sábado, 30 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
A subjetividade não é ideal e a polaridade não é problema
Com alguma frequência apresenta-se a polaridade dos valores,
assim como a hierarquia como matérias centrais no estudo dos valores no 10º
ano. Ora, nem a polaridade nem a hierarquia traduzem qualquer problema para os
filósofos que seja relevante. Afirmar que os valores tem polaridade, um polo
positivo e um negativo não é mais do que uma trivialidade. E não se pede mais
ao estudante do que saber uma série de antónimos: belo/feio; Justo/injusto;
Certo/errado, etc. Didaticamente e para o ensino da filosofia em especial, a
propalada polaridade dos valores não possui qualquer interesse. Além disso o
que faz o aluno com esse conhecimento? Que competência filosófica relevante
está a exercitar? O espírito crítico não é certamente. Ademais perder tempo com
estas coisas é tornar o ensino da disciplina enfadonho e inútil. Claro parece
que o professor pode fazer referência a este tipo de conteúdo, sem prejuízo
algum. No entanto não o deve colocar no patamar dos conteúdos relevantes e
centrais a saber. Se os manuais o fazem, pior ainda.
O mesmo se passa em relação à hierarquia de valores. Não mais
se faz a não ser constatar trivialidades, como a de que diferentes sociedades
possuem diferentes hierarquias.
Qual é, então, o problema central nesta unidade e
didaticamente relevante para ser abordada nas aulas de filosofia?
Algumas vezes observei que se define objetividade e
subjetividade de um modo errado e absurdo. Cheguei mesmo a ver subjetividade
definida como “ideal” ao passo que objetividade é definida como “objeto”. Claro
que os estudantes não percebem isto. E não percebem porque: 1º nada há a
perceber; 2º é uma confusão das coisas e está errado.
Subjetividade e objetividade respeita às afirmações que
fazemos e à sua relação com a verdade. Fazemos afirmações sobre factos e
afirmações sobre valores, vulgo juízos de facto e juízos de valor. Especialmente
no secundário haveria de corrigir alguns aspetos terminológicos. Isto porque se
ensina na primeira unidade o que é uma proposição, mas quando se fala em
valores fala-se em juízos. Nada me parece errado aqui. Mas seria preferível
referir “proposições sobre factos” e “proposições sobre valores”, já que é
disso que se trata e, desse modo, habituávamos os estudantes a uma
uniformização lexical que me parece de todo vantajosa, pelo menos neste nível
de ensino. Não digo que não se possa distinguir de alguma maneira juízos de
proposições, mas tal não apresenta qualquer vantagem para a compreensão dos
problemas e apresenta a desvantagem de uma vez se falar em proposições e outras
em juízos quando o referente é exatamente o mesmo. Voltando ao assunto, o que
interessa aqui distinguir é que ao passo que proposições sobre factos têm valor
de verdade, isto é, são verdadeiras ou falsas dependendo do estado de coisas no
mundo, o mesmo não sabemos em relação às proposições sobre valores. Pegando num
exemplo, a proposição “O João mede 1m76cm” tem valor de verdade, isto é, é
verdadeira se de facto o João mede 1m76cm e é falsa se o João mede, por
exemplo, 1m82cm. De igual modo a proposição “Deus existe” tem valor de verdade,
mesmo que não saibamos se existe ou não. Dito de outro modo que também aqui é
interessante, o valor de verdade de uma proposição sobre factos depende do
estado de coisas do mundo. E quanto ao valor de verdade de proposições sobre
valores? Aqui é que a questão filosófica surge e não saber se os valores tem 2
polos ou uma hierarquia. Ora, há teorias filosóficas que defendem que o valor
de verdade de proposições sobre valores não depende do estado de coisas no
mundo, tal como as proposições sobre factos, mas das crenças, preferências e
desejos dos sujeitos. Esta teoria chama-se subjetivista. Há até teorias que
defendem que os valores não tem qualquer valor proposicional, isto é, não são
mais do que a expressão dos estados emocionais dos sujeitos (Emotivismo). E
ainda há uma outra forma de subjetivismo que defende que a verdade de
proposições sobre valores depende do que cada sociedade aprova. A esta teoria
chama-se relativismo, também chamada relativismo cultural (já que existem
outras expressões de relativismo, como o epistémico, metafísico, etc) Por que
razão temos aqui problema filosófico? Vamos supor que defendemos o
subjetivismo. Nesse caso defendemos que a verdade de proposições sobre valores
depende diretamente das crenças, desejos e preferências de cada um. Se o Luís
acredita que X é correto, então X é correto (valores morais). Se o Luís
acredita que X é belo, então X é belo (valores estéticos). Se o Luís acredita
que X é justo, então X é justo (valores políticos). Há certamente muitas vantagens
(argumentos) na defesa do subjetivismo que não cabe neste curto texto explorar.
Mas há muitas objeções à teoria: torna a discussão sobre valores impraticável,
leva-nos a aceitar como corretos valores que pensamos serem inaceitáveis, etc…
É por essa razão que há uma tese que nega o subjetivismo. Sabendo um pouco de
lógica e tendo ensinado os alunos na primeira unidade a negar proposições, de
imediato percebemos que a negação da
tese “os valores são subjetivos” não é “os valores não são subjetivos”, mas
antes, “alguns valores não são subjetivos”. Com efeito aqui nem é preciso ter
noções de lógica. Basta pensar um pouco para perceber que há valores obviamente
subjetivos e daí não se segue problema algum. A questão de relevo é tentar saber
se haverá pelo menos alguns valores que não são subjetivos.
