Agora que andamos (professores) a analisar manuais, deixo aqui uma pequena reflexão. Afinal quando é que um manual é didaticamente mais forte que outro? Isto não se mede a régua e esquadro. Se os manuais devem resultar num equilibro entre o que se ensina e quem vai por eles aprender, então temos de ter uma noção de quando um manual é didaticamente forte e didaticamente fraco, ainda que existam casos fronteira, exatamente porque os contextos de aprendizagem são bastante diversos. Por isso o manual X que se adapta bem ao colégio XPTO pode ser desadequado para os miúdos do bairro na minha paróquia. Mas vamos lá ao exemplo. Referem as aprendizagens essenciais de filosofia que a lógica é uma ferramenta que deve ser explorada ao longo de todo o programa. E é uma boa referência, caso contrário não faz sentido ensinar lógica. Acontece que já me deparei com um manual que disseca os argumentos ao tutano e por isso acaba por ser didaticamente fraco ao fazê-lo, pois está a exigir uma leitura pouco razoável da filosofia, dos textos e fá-lo do pior modo que é o de pressupor que toda a análise filosófica se faz esquematizando argumentos em várias premissas e conclusão. Empobrece a análise que se pede e transmite uma ideia errada da filosofia, oferecendo pouca liberdade de análise aos aprendizes. Outros manuais ignoram completamente a lógica e aí continua a cometer-se o mesmo erro de sempre. Mas há pelo meio manuais equilibrados que conseguem mostrar que, por exemplo, na defesa de uma teoria podemos esquematizar o argumento como um modus ponens e assim cumprir um dos requisitos da boa argumentação, que é a de apresentar sempre que possível, argumentos dedutivos válidos. E isto para um nível de 10º ano, faz-se com duas premissas e uma conclusão. E basta arrancar para a teoria a partir daí. Mas deve-se evitar estas duas coisas: 1ª espancar os textos em argumentos de várias premissas e conclusão pois o que se consegue é perder-se na análise dado que a lógica que se ensina não permite avaliar os argumentos dessa maneira; 2º ignorar por completo aquilo que se aprendeu em lógica. Como de resto é notícia eu não fiz qualquer manual desta leva. Se o fizesse a minha proposta iria não no sentido de escancarar todos os argumentos em premissas e conclusão, mas antes propor exercícios aos alunos para esse mesmo fim, exercícios que sejam adequados à lógica que se ensina que é ainda muito elementar, tal como deverá ser num nível que ainda é muito introdutório e para o qual na esmagadora maioria das escolas os alunos têm apenas 3 aulas de 50 minutos cada por semana. Portanto, muito azeite no candeeiro e o pavio não arde. Mas também não arde sem azeite.
quinta-feira, 27 de maio de 2021
Manuais didaticamente fortes
quarta-feira, 19 de maio de 2021
Guia para adoção de manuais de filosofia
Desta vez resolvi gravar um vídeo com um pequeno guia que pode servir de auxiliar para adoção de manuais de filosofia. Espero que seja útil e porque é particular tem as suas falhas e omissões da minha responsabilidade.
domingo, 16 de maio de 2021
Novidades filosóficas pelo YouTube! E em português!!!
Já no Brasil se faziam muitos e bons vídeos de filosofia para a plataforma YouTube (ver secção deste blogue dedicada a vídeos) e nada se encontrava em língua portuguesa. Creio que tal se deve porque não entram no sistema de ensino professores mais jovens, eventualmente aqueles mais sensíveis a estas maneiras de comunicar a filosofia. Recentemente descobri dois canais que abordam o programa de filosofia no ensino secundário português. Podem ser boas ferramentas para estudantes.
Um desses canais chama-se “A Tua Filosofia” e contém materiais de preparação para exames para além de vídeos que abordam praticamente todos os tópicos das matérias. Pode ser visitado AQUI.
No outro canal, “Filosofia Secundário”, os vídeos são mais curtos e sintéticos, mas com uma realização mais sóbria sem a característica do ensinar divertindo do primeiro. Pode ser acedido AQUI. Ainda bem que vão aparecendo caras novas, com ideias novas. Já fazia alguma falta.