tal debate poderia ter sentido. Só os verdadeiros juízos morais, como «é errado
matar pessoas», são meramente expressões da emoção.
Assim,
um emotivista concordaria que existe de facto algum debate com sentido acerca
de questões morais: a discussão só se torna uma expressão sem sentido da emoção
quando os intervenientes proferem verdadeiros juízos morais.
Consequências perigosas
Uma
segunda crítica ao emotivismo é que, mesmo que seja verdadeiro, terá
provavelmente consequências perigosas. Se toda a gente acabasse por acreditar
que uma frase como «o assassínio é mau» era equivalente a afirmar «assassínio
-- puh!», então, defende esta crítica, a sociedade entraria em colapso.
Uma
perspectiva, como a kantiana, de que os juízos morais se aplicam a toda a gente
-- de que são impessoais -- oferece boas razões para que as pessoas obedeçam a
um código moral aceite de maneira geral. Mas se tudo o que estamos a fazer
quando proferimos um juízo moral é exprimir as nossas emoções, então não parece
ser muito importante quais os juízos morais que escolhemos: poderíamos
igualmente dizer «torturar crianças é moralmente bom», se isso corresponder ao
nosso sentimento; e ninguém pode empreender uma discussão moral significativa
connosco acerca deste juízo: o melhor que alguém pode fazer é exprimir os seus
próprios sentimentos morais no que respeita à questão.
Contudo,
isto não é verdadeiramente um argumento contra o emotivismo, uma vez que não
põe a teoria em causa directamente: indica apenas os perigos para a sociedade
que a aceitação generalizada do emotivismo acarretaria, o que é outra questão.
Nigel Warburton, Elementos Básicos de
Filosofia, Trad. Desidério Murcho
Sem comentários:
Enviar um comentário