quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Um best of para 2017

Nem só de livros vive a filosofia. Vive, e muito, de artigos, teses académicas, palestras, conferências, vídeo aulas, etc. Mas o formato livro dá conta também do interesse comercial de um determinado saber. Diria que o interesse português pela filosofia é bastante modesto. E desconfio que é assim quanto ao interesse geral pelo conhecimento. Mas também já foi pior. E também não sei dizer que benefício haveria em ter publicações em grande número  todos os meses. Seja como for quando quero fazer a lista dos melhores livros de filosofia publicados em Portugal ao longo de 1 ano apenas, raramente consigo chegar aos 10 livros. Claro que foram publicados mais. Simplesmente aqui o critério da lista é também muito apertado. Eu, como leitor, sou o critério (risos). Assim, de seguida, apresento aqueles que foram para mim as edições mais interessantes no campo da filosofia publicada em Portugal. Pelo meio escolho sempre um ou outro título não diretamente ligado à filosofia, mas pelo menos com algumas conexões indiretas. Finalmente, a filosofia não se lê por anos. Isto significa que um leitor de filosofia não lê um livro em função do ano de publicação, mas do interesse para a discussão de um determinado problema. De salientar que os maiores grupos editoriais portugueses praticamente não publicam filosofia.

1.      Jason Brennan, Contra a Democracia, Gradiva, Trad. Elisabete Lucas

2.      Yuval Noah Harari, Homo Deus, Elsinore, Trad. Bruno Amaral


3.      Peter Singer, Ética no mundo real, Ed. 70, Trad. Desidério Murcho


4.      John E. Roemer, Um futuro para o socialismo marxista, Gradiva, Trad. José S. Pereira


5.      Harry Frankfurt, Sobre a verdade, Gradiva, Trad. Mª Fátima Carmo


6.      Roger Scruton, A natureza Humana, Gradiva, Trad. Mª Fátima Carmo


7.      Bernard Williams, A ética e os limites da filosofia, Documenta, Trad. A. Morão e D. Santos


8.      António Damásio, A estranha ordem das coisas, Temas & Debates, Trad. Luís Oliveira e João Quina



Para 2018 gostaria de ver traduzidos muitos livros. Mas para já ficaria contente com a publicação entre nós de alguns dos livros de Julian Baggini, para mim, provavelmente o melhor escritor de filosofia popular mais estimulante do momento e do qual ainda não temos um único livro traduzido. Gostaria também de ver traduzida a breve introdução à filosofia política muito bem escrita por David Miller. E também agraciava a tradução do livro sobre o problema do livre arbítrio de Ted Honderich, How free are you? The determinismo problema. Apesar de já ter uns anos é um excelente livro. Mas não ficaria triste de ver mais livros de autores como Thomas Nagel, Jason Brennan, Jeff Macmahan ou David Benatar, todos eles autores com livros muito apetitosos. Esperemos que tal aconteça. 
Bom 2018












quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Professor, as aulas de filosofia são confusas!


