Argumentamos para resolver problemas insuscetíveis de serem
resolvidos empiricamente. Por essa razão a argumentação é central quando
estudamos filosofia. Os bons argumentos reúnem 3 condições principais:
São válidos: se um argumento é válido isso
significa que numa circunstância de verdade em que as premissas são todas
verdadeiras, é impossível a conclusão ser falsa. Pode-se também dizer que a
verdade da conclusão num argumento válido, implica a verdade da ou das
premissas (um argumento pode ter uma ou mais premissas, mas só uma conclusão).
São sólidos: não queremos saber de falsidades,
mas de verdades. A validade diz respeito à estrutura lógica do argumento. Assim,
para um argumento ser bom, obviamente além de válido, convém que efetivamente as
premissas sejam verdadeiras (e, por consequência, dado que é válido, a
conclusão também). Chama-se sólido a um argumento válido com premissas
verdadeiras.
São cogentes: Não basta que um argumento para ser
bom seja sólido. É necessário que as premissas sejam mais credíveis (também se
diz aceitáveis) que a própria conclusão. Quem aceita as premissas de um
argumento sólido (e, claro, válido) aceita a conclusão. É a este efeito que se
chama persuasão racional ou também
honestidade intelectual.
Nota final
Obviamente os argumentos cogentes são muito difíceis de
encontrar. Um argumento não é na maioria das vezes por si só, isoladamente,
cogente. Isto acontece porque nos argumentos filosóficos raramente sabemos se
as premissas são efetivamente verdadeiras ou falsas. É por isso que
filosofamos. Filosofar é, neste sentido, encadear outros argumentos que
justifiquem premissas. Podemos escrever um livro inteiro a justificar a verdade
de uma premissa com recurso a argumentos. E por isso é que a filosofia é para
muitas pessoas difícil, pois temos de seguir atentamente esse encadeamento de
argumentos como se seguíssemos a construção de um puzzle. No caso da filosofia
o puzzle é mental, já que as peças são as partes de um todo que é um raciocínio
encadeado com outros raciocínios.
Um pequeno exemplo
Assistimos hoje em dia a inúmeras discussões sobre a
moralidade das touradas. Ocorre ocasionalmente o seguinte argumento:
“Os animais não humanos
não têm quaisquer direitos morais, pois também não têm deveres. E só tem
direitos quem tem deveres. Como os animais não têm deveres, logo, não têm
direitos”
Podemos recorrer a um argumento válido, sólido e cogente para
refutar este argumento:
(P1) Se só possuísse direitos
morais quem tem deveres morais, então os bebés não teriam direitos, pois não
têm quaisquer deveres.
(P2) Ora, os bebés
possuem direitos, mas não têm deveres morais
(c) Logo, é falso que
só possui direitos quem tem deveres.
2 comentários:
O exemplo final é pataroco já que pretende colocar duas realidades distintas no mesmo patamar. Animais irracionais e animais racionais, num estádio inicial do seu desenvolvimento. Comparar o não comparável é em si mesmo uma distorção falaciosa.
O não tratar mal os animais não passa pelo atribuir direitos a um ser que não pode ser sujeito de direitos. Logicamente uma patetice.
Num estado ainda que primário um cão adulto é capaz de elaborar esboços de raciocínios que um humano recém nascido não é capaz. Estudos revelam que um cão faz escolhas racionais, pelo que a racionalidade está longe de ser a marca distintiva de ser ser humano. Por isso mesmo a definição mais consensual para ser humano, é como animal pertencente à espécie homo sapiens e não propriamente ser racional .
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