quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eduquês outra vez, com o Roger Scruton

O eduquês não é um fenómeno exclusivamente português. NO nosso caso o problema não é só o eduquês como ideologia dominante no sistema educativo. O problema é também não existir praticamente debate público sobre o eduquês que envolva não só os políticos, mas os intelectuais, os pais, os estudantes, etc. E o problema também é que ao passo que em outras culturas esse debate vai permitindo aberturas e modificações interessantes, por cá essas teorias são apresentadas como “a novidade”! Entre as principais teses do eduquês, temos: o desprezo pela memorização, o desprezo pelos conteúdos e atenção centrada nas competências, o «aprender a aprender», a «aprendizagem centrada no aluno», o «pedagogicamente incorrecto», a psicologia do adolescente em vez da sabedoria do adolescente, entre muitos outros tópicos bem conhecidos pela maioria dos leitores deste blog, os meus colegas professores. Ao ler o mais recente ensaio de Roger Scruton, apanhei este excerto que resume o problema e aqui disponho para fruição reflexiva do leitor.


Talvez a ilustração mais clara disso esteja na revolução que varreu as escolas e os ministérios da educação durante as décadas de 60 e 70, que nos disse, com base numa autoridade de uma multiplicidade de pensadores, desde Rosseau a Dewey, que a educação não tem a ver com obediência e estudo, mas com auto expressão e recreação. Considerava-se suficiente libertar as crianças das restrições da sala de aulas e do programa tradicional para elas exprimirem as suas capacidades criativas naturais, crescendo através da liberdade e adquirindo saber pela experiência e pela descoberta em vez de pela «aprendizagem repetitiva».
Um último exemplo dessa falácia é dado pelo relatório do Conselho Consultivo Central da Educação dirigido por Lady Plowden, apresentado em 1967 e encomendado pelo Ministério da Educação como orientação em matéria de ensino primário. O desenvolvimento da «educação» como um campo independente de estudo, e a legislação que obrigou novos professores não especializados a frequentar um curso sobre essa matéria, produzira uma nova espécie de «peritos» cuja adesão às teorias optimistas não era, em regra, moderada por nenhuma experiência prolongada de sala de aula nem estorvada por qualquer reserva especial de senso comum. Foi através dos «educacionistas» que a ideologia do «nascido livre» encontrou o seu mais potente canal de influência. Nada servia melhor os professores, na sua nova e difícil situação de mentalizadores de crianças para a nação, do que a visão avançada pelo Relatório Plowden, com a sua conclusão «comprovada» de que a educação é um processo de livre exploração e autodesenvolvimento em que o professor desempenha não o papel de perito, exemplo ou autoridade, mas de conselheiro, companheiro de brincadeira e amigo. A clara tendência do relatório era sugerir que os métodos tradicionais – disciplina, estudo e instrução – não têm particular valor; na verdade, esse ensino não faz parte em si mesmo do papel do professor. Avisa-nos de que «um professor que só confia na instrução (…) afasta as crianças da aprendizagem. O dever do professor é estar disponível enquanto a criança se exprime, provocando mas não controlando uma resposta que está para além de julgamento ou de repreensão. Se alguma coisa correr mal, não pode culpar-se a criança e ainda menos puni-la. Nem pode culpar-se o professor, uma vez que o seu papel já não é o de iniciador ou guia. O único sujeito de «culpa» é a sociedade e as suas hierarquias, e as «condições de privação» para as quais a escola deve propor remédio
As vantagens do Pessimismo, Quetzal, Abril 2011, Trad. José António Freitas e Silva, pp.55,56,57

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