Quem leciona filosofia certamente já foi confrontado com observações contraditórias por parte dos seus alunos. De uma mesma aula, alguns alunos dizem que “a filosofia entende-se bem”, “o professor é muito claro nas explicações das teorias” ou, ao invés, “esta aula é uma confusão”, “o professor é um confuso”. Do ponto de vista de quem ensina o caminho fácil é considerar os alunos que fazem o primeiro tipo de afirmações uns amores e os que fazem o segundo tipo, uns estupores. Mas ensina-nos a vida que o caminho mais fácil nunca é o melhor e talvez estas afirmações dos alunos mereçam alguma consideração com detalhe. Ao mesmo tempo sabemos que a referência generalizada nas dificuldades quanto às aprendizagens na matemática é a conhecida “falta de bases”. Pois, o que me parece acontecer na filosofia é exatamente o mesmo, falta de bases. Não é por acaso que a filosofia ocorre nos currículos somente no ensino secundário, ou pelo menos com especial incidência na adolescência (pese embora experiências paralelas meritórias na filosofia para crianças). E ocorre nesta etapa da vida dos estudantes precisamente porque se considera que neste nível o estudante é capaz de abstração. Para compreender o problema do livre arbítrio, a causalidade não é coisa que se veja com os olhos. Quando um aluno vê o professor empurrar uma garrafa de água é somente isso mesmo que vê, muitas das vezes sem compreender que existe ali um fenómeno físico e material de causalidade. A causalidade é uma medida que se capta com a mente e não com os olhos. Se este terreno de base não está preparado, será, assim, muito difícil ao aluno compreender a relação estabelecida entre causalidade natural e livre arbítrio e, daí, captar a essência do problema.
Existe uma tendência para estes alunos com dificuldade de apreensão abstrata em considerar que as aulas devem ser um despejar de definições que se decora acriticamente. Claro está que perante alunos com estas características a filosofia pode ser uma grande desvantagem. E para o professor sobra trabalho suplementar já que tem de trabalhar em função desta incapacidade, ou melhor, desta capacidade ainda não treinada. Além de ter de saber resistir aos comentários dos alunos em relação às matérias que tem para com eles trabalhar.
Há formas muito simples de compreender se esta base da abstração está ou não trabalhada. Por exemplo, com a exibição de uma reprodução da Guernica, uns alunos vão observar que estão a ver um boi, uma lâmpada, um homem aos berros, quando outros, perante o mesmo desafio, já observam que estão a ver sofrimento, confusão, caos e miséria. Roubando um pouco à teoria de Piaget, diria que os primeiros ainda militam na fase das operações intelectuais concretas, quando os segundos já estão na fase das operações abstratas.
Os testes diagnóstico podem dar uma primeira imagem ao professor do estado dos alunos e o que pode esperar das suas aprendizagens. No caso dos alunos com esta capacidade ainda não trabalhada, o melhor mesmo é avançar com a leitura de pequenos textos com algum grau de abstração (como qualquer bom texto de filosofia) e pedir comentário quase linha a linha. Mas no nosso sistema formal de ensino, não há tempo a perder, pelo que há que procurar o equilíbrio entre este trabalho e o avanço dos conteúdos. Mas parece claro que os alunos avançam a ritmos muito diferenciados em virtude da sua capacidade de compreender o mundo abstratamente. E qualquer professor do secundário está consciente das dificuldades encontradas nos alunos sem esta base: preguiça, reacionarismo em relação à disciplina e ao professor, etc. É uma luta dura.
Um trabalho interessante é ter algumas ideias minimamente sólidas das razões por que estas bases não são consolidadas. E existe muita literatura interessante sobre o assunto, desde a sociologia até à psicologia e as neurociências. Mas é difícil atirar com certezas perante esta dificuldade.
Entre as razões mais imediatamente compreensíveis estão as sociais e familiares. Um aluno médio de 15 anos pode saber perfeitamente o nome dos defesas centrais do atual plantel do Benfica (e não há mal algum nisso), mas dificilmente ouviu falar de Picasso. E que razão me leva a pensar que há aqui um qualquer hiato entre aquilo que a realidade é e aquilo que ela deveria ser? Porque o futebol, pese embora possa ser abstratamente analisado, lida diretamente com as emoções e é essa a relação mais comum que a esmagadora maioria dos adeptos de futebol têm com a modalidade. Mas olhar uma obra de Picasso exige alguma abstração, pelo que o exercício implica algum trabalho intelectual. E é exatamente este o trabalho que muitas das vezes as famílias, meios de comunicação e sociedade em geral poderiam fazer de modo mais consistente e que, na minha opinião, não fazem.

Este trabalho é comunitário no sentido em que não cabe exclusivamente aos professores, mas a todos. Quando confiamos apenas nos professores para realizar este trabalho não deveria pelo menos ser estranho que os alunos muitas das vezes considerem a filosofia confusa quando com ela se confrontam pela primeira vez. 

Link da imagem: (https://gartic.com.br/luchfe/desenho-jogo/confuso)

Voltar a estudar? Que tal filosofia?


