quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Algumas noções para começar



Neste início de aprendizagem de como fazer filosofia é preciso ter em atenção algumas palavras novas que em filosofia adquirem um significado muito preciso. Assim, para começar vamos analisar de forma breve algumas dessas palavras:
Argumento – um argumento também se pode chamar de raciocínio ou inferência e consiste em retirar uma conclusão de certas premissas ou, o que é o mesmo, defender uma tese (conclusão) oferecendo razões para essa defesa.
Vamos imaginar que queremos defender que as touradas são imorais. Podemos argumentar da forma seguinte:
Premissa: Qualquer actividade humana que faça sofrer animais não humanos é imoral
Premissa: As touradas fazem sofrer animais não humanos
Conclusão: Logo, as touradas são imorais


Um argumento tem só uma conclusão, mas pode ter uma ou mais premissas. O exemplo acima mostra um argumento com duas premissas.
O que é característico nos argumentos é que eles preservam a verdade. Num argumento válido, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também o será.
Os argumentos são como as máquinas de fazer salsichas. Se metermos carne de salsicha, a máquina vai fazer salsichas. Nos argumentos válidos se metermos premissas verdadeiras, vai sair conclusão verdadeira.
Há vários tipos de argumentos. No 11º ano estudarás quer os argumentos dedutivos, quer os indutivos. Para já bastam estas noções iniciais.
Em filosofia vamos sempre trabalhar com argumentos, já que é a ferramenta disponível pelos filósofos para tentarem resolver os problemas filosóficos, que são problemas conceptuais e não empíricos, como viste nas aulas.
Os problemas filosóficos são sempre questões e as respostas são razões que oferecemos para sustentar uma tese. Assim, perante o problema, por exemplo, da filosofia da arte, se é possível ter uma definição de arte, seja a resposta sim ou não, temos de apresentar razões em favor da nossa resposta, que será a conclusão do nosso argumento.
A vantagem do pensamento filosófico, mais que chegar a conclusões, é começar a compreender que muitas das nossas crenças são mal fundamentadas e muitas vezes também inconsistentes umas com as outras.
Crença em filosofia não tem o mesmo sentido que crença no sentido comum, que é a crença em Deus ou numa religião. Do mesmo modo o conceito de massa em física não significa a massa que comemos ao almoço ou o dinheiro que temos para comprar o Fifa 2013.
Duas crenças são consistentes se podem ser ambas verdadeiras, mas são inconsistentes se não podem ser ambas verdadeiras. Por exemplo a crença que o FC Porto é o melhor clube do mundo é consistente com a crença de que se estudar muito tiro boas notas, mas a crença que o FC Porto é o melhor clube do mundo não é consistente com a crença de que o FC Porto não é o melhor clube do mundo, porque uma tem de ser verdadeira e a outra falsa e não podem ser ambas verdadeiras ao mesmo tempo.
Proposição: uma proposição  é o pensamento expresso em frases. Por exemplo a proposição expressa pela frase “a porta está fechada” é a mesma que pela expressa pela frase “the door is closed”. Ora, o que pensamos pode ser verdadeiro ou falso, de acordo com o mundo. Se a porta estiver de facto fechada, então a proposição do exemplo é verdadeira. Não é a frase que é verdadeira ou falsa, mas o que pensamos e que expressamos pela frase é que é verdadeiro ou falso. Não podemos dizer que perguntas, admirações ou frases sem sentido exprimem verdades ou falsidades de pensamento, pelo que na filosofia só nos interessam as frases declarativas com sentido, aquelas que expressam as proposições. Está claro?
Nunca dizemos que os argumentos são verdadeiros ou falsos. Isso seria um erro. As proposições (que no argumento ocupam ora o lugar de premissas ora o lugar de conclusão) é que são verdadeiras ou falsas. Os argumentos são válidos ou inválidos
Um argumento é válido quando se for impossível verdades gerarem falsidades, isto é, se temos verdades nas premissas e o argumento for válido, vamos ter verdade na conclusão. Há outros aspectos a estudar sobre os argumentos, mas para já vamos ficar com estas noções mais básicas que nos servem para seguir em frente.
Os argumentos são centrais na filosofia, pois queremos discutir e defender posições e para o fazer temos de o fazer com rigor. Ora argumentar com rigor é um dos objectivos da disciplina de filosofia. Argumentando bem, treinamo-nos a discutir ideias de forma racional e a evitar o desgaste das gritarias.
Agora, vamos lá fazer salsichas! (Ups! Verdades….)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O problema da definição


