A escolaridade foi alargada até aos 18 anos (por lei) e para tentar que os alunos consigam estudar até ao 12º ano. Uma maneira de fazer com que isto aconteça é reduzir os conteúdos ou minimizá-los por vezes ao absolutamente superficial e banal. Outra é a escola inclusiva que consiste basicamente em arranjar maneiras de fazer com que o aluno transite de ano. Ora tudo isto não se ajusta muito bem a um modelo de aprendizagem em que o aluno tem de estudar para fazer bons testes nos quais escreve bem e mostra que realmente conhece os conteúdos e até, os que vão mais longe, já conseguem pensar sobre as matérias que aprendem. E honestamente não estou a ver como se pensa nas matérias sem mergulhar nelas, não estou a ver como se pensa o problema do conhecimento sem pelo menos mergulhar um pouco nas teorias de Hume ou Descartes, por exemplo. Discordo dos argumentos de muitos colegas que acham que tal é possível. Esses colegas tiveram a oportunidade de mergulhar nessas teorias e honestamente não compreendo como acham que os seus alunos são capazes de realizar aprendizagens sem fazer esse mesmo mergulho. Pressupor que existe uma escola agora que é inclusiva é ao mesmo tempo presumir que até aqui ela foi exclusiva. E eu não sei o que é mais exclusivo, se uma escola que chumba os alunos quando eles não são capazes de dominar conteúdos ou se passa por cima dos conteúdos para fazer alunos passar de ano. Dizem-me também os mais entusiastas que a escola inclusiva consiste em avaliar de maneira diferente, de acordo com as necessidades de cada aluno, uma espécie de fato por medida. A questão que aqui se coloca é se o aluno que aprende Descartes fazendo um exercício diferente de um teste escrito, depois pode falhar redondamente no teste alegando que não se ajusta ao seu modelo de aprendizagem?
Também não me parece que o modelo de avaliação demasiado centrado no teste sumativo seja o mais adequado e até concebo um sistema de ensino sem qualquer teste. A questão aqui é a de como formar se transforma em avaliar? O que é que vamos fazer? Afinal de contas o aluno que consegue um 15 a filosofia de média final de secundário tem ou não a obrigação de ter êxito no exame? Obviamente não possuo aqui quantificações para poder responder com dados a estas questões. Nem sei se tais dados existem. Mas posso pelo menos manter a suspeita como forma de alerta de que os alunos que apesar de não estarem num modelo de testes vão a exame final e conseguem boas classificações, se estudassem numa escola com o modelo dos testes seriam na mesma bons alunos. Significa isto que se a minha hipótese for aproximada à verdade, então e uma vez mais a escola inclusiva falha o alvo e não passa de propaganda política.
A minha profissão é um quebra-cabeças e educar é um verdadeiro quebra-cabeças. Mas a experiência vai-me dizendo que cada vez mais, mais alunos apenas frequentam a escola. De facto, chumbar a falta de esforço e empenho ou o simples “não conseguir” pode não ser a melhor solução. Mas ainda tenho dificuldade em compreender como a melhor resposta tenha de ser a de “passar com falta de esforço e empenho ou o simples não conseguir”.
Os otimistas da escola inclusiva parecem estar a levar a melhor. Só não percebo ainda como é que convivem pacificamente com uma avaliação que vai de 0 a 20 e de 0 a 9 o aluno não transita de ano. Não faria sentido que o seu otimismo ao mesmo tempo constituísse o fim da escala até 9?