Voltar a estudar após uma certa idade é uma pratica ainda muito tímida em Portugal. Mas devia acontecer com maior frequência. Estudar é das atividades humanas mais motivadoras. A repetição profissional ao cabo de alguns anos implica desgaste e falta de motivação. Imediatamente pensamos em mais dinheiro como principal foco motivacional. Mas após asseguradas as necessidades básicas não é com mais dinheiro que vamos criar mais motivação. A experiência com a Universidade Senior é uma excelente ideia. Mas o que aqui refiro destina-se mais a pessoas inseridas no mundo profissional e não a reformados. Estudar filosofia aparece aqui com um destaque interessante, senão vejamos rapidamente algumas das principais vantagens de estudar filosofia no mundo de hoje:
Argumentação – é o nervo central da filosofia. Estudar filosofia é entrar no gigantesco diálogo sobre questões básicas. Não são básicas no sentido de serem as mais simples, mas as questões mais essenciais de compreensão da vida humana e do mundo.
Ceticismo – uma boa dose de ceticismo é a base para a análise crítica de problemas e de tentativa de solucioná-los. Sem essa dose certa de ceticismo não se exerce a capacidade crítica e sem ela não se apresenta qualquer tipo de evolução seja em que área for da vida humana.
Abstração – uma capacidade que também se exerce com a arte, matemática, etc. A abstração é uma maneira de compreensão do mundo e dos outros, sem a qual, essa compreensão seria muito mais sujeita a impasses e erros de interpretação. A abstração é o primeiro passo para o rigor.
Comunicação – comunicar é expressar pensamentos e a maneira como estamos a interpretar o mundo. O estudo da filosofia desenvolve bem esta capacidade, já que quem estuda filosofia lida o tempo todo com a necessidade de expressar com clareza o que está a pensar. Esse esforço pode resultar muitas vezes em confusão. Mas quando bem conduzido resulta quase sempre em clareza.
Compreender a ciência – pode-se ser cientista ou fazer ciência sem compreender muito bem o que é a ciência e como se desenvolve ou progride a ciência. Estudar filosofia e principalmente filosofia da ciência é a porta aberta para a compreensão de como e para quê se faz ciência.
Informação – um dos perigos a que mais estamos sujeitos no mundo da informação é o da manipulação. Estudar filosofia dota-nos de capacidade crítica para avaliar e analisar fontes, critérios, etc. É também uma maneira de prevenir contra a má ou enviesada informação.
Política – um sistema mais perfeito é um sistema em constante aperfeiçoamento. Pensar que vivemos no melhor dos mundos possíveis é ao mesmo tempo aceitar que não existe melhor do que o que já temos. Ora esta não é a postura adquirida por quem quer que estude filosofia. Repensar sistemas políticos, compreender porque podem não funcionar, etc é uma das capacidades desenvolvidas pelo estudo da filosofia.
Liberdade – Ousa saber! Os filósofos não tem praticamente limites na abstração. Ou antes diria que os limites são critérios como a clareza. Mas a liberdade crítica é uma prática entre filósofos. E uma prática adquirida por quem estuda filosofia, uma capacidade de não impor nenhuma verdade como incontroversa.


domingo, 12 de novembro de 2017

Uma breve história do amanhã

Quando, o ano passado por altura do natal estive em Londres, este livro do historiador israelita Yuval Noah Harari fazia montra nas principais livrarias. Isso não atesta por si da qualidade do livro. Mas é prova da ampla curiosidade que o livro desperta. E ainda bem, pois é um livro muito bem escrito e extraordinariamente estimulante. Pese embora o pendor especulativo não é, no entanto, um livro de filosofia. Antes pelo contrário, a preocupação não é defender ou refutar argumentos, mas perspetivar um futuro não muito longínquo. Se em Homo Sapiens a história era contada até ao presente, em Homo Deus, a história conta-se a partir do momento presente. Lúcido e de fácil leitura é, como me dizia um amigo, um livro que qualquer pessoa culta hoje em dia deve ler. 

sábado, 11 de novembro de 2017

Há uma nova secção no blogue, a Biblioteca do Educador. Mais uma vez os livros nela referenciados são o reflexo do meu itinerário bibliográfico pessoal. Para já apenas refiro as capas dos livros. Mais tarde consoante a vontade e o tempo disponível, incluirei um breve comentário de cada um deles. Como será de notar, os livros não seguem uma "escola" da educação. Mas quase todos são sugestivos para a discussão do que deve ser a escola e a profissão de professor assim como o lugar dos alunos e das suas aprendizagens. A secção pode ser apreciada Aqui, ou na aba acima na barra de abas. 


