Hoje mesmo encontrei outro livro de filosofia, publicado pela D. Quixote. Pelo que já li e vi, trata-se de um livro introdutório, resultado da desilusão do autor pelo curso de filosofia em Colónia, na Alemanha, e também motivado pela falta de boas introduções à filosofia para o público em geral em língua alemã. Consultando o índice do livro facilmente percebemos que o autor segue a tendência de publicação filosófica em língua inglesa e não da bolorenta academia alemã que poucos motivos de interesse tem tido nas últimas décadas. O mesmo acontece em França, com alguns autores desiludidos com a falta de produtividade filosófica local a escreverem livros introdutórios seguindo o modelo da filosofia analítica anglo saxónica. A mim não me espanta estas opções.
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Ben Dupré
Os editores andam atentos à filosofia e à sua divulgação. Mesmo com algumas opções editoriais menos acertadas, o dinamismo dos editores contrasta com o bolorento ensino da filosofia, tanto no secundário como nas universidades, meios onde o que reina ou é a inércia filosófica ou o preconceito oco. A D. Quixote acabou de publicar mais um livro de introdução à filosofia. Desconheço o livro e o autor, mas se valer a pena, falarei dele aqui outra vez.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
História da Filosofia. Publicado último volume.
Acabei de saber pelo site da Gradiva que foi publicado o 4º volume da História da Filosofia Ocidental do Anthony Kenny. Fica assim completa esta magnífica história da filosofia, acabando também por constituir um preciso upgrade nas histórias da filosofia disponíveis em língua portuguesa.
domingo, 22 de maio de 2011
Alain de Botton
Datado de 2009, mas traduzido agora para português, Uma semana no Aeroporto, Um diário de Heathrow é o novo título de Alain de Botton já com vários livros seus traduzidos para português. Botton é um escritor que escreve praticamente sobre todos os assuntos da vida humana de forma completamente despretensiosa. Este novo livro resulta de uma iniciativa de uma empresa que decidiu apostar na literatura e então propôs ao autor passar uns tempos a viver num aeroporto, Heathrow, instalar uma secretária e um computador na gare e escrever lá o livro. Este é o resultado. Apesar do autor ser de formação filosófica e ter escrito alguns livros de filosofia não se espere aqui uma obra filosófica. Mas vale a pena ler sobretudo porque Botton consegue ser um bom erudito sem nos maçar, apresentando uma escrita descritiva mas muito selectiva. O livro é pequenino e lê-se numa tarde de Sábado.
Tradução: Manuel Cabral (Leya, 2011)
sábado, 21 de maio de 2011
Os equívocos de Maria Filomena Molder
Maria Filomena Molder foi minha professora de Estética no 4º ano de licenciatura em Filosofia, na FCSH, Universidade Nova de Lisboa, onde é docente. Uma pessoa invulgar e inteligente, mas com uma visão da filosofia que sempre me pareceu muito discutível. Aliás, como quase todas. Deu uma entrevista ao Jornal Expresso desta semana. As respostas dadas ao entrevistador são mais um tratado de literatura pós moderna do que de filosofia. Mas há duas passagens no que diz Molder que merecem algum reparo. A determinado momento Molder refere alguns bons autores de filosofia em Portugal com obras publicadas, mas,
“(…)só que não têm difusão pública, devido ao exercício de esquecimento do que seja a cultura que se instalou nos jornais e se propagou nas livrarias. Portugal, nesse aspeto, está quase a chegar à estaca zero. Só falta a censura. A filosofia, ainda mais que a literatura, perdeu a sua audibilidade.”
