terça-feira, 27 de abril de 2010

Ensino da filosofia - editores desfazem-se do que já não vendem

Quando o programa de filosofia do 12º ano foi transformado em leitura integral de 3 obras ao longo do ano, os editores rapidamente se apressaram a colocar no mercado colecções com traduções das obras mais escolhidas nas escolas. Como sempre o trabalho foi feito sem rei nem rock, completamente à toa, com casos excepcionais de maior qualidade. Hoje mesmo recebi como presente de uma editora, pela parte de um dos seus representantes, a colecção quase inteira por eles publicada há anos. Eu que gosto de receber presentes devia ficar radiante: afinal estava a receber 9 livros de uma vez só. Mas não fiquei feliz pois percebi que o editor me estava a oferecer aquilo que já não tem qualquer mercado para eles, o que está encostado, não se vende e não serve para nada. Isto acontece porque a filosofia no 12º ano é coisa que não existe. Provavelmente só existe como opção numa ou outra escola das grandes cidades e com turmas muito pequenas. O argumento mais comum é que a sociedade de hoje já não está para filosofias e que os jovens se interessam por coisas mais práticas. Lamento muito toda a ignorância que envolve este argumento. O desinteresse pela filosofia, do meu ponto de vista, nasce da má qualidade do seu ensino, dos seus programas de ensino, dos maus manuais e do desleixo generalizado pela disciplina infelizmente pactuado por muitos profissionais da filosofia. E também não me ajuda muito pensar que a tendência é generalizada a todas as disciplinas de carácter científico e com conteúdos autónomos.

1 comentário:

António Daniel disse...

Rolando, não concordo contigo. Se houvesse possibilidade das pessoas escolherem as disciplinas, certamente muitas seriam excluídas. A Filosofia de 12º ano exige, e ainda bem, trabalho, reflexão, exercício de ensaios e outros mecanismos cognitivos - por isso é a disciplina pretendida pelos bons alunos. Perante a possibilidade de escolha, os alunos optam por Sociologia e afins. Acresce o facto dos cursos universitários não exigirem Filosofia como disciplina específica. Por isso, dizermos que que o insucesso da disciplina se deve, pelo menos em grande medida, aos profissionais e programas, é redutor e, até, injusto.