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Ano letivo 2017/18 - mudanças e filosofia


Em Portugal Setembro é o mês do regresso às aulas. Nos últimos anos tem sido marcado negativamente em várias frentes: os pais e o custo financeiro com os manuais e material escolar, os professores com a enorme instabilidade profissional, a rede escolar com problemas de equilíbrio, etc… de uma forma resumida o que mais marca o início de cada ano letivo são as alterações das “regras do jogo”. Mas ao mesmo tempo que alguns aspetos no ensino mudam de ano para ano (por vezes menos), outros há que não mudam há mais de uma década. O programa de filosofia vigente data de 2001 (ver aqui). Muitas mudanças no ensino acontecem porque cada ministro que sucede o anterior, assim como as novas equipas, têm ideias diferentes e querem assim imprimir a sua marca, não se dando conta que desse modo estão a estragar mais do que o que arranjam. Neste sentido, ainda bem que o programa de filosofia não tem sofrido alterações. Alterar apenas porque sim, não me parece uma boa ideia. E alterar apenas porque se discorda totalmente também não me parece razoável. Há um trabalho de base meritório que vale a pena retocar. Afinal de contas, nós, professores, andamos há tantos anos nisto, a trabalhar um programa que parece insensato querer alterar tudo de uma só vez. Felizmente as propostas que entretanto se vão falando não seguem esse sentido, o de tudo alterar. A proposta, oficial de revisão curricular para a disciplina no 10º ano já circula livremente (ver aqui). E ela inclui alguns aspetos muito interessantes, embora, claro, discutíveis. A inclusão da lógica elementar logo a abrir o 10º ano parece-me uma opção correta como método de trabalho. Mas é igualmente importante que os tempos letivos para cada unidade sejam pensados não de modo a explorar os conteúdos teóricos sem considerar o trabalho e tempo necessário em sala de aula para trabalhar textos, interpretação aplicando os métodos aprendidos, gerir comportamento adequado ao trabalho, etc. Claro que começar a disciplina pela apresentação do método não é, em muitos sentidos, uma opção feliz. Se o que anima a disciplina, por que não começar logo por debater os problemas? Haveria algum prejuízo em começar a ensinar astronomia olhando para as estrelas?
É sobretudo importante que as mudanças não impliquem transformações de fundo constantes, muitas vezes quase ao sabor do vento ideológico ou de preferências grupais sem atender os muitos e diversos contextos em que a disciplina se ensina. As mudanças permanentes atrapalham o trabalho nas escolas e em regra acabam sempre por desmotivar.
Por fim, uma palavra aos professores de filosofia. Segundo percebo são muitos os professores de filosofia que não ensinam filosofia. Isto acontece porque os horários têm vindo a diminuir e, entretanto, os disponíveis acabam todos ocupados por professores de quadro de escola e com mais tempo de serviço. Por isso mesmo em muitas escolas os professores de filosofia estão a ensinar disciplinas que não a filosofia. Não considero a filosofia mais essencial que muitas outras disciplinas que podem ser ensinadas. Afinal, poderíamos ter um currículo diferente e até melhor com ou sem a filosofia. O ponto aqui é outro. Os professores de filosofia estudaram filosofia e prepararam-se durante alguns anos para o domínio científico da filosofia. Por isso mesmo e enquanto cá andamos e é tempo, esta parece ser uma boa razão para assegurar a disciplina no ensino geral e obrigatório. Como disse, um bom sistema de ensino pode dispensar uma outra disciplina ou substituindo-a por outra igualmente importante. Daí não se segue que a disciplina de filosofia seja dispensável. Acontece que, uma vez existindo, isso é por si mesmo uma boa oportunidade para fazer um bom trabalho na sua apresentação.
E ainda antes de terminar. Costumo usar uma hipótese quando pessoas não ligadas ao ensino criticam de forma geral o trabalho dos professores: “- Vamos imaginar que é verdade que os professores são todos mesmo maus. Sendo isso verdade e sabendo disso mesmo, o que é que devemos fazer, substituir todos os professores por carpinteiros nas escolas?” Invariavelmente a resposta é não. Isto é, temos de trabalhar com o que somos e temos, saber contar apenas com o nosso trabalho. Tudo o que vier a mais de positivo será bom. Mas não podemos esperar que sejam os de fora, mesmo os das universidades, a fazer o nosso trabalho. Não podemos nem devemos esperar que nos preparem os programas, as aulas, os materiais que usamos. Dependemos apenas de nós mesmos.  

