Habitualmente instituições como escolas restringem o acesso a alguns conteúdos de internet. Tal ocorre por razões diversas, mas que se podem resumir a duas principais:
1) por um critério de gestão de largura de banda impedindo o mais possível o acesso a serviços de download;
2) por razões morais, já que se considera o conteúdo ilícito ou nocivo a jovens.
Associado talvez ao critério moral, muitas das vezes restringe-se o acesso a serviços como o twiter ou o facebook, porque se entende que estes serviços distraem muito os alunos e, em via disso, não devem ser usados nas escolas. Acontece que, na minha opinião, não é o facebook ou o twiter que distrai os jovens, mas os jovens que se distraem com o facebook e o twiter. Parece o mesmo, mas não é. O que é que nestas afirmações, então, difere? O que difere é que os jovens distraem-se seja lá com o que for quando se querem mesmo distrair. Se os jovens se quiserem distrair com os lápis e esferográficas a fazer de conta que são aviões, suspeito que alguma escola proíba o uso de lápis e esferográficas dentro das suas portas.
Sou do tempo em que o Ministério da Educação, numa parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia colocaram um computador ligado à internet em todas as escolas portugueses. Nessa altura ensinava eu em Lamego e quase todas as noites ia á Biblioteca da escola para navegar um pouco no ciberespaço. Foi assim que me familiarizei pela primeira vez com o trabalho de Desidério Murcho, bem como contactei com uma enormidade de referências até então desconhecidas para mim. E assim também enchia caixinhas de disquetes com informação para ir devorando em casa num velho e lento PC que tinha na altura. Nessa altura dois alunos da escola foram encontrados a visitar sites pornográficos. O acontecimento foi levado a conselho disciplinar e recordo-me bem qual o argumento que usei, apesar de ninguém o ter aceite, creio que mais por preconceito do que pelas razões apresentadas: se a Biblioteca aceita um PC na biblioteca é como aceitar ter revistas porno nas suas prateleiras e armários, pelo que não devem punir os alunos em causa. A verdade é que naquela altura nada estava regulamentado em relação ao uso da internet e 70% dos professores e directores de escola ainda nem sequer sabiam bem o que era a internet. A propósito, durante alguns anos ainda convivemos com a ideia de que a internet só servia para nos distrairmos e irmos lá fazer coisas feias. É mais ou menos como um norte coreano é educado: tudo o que vem de fora só pode ser encarnação do mal. Não me parece assim que a entrada da internet nas escolas tenha sido de todo pacífica e ainda hoje não o é. Praticamente todas as escolas têm serviços de internet bloqueados com argumentos morais. É verdade que a internet pode estar sujeita a um mau uso, mas não o está mais que qualquer outra ferramenta do mundo. Se eu pegar num manual e o atirar à cabeça de um aluno e lhe partir a cabeça, será que as escolas vão proibir o uso de manuais nas aulas? Uma vez coloquei esta questão a uma directora de escola que me respondeu que o exemplo era um exagero.
È facilmente aceitável que uma escola bloqueie conteúdos pornográficos ou violentos. Nada de problemático nisto. Mas a coisa não é bem assim se pensarmos, por exemplo, no You Tube e, talvez ainda mais importante, no Facebook ou Twiter. Por quê? Porque estes são instrumentos poderosos de comunicação e proibir de usar o facebook é mais ou menos o mesmo que colocar adesivos na boca dos estudantes à porta das escolas e proibi-los de falar. A diferença entre o falar no facebook e o falar com os músculos da boca é que no facebook quando falamos mais pessoas nos podem “ouvir”. Se um palavrão for dito pela boca de um aluno, somente os seus colegas mais próximos vão ouvir. Se o mesmo palavrão for escrito no facebook, muitas mais vão ouvir. Mas será que a moralidade se mede pela quantidade de pessoas que tomam conhecimento de um eventual comentário imoral? Parece pois que o argumento da quantidade de pessoas não funciona, pelo que as escolas não devem considerar esta como uma boa razão para impedir os seus estudantes de usar estes serviços.
Num outro ângulo não se percebe muito bem algumas proibições e limitações a serviços de internet nas escolas, até porque o nosso Ministério da Educação promoveu em larga escala a aquisição de computadores portáteis com ligação à internet para uso em contexto escolar. Ora estes alunos usam a internet sem quaisquer restrições institucionais. Parece isto um contra senso já que uma parte significativa dos estudantes que compraram pcs e ligações à internet são pessoas com fracos recursos, precisamente aqueles que necessitariam de maior apoio no que respeita às questões nocivas na internet.
Por outro lado, há ainda uma outra razão a destacar. Proibir ou limitar o acesso a serviços como o facebook e o twiter parece querer adiar o inadiável. Cada vez mais os dispositivos são portáteis e o acesso à internet mais generalizado. Hoje em dia pequenos smartphones possuem capacidades ultra desenvolvidas de acesso à rede e partilha de informação. Não há volta a dar. Os miúdos cada vez mais vão poder ter nas mãos pequenos mas potentes aparelhos para comunicar via internet e com acesso ilimitado e incontrolado a todo e qualquer conteúdo. O desenvolvimento da nanotecnologia está acelerado e não há como travar o progresso tecnológico ao nível de pequenos e potentes dispositivos.
Não me oponho de todo à ideia que uma escola até decida nem sequer possuir ligação à internet usando outros critérios de estudo e investigação. Só não compreendo como é que as novas tecnologias, num país como Portugal, aparecem como o arauto do progresso pedagógico, a revolução das revoluções e depois andamos de proibição em proibição sem saber lidar com as consequências. Até os professores passam a ser avaliados também pelo modo como usam recursos tecnológicos nas aulas. Ora, proibir serviços como o facebook ou o twitter ou o youtube nas escolas com os argumentos de que distraem os estudantes e potenciam a visita de conteúdos impróprios faz tanto sentido como pura e simplesmente proibir o uso de computadores nas escolas.
E, já agora: no meu tempo, a revista Gina era um sucesso nos intervalos das aulas.
4 comentários:
A hiperligação não funciona quando «clico» na «revista gina». Grande falha.
é a censura, é a censura :-)
o link q tens na Revista Gina:
file:///C:/Users/Rolando/Desktop/Varios/nocivo
O link não funciona, não sei. tens de googlar :-)
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