domingo, 29 de abril de 2012

Estudar filosofia da ciência


Para começar vamos ver este vídeo:



(Resolvi manter o vídeo, mas incluir uma nota sobre o mesmo. De facto, como reparou o professor Aires Almeida, no vídeo sugere-se várias vezes que Popper é verificacionista. Ora a proposta de Popper é precisamente uma resposta ao verificacionismo. É bom observar este erro no vídeo)

Para afinar o estudo da unidade dedicada à filosofia da ciência, deixo aqui uns links de textos de apoio. Dividi entre textos simples e mais indicados como tópicos breves de estudo e outros mais longos que podem ser explorados para trabalhos, por exemplo. A leitura dos primeiros não dispensa a leitura dos segundos. Tem ainda uma secção de livros e vídeos.

Textos breves
Um diálogo sobre o falsificacionismo, Desidério Murcho
Popper na ciência, Alexandre Quintanilha
O código da ciência, Jorge Buescu
As teorias científicas são falsificáveis, Jorge Buescu
Refereeing ou abordagem científica, Jorge Buescu
Verificabilidade e falsificabilidade, alguns exemplos, in. Dúvida Metódica


Textos de exploração
Incomensurabilidade, James Ladyman


Sugestões de alguns livros de introdução à ciência
Lucy & Stephen Hawking, a chave secreta para o universo, Presença
Lucy & Stephen Hawking, Caça ao tesouro no Espaço, Presença
Carl Sagan, Cosmos, Gradiva


Vídeos sobre ciência

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Escrever Ensaios - Orientações

Alguns alunos têm colocado questões sobre o ensaio argumentativo a ser entregue até ao próximo dia 10 de Maio. Dei indicações de um documento que remetia para os aspectos principais do ensaio, ainda que nas aulas esses tópicos fossem explorados. Mas encontrei aqui um documento que sintetiza bem o que se pretende. Este é o LINK directo e reproduzo aqui o texto:



1. O que é um ensaio e o que se espera que os alunos mostrem ao produzir um ensaio?
Um ensaio é um texto argumentativo em que se defende uma posição sobre um determinado problema filosófico. Os ensaios feitos por alunos do Ensino Secundário não devem ter mais de 2 páginas (com uma fonteTimes New Roman, tamanho 11 e 1,5 de espaço entre linhas), obrigando-os a concentrar-se no essencial e a deixar de lado as meras associações de ideias.
O ensaio deve mostrar que o seu autor sabe relacionar clara e correctamente os problemas, teorias e argumentos em causa. Por isso deve ter a forma de resposta a uma pergunta. Pergunta essa à qual se deve poder responder com um "sim" ou com um "não", procurando o aluno avaliar criticamente os principais argumentos em confronto, de modo a tomar uma posição pessoal na disputa.
Num ensaio, o aluno não se pode limitar a dar a sua opinião. Tem também de avançar com argumentos e de responder aos argumentos contrários. Caso não lhe pareça possível defender uma das partes, deverá dizer, de forma argumentada, porquê.
2. Como se deve preparar um ensaio?
Lendo criticamente o pequeno conjunto de leituras indicadas pelo professor (1 ou 2 pequenos artigos ou capítulos de livros) acerca do tema proposto. Nessas leituras devem procurar-se as teses em confronto e os argumentos que as sustentam, bem como a correcta compreensão do que está em causa. O aluno deverá guiar as suas leituras tendo em conta a pergunta a responder, pois o objectivo não é fazer um relatório de todos os argumentos e posições apresentadas nas leituras, mas que seja capaz de isolar aqueles que acha mais pertinentes de modo a responder à questão.
3. Como escolher o título do ensaio?
A melhor maneira de intitular o ensaio é apresentar o mais claramente possível o problema que se vai tratar. E a melhor maneira de o fazer é colocar uma pergunta.
Exemplos de títulos de ensaios podem ser:
  • Será que quando fazemos juízos morais estamos apenas a exprimir as nossas emoções?
  • Será que os animais têm direitos?
  • A pena de morte é moralmente aceitável?
  • Será que as nossas acções são boas ou más apenas em função das suas consequências práticas?
  • Será que todas as obras de arte expressam sentimentos?
  • É a existência do mal compatível com a existência de Deus?
Títulos como:
  • A moral e as emoções
  • Os direitos dos animais
  • A pena de morte
  • A arte e a expressão de sentimentos
  • Deus e o mal
embora possam ser adequados em ensaios mais longos e abrangentes, devem aqui ser evitados pois não parecem obrigar os seus autores a tomar posição nem a ser críticos e argumentativos. Além de que, a tentação de fazer um relatório de tudo o que aprendeu sobre o tema em causa será mais forte perante tais temas.
4. Como se deve estruturar o ensaio?
O ensaio deve ser estruturado de acordo com as seguintes seis fases.
  1. Formular o problema e esclarecer de forma rigorosa o que está em causa.
  2. Mostrar a importância do problema.
  3. Apresentar o mais claramente possível a tese que se quer defender.
  4. Apresentar os argumentos a favor dessa proposição.
  5. Apresentar as principais objecções ao que acabou de ser defendido.
  6. Responder às objecções e tirar as suas conclusões.
Em 1 muitas vezes não basta formular o mais claramente possível o problema para as coisas ficarem completamente claras e não haver margem para dúvidas ou ambiguidades. Temos também de explicar as noções principais envolvidas. Quando, por exemplo, se pergunta se os animais têm direitos, é preciso saber exactamente que direitos são esses e dar exemplos concretos; assim como devemos deixar bem claro se nos estamos a referir a todos os animais (incluindo os piolhos e as baratas) ou só a alguns. Do mesmo modo, quando discutimos se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, temos de esclarecer que concepção de Deus temos em mente (se é o Deus dos teístas, dos panteístas, etc., e o que isso significa), pois há diferentes concepções acerca da natureza de Deus; assim como devemos esclarecer de que tipo de mal se está a falar.