Um bom ano a todos

terça-feira, 27 de junho de 2017

domingo, 25 de junho de 2017

Ética na imprensa

Um dos filósofos mais populares e, talvez por isso, mais incómodos da atualidade para os mais conservadores, numa entrevista à revista semanal Sábado, nº 686, de 21 a 28 de Junho de 2017. Por Vanda Marques. Nesta pequena entrevista, Singer aborda alguns dos problemas reunidos no livro Ética no Mundo Real - 82 breves ensaios sobre coisas realmente importantes , publicado entre nós pelas Ed. 70 e traduzido por Desidério Murcho.  Um facto curioso que vale a pena mencionar: Peter Singer é atualmente o filósofo que mais ódios suscita. Quando refiro "ódio" é em sentido literal. Claro que no mundo da filosofia existem filósofos que procuram objetar as posições de Singer, como o seu conterrâneo David Oderberg. Numa versão menos racional, abundam as tiradas anti Peter Singer. Curioso é que as posições de Singer nem sequer são as mais radicais em relação a alguns dos problemas éticos que aborda. E mais curioso ainda é que muitos filósofos do passado, hoje unanimemente idolatrados, foram mais radicais que Singer. Neste como muitos outros casos, Singer paga o preço da fama. 


Pensamento Crítico na Imprensa

Em Novembro de 2016 promovi, com o Sindicato de Professores da Madeira, uma ação de formação sobre pensamento crítico e como o usar na sala de aula. Sugeri que parte de trabalhos de formandos fossem publicados. E aqui está o resultado na edição xxxviii i nº100 do jornal Prof, do SPM, Diretor Francisco Silva.
Esta ação irá repetir-se no Porto Santo nos próximos dias 10 e 11 de Julho. Uma segunda parte desta ação está a ser preparada.

Sobre a verdade e Contra a democracia

Duas novidades muito interessantes da Gradiva e que são certamente dois relevantes acontecimentos editoriais em língua portuguesa.



Sinopse
Nenhum modelo político deve ser sacralizado, por nenhum ser perfeito e não serem imutáveis as circunstâncias em que algum deles se tenha revelado como o menos mau.

A edição deste livro é um contributo para as pessoas livres, que o queiram continuar a ser, debaterem as disfunções crescentes que cada vez mais visivelmente estão a impedir a democracia de realizar alguns dos seus mais importantes ideais. É também um desafio para os que visam aperfeiçoar o seu funcionamento de modo a realizar os seus objectivos essenciais: a liberdade, o progresso social, a dignidade, o desenvolvimento humano.

A maioria das pessoas acredita que a democracia é a única forma justa de governo. Crê que todos temos direito a uma quota igual de poder político. E também que a solução de participação política "um homem um voto" é boa para nós – dá-nos poder, ajuda-nos a conseguir o que queremos e tende a tornar-nos mais inteligentes, virtuosos e atentos uns aos outros.

Mas Brennan, considera que estão erradas, argumentando que a democracia deveria ser julgada pelos seus resultados,apresentando abundantes dados empíricos de que não são bons o suficiente.
Tal como os acusados têm direito a um julgamento justo, os cidadãos têm direito a um governo competente. Mas a democracia é com frequência o domínio do ignorante e do irracional, ficando demasiadas vezes aquém do que se espera. Além disso, uma enorme diversidade de pesquisa em ciências sociais mostra que a participação política e a deliberação democrática parecem tender cada vez mais frequentemente a tornar as pessoas piores – mais irracionais, tendenciosas e más. Considerando esse quadro sombrio, Brennan argumenta que um diferente sistema de governo – a epistocracia, ou governo dos sábios – pode ser melhor do que a democracia, e que é tempo de reflectir seriamente sobre isso.

Longe de se tratar de uma diatribe panfletária, esta é uma relevante obra de filosofia política em que se discute, de forma intelectualmente honesta, cada um dos melhores argumentos a favor da democracia. O resultado é uma crítica séria e uma defesa contemporânea do governo de quem mais sabe, com a resposta aos problemas práticos que tal solução possa levantar.


Uma leitura essencial não apenas para os estudiosos de filosofia e de ciência política, mas também para todos os que consideram que a democracia merece ser discutida, independentemente do que se possa pensar dela, incluindo os que visam aprofundá-la.»

Jason Brennan é uma maravilha: um filósofo brilhante que estuda escrupulosamente os factos antes de moralizar. Em Contra a Democracia, o seu método elegante leva à conclusão inesperada de que a participação democrática impele os seres humanos a esquecer o senso comum e a decência comum. Votar não nos enobrece; testa a virtude dos melhores, e apresenta o pior nos restantes.


Bryan Caplan, autor de The Myth of the Rational Voter

A grande tentação da filosofia política é sacralizar a política, e precisamos urgentemente de um trabalho que nos ensine a não sucumbir. Neste livro valioso e revigorante, Jason Brennan desafia devoções confortáveis e desacredita mitos familiares sobre a vida política em geral e o regime democrático em particular. Prevejo que a maioria dos leitores encontre muita coisa com que discordar – eu certamente encontro –, mas também que a maioria considere os argumentos de Brennan inquietantemente difíceis de resistir com certeza.

