sábado, 17 de outubro de 2015

Validade, solidez e cogência



Argumentamos para resolver problemas insuscetíveis de serem resolvidos empiricamente. Por essa razão a argumentação é central quando estudamos filosofia. Os bons argumentos reúnem 3 condições principais:
São válidos: se um argumento é válido isso significa que numa circunstância de verdade em que as premissas são todas verdadeiras, é impossível a conclusão ser falsa. Pode-se também dizer que a verdade da conclusão num argumento válido, implica a verdade da ou das premissas (um argumento pode ter uma ou mais premissas, mas só uma conclusão).
São sólidos: não queremos saber de falsidades, mas de verdades. A validade diz respeito à estrutura lógica do argumento. Assim, para um argumento ser bom, obviamente além de válido, convém que efetivamente as premissas sejam verdadeiras (e, por consequência, dado que é válido, a conclusão também). Chama-se sólido a um argumento válido com premissas verdadeiras.
São cogentes: Não basta que um argumento para ser bom seja sólido. É necessário que as premissas sejam mais credíveis (também se diz aceitáveis) que a própria conclusão. Quem aceita as premissas de um argumento sólido (e, claro, válido) aceita a conclusão. É a este efeito que se chama persuasão racional ou também honestidade intelectual.
Nota final
Obviamente os argumentos cogentes são muito difíceis de encontrar. Um argumento não é na maioria das vezes por si só, isoladamente, cogente. Isto acontece porque nos argumentos filosóficos raramente sabemos se as premissas são efetivamente verdadeiras ou falsas. É por isso que filosofamos. Filosofar é, neste sentido, encadear outros argumentos que justifiquem premissas. Podemos escrever um livro inteiro a justificar a verdade de uma premissa com recurso a argumentos. E por isso é que a filosofia é para muitas pessoas difícil, pois temos de seguir atentamente esse encadeamento de argumentos como se seguíssemos a construção de um puzzle. No caso da filosofia o puzzle é mental, já que as peças são as partes de um todo que é um raciocínio encadeado com outros raciocínios. 
Um pequeno exemplo
Assistimos hoje em dia a inúmeras discussões sobre a moralidade das touradas. Ocorre ocasionalmente o seguinte argumento:
“Os animais não humanos não têm quaisquer direitos morais, pois também não têm deveres. E só tem direitos quem tem deveres. Como os animais não têm deveres, logo, não têm direitos
Podemos recorrer a um argumento válido, sólido e cogente para refutar este argumento:
(P1) Se só possuísse direitos morais quem tem deveres morais, então os bebés não teriam direitos, pois não têm quaisquer deveres.
(P2) Ora, os bebés possuem direitos, mas não têm deveres morais
(c) Logo, é falso que só possui direitos quem tem deveres.

2 comentários:

Anónimo disse...

O exemplo final é pataroco já que pretende colocar duas realidades distintas no mesmo patamar. Animais irracionais e animais racionais, num estádio inicial do seu desenvolvimento. Comparar o não comparável é em si mesmo uma distorção falaciosa.
O não tratar mal os animais não passa pelo atribuir direitos a um ser que não pode ser sujeito de direitos. Logicamente uma patetice.

Anónimo disse...

Num estado ainda que primário um cão adulto é capaz de elaborar esboços de raciocínios que um humano recém nascido não é capaz. Estudos revelam que um cão faz escolhas racionais, pelo que a racionalidade está longe de ser a marca distintiva de ser ser humano. Por isso mesmo a definição mais consensual para ser humano, é como animal pertencente à espécie homo sapiens e não propriamente ser racional .