Em 2 devemos procurar mostrar por que razão, ou razões, é importante que nos ocupemos do problema de que nos ocupamos. Uma maneira de fazer isso é mostrar o que estaríamos a perder se não o fizéssemos. Se, por exemplo, nos perguntamos se é imprescindível estudar lógica formal em filosofia e a nossa resposta à questão for afirmativa, então devemos mostrar que, se não o fizermos, não só nos arriscamos a cometer erros de raciocínio, mas também a não compreender os raciocínios dos outros.
Em 3 devemos apresentar a nossa posição. Isso deve ser feito mostrando qual é a proposição que irá ser defendida. Por exemplo, em relação ao problema de saber se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, e caso a nossa resposta seja afirmativa, podemos tornar clara a nossa posição começando por dizer que defendemos a proposição "Deus existe, apesar de existir o mal no mundo" e explicar sucintamente o que isso significa. Em certos casos é possível e desejável apresentar exemplos do tipo de ideias que queremos defender.
Em 4 devemos apresentar cuidadosamente os argumentos a favor da proposição que queremos defender. Pode haver vários argumentos. Alguns deles podem até ser argumentos tradicionais, discutidos por alguns dos mais destacados filósofos. Nesse caso devemos concentrar-nos apenas nos dois ou três que nos parecem ser os mais fortes e expô-los por palavras nossas, tentando mostrar que são válidos e que as suas premissas são verdadeiras ou, pelo menos, que são bastante plausíveis.
Em 5 devemos enfrentar as principais objecções aos nossos argumentos (quer indicando possíveis contra-exemplos ao que é afirmado em alguma das premissas, quer disputando a sua plausibilidade ou até a validade dos próprios argumentos). Devemos procurar as objecções que nos parecem mais fortes e não escolher apenas as mais fracas e fáceis de responder. Nesta parte devemos apoiar-nos nas leituras que nos foram previamente recomendadas. Devemos também aqui apresentar as objecções por palavras nossas e não limitar-nos a citar os autores consultados, pois só assim mostramos compreender o que escrevemos.
Em 6 devemos dizer o que há de errado com as objecções avançadas anteriormente ou como lhes responder. Um aluno que defenda num ensaio o direito ao aborto, por exemplo, sem responder aos argumentos contrários ao aborto presentes nas leituras dadas pelo professor, exibe um deficiente domínio da dialéctica filosófica; é preciso que o aluno compreenda que tem de entrar em diálogo com as ideias e argumentos que leu. Devemos terminar resumindo muito brevemente o nosso argumento principal e expor as nossas dúvidas, caso existam (mesmo que nos inclinemos mais para um dos lados).
5. O que se avalia num ensaio?
O professor não procura saber se o aluno concorda ou não consigo. O que procura saber é, em termos gerais, o seguinte:
  • Qual é o grau de compreensão dos assuntos por parte do aluno?
  • Que qualidade têm os argumentos que oferece?
  • A redacção é clara e bem organizada?
Mais detalhadamente, o professor verifica se os seguintes critérios são satisfeitos:
  • o problema em causa é clara e correctamente formulado
  • a importância do problema é claramente mostrada
  • a tese defendida é óbvia para o leitor
  • os argumentos utilizados são bons e não há falácias evidentes
  • apresenta os principais argumentos contrários à tese defendida de forma caridosa
  • responde aos argumentos contrários
  • apresenta as ideias de forma pessoal (utilizando palavras suas e os seus próprios exemplos)
  • a estrutura do ensaio e as ideias nele apresentadas são claras para o leitor
6. Como se classifica um ensaio?
  • Se um aluno não satisfaz nenhum dos critérios anteriores, tem classificação negativa inferior a 8 valores numa escala de 20 valores.
  • Se um aluno não satisfaz alguns dos critérios e satisfaz parcialmente os outros, tem classificação negativa de 8 ou 9 valores.
  • Se um aluno satisfaz parcialmente todos os critérios, tem classificação positiva entre 10 e 12 valores.
  • Se um aluno satisfaz parcialmente alguns critérios e satisfaz totalmente os outros, tem classificação positiva entre 13 e 15 valores.
  • Se um aluno satisfaz totalmente os critérios, à excepção de um deles, tem classificação positiva de 16 ou 17 valores.
  • Se um aluno satisfaz totalmente os critérios, tem 18 valores.
  • Se um aluno, além de satisfazer totalmente os critérios anteriores, consegue mesmo assim surpreender pela positiva, tem 19 ou 20 valores.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Filosofia da ciência


