quarta-feira, 26 de maio de 2010

Porque é que há sociedades mais cultas que outras?


As imagens mostram a capa e índice de um livro que tenho aqui em casa do ensino secundário inglês. Trata-se de um livro preparado para adolescentes, um textbook. É certo que não tem imagens coloridas como os manuais portugueses. Mas fiz questão de passar no scanner o índice para que se veja o que os jovens andam a estudar em Inglaterra quando estudam filosofia e filosofia da religião. Se repararmos bem, os jovens ingleses discutem o problema da existência de deus. Se estudam o argumento do design inteligente, também estudam as objecções de David Hume a este argumento. Estudam o argumento ontológico, mas também estudam as objecções. E os nossos estudantes quando é que discutem estes problemas? O programa do secundário de filosofia tem um tema no 10º ano, de opção que se chama pomposamente : “Valores religiosos”. E à excepção de um ou outro manual que faz um trabalho mais sério, a esmagadora maioria dos estudantes vão aprender coisas tão profundas como saber distinguir entre o sagrado e o profano. Conclusão: os jovens estudantes em Portugal fazem o ensino todo sem algum dia terem, sequer, percebido que a coisa se pode discutir e argumentar usando uma faculdade muito humana, a razão. Deve ser isto que explica que a maioria das pessoas não sabe pura e simplesmente discutir religião, não sabe que o problema da existência de deus é um problema filosófico em aberto e que os filósofos desde sempre debateram estas coisas. Em contrapartida temos manuais cheios de fotos lindas e coloridas. Isto, do meu ponto de vista, é subestimar a inteligência dos nossos jovens. Já me faz lembrar aquela tese paternalista e muito na moda em Portugal que não devo ensinar os números e as letras ao meu filho senão ele quando chegar à escola se desinteressa pela escola. Pudera, um puto com a inteligência desenvolvida apercebe-se logo que a escola não lhe valerá de grande coisa para aprender.    

domingo, 23 de maio de 2010

Filosofia e métodos

Este texto de Thimothy Williamson, publicado na Crítica aborda o problema de como encarar a própria filosofia, questionando essencialmente os métodos. Quanto a mim o texto é algo sofisticado, mas dá algumas pistas interessantes para tentar arrumar o problema do que pode a filosofia fazer. Fica a sugestão.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Exame de Filosofia

Nunca é demais insistir. AQUI.

Onde pára a felicidade?

É já o terceiro livro que leio de Alain De Botton. Confesso que não considero este livro propriamente um livro para aprender filosofia. Trata-se de um ensaio, derivado das viagens e pesquisas do autor, que resulta num conjunto de reflexões sobre o mundo moderno e o que lhe está associado no universo do trabalho. Mas é um livro sobre um problema clássico dos filósofos, o de saber como podemos ser felizes? É agradável de se ler e deixa-nos a pensar sobre a estrutura do mundo do trabalho nas sociedades dos nossos dias. Gosto sobretudo porque se percebe pela escrita que estamos perante um autor inteligente. E sabe sempre bem contactar com autores inteligentes. Ainda me falta metade do livro para acabar, mas os capítulos iniciais são uma delícia. Só para adoçar o apetite pela leitura, o primeiro capítulo, intitulado Logística é a excursão feita pelo autor, desde a captura no mar do atum, até à embalagem que vemos no supermercado. Pelo meio ficamos a conhecer melhor as entranhas dos mecanismos de produção industrial dos nossos dias, com o prazer e a dor que tais coisas possam causar tanto às pessoas, como, no caso, aos atuns. 

sábado, 8 de maio de 2010

Para quê publicar ideias?

Ainda a propósito do livro de Marçal Grilo divulgado no post anterior. Esta tarde tem sido dedicada à leitura do livro com interrupções como esta para postar algo que vou pensando sobre o livro. Por duas vezes tive de recorrer ao livro de Nuno Crato, O eduquês em discurso directo, Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista, Gradiva, 2006. E acho impressionante como este livro tem sido ignorado nas formações de docentes do ensino básico e secundário. É de facto impressionante que o poder dos livros seja tão relativo, já que nunca assisti nas escolas a amplo debate acerca da tese de Nuno Crato. Isto por si só é revelador da falta de cultura de leitura e discussão de ideias sobre a educação e ensino. É quase como se nunca tivesse existido o livro e só tivesse sido escrito para meia dúzia de intelectuais. É pena, pois trata-se de um dos poucos livros publicados em Portugal por um português que debate de forma clara e aberta alguns dos problemas mais graves que mais afectam o nosso sistema de ensino. Merecia mais leitura, mais discussão e mais atenção por parte de pedagogos, pais e, sobretudo, professores. Mas, como sempre, passa ao lado que a vidinha é outra coisa. Será preciso pedir de joelhos às pessoas para serem um pouco mais responsáveis pela profissão?