Referi apenas alguns breves aspetos do problema. Ensinar
filosofia e passar ao lado destes aspetos é ao mesmo tempo abrir portas para
que a disciplina perca qualquer interesse e utilidade na formação dos
estudantes.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Emotivismo Moral
A J Ayer
Emotivismo
Outra teoria meta-ética importante é conhecida como emotivismo ou não cognitivismo. Os emotivistas, como A. J. Ayer (1910-1988), no capítulo 6 de Linguagem, Verdade e Lógica, defendem que nenhuma afirmação ética tem literalmente sentido. Não exprimem quaisquer factos; o que exprimem é a emoção do locutor. Os juízos morais não têm nenhum significado literal: são apenas expressões de emoção, como resmungos, bocejos ou gargalhadas.
Outra teoria meta-ética importante é conhecida como emotivismo ou não cognitivismo. Os emotivistas, como A. J. Ayer (1910-1988), no capítulo 6 de Linguagem, Verdade e Lógica, defendem que nenhuma afirmação ética tem literalmente sentido. Não exprimem quaisquer factos; o que exprimem é a emoção do locutor. Os juízos morais não têm nenhum significado literal: são apenas expressões de emoção, como resmungos, bocejos ou gargalhadas.
Logo,
quando alguém diz «a tortura está errada» ou «devemos dizer a verdade», está a
fazer pouco mais do que mostrar o que sente em relação à tortura e à
honestidade. O que dizem não é verdadeiro nem falso: é mais ou menos o mesmo do
que gritar «Abaixo!» perante a tortura e «Viva!» perante a honestidade. Na
verdade, tem-se chamado por vezes ao emotivismo a teoria do abaixo/viva. Tal como quando uma pessoa grita «Abaixo!»
ou «Viva!» não está geralmente apenas a mostrar como se sente, mas também a
tentar encorajar as outras pessoas a partilhar o seu sentimento, também com as
afirmações morais o locutor está frequentemente a tentar persuadir alguém a
pensar da mesma maneira acerca do tema em causa.
Críticas ao Emotivismo
A discussão moral é impossível
A discussão moral é impossível
Uma das críticas ao emotivismo é que, se fosse verdadeiro, toda a discussão
moral seria impossível. O mais parecido com uma discussão moral a que
poderíamos chegar seria uma situação em que duas pessoas expressassem as suas
emoções uma à outra: o equivalente à situação em que uma grita «Abaixo!» e a
outra «Viva!» Mas, alega esta crítica, existem debates sérios de temas morais;
logo, o emotivismo é falso.
Contudo,
um emotivista não veria esta crítica como uma ameaça à teoria. Usam-se muitos
tipos diferentes de argumentos nos chamados debates morais. Por exemplo, ao
discutir a questão ética prática de saber se o aborto voluntário é ou não
moralmente aceitável, o que está em questão pode ser em parte uma questão
factual. O que está a ser discutido pode ser a questão de saber com quantas
semanas um feto seria capaz de sobreviver fora do útero. Esta seria uma questão
científica e não ética. Ou então, algumas pessoas, aparentemente empenhadas num
debate ético, podem estar preocupadas com a definição de termos éticos como
«bem moral», «mal moral», «responsabilidade», etc.: o emotivista admitiria que
tal debate poderia ter sentido. Só os verdadeiros juízos morais, como «é errado
matar pessoas», são meramente expressões da emoção.
Assim,
um emotivista concordaria que existe de facto algum debate com sentido acerca
de questões morais: a discussão só se torna uma expressão sem sentido da emoção
quando os intervenientes proferem verdadeiros juízos morais.
Consequências perigosas
Uma
segunda crítica ao emotivismo é que, mesmo que seja verdadeiro, terá
provavelmente consequências perigosas. Se toda a gente acabasse por acreditar
que uma frase como «o assassínio é mau» era equivalente a afirmar «assassínio
-- puh!», então, defende esta crítica, a sociedade entraria em colapso.
Uma
perspectiva, como a kantiana, de que os juízos morais se aplicam a toda a gente
-- de que são impessoais -- oferece boas razões para que as pessoas obedeçam a
um código moral aceite de maneira geral. Mas se tudo o que estamos a fazer
quando proferimos um juízo moral é exprimir as nossas emoções, então não parece
ser muito importante quais os juízos morais que escolhemos: poderíamos
igualmente dizer «torturar crianças é moralmente bom», se isso corresponder ao
nosso sentimento; e ninguém pode empreender uma discussão moral significativa
connosco acerca deste juízo: o melhor que alguém pode fazer é exprimir os seus
próprios sentimentos morais no que respeita à questão.
Contudo,
isto não é verdadeiramente um argumento contra o emotivismo, uma vez que não
põe a teoria em causa directamente: indica apenas os perigos para a sociedade
que a aceitação generalizada do emotivismo acarretaria, o que é outra questão.
Nigel Warburton, Elementos Básicos de
Filosofia, Trad. Desidério Murcho
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Exames. A opinião do Francisco
Publicado no DN Madeira de hoje, esta é a opinião de um ex aluno, o Francisco Maria. (Clicar na imagem para ler)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
As proposições sobre valores e a objetividade
Acabei de publicar dois textos para estudar a questão dos
valores e da possibilidade dos juízos acerca de valores (proposições sobre
valores) possuírem valor de verdade. Apareceram originalmente na Crítica e incluí na coleção de textos deestudo:
Pedro Galvão, Valores
e valoração: a questão dos critérios valorativos – Este texto é longo mas
serve de estudo para esta matéria e substitui os textos do manual. Acessível
aos alunos do secundário.
Bertrand Russell, Os valores são subjetivos
– Trata-se de uma defesa de uma posição sobre o problema. É um bom exercício a
leitura do texto e responder às questões que se lhe seguem.
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