Não sei se é possível traduzir
por “revisão por pares” a expressão em língua inglesa “peer review”.
Para quem não sabe explico aqui rapidamente. Este processo, conhecido por
revisão por pares (para todos os efeitos vou usar a expressão portuguesa), é o
mais utilizado ao nível académico para aceitação de artigos. O autor submete o
seu artigo a uma revista da especialidade. O artigo é anonimizado e depois é
avaliado por especialistas da área que o aprovam ou rejeitam. Procura-se, deste
modo, garantir rigor nas publicações e nas descobertas propostas pelos autores
dos artigos. Como seria de esperar também este método de avaliação de artigos
falha. E não falha somente em áreas como a filosofia. Em termos proporcionais,
falha até muito mais em ciências como a matemática ou a física. É isso mesmo
que nos revela Jorge Buescu no primeiro capítulo de Primos Gémeos, Triângulos
Curvos e Outras Histórias da Matemática (Gradiva, 2014). O processo atinge
dimensões astronómicas quando surgiu a internet. A internet democratiza o
conhecimento, pois hoje em dia até numa universidade pobre se tem acesso aos
melhores artigos científicos e filosóficos da atualidade. E com a expansão da
internet os artigos passaram a estar disponíveis em modelo Open Access. Este
modelo permite que os artigos estejam disponíveis de forma gratuita para que
todos, mesmo aqueles que menos dinheiro têm, possam acedê-los. O problema é que
alguém tem de os pagar. Então quem os paga? Os autores ou as instituições que
os representam. Um autor para publicar um artigo numa revista da especialidade
pode chegar a pagar milhares de euros. Repare-se que são especialistas que vão
ter de ler aturadamente o artigo. O reverso do modelo são as revistas
predadoras que procuram apenas extorquir dinheiro aos autores.
O mais interessante em todo este
processo é que na filosofia as coisas não são diferentes do que se passa, por
exemplo, na matemática. As revistas predadoras de OA abriram portas a toneladas
de artigos que não passa de lixo científico. E isto na matemática. Ou seja,
onde pensamos que o crivo do rigor é exímio é ao mesmo tempo onde há mais
charlatanice. Dá que pensar?
Jorge
Buescu é um matemático português e com vários livros publicados entre os quais
parte são de divulgação científica.
O
filósofo inglês Nigel Warburton defende neste pequeno
texto que é preferível um
editor competente a um peer review incompetente. Não me parece de todo
convincente pois num caso e no outro (editor ou peer review) o que se pretende
é a competência e charlatanice na era da internet é coisa que não falta pelos
mais variados motivos sendo que os ligados ao lucro fácil são aqueles que
alcançam maior expressão.
Em
Portugal a publicação em filosofia com maior expressão em sistema de OA é a Disputatio,
International Journal of Philosophy, publicada pelo LanCog.
Um
dos testes interessantes a aplicar nestas revistas em sistema OA é replicar o
caso Bricmont, Sokal, tão bem exposto em Imposturas Intelectuais.
Consiste em enviar textos para estas revistas, com erros grosseiros
propositados e sujeitá-los à avaliação por pares. Jorge Buescu retrata bem esta
situação e experiência no livro.
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