Jacob T. Levy, Universidade McGill 

Contra a Democracia apresenta um conjunto útil de desafios tanto para a sabedoria convencional como para as tendências dominantes na filosofia política e na teoria política, particularmente na teoria democrática. Escrito de forma cativante, incentiva uma leitura activa e divertida.

Alexander Guerrero, Universidade da Pensilvânia
Autor(es)
Jason Brennan doutorou-se em filosofia pela Universidade do Arizona, ensinou na Universidade de Brown e é actualmente professor associado de Estratégia, Economia, Ética e Políticas Públicas na Universidade de Georgetown. É autor de Compulsory Voting: For and Against, com Lisa Hill, Libertarianism: What Everyone Needs to Know, The Ethics of Voting e A Brief History of Liberty, com David Schmidtz. A filosofia política e a ética aplicada são as suas duas principais áreas de investigação.



Qual é o problema em desprezar a verdade? A verdade é algo assim tão importante
e valioso porquê?

Estas são algumas das perguntas que Frankfurt procura esclarecer e às quais dá resposta em Sobre a Verdade.

A resposta de Frankfurt, exposta numa linguagem despojada de jargão filosófico e centrada na noção mais comum de verdade, é que a nossa vida seria impossível sem ela, tanto na prática como intelectual e psicologicamente. Na prática, porque a distinção entre verdadeiro e falso é pressuposta nas situações mais banais da vida mesmo por aqueles que dizem recusá-la. Intelectual e psicologicamente, por ser necessária para a compreensão de nós mesmos como indivíduos diferentes dos outros, para a nossa relação com eles, e para a mais elementar compreensão da realidade, seja ela qual for.

Autor(es)
Harry G. Frankfurt é Professor Emérito de Filosofia na Princeton University. A sua importante obra filosófica reparte-se principalmente pelas áreas da filosofia moral, da filosofia da mente e da filosofia da acção. Os seus contributos para a discussão do problema do livre-arbítrio fazem dele uma referência nesse domínio. Da sua obra, destacam-se ainda os sucessos de vendas On Bullshit (Da Treta) e The Reasons of Love.




quinta-feira, 27 de abril de 2017

Filósofos emigrantes


Vale a pena ler esta entrevista a Teresa Marques, filósofa portuguesa da Universidade de Barcelona. 

Novos Ensaios de Peter Singer

Peter Singer é o filósofo da atualidade que suscita maiores hostilidades em relação às suas ideias, ou pelo menos à caricatura que habitualmente delas se faz. Isto acontece não pela radicalidade dos seus argumentos (há filósofos mais radicais, mas que raramente são mencionados nas frentes mais hostis), mas antes pela sua popularidade. A que se deve a popularidade de Singer? À forma pouco comum como expõe os argumentos que os torna acessíveis mesmo aos leitores filosoficamente menos informados. Juntando isso aos temas e problemas que aborda (moralidade do aborto, eutanásia, etc…) temos os ingredientes necessários para conservadores hostis destilarem os mais variados insultos. O irónico é que Singer aceita o aborto ou a eutanásia com muitas restrições, o que até faz dele, em certo sentido, algo conservador. Mais conservador talvez é ainda em relação à defesa dos direitos morais dos animais não humanos, uma das mais radicais teses de Singer. Curiosamente os hostis costumam estar-se nas tintas para os animais e não pegam neste ponto com Singer. Do meu ponto de vista a popularidade de Singer passa por uma certa injustiça, provavelmente própria de toda e qualquer popularidade, a de ser superficial. Por essa razão os ataques dos hostis são todos sem exceção vagos e absurdos, para além de revelarem manifesta ignorância em relação aos argumentos do filósofo australiano, professor nos EUA. A melhor forma de conhecer os ataques a Singer que estão para além dos insultos gratuitos é conhecer a obra de filósofos como David S. Oderberg, tendo duas obras publicadas em português. Uma delas, Ética Aplicada, Uma abordagem não utilitarista (Principia, 2009, Trad. M José Figueiredo), é um ataque ao utilitarismo de Singer. Espero que esta nova tradução em português, do qual se apresenta aqui a capa, motive mais a discussão racional que o orgulho irracional. De resto como se espera de toda a atividade filosófica. A edição é das Ed.70.