O que encontro de estranho nesta afirmação é que se fica com a impressão que houve um tempo em Portugal em que a filosofia era audível (no sentido de ser lida, perceptível e vendível). Mas qual era esse tempo? Na verdade, não parece que tenha existido um tempo em que se publicava, escrevia e lia mais filosofia que este. Mas para justificar tal seria necessário um estudo, mais que uma impressão. Acontece que a minha impressão é diferente da de Molder. Por essa razão talvez há algo nesta afirmação que me perturba mais que este aspecto. É que fica-se com a ideia que a culpa disto tudo, a culpa da filosofia não se fazer ouvir, afinal, é dos jornais e das livrarias. Parece que há uma qualquer teoria da conspiração capitalista para vender livros mais comerciais e menos culturais. Acontece que Molder poderia questionar se um livro pode ser culturalmente sofisticado e um sucesso de vendas. Por que não? Isso é o que acontece frequentemente no mundo anglo saxónico, com bons filósofos a publicarem bons livros, que ao mesmo tempo vendem bem, são muito lidos e citados. Talvez a culpa não seja dos jornais e das livrarias, mas da fraca produção filosófica fora da especialidade em Portugal.
Mais tarde, na entrevista, Molder refere:
“Ultimamente tenho andado a pensar muito porque é que não há hoje nenhum grande filósofo.”
Vamos lá tentar interpretar isto da melhor forma. Será que no tempo de Sócrates, Descartes ou Kant as pessoas sabiam que estavam perante grandes filósofos? Provavelmente não. Neste sentido nunca sabemos no presente se há algum grande filósofo e a afirmação de Molder perde o sentido. Mas há outra interpretação a fazer. Molder, que se diz especialista em Walter Benjamim e Goethe (e que eu atesto enquanto seu ex aluno já que tive de estudar textos destes autores mesmo sem ter percebido porque o fazia em aulas de estética e filosofia da arte), que não foram filósofos, será que anda distraída dos bons filósofos que temos hoje em dia? Desde Daniel Dennett a Peter Singer. De Simon Blackburne a Richard Swinburne. De Anthony Kenny a Peter Kivy. São dezenas e dezenas de nomes, de gente que está viva, que faz boa filosofia, que contribui de modo decisivo para o desenvolvimento de argumentos centrais para resolver problemas filosóficos. Molder ignora tudo isto, provavelmente, digo, devido à sua formação filosófica.
Resolvi comentar a entrevista de Filomena Molder não por qualquer questão pessoal. Fui seu aluno e mantenho-lhe grande respeito pela pessoa que conheci, uma pessoa inteligente e com um grande gosto pelas matérias que ensina. Uma pessoa cheia de indiscutíveis méritos. Comento a sua entrevista porque Filomena Molder tem todos os tiques dos intelectuais portugueses, a choraminguice habitual. Ninguém tem mais culpa se a filosofia não tem a visibilidade merecida senão eles próprios. E a maioria deles escrevem e publicam livros só lidos no círculo dos amigos e colegas, mas são incapazes de escrever um livro que seja para um público mais geral, para partilhar o seu saber com quem não o sabe, com os não especialistas. Verdadeiramente incapazes de traduzir o seu trabalho numa linguagem ao emsmo tempo clara, perceptível e rigorosa. E é isto também que nos permite compreender que este tempo não é mais nem menos fechado à publicação e edição de livros de filosofia. Simplesmente o trabalho está por fazer e a filosofia move-se num circuito demasiado fechado. O pretensiosismo intelectual de Molder e de muitos académicos portugueses na filosofia é que tira definitivamente o interesse das pessoas pela filosofia e não as livrarias ou as editoras. Enquanto estes equívocos continuarem (e não há sinais de auto crítica nos académicos neste sentido) as coisas pouco ou nada mudarão.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Eduquês outra vez, com o Roger Scruton
O eduquês não é um fenómeno exclusivamente português. NO nosso caso o problema não é só o eduquês como ideologia dominante no sistema educativo. O problema é também não existir praticamente debate público sobre o eduquês que envolva não só os políticos, mas os intelectuais, os pais, os estudantes, etc. E o problema também é que ao passo que em outras culturas esse debate vai permitindo aberturas e modificações interessantes, por cá essas teorias são apresentadas como “a novidade”! Entre as principais teses do eduquês, temos: o desprezo pela memorização, o desprezo pelos conteúdos e atenção centrada nas competências, o «aprender a aprender», a «aprendizagem centrada no aluno», o «pedagogicamente incorrecto», a psicologia do adolescente em vez da sabedoria do adolescente, entre muitos outros tópicos bem conhecidos pela maioria dos leitores deste blog, os meus colegas professores. Ao ler o mais recente ensaio de Roger Scruton, apanhei este excerto que resume o problema e aqui disponho para fruição reflexiva do leitor.
