terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Filosofia & matemática

Fica aqui o registo da ação hoje pela manhã a convite dos professores de matemática, nas Jornadas de Matemática da Escola Secundária Jaime Moniz. Obrigado a todos.






sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O teste Kantiano para avaliar as ações

Na avaliação moral das ações, para Stuart Mill o que interessa são as consequências da ação. Pelo contrário, para Kant o que interessa são os motivos do agente e não as consequências da ação. Analisar os motivos é ver por que razão o agente realiza uma determinada ação.

Para Kant as ações que têm valor moral são realizadas por dever. Agir por dever é agir somente motivado pela razão e não em função de inclinações ou desejos; ou seja, é ter autonomia da vontade. E chama-se a esta vontade que cumpre o dever pelo próprio dever de vontade boa – é este o bem último para Kant.

Ao agirmos exclusivamente pela razão, por dever e com vontade boa, estamos a obedecer ao imperativo categórico, isto é, uma ordem incondicional que nos dá uma obrigação moral. Então, o que faz uma ação ser correta é cumprir o imperativo categórico.


Existem várias formulações deste imperativo categórico. Aqui vamos atender apenas à fórmula da lei universal que nos diz: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”.

A ideia é que devemos agir apenas de acordo com regras que podemos querer que todos os agentes adotem. Isto não consiste em ver se seria bom ou mau que todos agissem de acordo com uma determinada regra. Consiste, antes, em mostrar se é ou não possível todos agirem segundo essa regra. 

De uma forma mais prática, o teste para se determinar a moralidade de uma ação é o seguinte:

(1)   Que regra (máxima) estamos a seguir se realizarmos esta ação?
(2) Estamos dispostos a que essa regra (máxima) seja seguida por todos e em todas as situações?

Sim: essa regra (máxima) torna-se lei universal e, consequentemente, o ato é moralmente permissível.

Não
: essa regra (máxima) não pode ser seguida e, consequentemente, o ato é moralmente proibido.


Este teste do imperativo categórico pode tornar-se mais compreensível com alguns exemplos:
Exemplo 1
A Francisca é dona de um hotel que nunca engana os clientes, fazendo sempre um preço justo. Ela faz isso não por interesse (para não perder os clientes), mas simplesmente por dever de ser honesta. Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?
 Sim. Porque (1) a máxima é “venderás sempre a um preço justo, porque é um dever ser honesto”. E (2) é possível todos agirmos segundo essa máxima e querermos que todos obedeçam a essa máxima.
Exemplo 2
O Gustavo mente ao Joel sobre uma traição da sua namorada Daniela, pois não quer que o Joel sofra (tem assim compaixão por ele). Acontece que o Joel passa a andar traído sem o saber. Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?

 Não. Porque (1) a máxima é “mentirás porque tens compaixão”. E (2) não poderíamos querer que a mentira fosse uma lei universal, pois isso derrotar-se-ia a si mesmo: as pessoas descobririam rapidamente que não podiam confiar no que os outros disseram, e por isso ninguém acreditaria nas mentiras.
É importante que os alunos não fiquem apenas pela teoria, mas que saibam também aplicar a teoria a casos concretos do quotidiano, de modo a determinarem se estão perante uma ação moral ou não de acordo com a ética deontológica de Kant. Para isso, podem-se utilizar situações parecidas com as dos exemplos 1 e 2.
Domingos Faria, in, http://manualescolar2.0.sebenta.pt/projectos/fil10/posts/1161