sexta-feira, 7 de abril de 2017

Citações polémicas

Muitas das afirmações dos filósofos são polémicas. Todas elas são, por natureza do saber e conhecimento, arriscadas. E por isso, em regra, pouco consensuais com a nossa visão comum do mundo e das coisas. Mas será que entre essas citações não haverão outras ainda mais arriscadas, verdadeiramente polémicas contrariando-se até a si mesmas? É isso que este livro recém-chegado ao mercado português promete oferecer, uma boa coleção de citações verdadeiramente polémicas. Do autor Victor Correia, com edição da Verso da Kapa. Mais informações AQUI. À venda nas livrarias a partir do dia 13 deste mês. 

terça-feira, 14 de março de 2017

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O conhecimento como relação entre um sujeito e um objeto

A percepção é o modo como tomamos consciência dos objectos, em especial daquilo que nos é dado pelos sentidos. A pergunta que muitos filósofos colocam acerca da percepção é a seguinte: será que o facto de percepcionarmos objectos é suficiente para justificar a existência desses objectos fora da nossa consciência? A distinção entre aparência e realidade parece indicar que há diferença entre aquilo que as coisas são e a maneira como tomamos consciência delas, isto é, a maneira como as percepcionamos. O modo como funciona a percepção dá lugar a grandes disputas filosóficas e é um tema central nas discussões acerca da natureza do conhecimento. Há três grandes teorias da percepção, com diferentes implicações em termos epistemológicos: o realismo directo, o realismo representativo e o idealismoVer também realismo crítico e realismo ingénuo. (Aires Almeida)"

in. DEFnarede

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Reler Hilary Putnam

Hilary Putnam deve ser dos filósofos, senão mesmo o filósofo de expressão em língua inglesa da segunda metade do século xx, mais amplamente traduzido para português. Possivelmente por ser um caso isolado em matéria de tradução, e não fazendo escola a tradução de livros dos seus pares, muitas das vezes os conceitos são mal traduzidos, o que acaba por confundir não só a compreensão como também o estilo do próprio autor. Seja como for, num país com uma escala filosófica bastante reduzida (pelo menos antes da internet, já que uma boa parte destas traduções é anterior ao acesso generalizado á rede e ao consumo online) é salutar ter acesso na nossa língua a uma variedade considerável de livros de Putnam. Eles aparecem por via da publicação de diferentes editoras.

A produção de Putnam foi enormíssima com contributos para diferentes áreas da filosofia. É difícil delimitar uma área de maior intervenção, muito embora o maior conjunto dos seus trabalhos sejam nas áreas da filosofia da mente, ação, epistemologia e metafísica. Sempre foi um filósofo que produziu muito e mudou muitas vezes de argumentos e interesse. Deixo aqui a referência a algumas das traduções que ainda se encontram à venda nas livrarias. E com algum esforço ainda se encontram as traduções da D. Quixote, já dos anos 90 do século xx. 





domingo, 8 de janeiro de 2017

Bibliografia breve da identidade


Este mês ficou marcado na filosofia com o desaparecimento de Derek Parfit, o filósofo inglês. No meu tempo de Universidade nunca ouvi falar em tal nome. Conheci-o muito mais tarde e ainda só o conheço quase por referências indiretas. A vida de um professor de secundário dificilmente se compatibiliza com o estudo aturado de um só autor ou problema. Além disso há poucas traduções de Parfit em português. Assim, só se fica a saber que que se trata de um influente filósofo, mas sem perceber muito bem por quê. Bem, para o mero curioso não profissional da filosofia, talvez isso seja suficiente. Eu também não percebo a relevância de todas as teorias científicas que vou aprendendo, mas começo por aceitar alguma autoridade dos autores de bons livros de divulgação. Para colmatar essa lacuna e investir um pouco mais, vou aqui resumir uma pequena bibliografia para que se compreenda um pouco melhor um problema do qual Parfit se ocupou e avançou novos argumentos. Estou a falar do problema da identidade pessoal. Melhor que as minhas palavras é ler alguma coisa e ficar mais informado. Assim, e do que está disponível em português:

James Rachels, Problemas da Filosofia, Gradiva, Trad. Pedro Galvão. Todo o capítulo 5 é dedicado ao problema e segue de perto o seminal Reasons and persons de Derek Parfit. Melhor e mais clara introdução que esta, em língua portuguesa, não conheço.

