sábado, 14 de setembro de 2019

Mas eu sou aluno, que é que devo ler?

Bem, se para um professor não se pensa em ritmos de leitura já que se pressupõe que todos os professores leem a bom ritmo, já para ti, aluno, não é bem assim. Não te posso recomendar um livro mais denso se não tens hábitos de leitura criados. Do mesmo modo tenho de ter cuidado com o vocabulário usado pelos autores. E não devo recomendar livros que não estejam escritos na tua língua materna. Mas vamos lá a algumas recomendações. Se tens poucos hábitos de leitura mas queres começar a compreender o que é e como se faz a filosofia, recomendo-te este livro que é uma espécie de micro enciclopédia da filosofia. Não é a leitura mais estimulante que se pode fazer em filosofia, mas pelo menos possibilita-te já um amplo conhecimento daquilo que é núcleo desta nova disciplina para ti: Os problemas, as teorias e os argumentos.




Mas se tens algum ritmo de leitura há outras opções que, na minha opinião, são até melhores que a anterior. Não te recomendo que comeces a ler filosofia pelo famoso livro O Mundo de Sofia. É um romance e só aborda a filosofia em termos históricos. Se vais por esse livro não chegas sequer a perceber a essência da filosofia. Deves estar a pensar:  "- Mas esse é o livro que toda a gente fala e leu!" É verdade. Mas esse livro foi publicado há muitos anos e nessa altura não havia grandes opções de escolha. Hoje em dia temos melhores livros para começares a filosofar, que é tudo o que te deve interessar quando começas a estudar filosofia. Do mesmo modo se queres nadar deves começar pelos treinos de natação.  

O livro de Thomas Nagel tem a vantagem de ser pequeno e fazer uma boa abordagem de alguns dos problemas da filosofia. Além disso é um livro barato. Também é verdade que já tem uns anos, mas ainda assim não perdeu o valor. Está bem escrito e é bastante estimulante. Lembra-te que ler filosofia não é como ler romances. Primeiro podes saltar capítulos e ler primeiro o que mais te interessa. Depois ler filosofia é um pouco mais lento do que ler uma história, uma vez que não estás a apenas a seguir acontecimentos. Ler filosofia implica que tu és o protagonista da história. Tu estás a pensar se concordas ou não com o que estás a ler. E depois começas a discutir o que lês. E não esperes que um livro de filosofia te diga o que gostas e o que já sabes. Se a filosofia é estimulante é porque nos desafia permanentemente acerca daquilo que julgamos ser verdadeiro e pensamos já saber. É uma espécie de ginásio intelectual. Tal como vais ao ginásio treinar o corpo, na filosofia o ginásio implica um treinar das ideias. 



Já o livro do Nigel Warburton é bastante completo. É mais volumoso que o de Nagel, mas como te disse antes, não precisas de ler tudo de uma vez já que cada capítulo aborda um problema diferente. Com a vantagem de que a esmagadora maioria dos problemas são abordados na escola. 



Este é escrito por dois autores portugueses que são também autores de manuais. Por isso conhecem bem o que vais aprender. Os capítulos são curtos e interessantes embora a linguagem te possa parecer em alguns momentos um pouco mais pesada que os dois anteriores. Mas foi escrito nativamente isto é, por dois falantes da nossa língua, o que é sempre uma vantagem. 


(este livro está esgotado no editor mas podes encontrar ainda nas livrarias)
Espero que faças boas leituras. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Ensinar filosofia? Como? Duas leituras para começar...

Primeira leitura

Em início de ano letivo e ainda com tantas questões no ar, próprio de quem ensina filosofia e, eventualmente, um dever de quem ensina seja o que for, nada melhor do que começar com algumas leituras. Sem as leituras tudo se torna um pouco mais superficial, sem norte. A primeira das leituras não é de todo consagrada ao ensino secundário e muito menos ao ensino secundário português. Ainda assim é sempre bom partilhar a experiência de ensino que me parece sincera e sensata de um professor universitário que tem décadas de experiência. Até porque muitas das inquietações do autor são também a dos professores do secundário.



Segunda leitura

Se a dúvida caracteriza parte do que fazemos nas aulas de filosofia, a verdade é que militar na dúvida pode conduzir a uma ideia trapalhona do que é a filosofia. Até a dúvida deve ser arrumada (para aqui arranjar um termo que significa o mesmo que metódica para o nosso colega Descartes). E é exatamente isso que Baggini fez neste majestoso manifesto de como nos posicionarmos face ao carácter mais essencial da nossa disciplina, lidar com o ceticismo. Daqui não vamos retirar ensinamentos diretos para as nossas aulas nem tão pouco estratégias de lecionação. Com este livro raciocinamos o tempo todo acerca das nossas próprias convicções do que fazemos quando entramos numa sala de aula para ensinar filosofia. 

Espero que estas duas leituras sejam um bom auxiliar do nosso trabalho, o de despertar os miúdos para o universo das questões inteligentes e da discussão racional.