Não dispomos ainda em língua portuguesa de Portugal de uma boa introdução à filosofia da ciência que seja ao mesmo tempo actual, acessível e informativa. Assim, a bibliografia base tem de passar pelo acesso a obras em outras línguas. Entre as que conheço e disponho, estas são as melhores.


John Losee, Introdução à filosofia da Ciência, Terramar, 1998, Trad. Carlos Lains
Trata-se de uma panorâmica histórica sobre a evolução das ideias em ciência, desde a antiguidade aos nossos dias



A F Chalmers,What is this thing called science?, Hacket, 1999
Há tradução brasileira desta obra e seria uma interessante escolha pelos editors portugueses. Ao contrário do livro de John Loose, aqui a abordagem é temática e não histórica



Um pequenino livro de cerca de 140 páginas que, tal como a de Chalmers, é temática. É um volume da colecção Very Short Introductions da Oxford University Press.
Para cada um destes livros clicar no nome para aceder às recensões críticas ou partes da obra e conhecer um pouco melhor. 

Ensaio Argumentativo

Este documento é o guia para os ensaios argumentativos, com apresentações para o dia 10 de Maio. 
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sábado, 21 de abril de 2012

Primeiras impressões sobre o teste intermédio de Filosofia – 11º



    Sempre fui um entusiasta dos exames e das avaliações externas. Sinto que o meu trabalho alcança outro valor. Mas já me habituei a exames mal feitos e que questionam o que é deslocado e central nas disciplinas.               Mesmo nada sabendo dos programas de Geologia / Biologia, esta semana estive de serviço com uma turma de estudantes do 10º ano para realizarem o teste intermédio dessa disciplina. Ao ler o enunciado rapidamente me apercebi que grande parte das perguntas eram mais de interpretação de português do que de biologia ou geologia, isto para além da estrutura do teste meter algum dó. Constituído por 4 grupos, todos eles exactamente com a mesma estrutura, como se fossem 4 testes independentes, mas para 90m. Mas deixo este trabalho de análise para os professores da disciplina. Agora quero apenas centrar-me numa primeira análise ao teste intermédio de filosofia.
     O primeiro aspecto criticável neste teste é que pede demasiada interpretação de texto e não pede uma só vez que o aluno pense os problemas filosóficos, que é o núcleo da disciplina. O mesmo Ministério que pede aos professores para inovarem e saírem do mero ensino expositivo que exige somente a repetição acrítica, depois quando faz o seu trabalho, nada mais faz senão do que repetir velhas fórmulas. E a velha fórmula, neste caso, é pedir ao estudante que vá a textos e os interprete e ao mesmo tempo que recorra à memória para aplicar conhecimentos, que o estudante pode ter memorizado mesmo sem compreender. Uma cabeça bem pensante pode não acertar neste teste. E um professor que se tenha dedicado mais a discutir e ensinar a discutir os problemas vê agora os seus estudantes confrontados com um teste que lhes exige algo contrário. Adiante.
     O percurso B do grupo ii, pede um exercício para testar a validade de um argumento. Contrariamente ao que indica as informações prévias de conteúdos para este teste, a disjunção que aparece na primeira premissa é exclusiva e não inclusiva, mas depois nos critérios de correcção a sugestão é a resolução com uma inclusiva. Ainda que possa ser pouco relevante para a validade do argumento não vejo qualquer necessidade de confundir mais um pouco as coisas. Depois pede que se teste a validade pelo método de tabelas de verdade. Ora os inspectores de circunstâncias usam tabelas de verdade, mas o que ali se devia pedir era um teste pelo inspector de circunstâncias. Aconselho a ver no DEF as definições para Inspectores de Circunstâncias e Tabelas de Verdade.
    De notar ainda que não se percebe como é que a filosofia tem um património tão rico de textos e depois as opções dos textos para estes testes são tão pobres. É o caso do texto de Delfim Santos. Confesso que quando li a questão, a primeira do Grupo iii, nem percebi bem o que se pede ali. E ainda agora, após já ter lido algumas vezes o texto, se me posicionar como examinado, pura e simplesmente ficaria perdido, sem saber o que responder.  A questão pede que esclareça o sentido de uma frase. Não pede mais nada. Ora, pensando que se trata de uma questão dirigida aos conteúdos a explorar na Estrutura do Acto de conhecer, questiono-me onde ficaram questões centrais como a tese CVJ de Platão ou as objecções de Gettier, os tipos de conhecimento, etc… Na minha opinião há aqui uma cedência à dispersão de maneiras de ensinar este capítulo que até muitas vezes confunde modelos de conhecimento, como a fenomenologia, com a estrutura do acto de conhecer, como lhe chama o programa. A verdade é que há professores que não ensinam a tese de Platão ou os tipos de conhecimento e é igualmente verdade que o programa não o pede de forma explícita. Então há que colocar uma questão na qual caiba lá tudo. Mas não há razão para o disparate obscurantista que nada dignifica o exame, quando antes se elaborou uma informação exame na qual se deveria ter especificado bem os conteúdos a testar.
     As questões sobre Hume e Descartes são pedidos de comparação e de explicitação, nada mais.
    Não sei avaliar se este teste é difícil ou fácil, nem penso que essa questão deva ser colocada para testes ou exames, já que isso envolve outras questões. Mas é claro que o teste não é um teste de filosofia.
    Uma palavra final. Se por um lado é bom responsabilizar todo o sistema de ensino com avaliações externas utilizando testes e exames, por outro não se percebe a razão pela qual se elaboram ainda exames com um nível abaixo do desejável. Mas prefiro para já insistir com a minha eventual ingenuidade ao pensar que com tempo e experiência se melhoram estas práticas. Espero...
Mais apreciações AQUI e AQUI e AQUI e AQUI e AQUI e AQUI.
Para ver o exame clicar aqui. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

EXERCÍCIOS DE LÓGICA

Já vai um pouco tarde, mas quem andar por aí toca a praticar estes exercícios para a aula de amanhã fazer umas revisões para o teste intermédio.