Definir eutanásia

Recentemente ao passar os canais de TV vi um debate organizado sobre o problema da eutanásia. Não tive oportunidade de assistir a todo o debate, mas pareceu-me que alguns dos intervenientes confundiam as definições de eutanásia. É por isso que o trabalho prévio de definir conceitos é tão relevante em qualquer discussão minimamente organizada. Neste pequeno apontamento vou registar as principais definições do conceito de eutanásia para servir de auxiliar à discussão. Com as distinções feitas, a discussão torna-se mais clara.
Etimologicamente o termo eutanásia deriva de duas palavras gregas (eu e thanatos) que significam morte boa ou suave. Em muitos casos o termo eutanásia também significa morte misericordiosa dado que a motivação é agir humanamente para com uma pessoa que está a sofrer.
A segunda distinção a ter em conta é entre o que é legal e o que é moral. Muitas vezes, como vi acontecer programa de TV, associamos o legal e o moral. E é verdade que muitas das leis são derivações da racionalidade moral. Mas o que é moral é muito diferente do que é legal. Para o perceber basta pensar que nem tudo o que é de lei é necessariamente moral, como o que é moral não tem de ser necessariamente legal. A escravatura foi durante muito tempo legal e daí não se segue necessariamente que seja moral. Do mesmo modo ajudar uma pessoa pobre pode ser considerado moral sem que existam leis que nos obriguem a ajudar os mais pobres. O que é de lei é estabelecido pelo Estado ou organização política. Já o carácter moral ou imoral de um ato depende das razões que são oferecidas e sujeitas à racionalidade crítica, isto é, à discussão ativa dos argumentos.
Ao mesmo tempo muitas leis acabam por influenciar o nosso comportamento moral. E talvez daí resulte uma ligação entre legalidade e moralidade. Com efeito, para começar a discussão com clareza, esta distinção deve ser tida em conta na elaboração dos argumentos.
Outra distinção importante é entre eutanásia ativa e eutanásia passiva. Se pela primeira entendemos matar deliberadamente, já pela segunda entendemos deixar morrer. Daqui resulta uma outra distinção entre eutanásia voluntária e involuntária. Vamos brevemente explicar cada uma das definições, recorrendo a um exemplo para cada uma delas.
Eutanásia ativa
Morte deliberada do paciente levada a cabo por um médico ou auxiliar e que implica, entre outros métodos, uma injeção letal seguida de um agente paralisante o que implica uma morte sem dor física.
Eutanásia passiva
Implica deixar morrer o paciente omitindo passos necessários para prolongamento da vida. Por exemplo, não ressuscitando um paciente de uma paragem cardíaca. Se um médico desligar as máquinas que mantém vivo um paciente, estará a realizar uma atividade, mas é geralmente considerado com eutanásia passiva.
O que é relevante para a discussão é saber exatamente se a morte é o resultado da intervenção do médico ou de alguém (eutanásia ativa) ou apenas de deixar a natureza seguir o seu curso sem ativar meios de manter vivo o paciente (eutanásia passiva)
Eutanásia voluntária
Implica o consentimento explícito por parte do paciente. Aqui entra a questão do testamento vital.
Eutanásia involuntária
Implica a decisão de alguém que não o paciente sobre a sua morte. Temos como exemplo os doentes em coma (no caso de não ter dado esse consentimento antes) e as crianças
Quer a eutanásia voluntária, quer a involuntária pode ser ativa ou passiva.
Os casos de eutanásia ativa (voluntária e involuntária) são os mais discutidos hoje em dia e são legalmente proibidos em Portugal.
Muitas pessoas pensam que a eutanásia ativa não é imoral em circunstâncias muito específicas, ao passo que outras a consideram imoral seja qual for a circunstância. E é aqui que começa a discussão.  

Deixo a sugestão de um filme que serve como partida para a discussão. Mar Adentro (2004)


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Filosofia e Matemática - Semana da Matemática da Escola Jaime Moniz

No próximo dia 23, às 10horas, no auditório da Escola Secundária Jaime Moniz, terei o prazer de, em colaboração com os professores de matemática da escola, apresentar uma aula para demonstrar como se aplicam algumas regras da lógica a argumentos, principalmente as regras da lógica clássica a argumentos dedutivos. Esta pequena grande iniciativa é, para mim, especial, pois uma das minhas batalhas pessoais é combater a estigmatização a que o saber fica sujeito quando pressupomos que quem sabe ciências exatas não tem de saber ciências humanas (ou o contrário). Aliás, esta divisão acaba por não fazer qualquer sentido. Partindo deste pressuposto exposto por C. P. Snow, em As duas culturas (1959), darei o mote para uma pequena aula na qual explicarei com exemplos práticos como se parte de argumentos na linguagem natural para a sua tradução na linguagem lógica e posterior teste com inspetores de circunstâncias.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Kant e Mill

Um interessante vídeo para perceber de modo breve as principais diferenças entre a filosofia moral de Kant e Mill. Ativar as legendas para ler.