Talvez a ilustração mais clara disso esteja na revolução que varreu as escolas e os ministérios da educação durante as décadas de 60 e 70, que nos disse, com base numa autoridade de uma multiplicidade de pensadores, desde Rosseau a Dewey, que a educação não tem a ver com obediência e estudo, mas com auto expressão e recreação. Considerava-se suficiente libertar as crianças das restrições da sala de aulas e do programa tradicional para elas exprimirem as suas capacidades criativas naturais, crescendo através da liberdade e adquirindo saber pela experiência e pela descoberta em vez de pela «aprendizagem repetitiva».
Um último exemplo dessa falácia é dado pelo relatório do Conselho Consultivo Central da Educação dirigido por Lady Plowden, apresentado em 1967 e encomendado pelo Ministério da Educação como orientação em matéria de ensino primário. O desenvolvimento da «educação» como um campo independente de estudo, e a legislação que obrigou novos professores não especializados a frequentar um curso sobre essa matéria, produzira uma nova espécie de «peritos» cuja adesão às teorias optimistas não era, em regra, moderada por nenhuma experiência prolongada de sala de aula nem estorvada por qualquer reserva especial de senso comum. Foi através dos «educacionistas» que a ideologia do «nascido livre» encontrou o seu mais potente canal de influência. Nada servia melhor os professores, na sua nova e difícil situação de mentalizadores de crianças para a nação, do que a visão avançada pelo Relatório Plowden, com a sua conclusão «comprovada» de que a educação é um processo de livre exploração e autodesenvolvimento em que o professor desempenha não o papel de perito, exemplo ou autoridade, mas de conselheiro, companheiro de brincadeira e amigo. A clara tendência do relatório era sugerir que os métodos tradicionais – disciplina, estudo e instrução – não têm particular valor; na verdade, esse ensino não faz parte em si mesmo do papel do professor. Avisa-nos de que «um professor que só confia na instrução (…) afasta as crianças da aprendizagem. O dever do professor é estar disponível enquanto a criança se exprime, provocando mas não controlando uma resposta que está para além de julgamento ou de repreensão. Se alguma coisa correr mal, não pode culpar-se a criança e ainda menos puni-la. Nem pode culpar-se o professor, uma vez que o seu papel já não é o de iniciador ou guia. O único sujeito de «culpa» é a sociedade e as suas hierarquias, e as «condições de privação» para as quais a escola deve propor remédio
As vantagens do Pessimismo, Quetzal, Abril 2011, Trad. José António Freitas e Silva, pp.55,56,57
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Uma ideia muito simples, mas muito boa
As ideias boas são as mais simples. Esta ideia, de Carlos Café, professor de filosofia em Portimão, é, na minha opinião, uma forma simples mas muito criativa de mostrar com responsabilidade e sem receios, o trabalho de uma disciplina aos pais dos alunos. E não tenham medo de replicar. Um destes dias eu próprio faço uma coisa destas. Mas o mínimo que podemos fazer é colocar um copyright: "ideia original de Carlos Café, professor de filosofia". Bem o merece.
(Clicar na Imagem)
domingo, 1 de maio de 2011
O que há de bom em ser pessimista?
O mercado português tem acolhido bem a tradução de livros de Roger Scruton. E ainda bem, pois parece-me um bom autor. A Quetzal acaba de publicar mais um, o seu último livro onde o autor reflecte sobre o período actual de pessimismo europeu que se sucede a um optimismo vago nas décadas anteriores.
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