EXERCÍCIOS DE LÓGICA

CÁLCULO PROPOSICIONAL

1.     Formaliza as seguintes frases:

        1.1.A eutanásia é permitida por lei se for praticada na Holanda.
        1.2.A eutanásia deve ser permitida se, e só se, for aplicada a doentes terminais.
        1.3.Se Picasso é espanhol e está vivo, então não é pintor.
        1.4.Picasso é espanhol e, se está vivo, então não é pintor.
        1.5.Picasso é espanhol, mas não está vivo.
        1.6.Picasso não está vivo, embora seja espanhol e pintor.
        1.7.Não acontece depressa e bem.
        1.8.Vou à praia e tomo banho ou leio um livro. (*)
        1.9.Se o professor não se despachar, chega tarde à escola e os alunos têm folga.
        1.10.Pedro e Inês amam-se.


2.     Formaliza os seguintes argumentos:

        2.1.Se for à praia e tomar banho, leio um livro. Sucede que  não leio um livro, portanto não vou à praia e tomo banho.
        2.2.Está a chover, uma vez que se não chovesse as pessoas não estavam molhadas e as pessoas estão molhadas.
        2.3.A Ana não está contente, pois quando tira positiva num teste fica contente e sempre que fica contente canta. Acontece que a Ana não canta.
        2.4.Deus existe ou a Bíblia está errada. Se Deus existe, não existe o mal no mundo. Mas no mundo existe o mal. Daí que a Bíblia esteja errada.
        2.5.Se Deus existe e é bom, então o mal não existe no mundo. Mas se o mal não existe no mundo, o paraíso terrestre existe. Mas será que o paraíso existe na Terra? A verdade é que o paraíso terrestre não existe. Logo, não é verdade que Deus existe e é bom.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Teste Intermédio 11º ano


Já aqui havia publicado, mas para os mais distraídos clicar AQUI para aceder aos conteúdos a serem testados no Teste Intermédio de Filosofia para o próximo dia 20.

Estudar filosofia do conhecimento


Para preparares melhor o teu estudo, clica nos links para os textos.
Estrutura do acto de conhecer:

Crença e Conhecimento  (Daniel Kolak e Raymond Martin)
O que é o Conhecimento? (Elliott Sober)
Percepção (Robert Sekuler e Randolph Blake)

A possibilidade do conhecimento:

Conhecimento e Cepticismo (Janice Thomas)

domingo, 15 de abril de 2012

Leituras para filosofia política


Em língua portuguesa dispomos de poucas introduções à filosofia política que sejam ao mesmo tempo abrangentes, rigorosas e acessíveis. A melhor que dispomos é a de Jonathan Wolf, Introdução à filosofia política, (Gradiva) (Tradução Maria de Fátima St Aubyn). O autor começa o livro com o tradicional problema de tentar saber se a política é natural aos seres humanos ou se não é se depende de um contrato ou quais os critérios mais universalizantes para saber o que é uma organização política. O livro percorre ainda outros problemas centrais da filosofia política como a distribuição da riqueza, a justificação do estado, a liberdade ou os direitos individuais.


Mais recentemente saiu o livro Filosofia política para principiantes (Vogais) (Trad. Isabel Souto Santos), uma entusiasmante introdução, muito pequena, com ilustrações. Com este livrinho, da colecção inglesa A graphic guide, ficamos com uma visita panorâmica desde a antiguidade até aos nossos dias dos principais teóricos da filosofia política, bem como dos aspectos mais críticos das teorias principais. Uma boa introdução, ainda que demasiado panorâmica. Desconheço o original e mesmo não sabendo tratar-se de um defeito da edição portuguesa, apesar de pequeno, o livro merecia um índice remissivo.