Earl Conee e Theodore Sider, Enigmas da Existência, Uma visita guiada à metafísica, Bizâncio, Trad. Vítor Guerreiro. O capítulo 1 é uma boa introdução ao problema. A par com a de James Rachels forma o melhor duo em língua portuguesa para começar a matutar no problema.

Pedro Galvão fez-nos o favor de traduzir o primeiro artigo de Parfit sobre o problema da identidade pessoal, que podemos encontrar aqui: TRADUÇÃO


Existe um excerto muito interessante para ler na Crítica traduzido por Galvão, de Reasons and Persons, AQUI

E temos aqui este vídeo que está muito divertido e claro. Basta acionar as legendas. Não são muito boas, mas entende-se mais ou menos sem atropelos:


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Editora Piaget com Grandes Noções da Filosofia

Se há dado que temos consumado é a divisão da filosofia a partir dos finais do século xix naquela que ficou entretanto conhecida por filosofia analítica por oposição à chamada filosofia continental. Não interessa aqui entrar de novo nesse debate já muito escrutinado. Se aplicássemos aqui vagamente as ideias de Kuhn relativamente à história da ciência, diríamos que provavelmente a filosofia atravessa a fase da “guerra” de paradigmas. Isto vem ao caso porque em regra esta divisão também acaba por se refletir e muito quando pegamos em livros de caráter mais geral, como dicionários, histórias da filosofia, etc… arrisco a afirmar que hoje em dia essas obras quando chegadas da tradição analítica falham menos que as da tradição continental. Isto é, as da tradição analítica são mais abrangentes. E a isto não está alheio o sucesso em matéria de investigação, se quisermos, do seu “paradigma”, para abusar dos termos de Kuhn. Este mote serve para a minha pequena apresentação deste extenso volume publicado pela Piaget no ano de 2003 e sendo o original em francês do ano anterior. Independentemente do conteúdo que não me é possível comentar de todo (é uma obra de consulta com mais de 1200 páginas na edição portuguesa), vale a pena apresentar em algumas palavras a sua organização.  Assim, para começar, as grandes noções mencionadas no título da obra, são as clássicas: consciência, direito, estado, história, imaginação, tempo, ciência, moral, metafísica, arte, linguagem, etc.. Cada tema corresponde a um capítulo e cada capítulo está organizado não só com a habitual exploração do subtema, como com os textos clássicos comentados. Para quem, como eu, está já acostumado com o modo de fazer filosofia da tradição analítica, não espere destes textos a clareza de exploração dos problemas no sistema de: problema, teorias, argumentos, objeções. Nem espere grandes análises aos problemas pelo binóculo da lógica. Não se segue daí, com efeito, que os textos fossem escritos por uma quantidade de discípulos de Nietzsche recorrendo a uma linguagem demasiado fechada e hermética. Aliás, por sinal, isto também acontece não raras vezes com filósofos da tradição analítica. Embora seja evidente que prezam muito mais a clareza da exposição nem todos, ainda assim, o conseguem fazer devido mais ao estilo da escrita do que à confusão argumentativa.

E a quem interessa este livro?
A todos, menos àqueles cujo contato com a filosofia passa apenas por uma ou duas pequenas introduções, já que no mercado português existe essa oferta.

Uma nota final
Pese embora o que comecei por esboçar neste pequeno texto de apresentação, não se pense que os autores presentes nesta coletânea revelam uma qualquer postura de ignorância relativamente aos cozinhados da tradição analítica. Nem pensar. Como se revela na leitura de pelo menos alguns dos artigos, são autores informados. Mas ao mesmo tempo é bem verdade que apenas pontualmente alguns estudos mais recentes sobre os problemas analisados são citados. E, na minha opinião, deviam ter maior lugar de destaque. Não dou aqui qualquer exemplo específico, já que esta circunstância está presente em todos os capítulos do livro. Alem de que as bibliografias citadas revelam esse mesmo esquecimento que, na minha opinião, empobrece a exploração dos problemas.

A edição portuguesa é de capa dura e num formato físico muito resistente. O que favorece a obra. Um belo livro de filosofia, portanto. 
Agradeço ao editor o envio desta obra para análise e opinião.


Autores Vários, As Grandes Noçõesda Filosofia, Ed Piaget, 2003, Tradução de Ana Rabaça, Coleção Pensamento e Filosofia (Direção de António Oliveira Cruz)