Neste início de aprendizagem de como fazer filosofia é
preciso ter em atenção algumas palavras novas que em filosofia adquirem um
significado muito preciso. Assim, para começar vamos analisar de forma breve
algumas dessas palavras:
Argumento – um argumento também se pode chamar
de raciocínio ou inferência
e consiste em retirar uma conclusão de certas premissas ou, o que é o mesmo, defender uma tese (conclusão)
oferecendo razões para essa defesa.
Vamos imaginar que queremos defender que as touradas são
imorais. Podemos argumentar da forma seguinte:
Premissa:
Qualquer actividade humana que faça sofrer animais não humanos é imoral
Premissa:
As touradas fazem sofrer animais não humanos
Conclusão: Logo, as touradas são imorais
|
Um argumento tem só uma conclusão, mas pode ter uma ou mais
premissas. O exemplo acima mostra um argumento com duas premissas.
O que é característico nos argumentos é que eles preservam a
verdade. Num argumento válido, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão
também o será.
Os argumentos são como as máquinas de fazer salsichas. Se
metermos carne de salsicha, a máquina vai fazer salsichas. Nos argumentos
válidos se metermos premissas verdadeiras, vai sair conclusão verdadeira.
Há vários tipos de argumentos. No 11º ano estudarás quer os
argumentos dedutivos, quer os indutivos. Para já bastam estas noções iniciais.
Em filosofia vamos sempre trabalhar com argumentos, já que é
a ferramenta disponível pelos filósofos para tentarem resolver os problemas
filosóficos, que são problemas conceptuais e não empíricos, como viste nas
aulas.
Os problemas filosóficos são sempre questões e as respostas
são razões que oferecemos para sustentar uma tese. Assim, perante o problema,
por exemplo, da filosofia da arte, se é possível ter uma definição de arte,
seja a resposta sim ou não, temos de apresentar razões em favor da nossa
resposta, que será a conclusão do nosso argumento.
A vantagem do pensamento filosófico, mais que chegar a
conclusões, é começar a compreender que muitas das nossas crenças são mal fundamentadas e muitas vezes também
inconsistentes umas com as outras.
Crença em filosofia não tem o mesmo sentido
que crença no sentido comum, que é a crença em Deus ou numa religião. Do mesmo
modo o conceito de massa em física não significa a massa que comemos ao almoço
ou o dinheiro que temos para comprar o Fifa 2013.
Duas crenças são consistentes
se podem ser ambas verdadeiras, mas são inconsistentes se não podem ser ambas
verdadeiras. Por exemplo a crença que o FC Porto é o melhor clube do mundo é
consistente com a crença de que se estudar muito tiro boas notas, mas a crença
que o FC Porto é o melhor clube do mundo não é consistente com a crença de que
o FC Porto não é o melhor clube do mundo, porque uma tem de ser verdadeira e a
outra falsa e não podem ser ambas verdadeiras ao mesmo tempo.
Proposição: uma proposição é o pensamento expresso em frases. Por exemplo
a proposição expressa pela frase “a porta
está fechada” é a mesma que pela expressa pela frase “the door is closed”. Ora, o que pensamos pode ser verdadeiro ou
falso, de acordo com o mundo. Se a porta estiver de facto fechada, então a
proposição do exemplo é verdadeira. Não é a frase que é verdadeira ou falsa,
mas o que pensamos e que expressamos pela frase é que é verdadeiro ou falso.
Não podemos dizer que perguntas, admirações ou frases sem sentido exprimem
verdades ou falsidades de pensamento, pelo que na filosofia só nos interessam
as frases declarativas com sentido, aquelas que expressam as proposições. Está
claro?
Nunca dizemos que os argumentos são verdadeiros ou falsos.
Isso seria um erro. As proposições (que no argumento ocupam ora o lugar de premissas
ora o lugar de conclusão) é que são verdadeiras ou falsas. Os argumentos são
válidos ou inválidos
Um argumento é válido quando
se for impossível verdades gerarem falsidades, isto é, se temos verdades nas
premissas e o argumento for válido, vamos ter verdade na conclusão. Há outros
aspectos a estudar sobre os argumentos, mas para já vamos ficar com estas
noções mais básicas que nos servem para seguir em frente.
Os argumentos são centrais na filosofia, pois queremos
discutir e defender posições e para o fazer temos de o fazer com rigor. Ora
argumentar com rigor é um dos objectivos da disciplina de filosofia. Argumentando
bem, treinamo-nos a discutir ideias de forma racional e a evitar o desgaste das
gritarias.
Agora, vamos lá fazer salsichas! (Ups! Verdades….)
2 comentários:
Muito Obrigada pela luta pelas verdades, sem gritarias.
Vou passar a falar em argumentos válidos!
Rosina Ramos
Disponha sempre. Obrigado
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