Finalmente uma das mais estimulantes leituras de filosofia política é o livro de Michael Sandel, Justiça (Presença) (Tradução de Ana Cristina Pais) que já aqui tinha divulgado. Um livro cheio de exemplos actuais, muito direccionado para as filosofias políticas e morais de Aristóteles e Kant, mas também de Rawls. Também este volume ficou na edição portuguesa sem índice remissivo, o que é uma dificuldade acrescida para quem o deseje usar para fins profissionais ou académicos.
Temos disponíveis muitas outras obras, desde John Rawls a Robert Nozick que serão indicadas para quem deseje aprofundar os problemas. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Leitura para principiantes

Acabei de receber a feliz notícia que está a ser publicada em Portugal a colecção de pequenos livros "Para principiantes", uma colecção que possui alguns bons títulos de filosofia. E para estreia temos o volume dedicado à filosofia política. Trata-se desta colecção: AQUI. A edição portuguesa é da Vogais com todas as letras. Aqui fica o texto de apresentação:


Para Principiantes. A coleção de sucesso publicada nos anos 80 está de regresso. Os três primeiros livros, de uma coleção que já ultrapassou os 70 títulos publicados fora de portas, já chegaram às livrarias nacionais. Em Economia, Psicologia e Filosofia Política são abordadas questões atuais de forma sucinta, simples, com ilustrações criativas, e sempre enriquecedoras.
Os livros que compõem a coleção Para Principiantes são escritos por peritos na matéria e ilustrados por conhecidos designers. É a melhor forma de aprender as principais ideias, pensamentos e acções que influenciaram e mexem com a nossa maneira de pensar e viver.
De fácil leitura e compreensão, estes guias são a forma mais prática e rápida de saber um pouco de tudo, em pouco tempo. Afinal, o saber não ocupa lugar, nem espaço.


domingo, 1 de abril de 2012

Os limites morais dos mercados



Uma das tendências mais surpreendentes do nosso tempo é a expansão dos mercados e do raciocínio orientado para o mercado para esferas da vida tradicionalmente regidas por normas que não estão relacionadas com os mercados. Em capítulos anteriores, consideramos as questões morais que surgem, por exemplo, quando os países contratam serviços militares e o interrogatório de prisioneiros a mercenários ou empresas privadas; ou quando os pais externalizam a gravidez e o parto a trabalhadoras pagas dos países em desenvolvimento; ou quando as pessoas compram e vendem rins no mercado livre. Mas existem muitos outros exemplos: deverão os estudantes de escolas com baixo aproveitamento receber dinheiro para terem boas notas nos exames padrão? Deverão os professores receber prémios para melhorarem os resultados nos exames dos seus alunos? Deverão os estados contratar empresas prisionais com fins lucrativos para alojar os seus reclusos? Deverão os Estados Unidos simplificar a sua política de imigração adotando a proposta de um economista da Universidade de Chicago de vender a cidadania norte-americana por uma taxa de 100 mil dólares ? Estas questões não têm apenas que ver com utilidade e consentimento. Têm também que ver com a maneira certa de valorizar práticas sociais fundamentais - serviço militar, parto, ensino e aprendizagem, penas criminais, a admissão de novos cidadãos e assim sucessivamente. 

Uma vez que a mercantilização das práticas sociais pode corromper ou deturpar as normas que as definem, temos de perguntar que normas não mercantis queremos proteger da intrusão do mercado. Trata
Uma vez que a mercantilização das práticas sociais pode corromper ou deturpar as normas que as definem, temos de perguntar que normas não mercantis queremos proteger da intrusão do mercado. Trata-se de uma questão que exige um debate público sobre conceções opostas do que é a maneira certa de valorizar bens. Os mercados são instrumentos úteis para organizar a atividade produtiva. Mas a menos que queiramos deixar o mercado rescrever as normas que regem as instituições sociais, necessitamos de um debate público sobre os limites morais dos mercados.
Michael Sandel, Justiça, Ed. Presença, 2011, p.275 (Tradução: Ana Cristina Pais)