Uma definição é uma maneira de dizer o que uma coisa é. As definições são muito importantes em filosofia já que nos permitem clarificar os conceitos presentes nos nossos argumentos. Mas na maioria das vezes temos dificuldade em definir em filosofia, já que queremos precisar com muito rigor o que queremos expressar com determinado conceito. A própria definição de filosofia é difícil de obter. Uma boa maneira de sabermos com maior precisão o que a filosofia é, é caracterizá-la. Como viste na aula, se queremos definições de filosofia, quase nunca conseguimos boas definições e quase sempre elas expressam de modo impreciso o que a filosofia é. É como se fosse um jogo de tiro ao alvo e acertamos sempre, mas raramente acertamos no centro.
Para começar, o melhor mesmo é consultares o DEF (Dicionário Escolar de Filosofia), na sua versão on-line e começares por ver o que significa: “Definição”, “Definição Explícita” e “Definição Implícita”. Procura clicando AQUI.  E já agora, já te sentes capaz de caracterizar a filosofia? 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O que é a filosofia?


Ao longo deste ano lectivo vou postar alguns textos para os meus alunos de Filosofia dos 10º 14, 20, 30 e 32 da Escola Secundária Jaime Moniz. Grande parte deste espaço irá doravante ser ocupado com materiais de estudo de complemento às aulas. Naturalmente ao estudante do 10º ano interessa saber respostas a algumas questões, nomeadamente:

      1)      O que é a filosofia?
      2)      Como estudar filosofia?
      3)      É a filosofia difícil?

Como complemento há ainda outras informações a aprender, principalmente as relacionadas com a  história da filosofia e as principais áreas de estudo desta disciplina nova.
Para começar deixo aqui o link para um texto belíssimo de Nigel Warburton. O teu estudo deve iniciar-se pela leitura deste pequeno, mas motivador texto.
Nigel Warburton é professor de filosofia e autor de muitos livros de filosofia, grande parte deles destinado a jovens estudantes. O texto que apresento no link a seguir tenta responder à questão 1) O que é a filosofia?
Todas as entradas destinadas aos alunos do 10º ano serão arrumadas na etiqueta com o nome “10º” para facilitar a procura de artigos para posterior estudo.
Bom ano e bom estudo.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Pensar de A a Z

A Bizâncio acaba de anunciar a edição para Setembro do livro de Nigel Warburton, Pensar de A a Z, na colecção Filosoficamente, dirigida por Desidério Murcho. A tradução é de Vitor Guerreiro, com introdução e notas de Desidério Murcho. Mais um livro disponível na nossa língua e que tem todo o interesse para o ensino secundário.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Really Really Big Questions. About Me


A ideia de divulgar a filosofia e a ciência é muito popular em alguns países. Esta divulgação – ainda morna em Portugal – aparece como central a muitos autores, pois é de pequenino que se torce o pino. Além disso é certo que é tentadora a ideia da publicação. Se um livro tiver sucesso, enriquece o autor, o que é justo, apesar de muito distante da nossa realidade. Mas tanto em Inglaterra como nos EUA ou em Portugal há sempre um bom motivo comum, que é a paixão de trazer mais pessoas ao saber, à ciência e à filosofia. Não há outra explicação para trabalhos tão intensos e de qualidade suprema como os de Carl Sagan, por exemplo. Na esmagadora maioria dos casos é errado ficar com a ideia de que os divulgadores só se dedicam à divulgação. Em regra, um bom autor de divulgação é também um bom mestre na sua arte. E assim percebemos o caso de A C Grayling (este fim de semana estará em Lisboa nos encontros nacionais de professores de filosofia) que, ao mesmo tempo que manifesta preocupações com a qualidade sofisticada da filosofia (ver aqui), também publica livros de divulgação. Apesar de salvas as diferenças, atrevo-me a colocar no mesmo lote o nome de Stephen Law que além de editor da prestigiada revista de filosofia Think tem publicado com regularidade livros de filosofia de divulgação e alguns outros para os adolescentes e crianças. Descobri por acaso um desses livros felizmente traduzidos para português quando procurava livros para o meu filho numa secção de livros para crianças (ver aqui). Hoje mesmo tive a notícia da publicação de um outro volume. Resta esperar que o editor português esteja atento e manifeste interesse na sua tradução.