Se não estudas estás tramado

Um dos aspectos da nossa cultura actual é que as pessoas falam muito sobre muitas questões e problemas sem procurarem sustentar as suas posições com fundamentos minimamente credíveis. Na esmagadora maioria dos casos, a informação é obtida de forma muito amadora, de blogs de opinião ou de artigos cientificamente duvidosos como os muitos que aparecem na wikipédia. Para reunir alguma informação credível é preciso ler meia dúzia de livros de especialistas, de gente que sabe do que fala, independentemente se concordamos ou não com as ideias de cada autor. O conceito de «eduquês» é atribuído a Marçal Grilo que pela primeira vez o utilizou referindo-se à linguagem de “encher chouriços” da maioria dos documentos elaborados pelos pedagogos que pensam e discutem a edução e o ensino em geral. Nuno Crato fez uma exposição do que é que o «eduquês» possa significar neste livro. Hoje comprei o último livro de Marçal Grilo, que me ocupará parcialmente a tarde deste Sábado. Vamos ver se concordo com as posições do autor.
Eduardo Marçal Grilo, Se não estudas estás tramado, Tinta da China, 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Touradas

Hoje conheci este video na internet a partir do Facebook do colega e amigo José Mascarenhas. Na verdade o video aproveita bem um argumento da filosofia lançado por Peter Singer. Uma versão desse argumento foi publicada por mim em 2006. Reproduzo-a aqui:





Um dos argumentos mais usados em favor das touradas é o da tradição. Pois bem, poderemos formular este argumento do modo seguinte:
Tudo o que é tradição merece ser preservado
A tourada é tradição
Logo, a tourada merece ser preservada.
Segundo este raciocínio, poderemos também seguir o seguinte:
Tudo o que é tradição merece ser preservado
Apedrejar mulheres infiéis em algumas culturas é tradição
Logo, apedrejar mulheres infiéis em algumas culturas deve ser preservado.
Racionalmente sabemos que tais argumentos não podem ser sustentados, pelo que sugiro que avancemos numa perspectiva mais racional no que concerne às touradas e aos recentes acontecimentos festivos no Campo Pequeno, em Lisboa.
Lanço o mote que está aberto a objecções.
Não esqueçam, para ser bom, um argumento deve ter as premissas menos discutíveis que a conclusão.

Duas novidades editoriais com saber a filosofia

Duas novidades para os leitores de filosofia. A primeira é da D Quixote, da dupla, Thomas CathcartDaniel Klein , HEIDEGGER E UM HIPOPÓTAMO CHEGAM ÀS PORTAS DO PARAÍSO. Já tínhamos publicado destes autores o livro, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar, também pela D. Quixote.

A D. Quixote publicou também o livro, ALEGRIAS E TRISTEZAS DO TRABALHO, de Alain de Botton, um autor já com muitos títulos traduzidos entre nós.

Para compreender uma série de mitos sobre educação

domingo, 2 de maio de 2010

Associativismo filosófico


Uma das sugestões que recebo de alguns colegas profissionais de filosofia é que a disciplina de filosofia no ensino secundário é melhor defendida se os profissionais se associarem de forma organizada. Temos algumas instituições para o efeito a APF e a SPF, mas segundo alguns leitores estas associações não têm tido uma intervenção eficaz. Recordo que o CEF fez várias investidas para reformar a disciplina, muito interessantes e no entanto as resistências começaram mesmo dentro da disciplina, antes mesmo de qualquer intervenção no Ministério da Educação. A ideia de um associativismo parece-me muito boa, mas sinceramente sou muito céptico em relação ao interesse dos próprios profissionais da disciplina.  Pelo menos a minha experiência diz-me que a generalidade dos professores são muito obedientes às orientações do ME, mas pouco receptivos à iniciativa individual. Existe também um grupo de profissionais da filosofia – alguns deles pertencentes aos quadros da Crítica – que fazem um investimento na disciplina muito sério e quase à margem da política educativa que consiste na produção, tradução e publicação de materiais muito úteis à leccionação e divulgação da filosofia. Prova disso é que todos os manuais de filosofia publicados para o ensino secundário se servem directa ou indirectamente desses materiais. Ou seja, o trabalho destes “independentes” acaba por ser muito mais influente no ensino da disciplina do que qualquer tentativa de intervenção nas políticas educativas. E é talvez este facto que me faz acreditar mais neste estilo de trabalhar do que em qualquer associação que só fica com o nome e não traz bons resultados práticos para a disciplina. Por outro lado existe uma escassez enorme de formação na filosofia para professores do secundário e uma associação poderia muito bem intervir neste sentido. Como? Propondo a venda de algumas acções de formação junto das instituições que as promovem como os sindicatos de professores ou entidades privadas. Estas são ideias muito gerais, mas que pensam os colegas desta ideia? Gostava de mais ideias sobre as possibilidades que aqui falo. Que me dizem? Uma coisa é certa: ter ideias todos temos.